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Capítulo 3 Caminho Metodológico com as mães que desmamaram precocemente

3.4 Compreendendo e discutindo a análise dos dados

A análise qualitativa é um processo pelo qual há a identificação das unidades básicas do conhecimento cultural que os participantes possuem; explorar as categorias das tais unidades e buscar as relações para teorizar o fenômeno do estudo. Procede-se fragmentando a informação em unidades de sentido ou significado e assim facilita a busca dos tipos, classes, seqüências, processos, etc. (GÓMEZ et al, 2006)

O modelo de análise é regido pelos postulados da metodologia comunicativa e compreende diferentes níveis de análise que se concentram em um quadro ou matriz de análise da informação. Este é um processo que se organiza em torno dos componentes propostos por esta metodologia que são as dimensões exclusoras e transformadoras e os tipos de manifestações da linguagem, que são as interpretações e interações e outros componentes tais como: transcrição da informação, sua codificação, a descrição e a interpretação das mesmas e os resultados e conclusões. (GÓMEZ et al, 2006)

Assim, nossa análise foi baseada considerando previamente estas duas dimensões: as exclusoras, consideradas aquelas barreiras que algumas pessoas ou coletivos encontram e que lhe impedem incorporar uma prática ou benefício social e as dimensões transformadoras são as que contribuem para superar estas barreiras. A identificação destas dimensões se constitui um passo prévio para a concretização das ações superadoras que são o foco das investigações com a utilização da metodologia comunicativa (GÓMEZ et al, 2006). Os passos na análise das informações a partir da metodologia comunicativa são descritos por Gómez et al (2006, p 97): “la transcripción de la información, su codificación y agrupación, y la descripción e interpretación de la misma”.

Antes de iniciarmos a compreensão acerca das etapas da análise dos dados propriamente dita, é importante destacar que a coleta e análise dos dados se deram conjuntamente e essencialmente com a participação das mães, por meio do diálogo igualitário entre ambos. Nesta pesquisa, após a realização das entrevistas ou relatos comunicativos, como coloca Gómez et al (2006), foi realizada um análise prévia e construção de categorias prévias. De posse desses dados, voltamos ao ambiente de coleta junto aos participantes para a validação ou a interpretação coletiva

entre o pesquisador com seu arcabouço de conhecimentos científicos e as participantes com seus conhecimentos adquiridos a partir da vivência na realidade social, na qual cada pessoa parte do seu mundo da vida e todas as pessoas são capazes de ação e reflexão.

Utilizando a metodologia comunicativa parte-se do entendimento de que, quem investiga pode ter percepções ou idéias preconcebidas sobre a realidade das pessoas que estão se investigando, portanto a necessidade do consenso, o que faz com que a análise seja ampliada ou modificada a partir da interação com as pessoas participantes. (GOMEZ et al, 2006).

De acordo com o autor acima, primeiramente faz-se a transcrição das informações recolhidas por meio das diferentes técnicas de coleta de dados; é importante construir uma ficha técnica que contenha informações sobre aspectos concretos como o perfil dos participantes. Após esta etapa, se faz a codificação das informações, a qual serve para localizar com facilidade as unidades de análises selecionadas.

Estando decididas as unidades de análises, se faz necessário realizar o agrupamento destas conforme a estrutura do quadro ou matriz de análise, de forma que cada célula desta matriz contenha as unidades que pertençam a mesma categoria, subcategoria, dimensão ou tipo de manifestação de discurso. Uma vez agrupadas as informações, segue a descrição e análise das mesmas. Descrevem-se as interpretações feitas pela equipe de pesquisadores, sua relação com as teorias sociais e educativas e sua correspondência com os objetivos e/ou hipóteses de pesquisa. (GOMEZ et al, 2006).

Isso proporciona a elaboração de um primeiro informe, na forma de comentários gerais que se apresentam as pessoas participantes da pesquisa. Esta é a volta do pesquisador ao encontro com sua fonte de coleta e interação, o que proporciona momentos de intensa reflexão, troca de conhecimentos e consequentemente validação dos achados pela própria fonte. O objetivo deste encontro não é somente constatar os achados, mas também clarificar as dúvidas e aprofundar aspectos que estejam superficiais ou que não foram analisados suficientemente. (GOMEZ et al, 2006)

A informação coletada admite diferentes níveis de análises, sendo um básico e outro avançado. Nesta pesquisa nos atemos ao nível básico de análise, que é composto pelas categorias e as dimensões de análise; as categorias se cruzam com as dimensões exclusoras e transformadoras proporcionando a interpretação do fenômeno. (GOMEZ et al, 2006)

É importante destacar que, em todas as técnicas de coleta utilizadas, a análise final dos dados coletados foi feita intersubjetivamente, ou seja, numa troca entre pesquisadora e

participantes, na busca de um consenso sobre a realidade investigada. O destaque feito ao final de cada quadro síntese quanto ao número de elementos e de menções refere-se à diferença que possa existir entre o número de elementos transformadores ou exclusores e o número de falas ou parágrafos/frases comunicativos.

