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Coleta de dados

No documento MAGNÓLIA PEREIRA DOS SANTOS (páginas 98-103)

CAPÍTULO IV – TRILHANDO O PERCURSO METODOLÓGICO

4.6 Coleta de dados

Na segunda fase da pesquisa, ou seja, na coleta de dados, optámos pela observação participante por permitir registrar e analisar a prática pedagógica da

educadora e dos educandos na mediação dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem da área de Ciências Naturais na classe multisseriada. Entretanto, acreditamos ser importante apresentar como foi a inserção da pesquisadora no campo.

A inserção na sala de aula foi sendo construída aos poucos. Inicialmente, entrámos em contato com a Coordenação do Programa Escola Ativa na Secretaria Municipal de Educação de Feira de Santana em busca de autorização para realização da pesquisa, após esse primeiro contato, marcámos um novo encontro para selecionarmos juntas uma escola localizada no espaço rural que atendesse aos objetivos da pesquisa. Em maio de 2010, entrámos em contato com a educadora e apresentámos a intenção da pesquisa a ser desenvolvida no período de maio a dezembro do mesmo ano. A indicação da coordenação não poderia ser melhor, pois a escola indicada fazia parte do passado da pesquisadora, sendo a primeira escola multisseriada na qual ela atuou enquanto educadora no ano de 1985, fato que possivelmente contribuiu para sua inserção na escola e na comunidade local.

Num segundo encontro, discutimos sobre quais os dias em que aconteceriam as observações programadas, num total de dez visitas programadas. Conforme acordo com a professora, o dia marcado seria toda quinta-feira, pois era esse o dia em que as aulas de ciências aconteciam.

Durante o período de observação na escola, fiquei sentada no fundo da sala, anotando o maior número de informações possíveis. Em alguns momentos, havia a interação com os alunos, pois solicitavam ajuda nas atividades, situação possível por conta das especificidades das escolas unidocentes, onde a educadora assume outras responsabilidades além de ensinar. Nesse sentido, é preciso destacar que o pesquisador é o instrumento principal na coleta e na análise de dados (ANDRÉ, 2003).

Entre as técnicas utilizadas pelos pesquisadores qualitativos, a observação participante se destaca. Ela permite a compreensão da rede de relações e interações presentes na mediação estabelecida pelo educador no uso dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem em sala de aula. Segundo Lapassade (2005, p.81),

A observação participante toma a si, por conseguinte, a tarefa de descobri, a partir da “participação” do pesquisador na vida das pessoas que ele estuda, os valores, as normas, as categorias que caracterizam essas pessoas e de descobri-las “desde dentro”. É somente por esse procedimento, diz-se, que a descrição dos fenômenos sociais será feita, a partir do ponto de vista dos atores e não, como na sondagem por meio de questionários, da ótica dos pesquisadores.

A observação participante envolve a interação entre o investigador e os grupos a serem investigados, na qual o investigador exerce influência sobre o grupo, mas também é influenciado por ele. Assim, a observação participante foi de fundamental importância para compreender as práticas educativas efetivadas nesse contexto, já que propiciou analisar a mediação dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem da área de Ciências Naturais na classe multisseriada. Foram realizadas dez (10) sessões de observação participante. Cada uma durou em torno de 3 horas e meia, no turno matutino, sendo uma delas com a comunidade escolar e comunidade local. Segundo André (2003, p.28),

A Observação é chamada de participante porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação estudada, afetando-a sendo por ela afetado. As entrevistas têm a finalidade de aprofundar as questões e esclarecer os problemas observados. Os documentos são usados no sentido de contextualizar o fenômeno, explicitar suas vinculações mais profundas e completar as informações coletadas através de outras fontes (ANDRÉ, 2003, p.28).

