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Em vários pontos do nosso texto aparecem tanto a palavra COLEÇÃO quanto ACERVO e uma distinção entre o significado das duas se faz necessária.

Houaiss define COLEÇÃO como:

Coleção: substantivo feminino ( a1697)

1 reunião ou conjunto de objetos. ‹ c. de caixas ›

2 reunião ordenada de objetos de interesse estético, cultural, científico etc., ou que possuem valor pela sua raridade, ou que simplesmente despertam a vontade de colecioná-los. ‹ c. de quadros, xilogravuras, roupas, mapas antigos, fósforos etc. › ...

7 fig. grande número, quantidade considerável

Etimologia. lat. collectĭo,ōnis 'ação de juntar, de reunir', do rad. de collectum, supn. de colligĕre 'juntar, reunir, colher, apanhar'; ver leg-; f.hist. a1679 collecção

Noção De. 'coleção', usar pospos. -légio e -teca; suf. ama, -ame, -aria, -ário, -edo e - ório43

E define ACERVO como: 43

Para definição completa da palavra acessar:

Acervo \ê\: substantivo masculino ( 1692)

1 grande quantidade; montão, acumulação. ‹ a. de velharias ›

2 conjunto de bens que integram o patrimônio de um indivíduo, de uma instituição,

de uma nação. ‹ ele tem um belo a. › ‹ a. de um museu › ‹ a. artístico e moral de uma nação ›

Gramática. dim.irreg.: acérvulo

Etimologia. lat. acērvus,ī 'montão, ruma, acumulação, sobrecarga de negócios, grande quantidade deles', por via erudita; ver acerv-

Sinônímia e Variantes. ver sinonímia de quantidade Antonímia. ver sinonímia de escassez e insignificância Homonímia. acervo(fl.acervar)44

A palavra “coleção” se relaciona diretamente com o verbo colecionar que o mesmo Houaiss define como “reunir em coleção; fazer coleção de ‹ c. livros, quadros, selos ›”45

. Está implícita nesta definição a existência de um sujeito com uma vontade de reunir a coleção, de colecionar, de fazer escolhas, enfim, que exista a figura do colecionador. Já a definição de “acervo”, pelo menos com o uso que temos no Brasil, passa a impressão de que o conjunto dos objetos que o compõem é tido como um fato dado – algo que sempre esteve ali, que faz parte da paisagem46– sem se levar em conta quem foi ou quais foram os sujeitos envolvidos na sua formação. Para se ter uma ideia do uso oficial que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – faz das duas palavras, na “Síntese preliminar das discussões/Subsídios para a II Conferência Nacional de Cultura (CNC) do I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural”47

, realizado em Ouro Preto de 13 a 16 de dezembro de 2009, acervo é palavra

44 http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=acervo 17/06/2013 15:54 45 http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=colecionar 17/06/2013 16:44

46 A expressão na língua inglesa – take for granted – que é definida pelo Cambrige Dictionaries Online da seguinte maneira: “se você toma pessoas ou situações como certas, você não se dá conta ou demonstra o quão grato você é pelo tanto que você recebe delas.” Exprime bem o que queremos dizer com a expressão “fazer parte da paisagem.”

http://dictionary.cambridge.org/dictionary/british/grant_3?q=take+for+granted# 17/05/2013 11:33

citada 37 vezes e a palavra coleção não aparece sequer uma vez, mesmo quando há clara referência a coleções particulares como na diretriz “n - Falta de política de aquisição de acervos”48dos “Desafios para a Formulação da Política Nacional” sobre Bens Móveis e Integrados. Se os “acervos” referidos acima foram fruto de uma acumulação de bens e objetos de maneira até certo ponto involuntária – penso aqui em todos os itens que se somam, por exemplo, a uma biblioteca de um escritor, tais como sua correspondência pessoal, instrumentos de escrita, títulos honoríficos, prêmios e medalhas recebidos, só para citar alguns – o termo se aplicaria. Mas se estivermos nos referindo a objetos recolhidos de maneira voluntária por uma pessoa com o objetivo de formar um conjunto, o termo mais adequado seria coleção49.

O debate sobre as diferenças entre Acervo e Coleção com suas consequências já foi abordado anteriormente à nossa pesquisa. No ano de 2009, sob a coordenação dos professores Marília Andrés Ribeiro e Fabrício Fernandino, começava em Belo

48 http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1653 17/06/2013 17:18 p.31

