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CAPÍTULO 5 O CluMat: ESTUDANDO A GEOMETRIA NUM

5.1 Clumat: suas raízes e objetivos

O CluMat, na organização de atividades de ensino, toma como pressuposto os princípios da Atividade Orientadora de Ensino. Cabe destacar que esse ambiente foi idealizado a partir da experiência realizada na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo14, experiência que também é desenvolvida no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal de Goiás, a partir da existência de um Clube de Matemática15.

Embora com especificidades que os distinguem, principalmente na operacionalização das ações, os três clubes se desenvolvem pautados nos mesmos princípios teóricos.

A preparação das atividades do CluMat da UFSM acontecem nos encontros semanais do GEPEMat, que ocorrem no espaço da universidade. Nesses encontros,

são discutidas e planejadas as ações a serem desenvolvidas na escola de educação básica.

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Coordenado pelo Prof.Dr. Manoel Oriosvaldo de Moura. 15

Durante o ano de 2011, com o início do nosso projeto vinculado ao Observatório da Educação, o CluMat foi incluído como uma das suas ações. Isto porque, considerando que um dos objetivos do projeto é discutir uma proposta curricular para o ensino de matemática, entendemos que a possibilidade de organizar o ensino, ou seja, planejar, desenvolver e avaliar atividades matemáticas voltadas a alunos dos anos iniciais servirão de subsídios que possam contribuir na construção dessa proposta com mais domínio e qualidade.

Desde 2009, o CluMat desenvolve suas ações em uma única escola de educação básica da rede pública estadual. Com sua inserção no projeto citado, optamos por organizar algumas das atividades de ensino abrangendo as quatro escolas que compõe o nosso núcleo, desenvolvendo nossos estudos nas salas de aula das professoras sujeitos dessa pesquisa.

Nosso intuito, ao levar o CluMat para outras escolas, foi de oportunizar maiores possibilidades de compartilhamento de todas as ações, por todos os sujeitos envolvidos, uma vez que, até aquele momento, o envolvimento das demais professoras se restringia ao planejamento e avaliação de atividades de ensino.

Inicialmente, nos propusemos a pensar sobre uma atividade de ensino16 que contemplasse o tema “Geometria” e seguisse os princípios de uma Atividade Orientadora de Ensino. Entendemos que esse movimento de organizar a atividade constituiu-se, ele mesmo, como uma atividade, no sentido teórico aqui adotado, se considerarmos os elementos que apresentamos na figura 13, a seguir.

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Neste trabalho o termo atividade está diretamente relacionado à Teoria da Atividade. A partir deste momento, quando nos referirmos ao trabalho realizado com a história virtual Chapeuzinho Lilás, a trataremos como uma atividade de ensino, visto que nossa intenção foi de que ela se constituísse como tal.

Figura 13 - O CluMat como Atividade.

Fonte: Sistematização do autor, adaptado de Araújo (2003).

Optamos por desenvolver a atividade de ensino tendo como base uma situação desencadeadora, a partir de uma História Virtual, que foi denominada Chapeuzinho Lilás. Como já citado, nosso intuito era trabalhar com geometria, e, mais especificamente, nosso objetivo era que os alunos se apropriassem do movimento de constituição das formas geométricas a partir da relação entre as

Necessidade:

Organizar o ensino

Objeto: Geometria

– movimento do

espaço ao plano

Motivo: Elaborar uma atividade

de ensino que possibilite aos

alunos a apropriação do

movimento de constituição da

linguagem geométrica do

espaço ao plano

Objetivos:

- Apropriar-se dos referenciais teóricos da Teoria Histórico-

Cultural

- Compreender o conceito geométrico envolvido na

atividade de ensino

- Mudar a qualidade da prática pedagógica visando

a aprendizagem dos estudantes do conhecimento

geométrico.

Ações:

- Estudos teóricos sobre Atividade Orientadora de Ensino - Estudos sobre o conteúdo Geométrico

- Escolha dos recursos metodológicos - Análise de outras AOE realizadas pelo

grupo

- Análise dos PCN’s e dos descritores da Prova Brasil

Operações:

Trabalho colaborativo entre as docentes e o GEPEMat Registros escritos e filmados

formas espaciais e planas. Ressaltamos que, inicialmente, foram realizados estudos sobre os descritores da Prova Brasil.

Essa atividade foi desenvolvida nas escolas das quatro professoras, porém, cabe ressaltar que, devido às diferentes realidades que as constituem, a atividade foi adaptada a cada uma das instituições. Além disto, como em algumas turmas já haviam sido desenvolvidas outras práticas que envolviam geometria, abordando, principalmente, as relações entre as formas naturais e humanas e a linguagem geométrica, optamos pelo enfoque específico na relação entre o plano e o espaço, observando, além disso, as características das formas geométricas espaciais, mais especificamente do cubo, relacionadas às suas propriedades e nomenclatura.

Apesar dos diferentes contextos escolares, a História Virtual foi o recurso utilizado em todas as escolas, sendo apresentada aos alunos através de uma encenação, cujo enredo contava com dois personagens: a Chapeuzinho Lilás e o Lobo Mau.

