• Nenhum resultado encontrado

Grande parte do esforço relizado neste abalho consistiu na enativa de explicitar a nção de "Sittliceit der Sitte" na obra de Nietzsche. É cero que, ao longo do trallho, determinadas comparaçes com ensadores que cuidaram do mesmo tema se fizeram inevitáveis, mas esta tentativa se determina, essencialmente, como um exercício de interpretação que permanece imanente aos textos de Nietzsche. Talvez fosse agora permitido, enreano, à guisa de conclusão, ergunar se e em que mdida l nção ainda nos conceme hoje. Existiria lguma relevância na tentativa de explicitação do conteúdo T r a n s/Form /A ção, S ã o Paulo, 12: 97 - 1 3 2 , 1 9 89 .

da nção nietzscheana de eticidade do costne, relevância que não e limitase ao simples ineesse inerene ao dever de ofício de quem se cupa com a pática da ilosoia enquano disciplina universiária?

Não há dúvida de que o nosso seja um emo de exrema fluidez e instabilidade dos valoes éticos. Temo em que uma inominável "barbárie civiliada" "faz do 'ser homem' um conjunto de proposiçes que pde ser modiicado ao bel-prazer dos dirigentes olíticos mediante o uso da violência" (2 1 , p. 17). Daí porque não e pode negligenciar a etinência e a lucidez do diagnóstico do nosso empo presente nos Escritos e Filosoia 1 de Lima Vaz: "As socieades olíticas contemorâneas enconram no âmago a sua crise a questão mais dcisiva que lhes é lançada, qual seja a a signiicação ética do ato olítico ou a da relação enre Ética e Direio. Na verdade, raa-e de uma quesão dcisiva entre tdas, ois da resosta que pra ela for encontrada irá deender o destino dessas sciedades como scieades políticas, no sentido original do termo, vem a ser, sociedades justas" (22, p. 180).

Daí, da radical idade e incontornabilidade de l questão provém o interese e a oportunidade de se retornar a Nietzsche. Seu pessimismo trágico desarma a supeficialidade paciicadoa que anima uma forma disfarçada de otimismo, consisene em considerar o caos demoníaco das pulses apenas como o lado obscuro e contingene da natureza humana, cuja irupção indômita arisca derrogar o idal regulativo da toalidade ética, que cacteriza o ser do homem como pojeo universal de acionalidade ealiada ou a realizar. Este projeto, Nietzsche o enraíza na contingência absoluta e no acaso inquietante do destino das pulses. Os riscos fatais da aventura humana não são, para Niezsche, episdicos acidenes de ecurso no pceso de realiação da comunidade ética universal; eles estão presenes a tdo momento, de pleno direio, no limir de surgimento de cada uma das iguras que o homem se á a si mesmo. Este pessimismo trágico não o impele porém, à amargura e à resignação; não o impede, amouco, de aceiar os deaios dessa aventura, e, com toda radicalidade, enr o projeto gratuito e incontrolável de tornar-se homem como inscrevendo-se na clareira insondável das possibilidades imponderáveis. "Criar um animal ao qual seja lícito fazer promessas - não é isto precisamene aquela trefa paradoxal que a natureza se propôs com respeito ao homem? Não é ese o autêntico problema do homem? . . . " ( 1 1 , 11, 1).

N O T A S

A . Não havendo expressa indicação em contrário, todas s traduções de originais em lngua alemã foram feitas elo autor deste rabalho. Relativamente às obras de Nietzsche, os algarismos arábicos se reortam, em primeiros lugar, à referência bibliográfica e, em seguida, a números de aforismos; algarismos romnos se referem a divisões or capítulos, livros ou dissertações. Os fragmenos póstumos são numerados segundo a edição crítica das obras completas de Nietzsche, indicada na refrência bibliográica

B . A proósito da exrema dificuldade de radução da fórmula niezschenna "Sittlcheit der Siue" , escreve Rubens R. Torres Filho: Eticidade ou moralidade, duas palavras que erderm a referência ao signiicado original de costume, que têm or base (ethos em grego, mos em laim). O texto lemo, ao dizer 'Sttlicheit der Site', o evoca muio mais diretmente - é que a língua não perdeu totalmente a memória dessa ligação, tnto que Ética se dz Sittlenehfe (doutrina dos costumes) e já Knt reservava a undamentação da moral para uma 'Metafsica dos Costumes' ( 19, p. 1 67).

