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2. AS LEGISLAÇÕES DOS ESTADOS DO BIOMA AMAZÔNICO COM ORIGEM DO DIREITO

2.6. A Colômbia

A Colômbia faz parte da Comunidade Andina. Portanto, além da CDB, haverá a regulação da decisão 391 da CAN.

Primeiro é preciso identificar o que o Estado define em sua carta magna como responsabilidade própria, como estão nos artigos 61 (sobre propriedade intelectual) e 63 (sobre o uso dos recursos no território):

ARTIGO 61. O Estado protegerá a propriedade intelectual pelo tempo e pelas formalidades que estabelece a lei [...]

ARTIGO 63. Os bens de uso público, os parques naturais, os territórios comuns de grupos étnicos, os territórios protegidos, o patrimônio arqueológico da Nação e os demais bens que determine a lei são inalienáveis, impresctíveis e inembargáveis. (Colombia, 1991, tradução nossa)99

No artigo 61 da constituição, a Colômbia prevê uma lei de patentes, protegendo assim a propriedade intelectual, mas não garante tratamento especial para povos tradicionais, deixando livre esse aspecto em sua carta magna, diferentemente de outros países amazônicos, mais rigorosos neste aspecto.

98 “Recursos geneticos provenientes de areas naturales protegidas [...] debera dar cumplimiento a la legislaci6n nacional especifica sobre la matéria. EI Servicio National de Areas Naturales protegidas por el Estado - SERNANP, emitira opinión previa vinculante a la autorizaci6n de actividades orientadas al aprovechamiento de los recursos geneticos.” (MINAM, 2009, p.18.)

99 “ARTICULO 61. El Estado protegerá la propiedad intelectual por el tiempo y mediante las formalidades que establezca la ley. [...]

ARTICULO 63. Los bienes de uso público, los parques naturales, las tierras comunales de grupos étnicos, las tierras de resguardo, el patrimonio arqueológico de la Nación y los demás bienes que determine la ley, son inalienables, imprescriptibles e inembargables.” (Colombia, 1991).

No artigo 63, há a preocupação com áreas onde se podem extrair recursos naturais e trata-se das mesmas como bens, ainda elencando áreas de maior ou menor proteção, como áreas indígenas e parques naturais, respectivamente.

Ainda é pregado pela constituição a manutenção de um meio ambiente para todos na nação como obrigação de fiscalização e execução do Estado:

ARTIGO 79. Todas as pessoas têm direito a gozar de um ambiente saudável. A lei garantirá a participação da comunidade nas decisões que possam afetá-la.

É dever do Estado proteger a diversidade e a integridade do ambiente, conservar as áreas de especial importância ecológica e fomentar a educação para alcançar estes objetivos. (Colômbia, 2015, tradução nossa)100

A garantia descrita sobre a diversidade abarca os recursos genéticos, os quais o Estado também se coloca na obrigação de regulamentar o manejo e aproveitamento, assim como de todos os recursos naturais presentes em seu território, como se segue na carta magna:

ARTIGO 80. O Estado planejará o manejo e aproveitamento dos recursos naturais, para garantir o desenvolvimento sustentável, sua conservação, restauração ou substituição. (Colômbia, 2015, tradução nossa)101

Ainda, sobre os recursos genéticos: “ARTIGO 81. O Estado regulamentará a entrada e saída dos recursos genéticos, e seu uso, de acordo com o interesse nacional.” (Colômbia, 2015, tradução nossa)102.

E para poder acessar os recursos genéticos será necessário cumprir, entre outras exigências comuns a outros países:

100 “ARTICULO 79. Todas las personas tienen derecho a gozar de un ambiente sano. La ley garantizará la participación de la comunidad en las decisiones que puedan afectarlo.

Es deber del Estado proteger la diversidad e integridad del ambiente, conservar las áreas de especial importancia ecológica y fomentar la educación para el logro de estos fines.” (Colombia, 2015).

101 “ARTICULO 80. El Estado planificará el manejo y aprovechamiento de los recursos naturales, para garantizar su desarrollo sostenible, su conservación, restauración o sustitución.” (Colombia, 2015).

As pessoas naturais ou jurídicas estrangeiras deverão apresentar o requerimento de AAC, adicionar um ou mais coinvestigadores colombianos para que:

a. Participem da pesquisa, ou

b. Contribuam em seu seguimento e avaliação. (TRUJILLO, F.V; SOTO, G.R.N.; DIAZ, D.A.R, 2009. p.21, tradução nossa)103

Ou seja, é necessário que haja acompanhamento de autoridade ou pesquisador nacional, contribuindo para fiscalização e para adquirir conhecimento tecnológico estrangeiro, deve haver também, em anexo:

Certificado do Ministério do Interior sobre a presença de comunidades indígenas, negras, povos aos quais pertencem, representantes e localização, conforme o artígo 76 da Lei 99 de 1993 e ao Decreto 1320 de 1998. (TRUJILLO, F.V; SOTO, G.R.N.; DIAZ, D.A.R, 2009. p.21, tradução nossa)104

Além de:

1. Informes parciais e/ou finais de atividades. (segundo disponha a Autoridade).

2. Uma relação das espécies e/ou amostras que se coletaram, recoletaram, capturaram, caçaram e/ou pescaram.

3. Uma cópia do depósito realizado das espécies e/ou amostras em uma coleção registrada perante o Instituto de Investigação de Recursos Biológicos “Alexander von Humboldt”. Depósito que deverá ser realizado ao término da vigência da permissão.