Nossa escolha por essa forma de apresentação se deu pelo fato de que, em uma das escolas, estava ocorrendo a semana literária e buscamos integrar a matemática dentro desse contexto.

Fotografia 1 - Chapeuzinho Lilás e Lobo Mau.

Fonte: Acervo do GEPEMat.

Chapeuzinho adorava estudar e tinha uma grande admiração pela matemática.

No caminho entre a casa e a escola sempre ficava encantada com todas as formas que encontrava ao seu redor, pois gostava de observar as formas geométricas.

Certo dia recebeu uma tarefa de sua professora, que era procurar de que maneira a matemática estava presente em seu cotidiano.

Chapeuzinho, a partir de suas observações, teve a brilhante ideia de representar as formas que enxergava todos os dias. Algumas delas eram parecidas com as que a professora chamava de sólidos geométricos.

Depois de prontos, colocou-os dentro de sua bolsa e foi a caminho da escola. Admirada com as flores encontradas no caminho, resolveu sentar embaixo de uma árvore para apreciá-las, mas acabou

cochilando.

O lobo, muito esperto, aproveitou a oportunidade para espiar o trabalho da Chapeuzinho e percebeu que o que ela havia feito era muito melhor que o trabalho dele, resolveu então trocar a sua bolsa com a da Chapeuzinho, pois o trabalho dele tinha somente figuras planas.

Minutos depois Chapeuzinho, ao abrir a bolsa, teve uma surpresa: seu trabalho estava todo desmontado e ela só tinha agora diversas peças de figuras planas de diferentes formas e tamanhos. Ela ficou apavorada! Não sabia por onde começar a reorganizar seu material. O que teria acontecido?

Seus sólidos estavam tão bonitos quando ela sentou no parque. Mas não tinha tempo para se preocupar com isso, pois estava com pressa para chegar à escola.

Como Chapeuzinho precisa apresentar seu trabalho para a professora ainda naquele dia, resolveu montar pelo menos uma das peças que representa uma caixa

com todas as faces iguais, como a caixa d’água da escola que está no pátio e que a professora chama de cubo, e assim mostrar um exemplo de como fez seu trabalho original!

A partir do contexto presente na encenação feita por integrantes do GEPEMat17, Chapeuzinho propõe para os alunos o que por nós é entendido como o problema desencadeador de aprendizagem:

Com a proposição desse problema, nossa intenção foi chamar a atenção dos alunos de modo a envolvê-los na necessidade de ajudar a personagem a resolver a situação problema. Essa situação envolvia a relação entre figuras geométricas espaciais e planas, o que, na perspectiva de Lima e Moisés (1998), é o movimento que nos permite a apropriação do processo de construção humana da linguagem geométrica.

Entendemos que a organização do ensino no CluMat tem como pressuposto o compartilhamento, contemplando o planejamento, o desenvolvimento e a avaliação das ações concebidas – importantes etapas da organização do ensino. Dessa forma, a análise desse processo, a partir da atividade de ensino “Chapeuzinho Lilás”, se justifica pelo propósito desse estudo, qual seja, investigar o processo de formação de professoras em um grupo que organiza de forma compartilhada atividades de ensino de matemática para os anos iniciais do ensino fundamental.

Para tanto, acompanhamos o processo de planejamento e desenvolvimento dessa atividade no segundo semestre de 2011 e, posteriormente, no final de 2011 e de 2012, realizamos duas sessões reflexivas que possibilitaram a realização desta pesquisa.

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A história foi encenada pela acadêmica Andressa Windenhöft Marafiga (Pedagogia) e pelo acadêmico Guilherme Galina Loch (Licenciatura em Matemática). Participaram também da atividade as acadêmicas do curso de Pedagogia Gabriela Gabbi e Jucilene Hundertmarck, os acadêmicos do curso de Licenciatura em Matemática Luis Barbosa Bemme e Simone Pozebon e a acadêmica do curso de Mestrado em Educação Laura Pippi Fraga, contribuindo com a filmagem e o apoio geral.

Agora vocês podem me ajudar a montar o meu trabalho para mostrar para a professora? Como eu

O objetivo das sessões reflexivas foi de motivar as professoras a focalizarem a sua atenção na organização do ensino, e assim possibilitar que pudessem avaliar sua participação na CluMat. A primeira sessão reflexiva foi realizada logo após o desenvolvimento atividade de ensino, e a segunda foi realizada após um ano letivo, ao longo do qual as professoras continuaram atuando no CluMat, desenvolvendo outras experiências de organização do ensino a partir dos princípios da Atividade Orientadora de Ensino, além das outras ações do projeto do OBEDUC, que se pautam nos mesmos pressupostos.

As sessões reflexivas, gravadas e posteriormente transcritas, foram dirigidas a partir de um roteiro prévio (conforme apêndice 2 e 3), embora, no decorrer dos encontros, outras questões tenham surgindo nas discussões.

Ao realizar a análise dos dados, não separamos as falas das professoras a partir das questões das sessões reflexivas18, elas apareceram divididas entre os isolados já definidos por nós, a saber: o conhecimento matemático, recursos metodológicos e o compartilhamento de ações.