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4. Percurso metodológico

4.1 Coleta e análise dos registros de procedimentos dos caps

Para a primeira dimensão, buscou-se analisar o comportamento do registro de procedimentos dos CAPS nos municípios que participaram do PPF. Foram excluídas dessa análise as localidades que tiveram participação regional ou estadual, pois, apesar de proporcionarem maior abrangência de alcance do projeto, precisaram readequar a organização das atividades, de maneira que não houve participação equivalente às outras cidades. Assim, nesses locais não foi possível que os 20 profissionais de uma mesma cidade participassem do intercâmbio. Essa participação teve de ser então pulverizada para viabilizar o envolvimento de mais municípios. Entende-se que, dessa forma, as condições de participação dessas localidades foram diferentes das demais e, portanto, devem ser analisadas separadamente. O quadro abaixo resume os municípios que permaneceram na análise aqui proposta, bem como os estados e regiões desconsiderados nesse momento:

Módulo de Formação Rede Receptora Municípios Mantidos Desconsiderados Estados/Regiões

Atenção à Crise em Saúde Mental

Coronel Fabriciano/MG

Coronel Fabriciano/MG, Miguel Calmon/BA, Pouso Alegre/MG, Pio XI/PI, Encantado/RS, Vera Cruz/RS

- Resende/RJ Resende/R, Jacobina/BA, Icó/CE, Imperatriz/MA, Itaúna/MG, Palmas/TO

Recife/PE Recife/PE, Salvador/BA, Ipatinga/MG, Uberlândia/MG, São José do Rio Preto/SP Belém/PA

Saúde Mental na Atenção Básica

São Lourenço do Sul/RS

São Lourenço do Sul/RS, Mucuri/BA, Bela Vista de Goiás/GO, Cláudio/MG, Barra de Santa Rosa/PB, Maravilha/SC

- Embu/SP Embu/SP, Eunápolis/BA, Araçuaí/MG, Teresina/PI, Torres/RS, Guapimirim/RJ Moju/PA

Demandas Associadas ao Consumo de Álcool

e outras Drogas

Uberlândia/MG Uberlândia/MG, Rio Pomba/MG, Formiga/MG, Laranjeiras do Sul/PR, Ijuí/RS, Cândido Mota/SP, Capivari/SP

- Recife/PE Recife/PE, Vila Velha/ES, Ouro Branco/MG, Itajaí/SC, Bagé/RS, Palhoça/SC, São Carlos/SP - Santo André/SP Santo André/SP, Horizonte/CE, Guaíba/RS, Araranguá/SC, Sorocaba/SP, Apucarana/PR,

Canoas/RS

Acre (Regional de Saúde do Juruá) São Bernardo do

Campo/SP

São Bernardo do Campo/SP, Maracanaú/CE, Betim/MG, Santa Rosa/RS, Orleans/SC, São Miguel Arcanjo/SP

-

Desinstitucionalização

São Bernardo do

Campo/SP São Bernardo do Campo/SP, Morrinhos/GO, Pocinhos/PB, Floriano/PI, Cerquilho /SP, Araguaína/TO Sorocaba/SP Sorocaba/SP, Rio Verde/GO, Juiz de Fora/MG, São Sebastião do Paraíso/MG, Ubá/MG Saúde do Baixo Acre) Acre (Regional de Reabilitação

Psicossocial

Santo André/SP Santo André/SP, Caruaru/PE, Joinville/SC, São Vicente/SP, Tauá/PA; Gurupi/TO. Santo Antônio do Barbacena/MG Barbacena/MG, Cabo de Santo Agostinho/PE, Paulistana/PI, Prudentópolis/PR, Andradina/SP Manaus/AM Quadro 5: Municípios considerados e desprezados na pesquisa.

Atualmente, existem 20 procedimentos regulamentados pela Portaria nº 854/2012, que podem ser realizados pelos CAPS. A lista de procedimentos e sua descrição encontra-se no Anexo 4 deste trabalho.

Nesta pesquisa, foram analisados os comportamentos de nove dos 20 procedimentos existentes: 1)atendimento familiar; 2)atendimento domiciliar; 3)articulações intra e intersetoriais; 4)fortalecimento do protagonismo; 5)atenção à crise; 6)matriciamento da atenção básica; 7)reabilitação psicossocial; 8)matriciamento dos serviços de urgência e emergência e 9)redução de danos.