C . No § -1 8 dà segunda dissertação da obra Para a Geealogia da Moral, Nietzsche atribui explicitmente à vontde de odr ma natureza conformadora jormbildende Natur). Posi­

ço semelhnte à que foi aqui desenvolvida enconra-se em KAULBACH, F. Nietzsches Idu eier xperimet alphilosophie. KõhWien, 1 980. Capo I , n. 2 e 3 .

D . Esecialmente interessnte é a aproximação efetuada o r W. Kaufmnn entre o s conceios de Auhebung em Hegel e de Sublimierung em Nietzsche. Cf. KAUFMANN, W. Nietzsche Philosoph - Psychologe; Antichrist. Drmstadt, 1982. Cap 8 .

E. Enre os juristas brasileiros clássicos e contemorneos, cf., or exemplo, BEVlLAQUA, C.: "O camo da ação moral e do direito é o mesmo: - a lierdade humna. O m a que se destinam, o para que social de sua existência é o mesmo : - sujeitar os indivíduos à finalidade do orgnismo social. Entretanto estes dois sistemas de normas não se conundem, suas órbitas não coincidem. A moral vive e se desenvolve na sociedade independentemente do Estado. Seus preceitos . . . não têm uma execução materialmente obrigatória, não são acompnha de coação mecânica. O direito vive no esado, é um dos seus elementos constitutivos e não pode subsistir sem ele. Seus preceitos são assegurados coativamente pelo oder público" ( 1 , p. 55). Cf. tmbém CHAVES , A . : "Constitui preocupação primordial, logo n o primeiro ponto, estabelecemos distinção enre as rês normas fundamentais do comportamento humno: religião, moral e direito. Desnecessário insistir em que são três ordens de mndmento que somente ao homem se dirigem. As normas de direito são em geral acompanhadas de snções pra prevenir sua desoediência. E a sanção só pode subsistir tendo como pressuosto a responsabilidade, conceito que não odemos relacionr senão com o de essoa" (2, p. 28).

F . Pra facilitar a compreensão terminológica, recorro uma vez mais à preciosa lição de Ruens R. Tores Filho: É esencial pra o entendmento do texto assinalr que em alemão esta palavra Schuld significa indiferentemente 'culpa' e 'dívida' - e não por acaso, dirá o ilólogo. Schuldner é o 'devedor' e o texto mntém constntemente o duplo sentido, com base no que está dito em seu § 4: 'será que esses genealogistas da moral até agora não sonharam sequer de longe que, or exemplo, aquele conceito moral capital de 'culpa' (Schuld) tirou sua origem do conceito muito material de 'ter uma dívida' (Schulden)? ( 1 9, p . 3 1 3 ) .

G . " A cultura necessita oferecer todas as condições para inibir o impulso agressivo do homem, para subjugr sus mnifestações or meio de formações psíquicas reativas. Daí advém, portnto, a prescrição de métodos que conduzem os homens a identificações e a relações amorosas cuja meta original foi inibida; daí advêm as restrições da vida sexual e tamém o mndamento ideal: Amr o próximo como a si mesmo', o qual efetivamente se justifica or nada haver que conrrie mais a natureza original do homem" (4, p. 47 1 ) . . . .. . O que se pergunta aqui é como s e deve erradicr o maior obstáculo da cultra, a propensão

constitucional do homem para a agressão mútua, e precisamente por causa disso s e toma interessante para nós o mais jovem de todos os mandamentos do super-ego ( Über-Ich­

Gebote), o mandamento: ama o teu próximo como a ti mesmo" (4, p. 503).

