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2.2 A GLOMERADOS , CLUSTERS , ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS E DISTRITOS INDUSTRIAIS : PRINCIPAIS

2.2.1 Clusters – Aglomerados

Conforme assinalam Benneworth e Henry (2004), os clusters são reconhecidos como um conjunto emergente de múltiplas perspectivas e, além disso, do ponto de vista de uma posição epistemológica, tem o potencial de agregar valor, ao permitir um debate teórico em toda a vasta gama de perspectivas, cuja parcialidade é feita explicitamente e precisamente por meio de um estreito debate.

Para autores como Martin e Sunley (2003) e De Propris e Driffield (2006), as definições dos clusters tendem a enfatizar a proximidade geográfica, tecnológica, as complementaridades de produção, as economias externas ou a presença de ativos intangíveis.

Para Steiner (2002), os clusters possuem o discreto charme de serem objetos obscuros do desejo e este encanto recai sob duas perspectivas; a primeira, de teor político, e a segunda, de teor teórico.

A primeira é uma afirmação baseada na teoria de que a especialização regional em atividades interligadas de firmas complementares, em cooperação com públicos e instituições

privadas de pesquisas e desenvolvimento, cria sinergias, aumenta a produtividade e conduz a vantagens econômicas, embora estes sejam definidos.

Os clusters têm se tornado objetos de desejo para muitas regiões, uma vez que são considerados como respostas de políticas regionais, para as armadilhas reais ou presumidas da globalização; neste sentido, os clusters são interpretados como um sistema de produção, como uma justa concentração territorial de firmas específicas trabalhando no mesmo setor, mas que envolve organizações complexas com estreitos relacionamentos trans-setoriais, que implicam em mudanças do ―distrito industrial‖ para formas de ―redes organizacionais‖ em um nível inter- regional e internacional.

A lógica para o argumento é de que as regiões deveriam especializar-se. Neste sentido, o papel da política pública no apoio à criação e ao desenvolvimento dos clusters remontam a Adam Smith e à sua famosa proposição de que a divisão do trabalho é limitada pela extensão do mercado aponta para o fato de que o aumento dos mercados é também uma condição prévia para a especialização regional, conduzindo a uma alta produtividade para a cooperação. Cabe aqui mencionar que Adam Smith ainda não tinha utilizado o termo ―globalização‖.

A ideia foi desenvolvida mais em profundidade por Marshall (1982), argumentando em favor da aglomeração das indústrias e, mais tarde, no já bem conhecido argumento de Porter (1990), de que os clusters são concentrações geográficas de empresas de determinado setor de atividade e organizações correlatas, de fornecedores de insumos a instituições de ensino e clientes (KRUGMAN,1991), a escola dos distritos industriais italianos, e a escola do ―milieu innovateur‖ francês, dentre outros (STEINER, 2002, p. 208).

Com relação à perspectiva teórica, os clusters enfatizam a dimensão espacial das atividades inovadoras e, como tal, é um elemento essencial do debate da ―nova geografia econômica‖, a qual enfatiza: as economias de escala e de escopo, a importância dos custos de transporte e, por conseguinte, as vantagens da proximidade e a consequente propensão para aglomeração (STEINER, 2002, p. 208).

A noção de Clusters para o autor supracitado tem o requinte adicional de ser atrativo para certas visões políticas, haja vista que reconhece as limitações da economia global e a necessidade de inserir a região dentro de uma divisão internacional do trabalho, assim como também está amarrada a uma tendência para a descentralização e regionalismo, e tem afinidade com ideias comunitárias e com a filosofia ―o pequeno é bonito‖.

De acordo com Swann et al.(1998), a definição de clusters é um aglomerado geográfico de uma coleção de firmas localizadas numa pequena área geográfica, possivelmente muito pequena e com pouca integração vertical, que prospera sobre as forças complementares das firmas vizinhas. Apesar de esta ser uma definição mais próxima do Porter, Cooke (2002) ainda acredita que são definições com notáveis retratos estatísticos, tornando-os interessantes apenas para políticos e acadêmicos interessados no crescimento rápido, com receitas elevadas e formações rápidas de novas firmas.