O planejamento na aplicação da metodologia a ser desenvolvida na observação participante deve ser feito previamente, quando o investigador deve ter clareza sobre o que observar e como será realizada a observação. O investigador, na observação participante, segundo Lapassade (2005, p.81),

[...] toma para si, por conseguinte, a tarefa de descobrir, a partir da “participação” do pesquisador na vida das pessoas que ele estuda, os valores, as normas, as categorias que caracterizam essas pessoas e descobri-las “des-de dentro”. É somente por esse procedimento, diz-se que a descrição dos fenômenos sociais será feita, a partir do ponto de vista dos atores e não, como na sondagem por meio de questionários, da ótica dos pesquisadores.

Os procedimentos da pesquisa não implicam apenas em procedimentos utilizados pela pesquisadora, conforme Gonzalez Rey (2005, p.77), eles criam a possibilidade de “um processo permanente que se define em cada momento, pelas decisões do pesquisador.”

Assim, ao observar a prática pedagógica na mediação dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem no ensino de ciências, sentimos a necessidade de conhecer um pouco mais sobre a sua trajetória enquanto educadora de classe multisseriada e da sua mediação no uso desses cadernos. Nesse sentido, foi utilizada a entrevista semi- estruturada, com o intuito de compreender como ela vem realizando as suas escolhas

até então, no que se refere ao uso dos cadernos no ensinar/aprender ciências numa classe multisseriada.

Para além das conversas informais com a educadora registradas no diário de campo, foram feitas duas entrevistas semi-estruturadas (anexo A), tendo as mesmas a duração média de 50 minutos. As entrevistas foram transcritas, sendo avaliadas pela educadora após a transcrição e consentida, por escrito, a divulgação das mesmas neste trabalho.

Durante as entrevistas com a educadora, ficou evidente a necessidade de entrevistar a coordenadora do Programa Escola Ativa (anexo B), quanto às orientações dadas pela coordenação quanto ao uso dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem na aprendizagem de ciências. A entrevista foi marcada alguns dias depois e foi possível compreender que, apesar das orientações dadas pela coordenação, a educadora, sujeito da pesquisa, apresenta uma prática que difere dessas orientações desde o planejamento até à utilização dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem em sala de aula.

A entrevista é um dos instrumentos fundamentais para a coleta de dados e a sua utilização possibilita o “intercâmbio de comunicação” conforme Lakatos (2008, p.278). Por ser um instrumento que torna possível uma interação mais direta com os sujeitos envolvidos na pesquisa, a entrevista passa a exigir do investigador uma série de cuidados que possibilitem a eficácia nessa inter-relação. Segundo Macedo (2006, p.104) a entrevista,

É um rico e pertinente recurso metodológico para a apreensão de sentidos e significados e para a compreensão das realidades humanas, na medida em que toma como premissa irremediável que o real é sempre resultante de uma conceituação; o mundo é aquilo que pode ser dito, é um conjunto ordenado de tudo que tem nome, e as coisas existem mediante as denominações que lhes são emprestadas.

Assim, a liberdade com a qual o entrevistador dirige a entrevista possibilita- lhe explorar, de forma mais ampla, o tema problema em questão. É, pois, na entrevista que ocorre uma relação de interação recíproca entre quem pergunta e quem responde, tendo sido processo fundamental para esclarecer questões que envolvem a mediação dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem da área de Ciências Naturais, enquanto prática inovadora na referida classe. Para Lapassade (2005, p.79),

A entrevista etnográfica é um dispositivo no interior do qual há uma troca que não é, como na conversão denominada de campo, espontânea e ditada pelas circunstâncias. A entrevista põe face a face

duas pessoas cujos papéis são definidos e distintos: o que conduz a entrevista e o que é convidado para responder, a falar de si.

Com a intenção de registrar as falas, sem deixar de lado nenhuma informação, utilizámos um gravador, por considerá-lo um instrumento importante, que possibilita capturar expressões que seriam impossíveis de serem registradas de forma escrita. As entrevistas foram transcritas e foram analisadas constituindo-se como fonte secundária da pesquisa.

Entre os instrumentos de registro utilizados, o “diário de campo” foi de grande relevância, pois, durante a pesquisa, foi possível registrar as reflexões, pensamentos e estudos necessários. Os registros no diário foram de fundamental importância durante toda a pesquisa, possibilitaram a pesquisadora repensar e reavaliar cada passo durante a investigação.