Seguindo a análise de Gabassa, (2009), o número de elementos remete à quantidade de fatores transformadores ou exclusores destacados em cada quadro a partir das falas. Já o número de menções refere-se à quantidade de falas apresentadas pela pessoa participante, isto é, de parágrafos ou frases comunicativos. Essa diferenciação foi feita porque, em alguns momentos, as pessoas participantes fazem uma única fala a partir da qual é possível destacar diversos elementos, sejam transformadores ou exclusores e, em outros momentos, apresenta diversas falas (parágrafos ou frases) que remetem a um mesmo elemento. Nesse sentido, o número de elementos não corresponde diretamente à quantidade de falas destacadas nos quadros.

A partir da compreensão do processo de análise tendo como pressuposto a orientação comunicativa, os quadros elaborados retratam os objetivos propostos nesta pesquisa. Assim, o quadro modelo abaixo exemplifica a alocação das pré-categorias dentro das dimensões exclusoras e das dimensões transformadoras. Este quadro foi utilizado tanto para alocar as contribuições das entrevistas, como também do grupo de discussão comunicativo.

Aleitamento materno/desmame precoce Elementos que se

colocam como exclusores Elementos Transformadores

3.4.1 Passos da análise e interpretação dos dados

O procedimento utilizado para a realização da análise das entrevistas e do grupo de discussão comunicativo foi o mesmo. Os passos seguidos são apresentados da seguinte maneira:

1. Elaboração de um pré-roteiro (Apêndice 2) pelo pesquisador para as entrevistas individuais;

2. Agregando novas contribuições advindas de mulheres da comunidade de profissionais do município ao pré-roteiro das entrevistas por meio de um roteiro intermediário (Apêndice 3);

3. Elaboração do roteiro definitivo (Apêndice 4)

4. Aplicação do questionário (Apêndice 1) e realização das entrevistas individuais – gravação em áudio;

5. Transcrição na íntegra das entrevistas, feita pela pesquisadora; 6. Audição, conferência e correções da transcrição;

7. Atribuição de um número a cada mãe participante (como, por exemplo, Mãe 1);

8. Leitura exaustiva dos dados pela pesquisadora;

9. Identificação de parágrafos (ou frases, no caso das mães) comunicativos; 10. Identificação de trechos referentes a fatores transformadores e exclusores, considerando-se os princípios da metodologia comunicativa crítica, por meio de uma marcação na transcrição com T, para aspectos transformadores, E, para os exclusores, e R para recomendações explícitas;

11. Montagem dos quadros iniciais (Apêndice 6) com as dimensões: transformadora e os exclusores, sendo um quadro para cada mãe; Este quadro continha as falas das respectivas mães alocadas nas dimensões.

12. Realização dos segundos encontros individual com as mães com compartilhamento dos quadros iniciais, no qual as mães apontavam novas contribuições e havia a validação da análise elaborada pela pesquisadora – anotação em diário de campo;

13. Reconstrução dos quadros iniciais alocando as novas contribuições das mães decorrentes do segundo encontro;

14. Realização do grupo de discussão comunicativo (Apêndice 5) – gravação em áudio;

15. Compilação dos quadros iniciais em um quadro final com as contribuições de todas as mães participantes, quadro este organizado em pré-categorias alocadas nas dimensões transformadoras e as exclusoras identificados nas entrevistas individuais, no segundo encontro com as mães e no grupo de discussão comunicativo; As pré-categorias foram elaboradas da junção dos significados das falas, a partir da visão da pesquisadora.

16. Anotação de número de menções (falas) e de elementos dentro de cada uma das dimensões no quadro final.

17. Leitura de todo o material e produção de uma lista de recomendações implícitas e explícitas nas falas que demonstrem os aspectos que possam levar a superação do desmame precoce.

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