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1 DESCENTRALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: REVISITANDO O TEMA

2.3. ORÇAMENTO E FINANCIAMENTO

2.3.2. Cofinanciamento

Ainda em relação ao orçamento do FMAS, procurou-se evidenciar o cofinanciamento dos serviços, isto é, a participação de cada um dos entes federados no custeio da Assistência Social. O interesse focou-se no gasto da Assistência Social conforme a origem do recurso no período 1997-2003. Havia intenção de identificar a participação das esferas de governo na cobertura de distintos tipos de serviço, fato dificultado pelo registro do balaço orçamentário, fonte privilegiada para coleta desse dado. Como os balanços orçamentários do FMAS passaram a detalhar as transferências recebidas somente a partir de 2002, optou-se por desconsiderar, neste trabalho, esta abordagem e considerar a receita alocada ao Fundo Municipal pelos distintos níveis de governo.

Em relação à Tabela 8, cabe destacar, em relação aos anos de 1997 e 1998, que, embora constem recursos despendidos pela esfera estadual, sua origem é federal. Esses anos correspondem ao período de estadualização da Assistência Social56: o recurso, proveniente do FNAS, era transferido para o FEAS, cabendo ao órgão estadual processar a transferência aos fundos municipais.

Considerada esta observação, a esfera estadual alocou recursos próprios somente no ano 2002, quando liberou recursos para benefícios eventuais; fora isso, conforme registram os balanços orçamentários, a participação do estado no cofinanciamento da Assistência Social tem sido de 0%.

Quanto à participação do município e da União, percebe-se retração desta no período considerado – de 46,91% em 1998 para 34,24% em 2003 –, inversamente à participação do

56 Desde os primórdios da descentralização da Assistência Social registraram-se profundas diferenças entre as

regiões do país. Esse período correspondeu à implementação gradual da descentralização e da municipalização, até que estados e municípios tivessem condições mínimas para gerenciar o processo. Contudo, afronta concepção da própria LOAS, quer no que se refere à autonomia do município, quer no que tange ao comando único da Assistência Social: os estados contavam com órgão estadual destinado ao assessoramento, assim como com Escritórios Regionais da SAS. Conferir em Boschetti (2001: 129 e seguintes).

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município, que tem ampliado sua participação no financiamento da Política de Assistência Social de 54,73%, em 1997, para 64,12% em 2003.

A União, além da redução dos recursos alocados, revela um traço ainda mais perverso: ampliou o número de programas de 2001 (PAC, e Abrigo) para 2002 (PAC, Abrigo e PETI) – conforme registro verificado nos balanços orçamentários –, muito embora tenha reduzido o recurso em cerca de 12% no período. É mister, para uma análise mais aprofundada a esse respeito, a verificação das metas e modalidades atendidas a fim de comprovar duas hipóteses: o rebaixamento do per capita para cada um dos serviços ou a redução de metas. Causa espanto tal constatação ao se considerar a alteração promovida no texto da LOAS, incluindo o cofinanciamento dos serviços pelos entes federados como condição para o recebimento de transferências do FNAS57.

A restrição da participação da União é apenas uma das facetas da intrincada questão do financiamento da Assistência Social. Há ainda duas outras a pontuar.

Merece ser ressaltada a ineficiência dos Planos como instrumentos de captação de recursos para a PMAS, com base nas demandas locais. Se, por um lado, é também condição para o cofinanciamento – no caso de Blumenau, também base para a elaboração do orçamento do FMAS –, por outro tem tido pouca repercussão na medida em que a União tem transferido recursos para programas cujas rubricas estejam previstas no orçamento do FNAS, não acolhendo demandas locais – a não ser aquelas expressas pelo local de acordo com as ofertas que se encontram no balcão do órgão federal, tais como centros de convivência e equipamentos para agentes jovens, dentre outros. Ou seja: o cofinanciamento não é para a PMAS, mas um plus para as ações propostas pela União58 que os municípios se propõem a executar.

Essa constatação é confirmada por Boschetti: “Não se verifica, pela análise do demonstrativo do FNAS, um único repasse de recurso federal a algum programa ou projeto formulado por iniciativas dos planos municipais e que não se “enquadrem” naqueles definidos pela [SEAS]” (BOSCHETTI, 2001: 132).

Outra das facetas refere-se à contrapartida referida por Paiva e Rocha (2001).

57 Acréscimo de parágrafo único ao art. 30 da LOAS, instituído pela Lei n.º 9.720, de 30 de nov. de 1998. 58

Essa orientação provoca “distorções” políticas como as verificadas, na concepção desta autora, em Fernandes et al. (1995), já mencionados.

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Se este requisito foi um dos elementos indutores para a elaboração de orçamentos e para a alocação de recursos, na prática, as contrapartidas têm sido expressas em pessoal, equipamentos e estrutura destinada à Política de Assistência Social, escamoteando a ausência de recurso “vivo”, de dinheiro novo para o financiamento da Política.

No cofinanciamento, portanto, o que evidencia é a regressividade da participação da União, a omissão da esfera estadual e a assunção, pelo município, da maior parcela de investimento na Política de Assistência Social, considerado somente o recurso alocado no FMAS. Se a isto se somar a custo de pessoal do município (servidores públicos) alocado nas diversas atividades da PMAS, o investimento do município apresenta grande vulto.

97 Tabela 8 – Receitas alocadas no FMAS segundo a origem do recurso e o valor percentual em relação ao total – Blumenau – 1997-2003

Município Estado União Outros

Ano Total R$ % R$ % R$ % R$ % 1997 1.321.334,00 723.189,72 54,73 (605.756,80) 45,84 - - 8.739,56 0,65 1998 2.019.904,53 741.700,00 36,72 (277.347,68 ) 13,73 947.631,78 46,91 13.857,29 0,70 1999 1.950.857,96 969.100,00 49,68 - 0,00 885.883,28 45,41 18.090,75 0,97 2000 2.376.785,13 1.392.624,57 58,59 - 0,00 1.123.729,40 47,28 31.746,17 1,25 2001 2.917.220,50 1.343.000,00 46,04 - 0,00 1.542.170,30 52,86 41.946,25 1,43 2002 3.372.214,05 2.041.142,42 60,53 35.017,00 1,04 1.260.473,57 37,38 19.015,73 0,57 2003 4.207.478.78 2.698.000,00 64,12 - 0,00 1.440.715,03 34,24 55.098,00 1,31

Fonte: SEMAS. Superintendência Administrativa-Financeira. Balanços Orçamentários do FMAS - período 1997-2003. Elaborado pela autora.

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