5. CAPÍTULO 1- FEOLOGIA VEGETATIVA DE ESPÉCIES DA CAGA EM
5.7. C OCLUSÕES
As plantas encontradas na canga, durante a estação seca, estão sujeitas a um dilema
entre a manutenção de suas folhas, que economizaria carbono e outros nutrientes que se
perderiam na senescência, e perda das folhas, que resulta na economia hídrica com a
diminuição da taxa de transpiração. O resultado desse trade-off é uma diversidade de
padrões de queda e brotação das folhas, porém uma sazonalidade marcante nesses
eventos. Essa sazonalidade foi marcada, para a queda de folhas, durante o período seco
e, para a brotação, entre o final da estação seca e o auge da estação chuvosa.
A queda de folhas das espécies sempre-verdes, semi-decíduas e decíduas foi mais
negativamente correlacionada com o fotoperíodo do mês anterior ao observado. Já a
brotação das espécies semi-decíduas esteve mais positivamente correlacionada tanto à
precipitação quanto ao fotoperíodo do mês anterior. Entretanto, a brotação das
agrupadas em decíduas foi mais positivamente correlacionada com a precipitação e o ao
fotoperíodo do mesmo mês da observação.
Quanto ao hábito, conforme o esperado, as espécies subarbustivas apresentaram uma
maior intensidade da queda de folhas e uma maior diminuição da brotação durante o
folhas do que as espécies subarbustivas mesmo que, dentre elas, estivesse agrupada uma
espécie decídua, Kielmeyera regalis. Enquanto que, as arbóreas apresentaram uma
brotação menos sazonal e queda de folhas pouco intensa, embora nessa classificação
estivesse incluída uma espécie semi-decídua, Miconia sellowiana.
Observou-se que o comportamento fenológico nessas espécies foi em resposta ao
hábito das plantas associado com a sua estratégia vegetativa e induzido principalmente
pelo aumento ou diminuição da precipitação e mais fortemente ao fotoperíodo.
Considerando que a recuperação de áreas degradadas, como os campos rupestres
ferríferos de áreas mineradas, depende da interação entre plantas e animais e que esses
processos também devem ser restaurados, algumas espécies que disponibilizam certos
recursos podem ser indicadas a partir do seu comportamento fenológico. Espécies como
Alibertia vaccinioides, Eremanthus incanus, Tibouchina multiflora e Pavonia viscosa,
em que todos os seus indivíduos brotaram durante o ano, podem disponibilizar tecidos
vegetativos novos para os herbívoros. Espécies decíduas como Sebastiania glandulosa e
Kielmeyra regalis também podem fornecer recursos importantes tais como serrapilhera
para a macrofauna detritivora de solo.
5.8. REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENCKE,C.S.C.&MORELLATO,L.P.C. 2002. Estudo comparativo de nove espécies arbóreas em três tipos de floresta atlântica no sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Botânica 25: 23-248. BOLLEN, A. & DONATI, G. 2005. Phenology of the littoral forest of Sainte Luce, southeastern
Madagascar. Biotropica 37 (1): 32-43.
BORCHERT, R; RIVERA, G & HAGNAUER, W. 2002. Modification of vegetative phenology in a tropical semi-deciduous forest by abnormal drought and rain. Biotropica 34: 27-39.
COLEY, P.D. & BARONE, J.A. 1996. Herbivory and plant defenses in tropical forests. Annual Review of Ecology and Systematics 27: 305-335.
DUFF, G.A.; MYERS, B.A.; WILLIAMS, R.J.; EAMUS, D.; O’GRADY, A. & FORDYCE, I.R. 1997. Seasonal patterns in soil moisture, vapor pressure deficit, tree canopy cover and
pre-dawn water potential in northern Australian savanna. Australian Journal of Botany 45: 211-224.
DUTRA, V.F.;MESSIAS, M.C.T.B& GARCIA, F.C.P.2005. Papilionoideae (Leguminosae) nos campos ferruginosos do Parque Estadual do Itacolomi, Minas Gerais, Brasil: florística e fenologia. Revista Brasileira de Botânica 28 (3): 493-504.
ESCUDERO,A.&MEDIAVILLA,S. 2003. Decline in photosynthetic nitrogen use efficiency with leaf age and nitrogen resorption as determinants of leaf life span. Journal of Ecology 91: 880-889.
FENNER, M. 1998. The phenology of growth and reproduction in plants. Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics 1 (1): 78-91.
FRANCO, A.C.; BUSTAMANTE, M.; CALDAS, L.S.; GOLDSTEIN, G.; MEINZER, F.C.;
KOZOVITS, A.R.; RUNDEL, P. & CORADIN, V.T.R. 2005. Leaf functional traits of Neotropical savanna trees in relation to seasonal water deficit. Trees 19: 326-335. FOURNIER, L.A. 1974. Un método cuantitativo para la medición de características
fenológicas en árboles. Turrialba 24 (4): 422-423.
