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4. Regionalização de Cenários Climáticos

4.2. Avaliação do Modelo Global

4.2.2. Clima Global Futuro

Depois de verificarmos que o modelo tem um bom desempenho na simulação do clima global presente, iremos analisar as projecções dos dois cenários corridos no IDL para o clima futuro. Como o principal objectivo deste trabalho é a regionalização dos resultados globais, não iremos fazer uma avaliação exaustiva dos resultados, e como anteriormente vamos apenas focar a análise na temperatura e precipitação. Analisaremos também os períodos 2040 a 2060 e 2080 a 2100 na nossa análise uma vez que estes são os períodos escolhidos para a regionalização dos resultados globais nas Regiões Autónomas dos Açores e Madeira.

Figura 4.06 – Evolução da temperatura média global e respectivas anomalias em relação à média global do período 1990 a 2010 projectado pelo EC-Earth.

A evolução temporal da temperatura (Figura 4.06) mostra uma tendência positiva em ambos os cenários. As projecções para o cenário RCP8.5 apontam para um aumento de temperatura de 3,94ᵒC da temperatura média global nos próximos 100 anos, enquanto o cenário RCP4.5 apresenta um aumento de 1,65 ᵒC. Para o mesmo período verificamos que a tendência de aquecimento de ambos os cenários é similar até por volta do ano 2030 apresentando acréscimos que rondam os 0,62 ᵒC e só após este ano é que ambos os cenários começam a divergir. Após este

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período o cenário RCP8.5 apresenta uma taxa de aquecimento de 0,47 ᵒC/década e o cenário RCP4.5 aquece ao ritmo de 0,15 ᵒC/década. Este desvio deve-se ao facto de ser por volta de 2030 que a concentração de CO2 de ambos os cenários começa a divergir. Após 2030, a tendência de crescimento da concentração de CO2 na atmosfera do cenário RCP4.5 diminui, atingindo a estabilização perto dos 550 ppm no fim do século XXI, ao contrário no cenário RCP8.5 onde a tendência de crescimento não diminui.

Figura 4.07 – Evolução da temperatura mensal e sazonal dos diferentes períodos de estudo, e respectivas anomalias em relação à média global do período 1990 a 2010 projectado pelo EC-Earth.

Figura 4.08 – Evolução da precipitação média diária global e respectivas anomalias em relação à média global do período 1990 a 2010 projectado pelo EC-Earth.

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Para o fim do século XXI as projecções apontam (Figura 4.07), no cenário mais pessimista, para aumentos superiores a 3 ᵒC todos os meses do ano. Este aumento para o cenário RCP4.5 é mais modesto apresentando aquecimentos mensais inferiores a 2 ᵒC. Note-se que este aumento não é muito superior ao estimado pelo cenário RCP8.5 para o período 2040 a 2060. Independentemente do cenário e período analisado verificamos que existe um maior aquecimento nos meses de Outono e Inverno do Hemisfério Norte que irá contribuir para a diminuição da variabilidade sazonal da temperatura média global.

O aumento da precipitação ao longo do século XXI pode estar directamente ligada ao aumento de temperatura. Com o aumento da temperatura, as taxas de evaporação aumentam e a atmosfera também é capaz de reter mais humidade. Na figura 4.08 apresentamos a evolução da precipitação anual para ambos os cenários. Ambas as projecções apontam para um aumento da precipitação média global ao longo de todo o século XXI. A tendência do cenário RCP8.5 para o fim do século aponta para um aumento de 0,23 mm/dia e no cenário RCP4.5 existe um aumento menos acentuado de 0,09 mm/dia. Ambos os cenários apontam para um aumento de 0,07 mm/dia até meados de 2060, após este ano, no cenário RCP8.5, a tendência de crescimento duplica para 0,15 mm/dia e a tendência correspondente no cenário RCP4.5 é de apenas 0,02 mm/dia. Na escala mensal e sazonal (Figura 4.09) verificamos um aumento de precipitação em todos os meses e estações do ano, independentemente do período e cenário. À escala sazonal não existem diferenças significativas no aumento da precipitação.

Figura 4.09 – Evolução da precipitação diária mensal e sazonal dos diferentes períodos de estudo, e respectivas anomalias em relação à média global do período 1990 a 2010 projectado pelo EC-Earth.

Olhando agora para a distribuição espacial (Figura 4.10), as projecções apontam para um aquecimento superior a 10 ᵒC em todo o Árctico o que irá contribuir para uma diminuição significativa da cobertura gelada do polo norte. Fora do Árctico, o aquecimento será mais

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pronunciado nas regiões terrestres do globo e poderá atingir valores superiores a 5 ᵒC na Islândia, regiões interiores e costeira dos Estados Unidos Ocidentais, Norte e Sul de Africa e Tibete. Sobre o oceano o aquecimento é menos acentuado rondando os 2 a 3 ᵒC no Hemisfério Sul e 3 a 4 ᵒC nos Hemisfério Norte. De notar também o aquecimento que ronda os 7 ᵒC no Mar de Wendell e Okhotsk.

Ao longo do século XXI, as projecções apontam para um aumento da precipitação acima dos 40 ᵒN e 40 ᵒS. Este ganho é acompanhado por uma perda de precipitação nas regiões subtropicais (excluindo a região da monção Asiática). As projecções revelam as tempestades extratropicais a mover-se em direcção aos polos (Yin, 2005), contribuindo para o transporte de vapor de água das regiões subtropicais em direcção aos polos. De certo modo, podemos afirmar que, em geral, as regiões onde existe maior precipitação vão ser ainda mais húmidas e as regiões de menor precipitação tenderão a ficar mais secas. De notar também um grande ganho de precipitação na região equatorial que pode estar relacionada com um movimento para sul da ITCZ (Peterson et al., 2000).

a) b)

Figura 4.10 – Anomalias do cenário RCP8.5 no fim do século em relação à média global do período 1990 a 2010 projectado pelo EC-Earth: a) temperatura média global, valores em Celsius; e b) precipitação média global, valores em

mm/dia.