A opção por estes nove procedimentos deu-se por entender-se que são estes, entre os existentes, os que melhor refletem as práticas de AP realizadas pelas equipes, por comportarem uma ampliação do entendimento sobre a função/missão dos serviços pela realização de ações territoriais e intersetoriais, prezando pelo exercício da cidadania e autonomia. Ademais, esses procedimentos são de fácil entendimento por parte das equipes dos CAPS, fazem parte do seu cotidiano de trabalho e independem da existência de outro serviço específico para a sua realização.

 Acolhimento noturno, por ser realizado apenas por serviços do tipo III, que funcionam 24 horas e passíveis de implantação apenas em municípios ou regiões com mais de 150.000 habitantes;

 Acolhimento em terceiro turno, por ser realizado em horário que excede o expediente do serviço, para o qual a descrição é genérica e não informa quais as ações realizadas; tornando difícil identificar que tipo de atividades as equipes realizam e informam com tal procedimento.

 Acolhimento diurno, atendimento em grupo, atendimento individual e acolhimento inicial, por representarem ações ambulatoriais de praxe dos serviços e cujo mero registro não comporta informações relevantes sobre práticas de AP;

 Acompanhamento de SRT e apoio à SRCT, por apenas serem registrados quando há um SRT ou SRCT no município e cuja referência é o CAPS; e  Práticas corporais, práticas expressivas e promoção de contratualidade,

que, apensar de estarem intimamente ligadas ao campo da AP, foram excluídas dessa análise por terem descrição pouco objetiva, serem de difícil entendimento e assimilação por parte das equipes e terem baixíssimo volume de registro nos sistemas de informação, o que não significa que não sejam realizadas. Uma hipótese é a de que os profissionais não reconhecem, com os nomes designados pela Portaria nº 854/2012, essas práticas no cotidiano de sua atuação ou que sejam registradas sob outro nome, como atendimento em grupo ou individual. A busca dos registros foi realizada na base dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), através do aplicativo TABWINi e centrou-se na produção dos CAPS em todo o Brasil, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2015, gerando resultados por local de atendimento. As opções de busca também consideraram a quantidade aprovadaj de procedimentos em cada mês/ano, uma vez que, nessa modalidade, o sistema já identifica alguns erros de preenchimento e impede o registro de boa parte de informações equivocadas ou duplicadas.

ano antes do início do PPF, com a intenção de evidenciar a evolução dos procedimentos dos CAPS já existentes em todo o período e possibilitar a construção de uma série histórica. Assim, foram desconsiderados os CAPS que não possuíam no mínimo um ano de existência anterior ao projeto, para que seja possível identificar possíveis efeitos do PPF, por meio da observação do comportamento de registros prévios e posteriores à sua implementação. Para a identificação do ano de habilitação do CAPS, foi usada a base de dados do Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES).

Após esse filtro, para cada procedimento analisado, foi realizado um ensaio, examinando-se a possibilidade de excluir da análise os CAPS que não informaram qualquer produção durante todo o período pesquisado (janeiro de 2013 a dezembro de 2015). Esse ensaio, porém, demonstrou-se infrutífero, devido à elevada quantidade de serviços desprezados, causando uma grande distorção no estudo. Ademais, se adotássemos este método, estraríamos a considerar, equivocadamente, que a falta de produção é sempre um erro de registro, quando, em verdade, significa que o CAPS pode não estar realizando aquele procedimento especifico, uma vez que outros são informados. A tabela 1 apresenta a quantidade de CAPS que integrou o estudo de frequências, após a decisão de manter todos os serviços existentes, considerando ser esta a opção de menor erro.

CAPS existentes em maio de 2013

Em todos os municípios do Brasil 1967

Nos municípios que participaram do PPF 268

Tabela 1: Quantidade de CAPS participantes do estudo

Os dados foram trabalhados e dispostos em tabelas separadas de duas maneiras, de forma a viabilizar dois tipos de análise: por faixa populacional e por módulo de formação.

