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Os Cadernos de Ensino e Aprendizagem da área de Ciências Naturais do

No documento MAGNÓLIA PEREIRA DOS SANTOS (páginas 68-77)

CAPÍTULO III – OS CADERNOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

3.2 Os Cadernos de Ensino e Aprendizagem da área de Ciências Naturais do

A coleção de Cadernos de Ensino e Aprendizagem de Ciências do Programa Escola Ativa – PEA constitui-se de cinco livros do 1º ao 5º ano para os anos iniciais do ensino fundamental, além de um Caderno do Educador de Ciências.

Figura 2 – Educandos utilizando os Cadernos de Ensino e Aprendizagem da Área de Ciências Naturais do PEA do 3º ao 5º ano em sala de aula

Fonte: SANTOS, 2010

A estrutura da coleção difere muito pouco de um caderno para o outro, havendo apenas acréscimo ou diminuição no n° de unidades e módulos. No início de cada Caderno de Ensino e Aprendizagem, há uma carta ao educando, apresentando, em linhas gerais, os conteúdos que serão estudados e a indicação da maneira como ele vai resolver as atividades propostas. Em seguida, são apresentados ícones, que são “sinais ou desenhos, dispostos sempre à margem esquerda de cada página, indicando o tipo de

atividade a ser realizada” (SANTOSb, 2010, p.14). Os ícones apresentam instruções/orientações passo a passo que direcionam como as atividades devem ser realizadas. Entre os ícones encontrados no CEA da área de ciências temos:

Figura 3 - Icones do Caderno de Ensino e Aprendizagem Fonte: Ciências vol.5 (BRASIL, 2010, p.6)

Para Maria Helena Araújo Santos, autora dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem da área de ciências, o uso dos ícones se justifica porque eles contribuem para a formação da autonomia do educando que passa, muitas vezes, a trabalhar independentemente do educador, interagindo com os colegas, compartilhando experiências e necessidades (SANTOSb, 2010, p.16).

No caderno de orientações para formação de educadoras e educadores, encontramos referências ao trabalho em grupo para resolução das atividades propostas nos cadernos. Segundo esse documento,

[...] mesmo que os educandos sejam organizados por série para melhor circulação de informações, se trabalhe alternadamente com grupos, com todas as séries e entre séries, para que as crianças possam exercitar diferentes possibilidades de cooperação, de comparação e de troca de experiências e conhecimentos. [...] que em cada grupo haja um monitor, escolhido pelos educandos que auxiliará o trabalho do educador quando estiver em outro grupo coordenando o desenvolvimento das atividades [...] (BRASIL, 2010, p.40).

O trabalho em grupo é enfatizado nas orientações para o uso dos CEA no ensino de ciências. Entretanto, por se tratar de uma classe multissérie, acredita-se que alguns aspectos devem ser considerados na constituição desses grupos, entre eles: a

proximidade entre o desenvolvimento real dos educandos, de forma a oportunizar a cooperação entre os educandos que constituem o grupo. É fato que o trabalho em grupo possibilita maior interação social e cooperação entre os educandos, contribuindo, assim para a troca de ideias, bem como para a construção/reconstrução do conhecimento.

Não são apresentados muitos experimentos nos Cadernos de Ensino e Aprendizagem. O experimento nas aulas de ciências pode ser considerado uma excelente ferramenta no sentido de possibilitar a concretização do conteúdo e estabelecer a relação teoria e prática.

Figura 4 – Atividade de Experimentos Fonte: Ciências vol.4 (BRASIL, 2010, p.97)

A interação do educando com o educador durante as atividades de experimento é extremamente importante para o processo de aprendizagem. Entretanto, para que essas atividades sejam desenvolvidas com os educandos das séries iniciais, é necessário que o educador busque o conhecimento sobre os assuntos abordados e possa desenvolver diferentes formas de conduzir os problemas que surgirão conforme o experimento.

Os Cadernos de Ensino e Aprendizagem de ciências foram distribuídos para todos os municípios brasileiros que aderiram ao PAR, de acordo com o Caderno de Orientações Pedagógicas para Formação de Educadoras e Educadores do PEA

(BRASIL, 2010, p.38) “não se pretende que o livro do estudante seja um típico livro didático, mas um roteiro de aprendizagem que pode ser complementado e até modificado pela dinâmica da sala de aula”. Sendo assim, é possível que a sequência dos conteúdos seja modificada, podendo ser realizadas as adaptações necessárias contemplando a realidade do educando.

