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Segundo D’Almeida (2000), a coleta dos materiais recicláveis provenientes do lixo, primeira etapa do processo de reciclagem, pode ser feita de quatro maneiras, sendo as duas últimas formas de coleta, não institucionalizadas:

- A coleta seletiva domiciliar ou porta a porta: é a retirada dos materiais recicláveis, previamente separados, na própria residência do gerador do resíduo, em dias e horários específicos e que não coincidam com a coleta normal. O tipo e o número de recipientes que irão acondicionar os recicláveis nas calçadas irão variar de acordo com o sistema implantado.

- A coleta seletiva por entrega voluntária: a população espontaneamente deposita os materiais recicláveis em containeres ( PEV – Posto de Entrega Voluntária ou LEV – Local de Entrega Voluntária) instalados em locais estratégicos da cidade.

- A coleta seletiva em postos de troca: baseia-se na troca do material entregue por algum bem ou benefício, como alimento, vale-transporte, vale-refeição, descontos ou outros. - A coleta seletiva por catadores: catação informal de papéis e outros materiais

encontrados nas ruas e nos lixões por pessoas que fazem dessa atividade seu meio de subsistência.

A coleta de materiais recicláveis pode ser realizada através do sistema de limpeza pública municipal, do setor privado, de catadores e de setores organizados da sociedade.

Para receber os materiais reciclados, após a coleta, é necessária a existência de um galpão de triagem, onde eles serão separados, prensados ou picados e enfardados ou embalados para comercialização. Além disso, um pré-beneficiamento, como retirada de rótulos dos plásticos, lavagem, separação por cor, irá agregar valor aos materiais.

A relação entre a quantidade de lixo coletado seletivamente e a quantidade de lixo total coletado, em termos percentuais, sem se considerar a parcela orgânica compostada do lixo e o descarte da coleta seletiva, que vão para o aterro sanitário, é denominada “taxa de desvio do lixo”, e mede o impacto dos programas de coleta seletiva, em termos de redução da necessidade de aterros (D’Almeida, 2000).

O quadro 2.6 apresenta os valores encontrados por Aguiar & Philippi Jr (2000), para a taxa de desvio em sete cidades pesquisadas no Estado e São Paulo.

Quadro 2.6: Taxas de desvio calculadas para oito municípios de São Paulo e para Vitória-ES

Município Lixo coletado (t/dia) (A) Recicláveis separados (t/dia) (B) Taxa de desvio (%) (C)* Embú 97,8 3,0 3,07 Guarulhos 667,4 1,0 0,15

São José dos Campos 277,6 9,0 3,24

Goiânia 700,0 5,0 0,71 Campinas 610,9 22,3 3,65 Santos 436,8 4,0 0,92 São Paulo (1992) 7.877,0 10,0 0,13 São Paulo (1996) 10.000,0 4,0 0,04 Vitória (2000) ** 250,0 1,0 0,40 * valores calculados [ (B / A ) x 100 = C ]

**PMV/SEMURB/TDR (2000) (dados referentes a soma dos materiais coletados nos PEVs e os recuperados pela ASCAMARE)

No quadro 2.7 são apresentadas as vantagens e desvantagens dos sistemas de coleta seletiva porta a porta e por entrega voluntária.

Quadro 2.7: Vantagens e desvantagens dos diferentes sistemas de coleta seletiva

Modalidade Aspectos positivos Aspectos negativos

Porta a porta -Facilita a separação de materiais nas fontes geradoras e sua disposição na calçada -Permite maior participação

-Permite mensurar a adesão da população ao programa, pois os domicílios/ estabelecimentos participantes podem ser identificados durante a coleta

-Agiliza a descarga nas centrais de triagem

-Exige uma maior infra-estrutura de coleta, com custos mais altos para transporte

-Aumenta os custos de triagem, ao exigir posterior re-seleção

Posto de entrega (PEV) -Permite coletar uma grande variedade de materiais

-Facilita a coleta, reduzindo os custos com percursos longos, especialmente em bairros com população esparsa

-Requer pouca mão de obra

-Permite a exploração do espaço do PEV para publicidade e eventual obtenção de patrocínio

-Dependendo do estímulo educativo e do tipo de container, permite a separação e descarte dos recicláveis por tipos, o que facilita a triagem posterior

-Requer mais recipientes para acondiconamento nas fontes geradoras

-Demanda maior disposição da população, que precisa se deslocar até o PEV, transportando o material -Sofre vandalismo (desde o depósito de lixo orgânico e animais mortos até a pichação e incêndio)

-Exige manutenção e limpeza

-Médias relativamente baixa de participantes

-Não permite a avaliação da adesão da comunidade ao hábito de separar materiais

- Mais difícil implementação por não ser obrigatório

Fonte: Adaptado Curlee & Das, 199., Grimberg & Blauth, 1998.

