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6.1 · Clientela directa das acções de formação profissional

6.1.1 · Quem são os participantes?

As pessoas que participaram nos CJEA, no período relativo ao nosso estudo,são provenientes das dez ZA que constituíam a Região, embora de uma forma não homogénea, realçando-se a ZAL, em que o número de participantes foi muito superior ao da média, e as Zonas Agrárias do Alvão Padrela e da Terra Quente, em que o número foi inferior. Esta diferença será motivada pelo facto de as propostas apresentadas pelo CJEA, para a mudança da agricultura na ZAL, serem mais convincentes do que as apresentadas para as restantes ZA. A outra unidade de análise, ZAB, também contou com um número de participantes acima da média. A localização dos CFP e a dinâmica dos Serviços das diversas ZA também terão contribuído para a diferença verificada.

Grande parte dos formandos que frequentou os CJEA tinha uma idade compreendida entre os 36 e 40 anos, ou seja, pertence a um escalão etário superior às das Zonas estudadas. Na ZAB a maioria dos

participantes tem uma idade compreendida entre os 26 e 35 anos. Na ZAL a maior percentagem também cai neste intervalo, mas os participantes desta ZA são mais jovens do que os da primeira. Os indivíduos que frequentaram os CJEA eram na sua grande maioria do sexo masculino, sendo sensivelmente apenas um quinto do sexo feminino. Na ZAB uma situação muito idêntica ocorre relativamente a esta variável, no entanto o mesmo não se passa na ZAL, onde se verifica que é sensivelmente idêntico o número de participantes do sexo masculino e do sexo feminino. Nesta ZA o aumento da partici- pação na gestão da exploração por parte de elementos do sexo feminino poderá ser entre outras razões, nomeadamente culturais, pelo facto do elemento masculino pretender estar mais disponível para os aspectos da comercialização.

Na Região, mais de dois terços dos participantes nos CJEA possuem, ou o ensino primário, ou a frequência do ensino secundário. Relativamente às nossas unidades de análise, idêntica situação se passa em Lamego, verificando-se ainda uma escolaridade mais eleva- da, com um número relevante de pessoas com o ensino secundário completo. Na ZAB é diferente, sendo o nível de escolaridade inferior, com dois terços de participantes com o ensino primário e um número bastante inferior de indivíduos com o ensino preparatório e secundá- rio.

É de destacar o facto da generalidade dos participantes dos CJEA, nas duas ZA em estudo, não terem participado em acções de formação antes de frequentarem o CJEA, de serem trabalhadores familiares e tornarem-se, após a conclusão do curso, empresários agrícolas a título principal. Na ZAB, os participantes exercem a sua actividade há pelo menos 15 anos, numa exploração com mais de 20ha, - sendo a actividade principal a pecuária. No entanto, na ZAL, - exercem a actividade há mais de 10 e menos de 15 anos, numa exploração com mais de 5 ha, frequentemente mais de 10 ha, e cuja actividade principal é a produção agrícola.

Tomando como referência a média apresentada no trabalho de Cristóvão e Figueira (1990), constata-se que os participantes possuem instrução muito acima da média e dispõem de área de exploração também acima dos valores médios referidos pelas esta- tísticas, nomeadamente os dados preliminares do Recenseamento Geral Agrícola de 1989, para a Região. Esta situação será conse- quência de a partir de 1986 terem surgido medidas de políticas visando a mudança da agricultura”. Até então, filhos de proprietários dispondo de áreas de exploração apreciáveis não admitiam a hipótese de se fixar na agricultura, mas com os incentivos surgidos constituíram nova clientela para os CJEA. Por outro lado, a taxa de reposição de empresários agrícolas com base na habitual clientela não terá modi- ficado muito, provavelmente porque as explorações de que dispu- nham não tinham as características que as referidas políticas exigiam, não se ajustando ao modelo por elas proposto.

6.1.2 · O que motiva os participantes a frequentarem os Cursos de Jovens Empresários Agrícolas?

Dos dados dos inquéritos e dos estudos de caso, deduz-se que na ZAB os participantes frequentaram o CJEA essencialmente para aumentarem os conhecimentos, mas também para aumentarem os rendimentos e poderem ter acesso às ajudas comunitárias; na ZAL os formandos inscreveram-se em primeiro lugar para terem acesso às ajudas comunitárias, mas ainda para aumentarem os conhecimentos, os rendimentos e por último para poderem mais facilmente obter crédito. Não damos às diferenças de resposta grande significado, porque predomina a resposta múltipla em ambas as situações e, globalmente, os motivos de participação no CJEA foram sensivel- mente os mesmos.

Verificámos que a frequência destes cursos não deixa de ser consequência de uma exigência legal, dado ser uma das alternativas que possibilita ao jovem agricultor ter acesso aos apoios financeiros da CEE. No entanto, é de realçar que são muitas vezes encarados como uma necessidade e oportunidade de formação, havendo mesmo situ- ações em que sem projecto de investimentos ou com o projecto reprovado, o formando pretende frequentar o CJEA, como pudemos observar no estudo de caso do Senhor A. Durante o curso, este agricultor teve conhecimento de que o projecto estava reprovado, mas afirma - “Quando comecei o CJEA não sabia que o projecto estava reprovado, mas mesmo que soubesse ia igual”.

6.1.3 · É esta formação adequada ao nível de instrução da clientela ou é indispensável outra formação académica?

Embora o nível de escolaridade dos participantes nos CJEA seja muito variável, não podemos concluir, pela análise dos resul- tados dos inquéritos, que haja necessidade de maior exigência quanto à formação básica.

Os cursos parecem estar estruturados de molde a que qual- quer participante, proveniente do estrato etário que a legislação impõe, possa tirar partido da formação que se pretende. Haverá uma situação ou outra pontual, em que um participante poderá ter uma dificuldade acrescida em acompanhar uma matéria, mas essa difi- culdade poderá ser ultrapassada com uma atenção especial do monitor, sem que isso implique uma grande perda de tempo por parte dos restantes participantes.

Este aspecto não questiona o interesse em promover o ajus- tamento dos curricula dos CJEA, mas poderá questionar a vantagem em manter ou não a heterogeneidade dos grupos de participantes. Quanto a esta questão, a análise atenta das respostas indica que há muita troca de experiência entre os participantes, estimulada pelo maior conhecimento específico de alguns.

A preocupação numa maior homogeneidade será, possivel- mente, mais aconselhada para grupos que pretendam frequentar acções de formação especializadas.