Nesse contexto, os conteúdos dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem da área de ciências naturais estão organizados da seguinte forma:

1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano

UNIDADE 1 Estudando os Animais. Quantos animais?

Animais grandes domésticos. Animais selvagens de outros lugares

Animais de tamanho médio. Proteção dos animais. Animais pequenos. Animais muito pequenos

Animais muito pequenos. Mais animaizinhos

UNIDADE 2 Estudando as Plantas. Quantas plantas. Árvores Mais árvores. Proteção das árvores Arbustos. Plantas pequenas

Cuidado com as verduras. Plantas de jardim. UNIDADE 1 Observando e descobrindo UNIDADE 2 Identificando os órgãos do sentido UNIDADE 3 Conhecendo o meio ambiente UNIDADE 4 Estudando o tempo e a vida UNIDADE 1 Saúde, como preservá-la UNIDADE 2 Alimentação, base para a saúde UNIDADE 3 Saúde, higiene, cuidados, por quê? UNIDADE 1 Grande desafio: proteger a terra responsabilidade s de todos UNIDADE 2 Equilíbrio ambiental UNIDADE 3 Água e vida UNIDADE 4 Quem se lixa para o lixo? UNIDADE 1 Conhecendo o corpo movimentando- se UNIDADE 2 Qualidade na alimentação UNIDADE 3 Relacionando: digestão, respiração e circulação UNIDADE 4 Gerando a vida. reproduzindo

Figura 5 – Quadro com os Conteúdos de Ciências trabalhados nos CEA por ano/série após a reformulação em 2008

Fonte: Elaborado com base nos Cadernos de Ensino e Aprendizagem do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental do PEA (BRASIL, 2010).

Percebe-se que mesmo após a reformulação dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem da área de Ciências Naturais conteúdos como ecossistema, ecologia, agricultura, desenvolvimento sustentável, entre outros que tratam da realidade no campo, não são contemplados nos cadernos.

Os Cadernos de Ensino e Aprendizagem apresentam as seguintes finalidades: respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem; promover a aprendizagem coletiva; proporcionar o confronto de ideias; estimular a pesquisa e a consulta; provocar questionamentos (BRASIL, 2010). Para tanto, eles possuem uma estrutura diferenciada que, conforme o referido documento, facilita a aprendizagem de maneira dinâmica e cooperativa e busca integrar os conteúdos e remeter à pesquisa e à discussão problematizadora. Segundo Bezerra, Neto e Lima (2011, p.32),

Os cadernos têm um desenho auto instrucional, com exercícios e atividades gradativas e indicações detalhadas de como executá-los de modo que os alunos possam trabalhar, em boa medida, sozinhos e em grupo, apoiando-se uns nos outros, deslocando o papel do professor e do ensino para a intermediação de relações. Esses materiais didáticos e a organização do espaço físico da sala de aula enfatizam a autoaprendizagem, permitindo que o aluno avance no ritmo que considerar mais apropriado, promovendo, também, experiências de aprendizagem coletiva.

Para Torres (1992), ao se propor de forma simultânea, a liberação do tempo e a facilitação da tarefa do professor, o uso dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem, reduzem as exigências de qualificação docente, pois, ao permitirem que os alunos avancem em seu próprio ritmo, consequentemente os professores não precisarão determinar mais rigor em suas aulas.

Os Cadernos de Ensino e Aprendizagem têm a sua organização, especificamente em três atividades, são elas: Atividades Básicas (A); Atividades Práticas (B) e Atividades de Aplicação e Compromisso Social (C).

Figura 6 – Atividades do CEA Fonte: Caderno do Educador (2010 p.15)

São atividades sequenciadas que, segundo o Caderno de Orientações Pedagógicas para Formação de Educadoras e Educadores do PEA (BRASIL, 2010), buscam possibilitar a problematização e a pesquisa na construção do conhecimento de forma individual e coletiva.

De acordo com o Projeto Base (BRASIL, 2010) a Atividade Básica (A) tem por objetivo explorar os conhecimentos prévios, convidando o educando à aquisição de

novos conhecimentos. Ainda segundo o referido documento, nessa seção são abordadas situações reais da vivência do educando.