Após a segunda semana de observação e de registro no diário de campo, veio a necessidade de utilização da filmagem. Assim, na terceira semana de observação, ficou evidente o quanto o recurso da filmagem acrescentaria à qualidade da análise dos dados e às possibilidades de análises futuras. Para a utilização das filmagens, foram estabelecidos alguns critérios, entre eles a priorização dos momentos de utilização dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem e os processos de mediação e interação entre educador e educandos.

A observação participante contou com o diário de campo, as entrevistas e as filmagens, acrescentando assim possibilidades para o estudo e análise do fenômeno. No que diz respeito ao planejamento das gravações Mattos e Fontoura (2009, p.38) sinalizam que,

O pesquisador deve pensar sobre o que quer registrar e, a partir disso, organizar os planos de gravações; se quer pensar na interação, não deve filmar apenas um dos participantes o tempo todo. A definição prévia do recorte do fenômeno focalizado é direcionada pela (s) pergunta (s) de partida. O tipo de focalização em um grupo de sujeitos, em vez de em apenas um, já indica uma orientação teórica subjacente de que, por exemplo, o fenômeno relevante é a interação e não o comportamento individual. Mas, mesmo com todo planejamento, temos de ter a clareza de que filmaremos o que a câmera captar e trabalharemos com o que obtivermos. Longe de ser espontânea, essa premissa nos liberta de buscar imagens que correspondam ao que queremos encontrar. Também mais uma vez, no melhor sentido etnográfico, analisamos o que encontramos algo que buscamos previamente.

A transcrição das filmagens foi muito complicada, cada gesto e expressão, diziam muito mais que as palavras, sendo, portanto, necessário, assistir num primeiro momento todo o vídeo e num segundo registrar as falas, separando por episódios. Para Lakatos (2008, p. 277) “a responsabilidade do sucesso da investigação depende exclusivamente do investigador, como habilidade, flexibilidade, aspecto emocional, profissional e ideológico”. A utilização da filmagem e da sua transcrição foram fundamentais no sentido de analisar principalmente o processo de aprendizagem dos educandos

A fim de preservar a privacidade dos sujeitos pesquisados, eles foram identificados da seguinte forma: a educadora pelo nome de Maria e os educandos pela letra A seguida de 1,2,3, e 4, indicando a ordem para que se expressam. A coleta de dados desenvolveu-se durante o ano letivo de 2010, no período de maio a novembro, envolvendo observações de uma turma de classe multisseriada (3º ao 5º ano) do Ensino Fundamental séries iniciais.

Procurámos explorar mais intensamente a dimensão institucional e comunitária, recuperando a história da escola e da comunidade analisando as relações entre a prática pedagógica e as relações na comunidade. Segundo André (2003, p.77),

[...] Os sujeitos quando entram na escola não deixam do lado de fora aquele conjunto de fatores individuais e sociais que os distinguem como indivíduos dotados de vontade, sujeitos em um determinado tempo e lugar.

Para tanto, foi proposto uma entrevista em grupo, envolvendo a educadora, os pais dos alunos e algumas pessoas da comunidade local. Para Lapassade (2005, p.80),

As entrevistas de grupo dão aos entrevistados a possibilidade de discutir entre eles, diante do pesquisador, suas definições da situação, suas ideias e opiniões, seus sentimentos em relação ao tema de discussão proposto, com a reserva da possibilidade de autocensura devido ao fato de se expressarem assim em público.

A entrevista foi realizada na própria escola e contou com a presença de 20 sujeitos da comunidade escolar e local, as perguntas realizadas contribuíram para a compreensão de aspectos relativos aos seguintes aspectos: históricos; geográficos; da vida doméstica; de saúde; organizacionais da comunidade; ocupacionais e culturais. (anexo c).

No documento MAGNÓLIA PEREIRA DOS SANTOS (páginas 98-103)