GIACOIA JUNIOR, O. - e grnd expériment: sur l' opposition enre ethicilé (Sitllicheit) et 1'autonomie chez Nietzsche. Trans/Form /Ação, S ão Paulo, 1 2 : 97- 1 32, 1 979. RÉSUMÉ: Ayant com me but la notion nietzscheénne de "moralité des moeurs"

(Sittlichkeit der S itte), ce travail a /' intention de ettre en évidence la notion stratégique de la rélexion sur /'origine des valeurs morales dans la critique que Nietzsche [ait à la métaphysique traditionnelle ainsi que le caractere spécique de la contribution de ce philosophe pour le débat de ce theme.

UNrERMES: Éthique; moral; droit, liberté de la volonté; conscience-morale.

REFERÊNCI A S BIBLIOGRÁFICAS

1 . B EVILAQUA, C. -Obra ilosóica. São Paulo, Grijalbo/Edusp, 1 976. v . 12.

2 . CHAVES, A. -Lições de direito civil.São Paulo, Bushatsky/Edusp, 1 972. Parte geral 1 - 3 , V . 1 .

3 . FREUO, S . Totem und Tabu. Frankfurt/M. , Fischer Taschenbuch, 1986.

4 . FREUO, S . - Das Unbehagen n der Kultur. In: --o Gesamelte Were. London,

Imago, 1 948 . v. 1 4 ..

5 . GEHLEN, A. -Urensch und Spitkultur. 3 . ed. FrankfurtM . , Athenaion, 1975.

6 . HEGEL, G. W. F. - Grundlinien der Philosophie des Rechtes. 2. ed. Stuttgart, Glockner, 1 928, v . 7 .

7 . KANT, I . -Grundlegung zur Metaphysik der Sitlen. Frnkfurt/M . , W. Weischedel, 1 974. (Suhramp Taschenbuch Wissenschaft, v . 56).

8 . NIETZSCHE, F. - Der Antichrist. In: - o Simmtliche Were. München, Gruyter,

1 980. v. 6.

9 . NIETZSCHE, F. - Oie Fronliche Wissenschafl. In: -o SimmJliche Were.München,

Gruyter, 1 9 80. v . 3 .

1 0 . NIETZSCHE, F. - Die Gebrut der Tragodie. In: - o Simtliche Werke. München,

Gruyter, 1 980. v. 1 .

1 1 . NIETZSCHE, F . - Zur Genea10gie der Moral. In: - o Simmtliche Were. München, Gruyter, 1 9 80. v. 5 . .

1 2 . NIETZSCHE, F. - Gotzendammerung. In: - o Simtliche Were. Munchen, Gruyter,

1 980. v . 6 .

1 3 . NIETZSCHE, F. - Jenscils von Gul und B ose. In: - o Simtliche Werke. München,

Gruyler, 1980. v. 5

1 4 . NIETZSCHE, F . - Menschliches, Allzumenschliches. In: -.Simmtliche Werke.

München, Gruyter, 1 980. v2.

1 5 . NIETZSCHE, F. - Morgenrõte. In: -o Simmtliche Were. München, Gruyter, 1 980.

v. 2.

1 6 . NIETZSCHE, F: - Nachgelassene Fragmente; 1 8 82/84. In: -o Simmtliche Werke.

München, Gruyter, 1980. v. lO.

1 7 . NIETZSCHE, F. - Nachgelassene Fragmente; 1 8 85/87. In: - o Simmtliche Werke.

München Gruyter, 1 980. v. 1 2 .

1 8 . NIETZSCHE, F. - Nachgelassene Fragmente; 1 8 87/89. In: - o Simmtliche Were.

München, Gruyter, 1 980. v. 1 3 .

1 9 . NIETZSCHE, F. -Obra incompleta. Trad. Rubens R . Torres Filho. S ão Paulo, Abril Cultural, 1 974. (Os Pensadores).

2 0 . RIEHL, A . -Pr. Nietzsche; der Künstler und der Denker. Stuttgart, s . n., 1 897. 2 1 . ROSENFIELD, D . L. -Do mal. Porto Alegre, L&PM, 1 988.

2 2 . V Z , H . C .L. - Escritos de ilosoia 1 . São Paulo, Loyola, 1988.

Documentos relacionados