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4.1.2.1 Cobertura do solo por vegetação

Capítulo III. Caso de estudo: A comunidade quilombola do Boqueirão

III. 4.1.2.1 Cobertura do solo por vegetação

Nos SAF‟s onde o espaçamento entre as espécies perenes é elevado, existe o risco de invasão por gramíneas e outras plantas herbáceas de difícil maneio ou onerosa eliminação. Torna-se, assim, imprescindível adensar os espaços entre as espécies prioritárias com espécies de permanência temporária para formar uma cobertura viva do solo. Esta prática tem pelo menos dois objectivos: impedir a invasão por infestantes, gerar rendimento e/ou induzir outras vantagens que promovam a sustentabilidade do SAF (May et al., 2008).

A adubação verde, através da introdução de leguminosas fixadoras de azoto atmosférico de ciclo curto, foi a prática de cobertura viva adoptada para preencher os espaços entre as espécies prioritárias, com o objectivo de aumentar a fertilidade do solo e reduzir a invasão por infestantes, nos talhões B e C (onde se introduziram novas técnicas de maneio do solo). As espécies introduzidas foram o feijão-guandu (Cajanus cajan) e o feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), tal como já foi referido em capítulos anteriores.

De seguida, apresentam-se os resultados obtidos para a cobertura do solo por vegetação dos quintais agro-florestais das duas UP‟s estudadas. Em ambas as UP‟s, as campanhas de amostragem de Março de 2007 e 2008 e Janeiro e Abril de 2009 foram realizadas durante a estação húmida, ao passo que a campanha de amostragem de Junho de 2008 foi realizada na estação seca. A cobertura do solo por infestantes foi contabilizada nas amostragens realizadas em ambas as UP‟s.

59 Na Figura 27 apresenta-se a cobertura do solo por vegetação dos talhões A (controlo) e B (experimental), no quintal agro-florestal da UP [Sítio] Boa Vontade, para as campanhas de amostragem realizadas no período de 2007 a 2009.

Figura 27: Cobertura do solo por vegetação, em percentagem por unidade de área, nos talhões A (controlo) e B

(experimental), ao longo do período experimental de 2007 a 2009, na UP Boa Vontade.

Pela análise da Figura 27, verifica-se que o solo de ambos os talhões apresenta maior cobertura viva durante a época de chuvas, ou seja, entre Dezembro e Abril. O mês de Janeiro de 2009 evidencia fortemente este aspecto. A forte cobertura do solo por vegetação nesta época deve-se à presença de grandes quantidades de plantas invasoras, para o caso do talhão controlo A, e à presença das espécies leguminosas, para o caso do talhão experimental B. O agricultor desta UP não efectuava capinas com frequência no talhão controlo, o que levava ao crescimento e adensamento acentuado de plantas invasoras, podendo atingir alturas de cerca de 2m, como aconteceu em 2009. Na estação seca, representada pelo mês de Junho de 2008, o solo apresenta uma cobertura por vegetação bastante inferior, sobretudo na metade direita dos talhões, indicando uma maior concentração de espécies arbóreas na metade esquerda dos mesmos e o desaparecimento de plantas invasoras, devido à escassez de água, e também devido à ausência das espécies leguminosas. Caso não haja cobertura por manta morta, esta menor cobertura por vegetação deixa o solo mais exposto aos raios solares e, consequentemente, ocorre uma maior evapotranspiração, prejudicial ao desenvolvimento das mudas plantadas, devido à escassez de água. Em Março de 2007, a poda das leguminosas ainda não tinha sido realizada quando se

60 efectuou a amostragem, daí o talhão B apresentar melhor cobertura por vegetação comparativamente ao talhão controlo (a presença de infestantes não terá sido considerada neste ano). Em Março de 2008, a poda já tinha ocorrido, mas somente do feijão-guandu (na altura, o feijão-de-porco não apresentava biomassa suficiente para a sua poda), o que justifica a menor cobertura por vegetação do talhão B, pois o talhão A não tinha sofrido nenhuma capina recente, logo, apresentava grande quantidade de infestantes. A maior cobertura na metade esquerda do talhão experimental deve-se, assim, à presença do feijão-de-porco, que tem tendência a desenvolver-se melhor nesta parte do talhão. A diminuição da cobertura do solo por vegetação de Janeiro de 2009 para Abril de 2009, no caso do talhão experimental B, deve-se à poda das leguminosas efectuada em final de Fevereiro de 2009. Para este mesmo período, no talhão controlo A observou-se uma maior cobertura na metade direita, facto que se deve ainda à presença de plantas invasoras – este talhão foi capinado no final de Março de 2009 apenas na metade esquerda. Esta diferença não é demasiado acentuada por este talhão apresentar uma boa cobertura por vegetação durante todo o ano, na metade esquerda, devido à presença da copa de árvores adultas, em especial de um pé de ingá, de um pé de jaca e de um bacuri.

Na Figura 28 apresenta-se a cobertura do solo por vegetação dos talhões C (experimental) e D (controlo), no quintal agro-florestal da UP [Sítio] São João, para as campanhas de amostragem realizadas no período de 2007 a 2009.

Figura 28: Cobertura do solo por vegetação, em percentagem por unidade de área, nos talhões C (experimental) e D

61 Tal como sucedeu na UP Boa Vontade, a cobertura do solo por vegetação em ambos os talhões da UP São João foi superior durante a época de chuvas, como se pode constatar pela análise da Figura 28. Esta maior percentagem de cobertura do solo por vegetação, no talhão experimental C, deve-se, sobretudo, à presença de infestantes (quer rasteiras, quer não rasteiras), além da presença das espécies leguminosas e das espécies produtivas do SAF. Para o caso do talhão controlo D, exceptuando o mês de Março de 2008, a cobertura do solo por vegetação deve-se, sobretudo, à presença das espécies produtivas do SAF (em especial as bananeiras e as culturas anuais plantadas) e não tanto à presença de infestantes, uma vez que este talhão era capinado com frequência. Este facto ganha maior evidência em ambas as amostragens do ano de 2009, quando o talhão experimental C apresenta maior cobertura do solo por vegetação devido à presença de leguminosas neste talhão, mas também à grande quantidade de infestantes que se observaram neste talhão e que não foram observadas no talhão controlo devido à capina deste último com alguma frequência (antes do plantio das leguminosas, o agricultor não quis capinar o talhão experimental, o que afectou bastante o crescimento destas devido ao abafamento das infestantes). Tal como aconteceu na UP Boa Vontade, na época seca, representada pelo mês de Junho de 2008, ambos os talhões da UP São João apresentaram uma menor cobertura viva do solo, pelas mesmas razões apresentadas para o caso da UP Boa Vontade, ou seja, devido à ausência das espécies leguminosas e ao desaparecimento das infestantes. As maiores percentagens de cobertura do solo por vegetação, na época seca, referem-se à presença de espécies arbustivas ou arbóreas, indicando-nos, assim, a forma como o SAF se encontra estruturado no que respeita ao tipo de estrato presente.