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CAPÍTULO II – O MEIO AMBIENTE E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

8. DESAPROPRIAÇÃO

8.5 Indenização

O artigo 5º, XXIV, da Constituição Federal47 dispõe acerca da necessidade de se indenizar aquele que foi desapropriado. Sobre o assunto, leciona Tavares (2003, p. 471):

Também na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1.793 está consagrado, no art. 19: “Ninguém pode ser privado da menor parte de sua propriedade sem consentir nisso, a não ser quando uma necessidade pública legalmente constatada exigi-lo, de modo evidente, e sob condição de uma indenização justa e prévia”.

A indenização deve ser, sempre, justa, prévia e em dinheiro. Consiste no valor real do bem somado aos danos emergentes, lucros cessantes, renda produzida pelo bem, juros compensatórios, juros moratórios, despesas judiciais, honorários advocatícios e correção monetária, tomando-se por base o índice oficial.

Os danos emergentes consistem na diminuição patrimonial. Os lucros cessantes correspondem à recompensa devida ao particular pela frustração de ganhos e benefícios, por ele não poder exercer suas atividades, em decorrência da desapropriação. Os juros compensatórios destinam-se a reparar a perda antecipada da utilização do bem e começam a ser contados a partir da efetiva ocupação do

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Art. 5º [...]

XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública,

ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;

bem. Os juros moratórios destinam-se a cobrir a renda do dinheiro não pago no devido tempo. A Súmula 617 do Supremo Tribunal Federal estabelece que os honorários advocatícios devem ser calculados sobre a diferença entre o valor oferecido inicialmente e o valor efetivamente estabelecido na desapropriação. A correção monetária impede a depreciação do valor da indenização.

Celso Mello (2002, p. 741) define justa indenização como:

Indenização justa, prevista no art. 5º, XXIV, da Constituição, é aquela que corresponde real e efetivamente ao valor do bem expropriado, ou seja, aquela cuja importância deixe o expropriado absolutamente indene, sem prejuízo algum em seu patrimônio. Indenização justa é a que se consubstancia em importância que habilita o proprietário a adquirir outro bem perfeitamente equivalente e o exime de qualquer detrimento.

A indenização é um direito do desapropriado. Assegura a garantia constitucional48 à propriedade privada, haja vista que o não pagamento acarreta perdas e danos.

A indenização em dinheiro significa que o pagamento deve ser feito em moeda corrente e está prevista no artigo 5º, inciso XXIV, da Constituição Federal. Todavia, conforme leciona Meirelles (2003, p. 617), há algumas exceções para a indenização na forma prevista constitucionalmente:

Por exceção constitucional permite-se o pagamento em títulos especiais da dívida pública e da dívida agrária, respectivamente, para os imóveis urbanos que não atendam ao Plano Diretor Municipal e para os imóveis rurais (CF, arts. 182, § 4º, III, e 184). Por acordo pode-se estabelecer qualquer outro modo ou forma de pagamento.

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Art. 5º [...]

A fixação da indenização se dá por acordo administrativo ou por decisão judicial, se houver divergência entre o valor ofertado pelo Poder Público e o valor pleiteado pelo particular. O pagamento da indenização ocorre nos termos do julgado. Quando promovido pelas pessoas públicas, tem que ser feito na ordem de apresentação da requisição (precatório) e à conta dos créditos respectivos. É proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias ou nos créditos especiais abertos para esse fim e, se houver preterição do exeqüente, caberá seqüestro da quantia necessária à satisfação do débito. As Administrações deverão incluir nos seus orçamentos dotações bastantes para o pagamento dos débitos constantes dos precatórios apresentados até 1º de julho, abrindo-se créditos adicionais para as requisições posteriores. Quando o pagamento for promovido pelas entidades de personalidade privada, ainda que estatais, deve ser feito pela forma processual comum, inclusive com penhora de bens do devedor que não atender ao mandado executório.

A indenização prévia retrata que o Poder Público deverá pagar ou depositar o preço antes de entrar na posse do imóvel. Entretanto, com a lentidão do Judiciário, até o trânsito em julgado da ação que estabelece o valor da desapropriação, anos e anos já se passaram. Isso causa a frustração ao mandamento constitucional da indenização prévia. Os depósitos provisórios geralmente são ínfimos em relação ao valor do imóvel, deixando o particular despojado de seu bem e do seu valor durante anos.

Ao estabelecer o valor da desapropriação de imóveis rurais, o Poder Público deve considerar vários fatores: destinação normal da propriedade somada à classificação das terras, à sua utilização, às áreas de mata, às pastagens, às culturas e às benfeitorias. Somam-se, ainda, as atividades agrárias, pastoris e

extrativas. A distância das terras aos centros urbanos, os meios de comunicação, os meios de transporte e demais utilidades e potencialidades do bem expropriado também são fatores valorizantes de ordem geral.

Nos casos de desapropriação para a instalação de Unidades de Conservação, até que a população seja reassentada, devem ser estabelecidas normas que as integrem à nova Unidade. Não são indenizáveis as áreas referentes à regularização fundiária, derivadas ou não de desapropriação; as espécies arbóreas declaradas imunes de corte pelo Poder Público; os lucros cessantes; os juros compostos; a área que não tenha prova de domínio inequívoco e anterior à instalação da Unidade de Conservação.

A Súmula 479 do Supremo Tribunal Federal49 dispõe incabível a indenização da desapropriação de terrenos marginais dos rios públicos. Meirelles (2003, p. 619) discorda desse entendimento, haja vista que se trata, pura e simplesmente, de servidão administrativa, a qual é reservada para eventuais fiscalizações do rio. Segundo o autor, o bem não é retirado da propriedade particular, que pode utilizar o imóvel normalmente. Quem compra e vende terras ribeirinhas no Brasil o faz em toda a sua extensão, até as margens do rio. Nada mais justo do que o Poder Público incluir essa área na indenização da desapropriação, até porque essas áreas geralmente são altamente produtivas e valorizadas, por serem as melhores terras, as mais rentáveis e as mais procuradas para culturas e pastagens, exatamente pela proximidade das águas.

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STF Súmula n.º 479

As margens dos rios navegáveis são domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas de indenização.

8.6 Princípios Constitucionais e a Desapropriação para a Instalação do Parque