4.1.1. Análise por faixa populacional

A primeira análise levou em consideração a faixa populacional dos municípios, considerando faixas pré-estabelecidas e rotineiramente utilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e pelo Tribunal de Contas da União. Para esta divisão, foi considerada a estimativa

da população para 1º de julho de 2015, disponível em:

Os dados foram então divididos considerando-se a faixa populacional dos municípios e foram calculadas as médias mensais da quantidade informada para cada procedimento, em cada faixa populacional. Ou seja, o cálculo considerou a soma de procedimentos informados a cada mês, para cada faixa populacional, dividida pelo número de serviços existentes. Cabe informar desde já que não há no PPF municípios cuja população encontre-se nas duas primeiras faixas do quadro 6.

Até 5.000 habitantes De 5.001 a 10.000 habitantes De 10.0001 a 20.000 habitantes De 20.001 a 50.000 habitantes De 50.001 a 100.000 habitantes De 100.001 a 500.000 habitantes Mais de 500.000 habitantes

Quadro 6: Faixas populacionais utilizadas no estudo Fonte: IBGE

Em função da variação das datas de início e término de cada módulo, para fins de projeção em gráficos e análise, foi considerado como período de execução do projeto aquele entre março de 2013 e setembro de 2015, respectivamente o primeiro e último mês de registro de atividades da primeira fase.

Os dados gerados por meio das ações descritas nessa seção estão disponíveis nos Anexos de 5 a 9 deste trabalho.

4.1.2 Análise por módulos de formação

Para este segundo momento, o estudo de frequências concentrou-se nos módulos cujo tema de formação é mais abrangente e, portanto, oferecem mais informações sobre os procedimentos investigados: atenção à crise em saúde mental, desinstitucionalização e reabilitação psicossocial. São sete os módulos de formação que trabalharam com estes temas, conforme descrito no Capítulo 3.

Os outros módulos que compuseram o PPF trabalharam com temas que focavam apenas uma parte da rede de atenção psicossocial – como o módulo de saúde mental na atenção básica - ou

Partiu-se, então, da mesma base de dados que originou a análise anterior e separou-se os municípios pelo módulo ao qual pertencem, realizando novamente o cálculo das médias mensais da quantidade informada para cada procedimento, em cada módulo. Estes dados estão disponíveis nos Anexos 10 a 17.

Para esta análise, a projeção dos dados em gráficos apresenta os meses de início e fim do projeto, respeitando a duração de cada módulo.

 Coronel Fabriciano: 04/05/14 a 30/08/15  Resende: 04/05/14 a 30/08/15

 São Paulo: 20/07/14 a 10/10/15

 São Bernardo do Campo: 20/07/14 a 30/08/15

 Sorocaba: 24/08/14 a 30/11/14 – 12/04/15 a 10/10/15  Santo André: 24/08/14 a 10/10/15

 Barbacena: 04/05/14 a 10/1015

4.1.3 Limitações do estudo quantitativo

Os dados quantitativos analisados possuem algumas limitações que devem ser consideradas no âmbito deste estudo. Uma delas refere-se ao fato de que, no momento da extração, o sistema TABWIN emitiu um aviso de que os dados referentes ao ano de 2015 estavam ainda sujeitos a alterações. Isso significa que, ao consultar o referido sistema, o leitor poderá encontrar dados distintos daqueles apresentados neste trabalho. As informações definitivas para o ano de 2015 apenas estariam disponíveis no final do ano de 2016, o que inviabilizaria a sua utilização nessa pesquisa, razão pela qual foram utilizados os dados provisórios.

Outra questão importante a ser considerada é o fato de que os procedimentos de CAPS aqui descritos começaram a ser registrados em janeiro de 2013, mesmo mês em que se inicia a análise proposta nesta pesquisa. Antes disso, havia outra normativa – Portaria nº 189/2002 - que descrevia os procedimentos dos CAPS, e que propunha outro tipo de organização, dividindo-os em intensivo, semi-intensivo e não intensivo, em alusão à frequência dos usuários nos serviços. Essa portaria foi revogada e em seu lugar foram instituídos os novos procedimentos da Portaria nº 854/2012, que entrou em vigor para os registros realizados a partir de janeiro de 2013.

Além disso, há questões relacionadas a problemas nas bases de dados do MS e ao sub-registro nos sistemas de informação do SUS, que não é restrito à rede de saúde mental, como já demonstrado em diversos estudos (Rodrigues et al.90, Mendes et al.91, Laguardia et al.92, Cavalini e De Leon93, e Tomomatsu et al.94)