• Nenhum resultado encontrado

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.10 PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA PARA A ALFABETIZAÇÃO DA

No nascimento de uma criança, são construídos sonhos e expectativas em cima desse nascimento e do desenvolvimento dela. Como a grande maioria das crianças com TEA nascem aparentemente sem comprometimento, são identificadas como se apresentassem alterações. Essa certeza de que tudo está bem se encerra por volta de um a dois anos de vida, quando paulatinamente surgem os primeiros indicativos de que algo está acontecendo de forma diferente. O sentimento de dor vai tomando conta dos pais em momentos, como quando comparam seu bebê com uma criança neurotípica e, em outros momentos se animam ao perceberem indicativos de bom desenvolvimento na criança. É a partir disso que geralmente surge a busca pelo diagnóstico até se alcançar a conclusão de que tem TEA (SANTOS, 2008). De acordo com Schmidt e Bosa (2003), diante do diagnóstico de TEA, a família percebe a necessidade de fazer ajustes mudando suas expectativas diante do futuro, adequar-se a partir das limitações, adaptar-se à intensa necessidade de empenho a prestar os cuidados necessários ao filho. Esclarecem que em lares esse tipo de criança aumenta a quantidade de cuidados, bem como o nível de dependência e atenção de pais e cuidadores, em decorrência das condições físicas e mentais do infante. Isso pode suscitar em uma estrutura familiar a exaustão.

Os pais precisam ficar alerta como os seus filhos estão se desenvolvendo, recorrendo ao suporte necessário ao surgirem os sinais indicativos de que algo diferente está ocorrendo no desenvolvimento social e cognitivo, pois, manter a atenção no filho e procurar ajuda é, fundamental para os dois (SOARES et al, 2017).

Segundo Cruz (2015), um passo importante vai ser o ingresso à escola. Por isso, na educação de crianças com desenvolvimento atípico, há concordância quanto à participação da família nesse ambiente e parceria entre as duas instituições. Em vias de regra, ainda não ocorrem participações efetivas das famílias no processo de educação dos alunos. Isso fica comprovado através de condutas como: o não comparecimento as reuniões no ambiente escolar; não se interessam em saber se foram encaminhadas atividades para casa, com a finalidade de dar sequência em casa. Esse último aspecto é primordial para a efetividade do ensino- aprendizagem. Dessa maneira, quando as atividades se restringem apenas ao ambiente escolar, raramente o aluno irá aprimorar o conhecimento como deveria.

Segundo o ponto de vista de Perotti (2016), ao analisar o que as instituições da escola e da família conseguem fazer em parceria na intervenção da criança com TEA, é possível proporcionar para cada caso medidas e modos específicos, únicos e intransferíveis de intervenções individualizadas, sujeitas a alterações de acordo com a própria evolução do indivíduo. Não há como se rotular em aspectos como condutas e diagnósticos, pois isso antecipa as frustrações do não conseguir aprender. Trabalhar com especificidades da aprendizagem, a exemplo de letramento, alfabetização em alunos com desenvolvimento atípico, exige dos envolvidos capacitação e envolvimento. Porém, as pessoas envolvidas não podem pensar na impossibilidade de se atingir a aprendizagem. É momento de pensar que a atuação conjunta por meio de ações multidisciplinares representa uma possibilidade de mediação.

Nessa relação entre família e escola, não se pode esquecer da inclusão escolar e dos desafios desencadeados a partir dela. Esses não são conhecidos pelas pessoas que compõem a escola, como é o caso de diretores, coordenadores, professores e os pais. Todos esses desafios devem ser considerados impulsionadores de aprendizagem para esses sujeitos. Dessa forma, os professores reunidos com os pais e demais pares possuem condições de desenvolver um trabalho mais colaborativo diante das experiências de ensino e aprendizagem, através das quais todos eles partilham experiências, visões, interpretações, conhecimentos, analisam as situações problema e tentam dar resolutividade a elas (BRANDE; ZANFELICE, 2012).

No entanto, Montagner et al (2007) realizou um estudo cujo objetivo foi identificar as dificuldades de profissionais de uma Instituição Educacional do interior paulista no que concerne à interação deles com criança com TEA, no intuito de recolher subsídios para um programa educativo para aperfeiçoá-los. Nessa pesquisa, foi aplicado um questionário sobre as relações de profissionais com pessoas com TEA. Uma das constatações do estudo foi que, na referida instituição do estudo, as famílias, em geral, não participam dessa integração com a

escola. Segundo os relatos, não comparecem as reuniões, não desempenham seus papéis enquanto educadores e, em muitas situações, também não administram os medicamentos necessários para que o tratamento da criança seja efetivo.

O envolvimento da família na escola ou envolvimento parental, segundo Vargas e Shmidt (2017), está relacionado ao comportamento dos pais diante da escola, sendo constatados a partir do interesse pelos assuntos educacionais dos filhos. Assim, o envolvimento dos pais vai variar entre as famílias. Em outras palavras, alguns terão maior participação que outros. Dessa forma, quanto maior for o interesse e a participação dos pais pelos assuntos educacionais de seus filhos, maior será o seu envolvimento parental.

As práticas educacionais dos pais estão diretamente relacionadas com a relação entre a família e a escola. Entre as condutas e as atitudes que os pais desempenham com os seus filhos ou em benefício deles, podem ser citadas: a importância de estabelecer interação; aplicar cuidados que são de sua responsabilidade; usar o tempo livre para oportunizar estímulos que beneficiem o desenvolvimento, dentre outros aspectos. Assim, quanto mais os pais participarem ativamente do processo educacional de suas crianças, melhor será o rendimento do processo de ensino-aprendizagem e das condutas educativas (VARGAS; SHMIDT, 2017).

Por fim, no relacionamento do profissional da escola com a família, o vínculo positivo entre ambos desencadeia uma participação mais efetiva da família em momentos como a elaboração e instalação de programas de cunho educativo. Porém, no ponto de vista dos pais, não se faz necessária somente a resolutividade para as prioridades, mas também para a projeção de como será o futuro do indivíduo com comprometimento. Eles enxergam a importância de projetar o futuro até a fase adulta, incluindo até a terceira idade (MONTAGNER et AL, 2007). De modo geral, tanto a literatura nacional quanto a internacional concordam quanto ao fato de que, quanto mais os pais participarem ativamente do processo educacional dos seus filhos, melhor serão o rendimento escolar e as práticas educativas. Esse mesmo raciocínio é válido para as práticas voltadas à estimulação para o alcance da alfabetização. A contribuição dos pais nesse processo vai servir para que os seus filhos tenham mais chances de conseguir alcançar a alfabetização, visto que a continuidade e a sequência de boas estratégias voltadas para casa também terão sua relevância diante do desenvolvimento da criança. Além do mais, assim como ocorre em todos os outros momentos de estimulação de habilidades escolares da criança com TEA, os pais geralmente são pessoas que conhecem seus filhos em grande proporção, podendo, inclusive, contribuírem com a sugestão de direcionamentos mais apropriados para serem aplicados a cada criança.