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Como salienta Rudio “de acordo com o tipo de informações que se deseja obter, há uma variedade de instrumentos que podem ser utilizados e maneiras diferentes de operá-los” (RUDIO, 1986, p. 111). Yin (2001) apresenta fontes distintas para coleta de dados em um estudo de caso: documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos.

Entre os instrumentos de coleta de dados disponíveis para a investigação, procurou- se realizar, inicialmente, a pesquisa documental, que Lüdke e André (1986) denominam um método de coleta de dados que “pode se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38).

Os documentos e comunicações foram importantes no momento de traçar um perfil da organização pesquisada, sendo muito utilizados como complemento a outro instrumento de coleta de dados, a entrevista. Lüdke e André (1986) destacam que a entrevista é um dos instrumentos básicos para a coleta de dados. Andrade teoriza que

uma entrevista pode ter por objetivos: averiguar fatos ou fenômenos, identificar opiniões sobre fatos ou fenômenos, determinar, pelas respostas individuais, a conduta previsível em dadas circunstâncias, descobrir os fatores que influenciam ou que determinam opiniões, sentimentos, condutas, comparar a conduta de uma pessoa no presente e no passado, para deduzir comportamentos futuros etc. (ANDRADE, 1997, p. 26).

Yin (2001) destaca a importância da entrevista como fonte de informação para o estudo de caso e salienta que é comum as entrevistas serem conduzidas de forma espontânea. Essa natureza da entrevista, reforça o autor, permite indagar o entrevistado sobre os fatos e, ao mesmo tempo, conhecer sua opinião sobre determinados eventos.

A proposta para coleta dos dados, por meio de entrevistas, foi desenvolvê-las de forma semi-estruturada que

parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e perguntas que interessam à pesquisa, e que oferecem um amplo campo de interrogativas, conseqüentes de novas perguntas que vão surgindo, à medida que se recebe as respostas dos informantes (CHIZZOTTI apud PASTRO, 1999, p. 53) .

O que se pretendia era conhecer diferentes análises para o mesmo problema: os aspectos concernentes à reestruturação produtiva na unidade de produção da indústria moveleira e seus reflexos na gestão de organização do trabalho naquela unidade.

As entrevistas foram conduzidas por meio de roteiro específico (ANEXOS A, B e C), de acordo com a tipicidade dos sujeitos da pesquisa e gravadas em fitas microcassetes, durando, aproximadamente, cinqüenta minutos cada uma. Os supervisores de produção entrevistados foram indicados pelos respectivos coordenadores da unidade a que pertencem. Já os líderes e os operadores entrevistados foram indicados pelos supervisores de produção. As entrevistas foram realizadas, na maioria das vezes, nas salas dos próprios coordenadores de produção. O gerente de recursos humanos foi entrevistado durante a análise dos dados coletados junto aos funcionários da unidade de produção e do diretor- presidente. Considerou-se importante a entrevista pois alguns aspectos da gestão e da organização do trabalho estavam diretamente ligados à atividade de recursos humanos, uma vez que buscou-se esclarecer dúvidas que foram surgindo a partir dos depoimentos dos entrevistados.

Para a análise de dados, acredita-se que deve ser realizada durante todo o processo investigativo. Para Lüdke e André

a tarefa de análise implica, num primeiro momento, a organização de todo o material , dividindo-o em partes, relacionando essas partes e procurando identificar nele tendências e padrões relevantes. Num segundo momento essas tendências e padrões são reavaliados, buscando-se relações e inferências num nível de abstração mais elevado (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 45).

Ao final da coleta de dados, procede-se à análise formal destes. Para tanto, como sugerem Lüdke e André (1986, p. 48), “o primeiro passo nessa análise é a construção de categorias descritivas”, tendo como base inicial o referencial teórico pesquisado, obtendo-se assim a primeira classificação dos dados. Os mesmos autores sugerem que tais categorias iniciais podem ser suficientes, dependendo da sua amplitude e flexibilidade. Para a construção das categorias, ou categorização,

optou-se pela vinculação ao “tema” que, de acordo com Vieira apud Pastro (1999, p. 55) entre as possibilidades de categorização, a mais utilizada, mais rápida e mais eficaz “[...] é a análise temática, que se traduz por isolar temas de um texto e extrair as partes utilizáveis, de acordo com o problema pesquisado, para permitir sua comparação com outros textos escolhidos da mesma maneira”. Desse modo, a partir da releitura do referencial teórico e da análise dos dados coletados na pesquisa de campo, em busca de recorrências, estas foram classificadas em 12 categorias de análise:

1. percepção dos sujeitos sobre o processo de mudança; 2. incorporação de novas tecnologias (produto e processo); 3. qualificação do trabalhador;

4. competitividade do mercado;

5. padronização de atividades (processo de trabalho); 6. flexibilização do processo de trabalho;

7. práticas (políticas) de recursos humanos; 8. planejamento, execução e controle do trabalho; 9. tomada de decisões;

10. a dimensão do trabalho em grupos; 11. o processo de comunicação interna;

12. percepção dos sujeitos sobre seu papel de gestor.

Por meio da categorização, os dados foram analisados cruzando-se as várias informações coletadas de modo a verificar possíveis inconsistências e possibilitar atender aos objetivos deste trabalho, aliando o arcabouço teórico à realidade organizacional encontrada na pesquisa de campo.

O próximos capítulos tratam das características da reestruturação produtiva e da organização do trabalho na Movelar, indústria de móveis que serviu de objeto de

pesquisa desta dissertação. Vale ressaltar que as categorias de análise, definidas para o tratamento dos dados da pesquisa de campo, estão inseridas na interpretação dos dados coletados, diluídas no próximo capítulo. Entretanto, não se utilizou de tópicos específicos para cada categoria e sim contextualizou-se dentro de tópicos que se considera abrangentes e que deram conta da análise que se pretendeu realizar.

4 CARACTERÍSTICAS DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NA

MOVELAR – UM ESTUDO DE CASO