É importante destacar que a atividade é composta de textos curtos com muitas informações, mas com pouco aprofundamento. Conforme o documento de orientações para formação de educadores e educadoras na Atividade Básica, o educando,

[...] tem a oportunidade de problematizar10, compartilhar e negociar diferentes pontos de vista, fazer previsões, propor novas alternativas que superem as deficiências detectadas no debate, apropriando-se de novos conteúdos e aprendizagens (BRASIL, 2010, p.58).

Figura 7 – Atividade Básica A

Fonte: CEA de ciências naturais do vol. 4 (SANTOS, 2010, p.126).

10 Grifo do autor

Figura 8 – Atividade Básica A

Fonte: CEA de ciências naturais do vol. 4 (SANTOS, 2010, p.127)

Figura 9 - Atividades Básicas A

Fonte: CEA de ciências naturais do vol. 4 (SANTOS, 2010, p.128).

A problematização, segundo Cachapuz (2005, p.75), é a “fase essencial do processo investigativo”. No que diz respeito às classes multisseriadas, cabe lembrar que o educador, ao problematizar o conteúdo em sala de aula, deverá levar em consideração a heterogeneidade seja de distintos tempos de aprendizagem e de diferentes interesses.

A Atividade Prática (B), de acordo com o Caderno de Orientações para formação de educadoras e educadores (2010, p.58), visa,

[...] consolidar os conhecimentos e a aplicação do aprendido através dos projetos ou pesquisas iniciados na atividade básica [...]. Essa seção permite ao educando (a) relacionar a teoria à prática, confrontar saberes, apropriar-se do conhecimento sistematizado. Ele aplica os novos conhecimentos consolidando conceitos importantes para sua formação integral.

Ainda conforme o documento, as pesquisas podem ser sobre as atividades desenvolvidas pelos pais, ou pela comunidade, e podem gerar palavras, textos, pinturas, músicas, peças teatrais e desenhos, sendo possível o resgate dos conteúdos através das brincadeiras, do folclore e das tradições.

Figura 10 - Atividades Prática B

Fonte: CEA de ciências naturais do vol. 4 (SANTOS, 2010, p.130).

A atividade de Aplicação e Compromisso, Atividade (C), segundo o caderno de orientações (BRASIL,2010, p.59), possibilita,

[...] ao educando (a) a aplicação do conhecimento adquirido numa situação real, seja em sua classe, com a família ou na comunidade.

Visa instigá-lo a reafirmar na prática o conhecimento construído, aproximando-se ainda mais da realidade. A devolução dos resultados pode ainda ser concretizada através de ações junto com a comunidade que represente um benefício para todos e um compromisso com melhorias para todos.

Figura 11 - Atividade de Aplicação e Compromisso Social (C).Fonte: CEA de ciências naturais do vol. 4 (SANTOS, 2010, p.131).

As atividades (C) de Aplicação e Compromisso Social constituem-se na devolução do conhecimento aprendido pelo educando nas atividades anteriores, identificadas como atividades a serem desenvolvidas em casa, visam envolver escola, família e comunidade na resolução das atividades práticas.

Em relação ao Para Casa, atividade que aparece em todos os módulos, segundo a autora (SANTOSb, 2010), visa envolver a família e a comunidade nos trabalhos extra-escolares, no sentido de valorização desses sujeitos.

De acordo com o documento de orientações pedagógicas para a formação de educadoras e educadores, as Atividades Básicas, Práticas e de Aplicação e Compromisso Social não são estanques, pois se inter-relacionam não havendo uma separação clara entre elas.

Nessa perspectiva, o processo de planejamento por parte do educador das atividades escolares e extraescolares, precisa assegurar que cada atividade proposta possua o grau de complexidade adequada às reais necessidades dos educandos.

É válido ressaltar que a intenção não é descaracterizar os Cadernos de Ensino e Aprendizagem de Ciências Naturais, mas apresentar uma reflexão sobre as suas limitações, contribuindo, assim, para uma melhor utilização do instrumento.

3.3 AS CLASSES MULTISSERIADAS NO BRASIL E EM FEIRA DE SANTANA: ASPECTOS

No documento MAGNÓLIA PEREIRA DOS SANTOS (páginas 68-77)