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3 PERCURSO METODOLÓGICO

3.6 COLETA DOS DADOS

Os dados foram coletados com a aplicação de quatro técnicas e em duas etapas (Organograma 1). A primeira etapa foi iniciada através da Técnica de Associação Livre (TAL) e, em seguida, foi aplicado, na segunda etapa, o Procedimento de Classificações Múltiplas, que inclui o Procedimento de Classificação Livre (PCL) e o Procedimento de Classificação Dirigida (PCD), bem como uma Entrevista Narrativa (EN).

Na TAL, os termos ou expressões emitidas pelos participantes do estudo expõem as representações de um grupo maior de pessoas, para posteriormente serem classificados por um grupo menor (ROAZZI, 1995).

Já o PCM foi descrito inicialmente por Roazzi (1995) e vem sendo amplamente utilizado em pesquisas que buscam desvelar as crenças e representações acerca de determinados temas, viabilizando o participante a utilizar seus constructos e transmitir seus pensamentos a respeito desses constructos, sendo livre para expressar sua maneira de pensar, sendo minimizada a interferência do entrevistador. O PCM usa o pensamento estruturado dos sujeitos sobre o mundo no qual estão inseridos, permitindo ao pesquisador compreender como esses sujeitos pensam e agem diante de determinados aspectos e como os conceituam.

Para Muylaert et al (2014), a entrevista narrativa constitui um valioso instrumento de coleta de dados qualitativos, pois permite a combinação de histórias de vida com contextos sócio-históricos, tornando possível a compreensão dos sentidos que desvelam as crenças, os valores, motivam e justificam a ação dos informantes.

Bauer e Gaskell (2004) esclarecem que a abordagem da entrevista narrativa seguirá com a preparação, com o propósito de explorar o campo pesquisado e formular questões de interesse do pesquisador, e mais 4 fases, a saber:

• Iniciação: todo o contexto da pesquisa é esclarecido ao entrevistado;

• Narração central: sendo importante que não seja interrompida até que o entrevistado demonstre claramente que a narração se encerrou e que o entrevistador não teça comentários sobre o que foi narrado.

• Questionamento: devendo ser iniciado após o encerramento espontâneo da narração e tem o propósito de completar as lacunas da história.

• Fala conclusiva: é a fase iniciada após o encerramento do preenchimento das lacunas, através de conversa informal, tendo o propósito de clarear informações mais formais sobre o assunto abordado.

Ainda de acordo com Bauer e Gaskell (2004), o ato de contar a história desencadeia um esquema contendo três características principais:

• Textura detalhada, que fornece informação detalhada conseguindo demonstrar a transição entre um evento e outro, atingindo aspectos como, tempo, lugar, motivos, pontos de orientação, planos, estratégias e habilidades;

• Fixação da relevância, no qual serão relatados os fatos de maior relevância;

• Fechamento da Gestalt, onde o acontecimento central, que foi referido na narrativa, precisa ser contado em sua totalidade, possuindo começo, meio e fim, podendo esse último representar o presente, nas situações que o acontecimento abordado ainda não terminou.

Toda a sequência da coleta de dados será exposta no organograma 1 para melhor compreensão de como a pesquisa foi direcionada, exposto a seguir:

Organograma 1 – Fluxograma aplicado para coleta de dados. Patos-PB, 2018.

Fonte: Organograma elaborado pela autora.

Inicialmente, na TAL, as professoras foram solicitadas a dizerem palavras ou expressões que vinham à sua cabeça quando pensavam em “autismo e alfabetização”. Para essa etapa, não foi fixado número de palavras ou tempo de emissão. As palavras mais frequentemente associadas à expressão deflagradora (autismo e alfabetização) foram escritas em fichas de cartolina e utilizadas, posteriormente, na segunda etapa, para a continuidade do PCM.

Para execução desse segundo momento, foram utilizadas as 17 palavras ou expressões deflagradas na primeira etapa juntamente com as palavras “autismo” e “alfabetização”,

COLETA DE DADOS ETAPA 2 - 21 Professoras - Procedimentos de Classificações Múltiplas (PCM): Procedimento de Classificação Livre (PCL) Procedimento de Classificação Dirigida (PCD) ETAPA 2 - 21 Professoras - Entrevista Narrativa ETAPA 1 - 60 Professoras -

Técnica de Associação Livre (TAL)

organizadas em cartões impressos em papel couche e plastificados, todos no mesmo tamanho, 15x8, e escritos em fonte Times New Roman, tamanho 30.

Após a identificação das palavras e expressões e para dar sequência ao PCM, acrescentaram-se os termos “interação social” e “comunicação”. Adotou-se essa medida em virtude dessas expressões não terem sido mencionadas por nenhuma docente pesquisada na primeira fase da coleta de dados. No entanto, contrapondo-se ao ocorrido, a literatura faz bastante referência a esses dois aspectos como determinantes para favorecer a alfabetização de crianças com TEA, como menciona a publicação feita por com Camargo e Bosa (2009) relatando que as crianças com TEA geralmente têm grande dificuldades para estabelecer interação social, como também no desenvolvimento da comunicação. Mesmo assim, ao serem inseridas no ambiente escolar, esses dois aspectos tendem a se desenvolver, favorecendo o processo de aprendizagem das habilidades escolares e da alfabetização, inclusive.