4. Cópia das publicações que derivem do projeto.

5. As demais requisitadas pela Autoridade no ato administrativo pelo qual se outorga a permissão. (TRUJILLO, F.V; SOTO, G.R.N.; DIAZ, D.A.R, 2009. p.22)

Para a distribuição equitativa dos recursos:

103 “Las personas naturales o jurídicas extranjeras deberán presente consideración de la AAC el nombre y la hoja de vida de uno o más coinvestigadores colombianos para que:

a. Participen en la investigación, o

b. Contribuyan en su seguimiento y evaluación.” (TRUJILLO, F.V; SOTO, G.R.N.; DIAZ, D.A.R, 2009. p.21).

104 “Certificación del Ministerio del Interior sobre la presencia de comunidades indígenas, negras, pueblo al que pertenecen, representación y ubicación, conforme al artículo 76 de la Ley 99 de 1993 y al Decreto 1320 de 1998.” (TRUJILLO, F.V; SOTO, G.R.N.; DIAZ, D.A.R, 2009. p.21).

São partes:

• A comunidade provedora do conhecimento tradicional, ou esta representada pelo MAVDT, e

• O solicitante do acesso. (TRUJILLO, F.V; SOTO, G.R.N.; DIAZ, D.A.R, 2009. p.30, tradução nossa)105

Assim, percebe-se que há uma representatividade, mesmo que indireta, das comunidades indígenas, porém havendo uma negociação, sem valores previamente definidos. Aqui o Estado é quem representa o detentor do conhecimento tradicional associado, ou seja, o mesmo perde em poder de negociação, pois fica a mercê da atitude do Estado no processo.

Assim como os demais países, não permite a transferência do contrato de acesso, obriga consulta prévia com fins de evitar impactos negativos ambientais e sociais, além da obrigatoriedade de colocar em um contrato anexo a autorização para acessar terras indígenas, diferentemente do Brasil, por exemplo, que permite o acesso ao conhecimento tradicional indígena, mas não a entrada nos territórios indígenas.

A consulta prévia tem por objetivo analizar o impacto econômico, ambiental, social e cultural que possa ocorrer a uma comunidade indígena, afrocolombiana ou local, pela

105 “1. Informes parciales y/o finales de actividades. (según lo disponga la Autoridad)

2. Una relación de los especímenes y/o muestras que se colectaron, recolectaron, capturaron, cazaron y/o pescaron.

3. Una copia del depósito realizado de los especímenes y/o muestras26 en una colección registrada ante el Instituto de Investigación de Recursos Biológicos “Alexander von Humboldt”. Depósito que deberá realizarse en el término de vigencia del permiso.

4. Copia de las publicaciones que se deriven del proyecto.

5. Las demás señaladas por la Autoridad en el acto administrativo por el cual se otorga el permiso.” (TRUJILLO, F.V; SOTO, G.R.N.; DIAZ, D.A.R, 2009. p.22).

a la distribuicción equitativa dos recursos: “Son partes:

• La comunidad proveedora del componente intangible o conocimiento tradicional, o ésta representada por el MAVDT, y

utilizacão de recursos naturais que se encontram dentro de seu território. (TRUJILLO, F.V; SOTO, G.R.N.; DIAZ, D.A.R, 2009. p.33, tradução nossa)106

E:

O Ministério do Interior e da Justiça regulamentará a presença no território objeto de estudo de comunidades, o povo ao qual pertencem, sua representação e localização geográfica. (TRUJILLO, F.V; SOTO, G.R.N.; DIAZ, D.A.R, 2009. p.33, tradução nossa)107

Logo, percebe-se o interesse da Colômbia em permitir a exploração de seus recursos, incluindo aquele em áreas protegidas e também os CTAs, mas sempre com participação de órgãos públicos com a finalidade de assegurar a transparência e a distribuição equitativa dos benefícios, assim que houver exploração econômica.

É assim o país mais aberto à exploração, porém demonstra que abertura não significa necessariamente o laissez-faire, ainda que o neoliberalismo conte com uma pequena presença do Estado, este ao tratar de interesses estratégicos em áreas como a saúde e no tratamento direto de seu recursos, deve se fazer presente.