Segundo Enright (2001), os clusters são definidos como: ―um grupo de firmas do mesmo ramo industrial, ou de indústrias relacionadas entre si que estão geograficamente próximas uma das outras‖.

Os Clusters, ou aglomerados industriais, representam um conjunto de indústrias interligadas por meio de relações ―comprador e fornecedor‖ e ―fornecedor e comprador‖, ou por tecnologia de propriedade comum, compradores comum, ou o mesmo canal de distribuição, ou a concentração de trabalhadores (ENRIGHT, 2001). De todas as denominações estudadas, esta é a que apresenta a maior amplitude para descrever a aglomeração geográfica de firmas e têm como pressupostos uma mesma localização geográfica e as empresas situarem-se próximas umas das outras.

Para Enright (2001), o conceito de aglomerado regional contempla os conceitos de distritos industriais e de pequenas e médias empresas, inclusive o conceito dos sistemas de produção dotados de alta tecnologia.

Enright (2001) foi um dos autores que mais se preocupou com a questão conceitual, uma vez que considera importante o emprego de termos relativamente amplos, assim como aglomerados (clusters) regionais, além de sustentar que todos os termos fazem alusão à concentração geográfica de firmas.

Karlsson (2008), ao tratar dos aglomerados de alta tecnologia (high-tech clusters), define aglomeração como ―fenômeno localizado que toma lugar, principalmente dentro dos limites da região urbana funcional‖, que se caracteriza por suas aglomerações de atividades e pela sua infraestrutura de transporte intrarregional, o que facilita uma alta mobilidade de pessoas, produtos e inputs dentro do seu limite de interação.

Ainda, segundo Karlsson (2008), a característica básica de uma região funcional é um mercado laboral integrado e o modelo de uma região funcional tem lugar na maioria dos modelos da economia urbana.

Outros autores, tais como Schmidtz e Nadvi (1999); Myltelka e Farinelli, (2000); Amato Neto (2005) definem aglomerações produtivas como uma concentração setorial e espacial de firmas de um mesmo segmento de atividade estabelecidas numa área geográfica próxima com um grau incipiente de relações formalizadas e integradas.

Ferreira (2009, p.20), citando Swann e Prevezer (1997, p.1139) afirma que, de uma forma mais genérica, os distritos industriais, APLs e clusters têm sido tratados como aglomerações industriais, ou seja, ―grupos de firmas de uma indústria concentrada em uma área geográfica‖ e que estudos recentes sobre a localização das empresas demonstram que aquilo que tem sido chamado de ―aglomerações industriais‖ é um fenômeno muito mais comum do que se imagina, não limitado somente aos clássicos exemplos do Vale do Silício e da Rota 128, e que suas origens podem estar associadas às mais distintas razões.

Ainda para Ferreira (2009, p.20), a aglomeração industrial é um fenômeno completamente diferente, apesar de boa parte de a literatura assumir que clusters, APLs e distritos industriais serem manifestações semelhantes às de aglomerações industriais. Ele salienta uma diferenciação

e as usa para definir os conceitos de aglomeração, concentração e especialização, de maneira que os distingue entre si.

Segundo Ferreira (2009, p.21), os estudos sobre aglomerações e concentrações têm como interesse comum a distribuição da atividade econômica no espaço geográfico e estão interessados no fato de uma parte específica da atividade econômica ser encontrada ou não em algumas localidades, seja uma cidade, uma região ou um país.

No entanto, afirma o autor, citando Brakman et al. (2001), a principal diferença reside no enfoque; enquanto a concentração analisa a localização espacial de poucos e bem definidos setores iguais, a aglomeração envolve os movimentos de setores definidos de forma mais ampla, cujos bens possuem requisitos de insumos muito distintos entre si (BRÜLHART, 1998, p. 776).

