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Capítulo 3 Caminho Metodológico com as mães que desmamaram precocemente

3.3 Coleta dos dados

A coleta dos dados ocorreu durante o período de 2010 à 2011 e para isso foi explicado as mães previamente o objetivo da pesquisa e suas contribuições por meio do diálogo que permitirá o aprofundamento das suas interpretações, interações e teorias que reflitam o mundo da vida. A todo o momento é importante preservar o máximo da interação mediante a manifestação da disposição do pesquisador através da acolhida, aceitação e concordância, além disso, as entrevistas devem ser realizadas em contextos naturais da vida cotidiana dos entrevistados (CREA, 1995- 1998).

O contato para a realização das entrevistas com as mães foi feito pessoalmente ou por telefone, assim foi agendado um primeiro encontro em local e horário escolhido por elas. Neste primeiro encontro, a mãe, a família (se presente) e a pesquisadora se conheciam, estabelecia-se um vínculo; os objetivos, a metodologia, a trajetória da pesquisa foi compartilhada com as mães, assim como a forma de participação delas na pesquisa. No primeiro contato foi pactuado que seria preciso mais que um encontro para que a pesquisadora trouxesse os dados coletados para realizar uma análise conjunta. Foi mencionada a possibilidade da ocorrência do grupo de discussão comunicativo com todas as mães participantes da pesquisa.

Este projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética em pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (CAAE: 0472.0.000.135-10/Parecer nº 269/2010) (Anexo 2), e somente após a sua aprovação é que se iniciou o período de coleta de dados. Para tanto, o (a) participante assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1)

redigido conforme os padrões estabelecidos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata das Normas de Pesquisa envolvendo Seres Humanos, bem como foi esclarecido todas as questões éticas envolvendo este tipo de pesquisa.

Após esta fase de ambientação e de estabelecimento de vínculo, foi dado início as entrevistas. Antes das entrevistas foi aplicado um questionário (Apêndice 1) com questões relacionadas ao perfil socioeconômico, antecedentes de gestação, filhos, antecedentes da amamentação e informações sobre a amamentação atual.

A entrevista era mais direcionada às mães, mas houve vários momentos em que outros integrantes da família participavam do diálogo com a mãe. Todas as entrevistas aconteceram nas residências das mulheres, local de escolha delas. As entrevistas foram gravadas em áudio, após o consentimento das mães e da família e foram guiadas pelo roteiro definitivo (Apêndice 4).

O diálogo foi estabelecido em um clima de conforto e confiança e possibilitou a livre troca de saberes. Muitas vezes após as entrevistas a pesquisadora voltava a literatura científica para investigar algum assunto que desconhecia, trocava informações com a orientadora, e aos poucos foi percebendo que o saber cientifico não era suficiente para conhecer uma realidade social.

Após a primeira entrevista, os relatos foram transcritos pela pesquisadora e organizados em quadros destacando os fatores transformadores e exclusores para superação do desmame precoce, alocando os recortes das falas dentro destes aspectos. Foi combinado um segundo encontro com as mães, no qual foi levado a elas os quadros elaborados por temáticas, nos quais se destacam as falas diretamente com indicação dos elementos transformadores e dos exclusores e também as primeiras interpretações construídas pela pesquisadora dentro das temáticas. Neste segundo encontro as informações adicionais foram anotadas no diário de campo para serem posteriormente integradas aos quadros finais e a realização do grupo de discussão comunicativo foi pactuada com as mães. Gómez et al (2006, p.81) colocam a importância da realização deste segundo encontro: “uma vez analisado os relatos, é conveniente ter um segundo encontro para consensuar os resultados, ampliar e aprofundar os aspectos que se considere necessário, assegurando a validez das interpretações”. Neste tipo de metodologia, segundo Gabassa (2009), tudo é analisado e consensuado intersubjetivamente, para a elaboração da análise final. A intenção é a de que ambos (pesquisador/a e participante) possam apresentar argumentos racionais sobre cada temática e chegar a um consenso de interpretação daquela realidade estudada.

O segundo momento de coleta e de análise conjunta dos dados ocorreu com 10 mães, uma vez que uma mãe depois de várias tentativas de contato demonstrou desinteresse em

permanecer na pesquisa e a outra era usuária de droga e foi internada em um hospital de referência para iniciar tratamento. Entretanto, mesmo com a não continuidade das mães na pesquisa, estas contribuíram com as entrevistas individuais, por isso não foram computadas como perdas.

A partir da finalização destas duas etapas foi realizado o grupo de discussão comunicativo, que teve a participação de 2 mães. Todas as mães foram convidadas antecipadamente pessoalmente e, por telefone e a princípio manifestaram interesse em participar. O local escolhido para a realização do grupo foi de fácil acesso, foi preparado um ambiente para receber as mães com as crianças, um café da tarde e havia transporte para buscá-las. Como já havia passado alguns meses do segundo encontro, muitas mães já haviam retornado ao trabalho com o término da licença maternidade de quatro meses, o que pode ter dificultado a participação no grupo de discussão.

O grupo de discussão comunicativo é válido, mesmo até com a participação de uma pessoa, uma vez que esta pessoa representa a comunidade em que vive e, assim sua contribuição reflete a vida de outras mulheres. Segundo Puigvert (2001-a), as pessoas são produtos de tradições e, ao mesmo tempo iniciadora de seus atos, por isso, mesmo um só integrante garante a validade dos assuntos discutidos.

O grupo de discussão teve a duração de 1 hora e 30 minutos pactuados com as duas mães presentes, foi gravado em áudio com o consentimento das mesmas e seguiu um roteiro (Apêndice 5) elaborado após as análises das entrevistas com temas relacionados ao aleitamento materno e desmame precoce que seriam melhores esclarecidos na discussão coletiva. As participantes alocaram seus argumentos e chegaram a consensos e dissensos Apesar do pequeno número de mães, o grupo trouxe novas contribuições e esclarecimentos de temas que haviam sido abordados nas entrevistas. Foi entregue as mães uma cartilha da mulher que amamenta elaborada pelo Ministério da Saúde, a qual continha os direitos da mulher lactante no trabalho.

O propósito do grupo surge para confrontar a subjetividade individual com a grupal, colocando em contato diferentes pessoas, experiências, pontos de vistas, entre outros. Ele é apropriado para os estudos que pretendem descrever e compreender as percepções sobre uma determinada situação. O grupo é uma conversa cuidadosamente planejada, desenhada para obter informações sobre um determinado tema, em um ambiente permissivo e não diretivo. O grupo geralmente é composto por seis a oito pessoas, guiados por um moderador em um clima relaxante, confortável e satisfatório para as pessoas participantes. (GOMEZ et al, 2006).

Para que o grupo aconteça a partir da ação comunicativa, tanto o investigador como os participantes adotam uma atitude de falantes e ouvintes que se entendem entre si sobre uma

situação. Deste modo é o próprio grupo que orienta o conteúdo do diálogo, e o investigador tem a função de dinamizar e facilitar com a responsabilidade de que o grupo não fuja do objeto acordado. (CREA, 1995-1998)

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