• Nenhum resultado encontrado

3 DIREITO AMBIENTAL, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECONOMIA

3.4 A ECONOMIA CIRCULAR NO BRASIL

3.4.1 CNI – Confederação Nacional da Indústria

O mais amplo estudo sobre iniciativas circulares no Brasil foi desenvolvido em 2019, pela CNI, ganhando o título de “Economia Circular, Caminho Estratégico para a Indústria Brasileira”.229

228 CIRCLE ECONOMY. The Circularity Gap Report 2019. Disponível em: https://www.circularity- gap.world/built-environment. Acesso em: 12 jan. 2020. p. 34.

229 CNI. Economia Circular. Caminho Estratégico para a Indústria Brasileira. Disponível em: https:// www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2019/9/economia-circular-caminho-estrategico-para- industria-brasileira/. Acesso em: 10 jan. 2020.

Na apresentação do Relatório, é feita a comparação entre o potencial do Brasil e a abundância de recursos naturais – água, biodiversidade, etc. – e a demanda mundial por estratégias eficientes em uso de recursos naturais, atrelada ao crescimento populacional e à procura por bens de consumo para a população. Justifica o Relatório, que a adoção da Economia Circular, com o redesenho de processos e produtos típicos da circularidade, os benefícios transpassariam a área ambiental, trazendo também oportunidades de negócio para as indústrias, gerando competitividade, inovação, emprego e renda. Complementa, no decorrer da apresentação, que a Economia Circular precisa fazer parte da agenda nacional, para que os obstáculos atuais, tecnológicos e regulatórios, não impeçam o progresso da circularidade e os potenciais benefícios para a todo o país.230

Em um ambiente propício aos negócios, com políticas públicas adequadas, por exemplo, as indústrias já possuem grande importância na promoção da Economia Circular. Já no Brasil, com a ausência de políticas públicas circulares, poucas modalidades de incentivo em estudos e investimentos circulares, a importância das indústrias é acentuada, pois, segundo o Relatório:

A indústria tem papel fundamental nessa transição ao inserir em seus processos o uso de matéria-prima secundária, tecnologias que reduzem gasto de energia, produtos com maior durabilidade e/ou facilidade de manutenção, ou seja, dando maior valor aos recursos utilizados e aos produtos.231

No Relatório, os desafios das indústrias quando da aplicação de princípios da Economia Circular são: “inovar no desenho de produtos para maior circularidade” (a); “diminuir a dependência de matérias-primas virgens” (b); “reduzir as perdas nos processos produtivos” (c); “ter maior eficiência na distribuição” (d) “ampliar os serviços de manutenção e reparo dos produtos” (e); e “construir os canais para logística reversa e reciclagem” (f). Ou seja, pontos que o Estado precisa se fazer presente e criar políticas públicas para facilitar a circulação e o melhor aproveitamento de produtos e matérias.232

230Ibidem, p. 9. 231Ibidem, p. 11. 232Ibidem, p. 17.

A CNI elabora, auxiliada no estudo de Paulo Savaget e Tatiana Silva,233 um

ensaio sobre os modelos de negócios que podem ser desbravados pelas indústrias brasileiras, sistematizando-os em:

Recuperação de recursos: Tem como objetivo recuperar o valor e a função dos produtos, componentes ou materiais por meio de remanufatura ou reciclagem. [...] Produto como serviço: Nesse modelo a ideia é fornecer serviços que possam suprir as necessidades do consumidor sem que ele precise adquirir o produto. […] Compartilhamento: Modelo de negócio que procura intensificar e prolongar o uso de bens reduzindo a ociosidade. […] Insumos circulares: Modelos de negócio que usam matérias-primas recicladas e/ou de origem renovável, e produtos recondicionados, regenerados e remanufaturados. […] Extensão da vida do produto: Consiste na substituição de componentes defeituosos ou que tenham se tornado obsoletos, podendo ser consertados ou atualizados por mais modernos, mantendo o uso e evitando o descarte de todo o produto por conta da substituição de um único componente. […] Virtualização: Impulsionado pelos computadores e pela internet, esse modelo de negócio se caracteriza pela desmaterialização.234

O Relatório traz, ainda, uma série de pesquisas sobre o conhecimento sobre Economia Circular no Brasil. Nesse sentido, sobre as práticas circulares, encontrou que “mais de três quartos das indústrias – 76,4% – adotam alguma prática de economia circular no país, mas a maior parte não sabe que as iniciativas se enquadram nesse conceito”, ficando claro que, embora as indústrias reconheçam a importância e implantem práticas de prolongamento ou fechamento do ciclo de vida de produtos e matérias, isso se dá de forma autônoma e em cadeias específicas, sem que se tenha conhecimento sobre o grande potencial da Economia Circular e demais benefícios que podem ser obtidos com a sua aplicação em larga escala.235

Para verificar as dificuldades e possíveis soluções para a promoção da Economia Circular no Brasil, a CNI questionou representantes de setores, federações da indústria e de empresas, em três aspectos: “Como imagina a indústria do futuro e o papel da Economia Circular?”, “Qual a situação atual da indústria brasileira em relação à Economia Circular?” e “Quais as principais ações que precisamos realizar no caminho de transição para a Economia Circular na Indústria

233SAVAGET, Paulo; SILVA, Tatiana. Economia circular e novos modelos de negócios. Disponível em:

https://www.researchgate.net/publication/311700146_Economia_Circular_e_Novos_Modelos_de_ Negocios. Acesso em: 10 jan. 2019.

234Ibidem, p. 35-36. 235Ibidem, p. 38.

Brasileira?”, ou, resumidamente, “onde estamos”, “o que fazer para chegar lá” e “onde devemos chegar.”236

A pesquisa foi direcionada aos temas “políticas públicas”, “educação”, “mercado”, “pesquisa, desenvolvimento e inovação” e “financiamento” e seus resultados deram origem ao “Caminho estratégico de transição da economia brasileira para um modelo circular”:

Figura 5 – Caminho estratégico de transição da economia brasileira para um modelo circular

Fonte: CNI, Economia Circular. Caminho Estratégico para a Indústria Brasileira.237

Isso demonstra que a indústria brasileira está disposta a inserir a Economia Circular em seu seio, mas precisa do Estado para facilitar essa inserção por meio de políticas públicas adequadas.

236Ibidem, p. 51-52. 237Ibidem, p. 58.