De acordo com Britto (2002, p.374), o conceito de aglomerações (ou clusters) industriais refere-se à emergência de uma concentração geográfica e setorial de empresas. Nem toda aglomeração é uma concentração, mas um cluster precisa ser os dois, a partir da qual são geradas externalidades produtivas e tecnológicas indutoras de um maior nível de eficiência e competitividade.

Ao se apoiarem mutuamente, as empresas integradas a estes arranjos conferem vantagens competitivas ao nível industrial para uma região particular, permitindo explorar diversas economias de aglomeração (BRITTO, 2002, p.374).

O autor afirma que a intensificação das articulações e interações entre empresas presentes nessas aglomerações pode ter impactos importantes em termos da geração de efeitos de aprendizado e da dinamização do processo inovativo em escala local ou regional.

Ainda, de acordo com Britto (2002, p.374), a formação de aglomerações industriais é mais nítida em determinados setores do que em outros.

Para Cassiolato e Lastres (2003 b), os clusters podem ser analisados de maneiras diferentes, em que cada uma destas possui uma trajetória de desenvolvimento única, princípios de organização e problemas específicos. Entretanto, devem ser realizadas duas profundas distinções: a primeira entre clusters que originam aglomerações espontâneas de empresas e outros atores relacionados e aquelas que são induzidas por regras públicas.

Os autores mencionam o trabalho dos economistas franceses, baseados em François Perroux (1973), sobre a ligação dinâmica dentro do sistema industrial entre os setores de clusters conectados por fortes ligações tecnológicas e comportamentais. Neste caso, os autores o denominam de ―clusters construídos‖, cadeias que vão de tecnópoles e parques industriais a incubadoras e zonas de processos de exportação. Do ponto de vista da aprendizagem e da perspectiva inovadora, os clusters espontâneos podem ser distinguidos em termos de conjuntos de variáveis que enfatizam o potencial para as mudanças dinâmicas que acontecem dentro dos clusters. São estas: a configuração de atores, a competência do ator, temperados por hábitos e práticas tradicionais, a natureza e a extensão das interações entre os atores críticos.

Conforme Myltelka e Farinelli (2000), os clusters informais e organizados representam a forma predominante em países desenvolvidos e diferem dos clusters inovativos de muitas maneiras, embora numa análise final, somente os clusters inovativos exibem um processo de contínua inovação no decorrer do tempo.

Os clusters informais geralmente englobam micro e pequenas empresas, cujo nível de tecnologia é baixo comparado com a indústria e cujos proprietários possuem baixa capacidade gerencial. Embora os clusters organizados, por definição, tenham potencial para serem inovativos, a simples proximidade entre empresas em tradicionais indústrias não é garantia de que as empresas serão sustentáveis.

Segundo Zaccarelli (2006), a palavra cluster significa um agrupamento de objetos similares. Não representa uma organização formalizada de empresas. O cluster existe naturalmente, mesmo que as empresas que dele participam não tenham consciência de sua existência. Estas empresas estão concentradas numa mesma área geográfica e apresentam

naturalmente um comportamento como um sistema, com efeito extraordinário sobre a competitividade delas. Nesse sistema, as empresas agem como um todo integrado.

Para Zaccarelli (2006), os requisitos para o cluster ser completo são: alta concentração geográfica, preferencialmente todo o cluster deve estar localizado em um só município, existência de todos os tipos de empresas e instituições de apoio relacionado com o produto/serviço do cluster, empresa altamente especializada onde cada uma destas realiza um número reduzido de tarefas, presença de muitas empresas de cada tipo, total aproveitamento de materiais reciclados ou subprodutos, grande cooperação entre as empresas, intensa disputa, uniformidade de nível tecnológico, cultura da sociedade adaptada às atividades do cluster. Ainda para o autor, estas condições têm correlação entre si, reforçando-se mutuamente.

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