2.6.1 Sistema de coleta seletiva por Postos de Entrega Voluntária (PEV)

Os PEVs, como já foi definido anteriormente, são containers projetados para receberem vários tipos de materiais (lixo urbano), em compartimentos separados, dispostos voluntariamente pelos cidadãos de uma certa área no seu entorno.

2.6.1.1 Dimensionamento dos PEVs

As dimensões dos PEVs devem ser função do volume de recicláveis gerados em sua área de abrangência e/ou da frequência de coleta. Isto é, quanto maior for a densidade populacional no entorno e a área de abrangência do coletor, maior será o volume de materiais a ser nele disposto e uma maior frequência de coletas acarretará em menores volumes a serem coletados.

O modelo do PEV deverá levar em consideração se este ficará totalmente ao ar livre ou sob alguma cobertura, a facilidade de limpeza e manuseio pelos coletores e a altura das aberturas, no caso de PEVs em escolas, cujo público alvo é também infantil.

2.6.1.2 Localização dos PEVs

A decisão envolvendo a localização dos PEVs precisa levar em conta o fácil acesso para carga e descarga e a proximidade de estacionamentos, devendo ser alocados em lugares estratégicos tais como clubes, hotéis, praças, praias, condomínios, parques e outros locais que tenham grande fluxo de transeuntes e fácil acesso para automóveis. Devem ser integrados à paisagem urbana, evitando-se assim aumento na poluição visual (Grimberg & Blauth, 1998).

2.6.1.3 Coleta dos materiais dos PEVs

Quando os PEVs possuem sub-divisões para cada tipo de material a coleta não deve causar sua re-mistura, o que representaria desprezo pelo esforço da população em separá-los, por isto no caso da coleta de lixo ser terceirizada, o contrato deve prever cláusulas sobre a disponibilidade de uma frota específica de veículos e, ainda, se ter o cuidado para que os preços e condições destas empresas não elevem as despesas com a coleta seletiva.

Os veículos coletores mais indicados são os caminhões tipo baú ou carroceria com as laterais aumentadas para otimizar sua capacidade volumétrica porém caminhões de lixo podem ser adaptados (Grimberg & Blauth, 1998).

Ainda segundo Grimberg & Blauth (1998), a implantação de um sistema de coleta seletiva requer uma reformulação nos horários de coleta de lixo como um todo e um acompanhamento do sistema, pois se a quantidade total do lixo não aumenta, a separação de materiais para coleta seletiva poderá ser acompanhada de uma diminuição na frequência da coleta regular. Os roteiros e horários de coleta devem ficar claros para a comunidade e o seu não cumprimento pode comprometer a credibilidade do programa.

A questão da necessidade de manutenção dos containeres do sistema de entrega voluntária é particularmente importante, pois a falta de conservação e a irregularidade na coleta dos materiais podem levar a não participação da população (Aguiar & Philippi Jr, 2000).

2.6.1.4 Problemas que podem ocorrer na CS por PEVs

Segundo Eigenheer (1998), a cidade de Florianópolis, no ano de 1990, implantou a coleta seletiva porta a porta, em um bairro de classe média com aproximadamente 6.500 habitantes. No ano de 1992, atendendo solicitações da população não atendida pelo sistema porta a porta, foram implantados quatorze Postos de Entrega Voluntária ( PEVs) em áreas de maior fluxo de pessoas, como supermercados, praças, universidade, estabelecimentos comerciais.

Os principais problemas encontrados, no sistema de coleta seletiva por PEVs, foram a frequência com que os mesmos eram “visitados” por catadores na busca de materiais de maior valor ou de mais fácil comercialização, como o alumínio, as garrafas e os potes de vidro, o papel de primeira e o papelão; o sistema adotado (latões de 200 litros) não era suficiente para a produção e exigia uma coleta diária, o que aumentava consideravelmente o custo do sistema; o veículo coletor usado, sem as devidas repartições, obrigava a mistura dos materiais separados pelos usuários dos PEVs e a operacionalidade manual dificultava para o empregado que coletava o material, pois para recolher o lixo ele precisava levantar e girar o latão cheio.

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