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Capítulo III. Caso de estudo: A comunidade quilombola do Boqueirão

III. 4.2.5.1 Matéria Orgânica

Na Figura 40 estão representados os gráficos com os teores médios de matéria orgânica no solo, nos talhões controlo, experimentais e de referência das UP‟s [Sítios] Boa Vontade e São João, para os períodos de amostragem realizados entre 2007 e 2009.

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Figura 40: Evolução do teor médio de matéria orgânica do solo, nos talhões controlo, experimentais e de referência das

UP‟s Boa Vontade e São João, no período experimental de 2007 a 2009 (média ± desvio padrão).

Como se pode constatar pela análise dos gráficos da Figura 40, todos os talhões registaram uma evolução média crescente de matéria orgânica no solo, com excepção da área de pastagem (talhão E) que diminuiu de 2007 para Maio de 2008, mas apresentando uma evolução igualmente crescente de Maio de 2008 até Abril de 2009. Este facto confirma, assim, o aumento gradual observado nos mapas de simulação de distribuição espacial para este parâmetro, nos talhões controlo e experimentais, e as oscilações observadas no talhão E. Confirma também que factores externos, nomeadamente o clima e, consequentemente, a actividade biológica dos organismos vivos do solo (entre outros factores), influenciaram o teor de matéria orgânica observado, uma vez que, quer os talhões controlo, quer os talhões referência, sofreram igualmente aumentos deste parâmetro, ao longo do tempo.

Na UP [Sítio] Boa Vontade, o talhão controlo A registou sempre um teor médio de matéria orgânica superior ao talhão experimental B. Ambos os talhões sofreram um aumento gradual aproximadamente na mesma proporção (com uma taxa de aumento de 63,7% e 73,6% para o talhão A e B, respectivamente, entre 2007 e 2009), ao longo do tempo, não apresentando diferenças significativas entre eles para nenhuma das campanhas de amostragem realizadas.

98 Temporalmente, ambos os talhões registaram um aumento significativo de Março de 2007 para Julho de 2008 (ptalhão A = 0,025; ptalhão B = 0,032) e Abril de 2009 (ptalhão A = 0,003; ptalhão B = 0,001), mas também de Maio de 2008 para Abril de 2009 (ptalhão A = 0,033; ptalhão B = 0,009). Tal como já foi referido no item III.4.2.1, a diferença mínima observada ao longo do tempo entre os talhões, assim como o aumento significativo ao longo do tempo em ambos os talhões, dever-se-á à mudança de atitude por parte do agricultor desta UP quanto à forma de maneio do solo, uma vez que todos os materiais orgânicos resultantes da limpeza dos terreiros e da capina, entre outros, eram deixados ou transportados para ambos os talhões A e B. No entanto, factores externos poderão estar também na origem do aumento generalizado observado para este parâmetro. Contudo, e tal como já foi referido anteriormente, a introdução e poda das leguminosas também terá tido aqui o seu contributo no Talhão B, embora de forma aparentemente ténue, dado que a taxa de aumento deste parâmetro foi ligeiramente superior no talhão experimental.

Relativamente à UP [Sítio] São João, o talhão controlo D apresentava uma condição inicial média melhor que o talhão experimental C para este parâmetro, facto que se inverteu a partir de Julho de 2008, como se pode constatar pela Figura 40. No entanto, o aumento no teor de MO mais acentuado no talhão experimental C não foi suficiente para indicar diferenças significativas entre os talhões em nenhuma das campanhas de amostragem, ainda que, consequentemente, a taxa de aumento tenha sido mais acentuada para este talhão (o teor de MO aumentou 48,2% para o talhão experimental C e 90,6% para o talhão controlo D, entre 2007 e 2009). Ambos os talhões sofreram incrementos no teor de MO ao longo do tempo, contudo, o talhão experimental C registou um aumento significativo mais rapidamente que o talhão controlo D. Assim, o talhão experimental C indicou um aumento médio significativo de Março de 2007 para Julho de 2008 (p = 0,016) e Abril de 2009 (p = 0,000), ao passo que o talhão controlo D apresentou um aumento médio significativo apenas de Março de 2007 para Abril de 2009 (p = 0,006). O aumento mais acentuado do teor de MO no talhão C dever-se-á quer à introdução de leguminosas, quer ao número reduzido de capinas no solo deste talhão, quer a uma maior cobertura viva (e também morta, ainda que de forma menos acentuada) devido ao desenvolvimento das plantas, que terão promovido uma maior protecção do solo e, consequentemente, uma maior actividade biológica. O aumento do teor de MO no talhão D dever-se-á, sobretudo, à crescente protecção do solo por cobertura viva (devido ao desenvolvimento das plantas arbustivas e arbóreas). Factores externos estarão também na origem do aumento generalizado deste parâmetro, tal como já foi referido anteriormente.

99 A área de pastagem (talhão E), como já foi referido, registou algumas oscilações no teor médio de matéria orgânica, apresentando valores mais acentuados em Março de 2007 e Abril de 2009 (época de chuvas) e mais baixos nas amostragens de 2008 (época seca), em princípio, devido às características hidromórficas deste solo e mostrando, igualmente, a influência do teor de humidade do solo. Esta área de referência não registou alterações significativas ao longo do tempo.

A área de floresta nativa (talhão F) registou um aumento progressivo do teor de MO ao longo do tempo, comprovando que factores externos estarão na origem dos aumentos observados em todos os talhões, acreditando-se que o clima seja o principal factor externo influenciador deste parâmetro (segundo testemunhos, os anos de 2007 e 2008 foram anos mais secos que o que é considerado normal). Estranhamente, a análise estatística apresentou um aumento significativo no teor de MO para a área de floresta entre Maio de 2008 e Abril de 2009 (p = 0,049), mas não mostrou diferença significativa entre Março de 2007 e Abril de 2009 (p = 0,069), para um grau de significância de 5%, quando a diferença de médias foi superior para este último. No entanto, ambas as amostragens apresentaram um grau de significância bastante próximo de 5%, ou seja, próximo da região de aceitação ou rejeição da hipótese nula.

É visível também o teor sempre superior de MO na área de floresta (talhão F), comparativamente com os quintais agro-florestais em estudo (talhões A a D). Sabendo que estes quintais agro- florestais já foram áreas de floresta no passado, verifica-se, desta forma, o que é referido por Varennes (2003), ou seja, a conversão de solos florestais em áreas agrícolas conduzem a uma perda de matéria orgânica mais acentuada, atingindo-se um novo equilíbrio num patamar mais baixo.