FOURNIER,L.A.&CHARPANTIER,C. 1975. El tamaño de la muestra y la frecuencia de las observaciones en el estudio de las características fenológicas de los árboles tropicales. Turrialba 25 (1): 45-48.
GILL, D.S.;AMTHOR, J.S. &BORMANN, F.H. 1998. Leaf phenology, photosynthesis, and the persistence of saplings and shrubs in a mature northern hardwood forest. Tree Physiology 18: 281-289.
GIULIETTI, A.M.PIRANI, J.R. & HARLEY,R.M. 1997. Espinhaço Range region – Eastern Brazil. In: Davis SD, Heywood VH, Herrera-MacBryde O, Villa-Lobos J, Hamilton AC (eds) Centres of plant diversity: a guide and strategy for their conservation, vol 3. The Americas. WWF/IUCN Publications Unit. Cambridge. 397-404 pp.
GIVNISH,T.J. 2002. Adaptive significance of evergreen vs. deciduous leaves: solving the triple paradox. Silva Fennica 36(3): 703-743.
KIKUZAWA,K. 2003. Phenological and morphological adaptations to the light environment in two woody and two herbaceous plant species. Functional Ecology 17: 29-38.
LIEBERMAN, D. & LIEBERMAN, M. 1984. The causes and consequences of synchronous flushing in a dry tropical forest. Biotropica 16(3): 193-201.
MARQUES,M.C.;ROPER,J.J.&SALVALAGGIO,A.P.B. 2004. Phenological patterns among plant life-forms in a subtropical forest in southern Brazil. Plant Ecology 173: 203-213.
MORELLATO, L.P.C.; RODRIGUES, R.R.; LEITÃO FILHO, H.F. & JOLY, C.A. 1989. Estudo comparativo da fenologia de espécies arbóreas de floresta de altitude e floresta semidecídua na Serra do Japí, Jundiaí, São Paulo. Revista brasileira de Botânica 12: 85-98.
MUNHOZ,C.B.R.&FELFILI,J.M. 2005. Fenologia do estrato herbáceo-subarbustivo de uma comunidade de campo sujo na Fazenda Água Limpa no Distrito Federal, Brasil. Acta Botanica Brasilica 19(4): 979-988.
MURALI,K.S.&SUKUMAR,R. 1993. Leaf flushing phenology and herbivory in a tropical dry forest, southern India. Oecologia 94: 114-119.
NEGI, G.C.S. 2006. Leaf and bud demography and shoot growth in evergreen and deciduous trees of central Himalaya, India. Trees 20: 416-429.
NEWSTROM, L.E.; FRANKIE, G.W.; BAKER, H.G. 1994. A new classification for plant phenology based on flowering patterns in lowland tropical rain forest trees at La Selva, Costa Rica. Biotropica 26 (2): 141-159.
PALÁCIO, S. & MONTSERRAT-MARTÍ, G. 2005. Bud Morphology and Shoot Growth Dynamics in Two Species of Mediterranean Sub-shrubs Co-existing in Gypsum Outcrops. Annals of Botany 95: 949-958.
PERONI, F.; SÁNCHEZ, M. & SANTOS, F.A.M. 2002. Fenologia da copaíba (Copaifera langsdorffii Desf.- leguminosae, Caesalpinoideae) em uma floresta semidecídua no sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Botânica 25: 183-194.
POUDYAL,K.; JHA, P.K.;ZOBEL,D.B.&THAPA,C.B. 2004. Patterns of leaf conductance and water potential of five Himalayan tree species. Tree Physiology 24: 689-699. RATHCKE, B. & LACEY, E.P. 1985. Phenological patterns of terrestrial plants. Annual
Review of Ecology and Systematics 16: 179-214.
RIVEIRA,G.;ELLIOTT, S.CALDAS,L.S. NICOLOSSI, G.;CORADIN,V.T.R.&BORCHERT,R. 2002. Increasing day-length induces spring flushing of tropical dry forest trees in absence of rain. Trees 16: 445-456.
SINGH,K.P.&KUSHWAHA, C.P. 2006. Diversity of Flowering and Fruiting Phenology of Trees in a Tropical Deciduous Forest in India. Annals of Botany 97: 265-276.
VAN SCHAIK, C.P.; TERBORGH, J.W. & WRIGHT, S.J. 1993. The phenology of tropical forests – adaptive significance and consequences for primary consumers. Annual Review of Ecology and Systematics 24: 353-377.
WILLIAMS, R.J.; MYERS, B.A.; MULLER, W.A.; DUFF, G.A. & EAMUS, D. 1997. Leaf phenology of woody species in a tropical savanna in the Darwin region, northern Australia. Ecology 24: 2542-58.
WRIGHT, S.J. 1996. Phenological responses to seasonality in tropical forest plants. In: Mulkey, S.S.; Chazdon, R.L.; Smith, A.P. (eds). Tropical forest ecophysiology. Chapman and Hall, New York. 440-460 pp.