Nesta segunda fase, na realização do Procedimento de Classificação Múltipla, inicialmente foi realizada o primeiro momento, denominado de Procedimento de Classificação Livre, através do qual as professoras participantes da pesquisa receberam 19 cartões contendo: as 15 palavras/expressões deflagradas, as 2 inseridas pela pesquisadora (“interação social” e “comunicação”), e os 2 termos que guiam a coleta de dados: autismo e alfabetização. Após isso, a pesquisadora aplicou a orientação “Aqui temos 19 cartões, contendo palavras e expressões, solicito que leia todas, observando com atenção para organizá-los em grupos que para você tenham um motivo para estarem juntas. A quantidade de grupos e a forma como vai organizar os cartões ficará a seu critério de escolha. É importante que use todos os cartões”. Dessa forma, as professoras organizaram as fichas dispostas em filas na horizontal, representando grupos formados por ela.

Assim, na segunda etapa, no PCL, as palavras ou expressões eram agrupadas de forma aleatória, sem quantidade limite de grupos, de forma que todas tivessem um sentido para estarem presentes no mesmo grupo do qual faziam parte. Segue imagem 1 exemplificando essa fase da coleta, que refere-se a fotografia da Classificação Livre realizada com professora participante da pesquisa, mostrando o agrupamento feito pela mesma. Os cartões, organizados na mesa, de acordo com critérios de agrupamento estabelecidos pela própria pesquisada, estão dispostos em três grupos, organizados em quatro linhas horizontais. Abaixo dos grupos contêm as iniciais do nome da professora participante.

Imagem 1 – Fotografia do Procedimento de Classificação Livre realizado por uma das

professoras participantes do estudo. Patos-PB, 2019.

Fonte: Fotografia feita autora, arquivo pessoal.

No segundo momento da segunda fase de coleta de dados, ainda no PCM, foi realizada a Classificação Dirigida, através da qual as palavras “autismo” e “alfabetização” foram removidas, restando apenas 17 cartões, e a professora recebeu cinco cartões na cor amarela, que representam cinco grupos, contendo as expressões “palavras/frases muitíssimo associadas com as expressões” (grupo5), “palavras/frases muito associadas com as expressões” (grupo 4), “palavras/frases mais ou menos associadas com as expressões” (grupo 3), “palavras/frases pouco associadas com as expressões” (grupo 2) e “palavras/frases não associadas com as expressões” (grupo 1). À ela foi dada a instrução “Nesse momento, você vai pegar os 15 cartões e organizá-los nesses cinco grupos. Os cartões que achar estarem muitíssimo associados às expressões ‘autismo’ e ‘alfabetização’ deverão compor o primeiro grupo, os que achar estarem muito associados farão parte do segundo grupo e assim por diante. É importante que todos os

cartões sejam usados em algum grupo”. Todos esses arranjos foram anotados e registrados através de fotografias. Segue imagem 2 retratando como esse procedimento era executado. Trata-se de uma fotografia de Procedimento de Classificação Dirigida realizada com professora participante da pesquisa, mostrando o agrupamento feito pela mesma. Os cartões, organizados na mesa, de acordo com critérios de agrupamento estabelecidos pela pesquisadora, estão dispostos em três grupos, organizados em cinco linhas verticais. Fonte: Fotografia feita pela autora.

Imagem 2 – Fotografia Procedimento de Classificação Dirigida realizado por uma das

professoras participantes do estudo. Patos-PB, 2019.

Fonte: Fotografia feita pela autora, arquivo pessoal.

Na sequência, foi realizada a Entrevista Narrativa, na qual cada professora foi solicitada a lembrar da história educacional de alfabetização de uma criança com TEA vivenciada por ela, sendo solicitada a narrá-la oralmente, destacando os aspectos que considerava mais importantes. Para tanto, era iniciada com a entrevistadora solicitando a cada professora pesquisada “eu quero que você me conte a história de alfabetização de uma criança com autismo”. Esse momento da pesquisa foi registrado por meio de gravação. Cada entrevista teve

duração inferior a 5 minutos, exceto uma que durou mais que 10 minutos, sendo todas transcritas, posteriormente.

O registro de toda a pesquisa foi realizado em um diário de campo, que é um método usado pelo pesquisador para registrar os dados coletados, descrever pessoas, objetos, lugares, acontecimentos, atividades e conversas, além de reflexões, que serão postos à interpretação (BOGDAN; BIKLEN, 1994).

Para garantir a qualidade da pesquisa, a segurança na execução e a eficácia do que foi proposto, foi realizado um estudo piloto em ambas as etapas. O mesmo é definido como sendo uma fase primordial para garantir o êxito da pesquisa, na qual se realiza um ensaio final para o trabalho. Objetiva avaliar os instrumentos e as pessoas envolvidas na coleta de dados, como também da técnica de abordagem mais apropriada para ser aplicada na amostra do estudo, desencadeando o aprimoramento dos instrumentos e procedimentos da pesquisa (BAILER et al, 2011).