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CAPÍTULO II – O MEIO AMBIENTE E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

5. ESTUDO EMPÍRICO

5.2 Clyseide Kossatz Carvalho Gomes

Segundo a proprietária rural Clyseide Kossatz Carvalho Gomes, até o dia 31/11/06, data da entrevista, não lhe foi repassada, pelo Poder Público, nenhuma informação sobre a instalação dos Parques. Todo o procedimento está sendo feito de acordo com a vontade estatal, ficando os proprietários rurais e moradores da região à margem do processo.

A proprietária afirma que não houve estudo técnico para designar a área a ser desapropriada. Todo o trabalho foi feito em cima de publicações em jornais. Nem sequer foi explicado ao pequeno proprietário o real motivo da desapropriação.

Relata Clyseide que, entre a população local, há um medo generalizado de que o valor da indenização seja apenas irrisório. Nunca foi informado aos proprietários rurais quando e quanto será a indenização. Conseqüentemente, há o questionamento “do que fazer”, “para onde ir”, quando o Parque realmente for instalado.

Muitas pessoas vêm apresentando doenças provenientes de estado nervoso, como depressão, pressão alta, entre outras. A entrevistada relata que três proprietários rurais morreram em decorrência do desgosto causado pela implantação do Parque Nacional dos Campos Gerais. O Poder Público não considera o lado humano dentre os critérios analisados para a instalação de uma Unidade de Conservação. A preservação da natureza é indispensável, mas o respeito aos moradores da região designada para a instalação de medidas que visem à preservação ambiental também é necessária. Deveria haver um equilíbrio.

Segundo Clyseide, a comunidade ponta-grossense tem que achar meios para se defender contra a instalação do Parque. A falta de mobilização e de coordenação do grupo contrário ao Parque dificultou as negociações com o Poder Público e a região perdeu a oportunidade de conseguir retirar algumas de suas propriedades da área designada para a instalação da Unidade. Em Imbituva, ao contrário de Ponta Grossa, a população local conseguiu mobilizar-se adequadamente e teve como resultado a exclusão de várias propriedades da área designada para o Parque. O mesmo ocorreu em Teixeira Soares, que teve a sua área do Parque diminuída em função da população local ter exigido que um estudo

técnico mais detalhado e sério fosse realizado na região antes de ser instalada a Unidade de Conservação.

Além de existir o desrespeito dos governantes em relação à comunidade local, há suspeita de que o interesse pela região esteja no fato de o Parque tornar-se um cabide de emprego e de que as ONGs regionais, que estão apoiando a sua instalação, passem a apresentar requisitos para ter o direito de obter dinheiro dos órgãos públicos. Segundo a proprietária, as Unidades de Conservação atraem dinheiro das ONGs internacionais. Milhões de dólares por ano serão administrados. Aqueles que estão apoiando a instalação do Parque na região estão preocupados com a ganância de arrecadar recursos financeiros.

A proprietária questiona se depois de instalado o Parque, o Poder Público terá condições de exercer uma fiscalização apta a evitar a degradação ambiental, haja vista que a falta de manutenção e cuidado com a terra gera fogo e acaba com o ecossistema. Exemplifica a sua preocupação com o ocorrido na Fazenda Itamaraty I, de propriedade de Olacyr de Moraes, localizada em Mato Grosso do Sul. A propriedade foi cedida a 3.400 (três mil e quatrocentas) famílias. Anos depois, o que se verificou não foi a realização de uma atividade rural próspera. O que se instalou na região foi bandidismo e corrupção.

Clyseide questiona, ainda, se será mesmo necessária a instalação de uma Unidade de Conservação na modalidade de Parque Nacional na região dos Campos Gerais. Mais de 30% das propriedades na área estão adequadas para a conservação e preservação ambiental, graças ao esforço dos proprietários rurais. No entanto, não há o reconhecimento do Poder Público.

A entrevistada afirma que o Norte do Paraná está devastado e, contudo, nenhuma política voltada para a preservação ambiental está focada naquela região.

Até mesmo o Movimento dos Sem Terra – MST conta com a complacência do Poder Público, de modo que os seus integrantes podem destruir e ameaçar a mata e não são responsabilizados por isso.

Por que tanta intransigência e desrespeito por parte do Poder Público em relação aos proprietários rurais? Será que os Governantes se esquecem de que o sucesso na lavoura se reflete em vários outros aspectos na economia? Por que não é instituído um sistema de valorização de florestas em propriedades particulares? Com isso, gera-se uma descrença: vale a pena ser correto? Pelo fato de conservar a região, os proprietários rurais dos Campos Gerais terão suas terras desapropriadas. Diante dessa perspectiva, Clyseide conclui que políticas públicas, mal formuladas e organizadas, acabam tornando o Ministério do Meio Ambiente um degradador ambiental, pois cria uma consciência coletiva de que quem tem araucária em sua propriedade não pode deixá-la crescer. Segundo ela, mais de um milhão de araucárias já foram devastadas em propriedades rurais no Estado de Santa Catarina, mediante o medo dos proprietários rurais de verem suas propriedades se tornarem Parques.

Outro aspecto apontado pela proprietária é que o Governo incentivou uma política de financiamento aos proprietários de forma a estimular a produção rural. Mas, agora que está no fim do prazo do financiamento, o Governo vem requerer as áreas novamente.

Para Clyseide, a falta de mobilização adequada entre a população local, somada à intransigência do Ministério do Meio Ambiente, fez com que os ânimos se exaltassem de tal forma que hoje ninguém concorda com mais nada. Para a instalação de uma Unidade de Conservação tem que se levar em conta o aspecto social e não se restringir apenas ao levantamento ambiental. Os proprietários rurais

são favoráveis ao equilíbrio entre o ser humano e o meio ambiente, ao contrário dos ambientalistas que defendem o isolamento da natureza. Com a desapropriação, mais de 400 (quatrocentas) famílias serão expulsas de seus lares, sem ter para onde ir. O Poder Público está mais preocupado com o papagaio de cabeça roxa do que com as famílias da região. A política de preservação ambiental deve buscar a reparação dos recursos naturais de forma sustentável. Para se sustentar, é indispensável ao Parque contar com o apoio da população local.