49 Essa omissão se torna flagrante na medida em que o §1º, do Art.35 do Título VI do DECRETO Nº

8.124, DE 17 DE OUTUBRO DE 2013 (que “Regulamenta dispositivos da Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que institui o Estatuto de Museus, e da Lei nº 11.906, de 20 de janeiro de 2009, que cria o Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM.”) afirma que “Poderão ser declarados de interesse público os bens culturais musealizados e passíveis de musealização, cuja proteção e valorização, pesquisa e acesso à sociedade representarem valor cultural de destacada importância para o País, respeitada a diversidade cultural, regional, étnica e linguística.” Obras de arte em coleções privadas são os alvos claros desta lei, que pretende tutelar estas mesmas coleções gravando-as com inúmeras obrigações. Sobre a repercussão deste decreto ver: A fragilidade da atividade cultural de João Carlos de Figueiredo Ferraz (21/11/2013) disponível em http://digital.estadao.com.br/download/pdf/2013/11/21/A2.pdf 17/01/2014 15:32; Patrimônio artístico e interesse nacional de Marcos Grinspum Ferraz (18/3/2014) disponível em

http://www.revistabrasileiros.com.br/2014/03/18/patrimonio-artistico-e-interesse-

nacional/#.U3eqH_ldWSo 27/04/2014 15:34; O IBRAM, o mercado de arte, os desacertos das políticas públicas e a salvaguarda do patrimônio cultural nacional de Ana Letícia Fialho (13/1/2014) disponível em http://www.forumpermanente.org/imprensa/instituto-brasileiro-de-museus-ibram/ibram-mercado-de- arte-politicas-publicas-salvaguarda-patrimonio-cultural 27/04/2014 15:40; Dentro da lei de Walter Sebastião (12/12/2013) disponível em

http://impresso.em.com.br/app/noticia/cadernos/cultura/2013/12/12/interna_cultura,99885/dentro-da- lei.shtml 05/01/2014 15:42 e Breve memória de um debate – Uma súmula do evento Decreto-confusão: o impacto do Estatuto de Museus no colecionismo privado, texto da Redação da Revista Select (11/4/2014) disponível em http://www.select.art.br/article/reportagens_e_artigos/breve-memoria-de-um-

Horizonte um projeto de pesquisa que visava a levantar todo o acervo artístico da Universidade Federal de Minas Gerais. Em 2011 foi apresentado o resultado no livro Acervo Artístico da UFMG sob a coordenação editorial de Marília Andrés Ribeiro e Fernando Pedro Silva. Em seu texto – que leva o mesmo título do livro – Marília Andrés propõe, na introdução, uma reflexão sobre o acervo por ela pesquisado. A reflexão se inicia pela distinção entre os significados de Acervo e Coleção. No que diz respeito ao ACERVO a autora complementa a definição dada pelo Novo Dicionário da Língua Portuguesa acrescentando: “o acervo artístico é um patrimônio cultural, e como tal, constitui um investimento histórico que preserva a memória de uma época, de uma sociedade ou de uma personalidade.” (RIBEIRO, FERNANDINO, et al. 2011, 16)

Passando ao significado de COLEÇÃO, que em muitos pontos tangenciam o que já tratamos amplamente neste capítulo, a autora toca numa questão que é fundamental: a figura do colecionador para a formação da coleção. Ribeiro ainda acrescenta a figura do curador, que não faz parte de nossa reflexão, pois estamos interessados no colecionismo privado e não institucional.

O texto de Marília Andrés Ribeiro serviu de excelente contraponto para nossa pesquisa sobre colecionismo de arte. Não por diferenças nas ideias ali expostas, que compartilhamos totalmente, mas antes pelo posicionamento relativo de cada autor: ela na perspectiva do acervo da UFMG e nós na perspectiva das coleções de arte e do colecionismo privado.

Quando um colecionador adquire obras de artistas para formar um conjunto, ele forma uma coleção. Por outro lado, circunscrevendo nossa reflexão no campo das artes plásticas, se um artista produz durante sua vida uma série de obras que são vendidas

restando somente algumas em sua posse, estas que ele reteve juntamente com todos os objetos, anotações, esboços, estudos, materiais que estão no seu atelier comporiam o seu acervo.

No colecionismo privado, o colecionador é o agente da sua coleção, ao passo que nos acervos, essa ação é mais difusa. Não existe nem a palavra nem a figura do “acervador50”. Ainda que instituições possuam figuras marcantes como curadores –

personagens como Pietro Maria Bardi do MASP ou Alfred Barr do MoMA de Nova Iorque – as decisões no que tange a aquisições, por exemplo, serão sempre tomadas de forma colegiada ou submetidas aos seus conselhos curadores. As implicações decorrentes destas diferenças são várias, mas gostaríamos de destacar uma delas: os colecionadores privados podem adquirir obras de artistas iniciantes bem no começo de suas carreiras, já as instituições devem ser mais prudentes neste sentido, ainda mais se a instituição for estatal e financiada com verbas provenientes de impostos.

Entendendo bem estas diferenças, instituições e colecionadores privados podem exercer uma complementariedade no sentido de que mais obras possam ser disponibilizadas para o público interessado em artes plásticas.

50O dicionário Houaiss define o verbo “acervar” e o adjetivo “acervado”

http://houaiss.uol.com.br/ Não há definição para “acervador” – pelo menos como uma combinação possível no português – que indicaria o sujeito que acerva. Seria possível de se pensar que museus teriam uma pessoa especialmente dedicada à tarefa de aumentar o acervo da instituição através de aquisições ou mesmo de estabelecimento de critérios para o aceite de doações? .

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