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Capítulo 3 A bibliografia das antologias, seus intelectuais e lugares

3.3 A Coleção Atualidades Pedagógicas

Outro grupo de citações que podemos identificar nas antologias são aquelas ligadas à Coleção Atualidades Pedagógicas. Esta coleção foi organizada por Fernando de Azevedo até 1943 e, posteriormente, por J.B. Damasco Penna, tendo sido publicada pela Companhia Editora Nacional (CEN) em 1931. Fazia parte da Biblioteca Pedagógica Brasileira, dentre diversas coleções que a CEN publicava. A Biblioteca Pedagógica Brasileira se enquadrava, como outras coleções da editora, em uma estratégia editorial frente à demanda crescente do mercado por livros voltados à educação universitária, secundária e fundamental. Dentro dessa estratégia, a escolha do nome do organizador da coleção é parte importante.

De acordo com Toledo (2001, p.57), a CEN, desde seu início, adentrou ao mercado de livros educacionais, o que determinava dentro da editora uma especialização interna no trato de cada seguimento publicado. Com relação às coleções, há um cuidado em relação ao nome escolhido para organização da mesma, desde a escolha dos títulos à escolha dos autores, pois ―a noção da relação popularidade do nome do autor/sucesso do livro é transferida para a relação nome do responsável pela coleção/sucesso da coleção‖, o que serviria como ―propaganda e autorização dos textos publicados‖, ou seja, o nome escolhido para assinar uma coleção dentro da editora é fundamental:

A escolha do nome do organizador, do ponto de vista da estratégia comercial, muitas vezes, garante o convencimento do público de que a seleção ali operada é confiável e serve aos fins determinados pela apresentação da coleção. O nome do organizador é propaganda para o público; pode ser uma das chaves de sua difusão. O nome próprio do organizador da coleção pode criar a necessidade do consumo dos textos ali alocados, por ser autoridade reconhecida na matéria. A autoridade e a projeção do nome do editor da coleção, neste sentido, são transferidas para a coleção e funcionam como propaganda desta [...] Os organizadores das coleções também poderiam vincular seus projetos às coleções para as quais eram chamados a organizar, ganhando espaços estratégicos para a divulgação de suas ideias e as dos grupos aos quais estavam vinculados. Como especialistas em determinadas questões ou áreas, estavam autorizados a constituir projetos de leituras específicos para o público visado, prescrevendo aquilo que era necessário para a sua formação. (Toledo, 2001, p.57–58).

Quando Fernando de Azevedo é escolhido para assinar a série Biblioteca Pedagógica Brasileira, seu nome já gozava de prestígio no meio educacional nacional, mas principalmente em São Paulo e no Distrito Federal27. De acordo com Toledo (2001, p.64–66), a opção da CEN pelo nome de Fernando de Azevedo, a colocou ao lado de um dos grupos que disputavam o protagonismo do cenário educacional brasileiro, católicos e renovadores, portanto, deste último ligado a Azevedo. Desta forma, a coleção Biblioteca Pedagógica Brasileira, dotada de novos recursos gráficos, serviu de porta à divulgação das ideias dos autores alinhados com os ideais da Escola Nova, conforme relata Toledo (2007b, p.4):

O programa editorial proposto por Azevedo foi alçado à condição de referência nacional do escolanovismo, pelas estratégias de produção e difusão mobilizadas. Por dispositivos tipográficos e textuais inovadores, como capas sofisticadas, índices, notas de rodapé, textos nas orelhas, prefácios etc., Azevedo objetivou a construção de uma nova cultura pedagógica, marcada pela fé nos avanços das ciências e, especificamente, das ciências humanas. Programou autores e textos oriundos da reforma empreendida por Anísio Teixeira, no Distrito Federal, entre 1931 e 1935; e da sua própria reforma, em São Paulo, em 1933, que projetou a institucionalização do Instituto de Educação de São Paulo; assim como os autores da ABE carioca.

Após a saída de Fernando de Azevedo da CEN em 1943, a coleção Atualidades Pedagógicas tem seu projeto modificado, pois ―a fórmula editorial de

27 Fernando de Azevedo ―Dirigiu o Inquérito sobre a Instrução Pública paulista, organizado pelo O

Estado de S. Paulo em 1926; foi diretor da Instrução Pública do Distrito Federal e diretor do Departamento de Educação em São Paulo, em 1933, participando ativamente dos debates sobre educação nas décadas de 1920 e 1930, além do trabalho realizado na ABE e da Elaboração do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932.

Penna aproximava-se das estratégias católicas de apropriação e de difusão de um escolanovismo depurado‖ (TOLEDO, 2007a, p.11). Os critérios para escolha dos autores e modelo de publicação se modificam, passando a ser em maior número a publicação de manuais, pois ―o gênero permitia a seleção e referenciava um

corpus de saberes de autores e textos que sintetizassem uma determinada

disciplina do campo educacional‖ (TOLEDO, 2007a, p.12). Nesse sentido, Toledo afirma que:

A opção pela publicação quase exclusiva de manuais deslocava o programa da Coleção da proposta anterior, cujo cerne estava na oferta direta dos textos apontados como as bases do escolanovismo, proporcionando ao público leitor a possibilidade de apropriação direta dessas. O programa de formação publicado por Penna, em tempos de grande controle e censura, permitia o uso do material impresso por diversas instituições de formação do professorado, acomodando-se facilmente às diferentes representações e apropriações do que seria a moderna pedagogia, constituída pelo consenso aparente dos termos. [...] Penna, no processo de reformulação das Atualidades, opera a ―catolicização‖ da Coleção: programa compêndios de divulgação científica que apresentavam, em amplas perspectivas, os mais novos conhecimentos desenvolvidos nesta ou naquela disciplina do campo da Educação, utilizáveis tanto no ensino normal, como no ensino superior, pela facilidade da linguagem; esse manuais elidiam qualquer referência política contida nos textos e autores, na medida em que eliminavam diferenças e os apresentavam em sequência harmônica e evolutiva; seleciona, para o programa de edição, autores de referência da pedagogia católica (TOLEDO, 2007a, p.13).

Com exceção de Theobaldo Miranda dos Santos, autor de influência e orientação católica e que teve duas obras indicadas, os demais autores citados por Malba Tahan e que têm seus nomes ligados à Coleção Atualidades Pedagógicas, tiveram apenas um trabalho citado: A. M. Aguayo, René Hubert, Afrânio Peixoto, Hélio Cyrini, Lourenço Filho, R. Valnir C. Chagas, Edouard Claparède, Louis Meylan, M. Boorda e Pierre Bovet, Paul Foulquié e Rafael Grisi.

A respeito da citação de Lourenço Filho neste caso, ela tem origem em um único artigo publicado na Revista Atualidades Pedagógicas, número 37 de 1956. A revista, que foi publicada de 1950 a 1962, também fazia parte da Biblioteca Pedagógica Brasileira da Companhia Editora Nacional, tendo ainda em sua primeira edição artigo de Lourenço Filho.