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Sala das Considerações

2. Coletivo de retalhos: uma colcha?!

Imagem 5 – Tessituras: Terapia ocupacional e Cultura

Entre a cultura e a terapia ocupacional, as interconexões desvelam um universo de possibilidades potentes. No campo da cultura, estratégias, desafios e potências caminham ao lado da consideração da cultura como direito universal essencial, compondo com a questão da cidadania plena, da qual deriva um campo de especificidades conceituais e políticas públicas. Tal campo também abrange a cultura como símbolo e expressão das singularidades e subjetividades da vida humana nos mais diversos repertórios de existências. Nesse sentido a cultura e a reflexão sobre temas em cultura e direitos, coloca em evidência o discurso da democracia. Nos apresenta como diferentes, porém iguais, de forma problematizada e consciente. Sendo que ainda podemos nos identificar pela cultura e nos fortalecer enquanto sujeitos, coletivos, povo de um país e enquanto América Latina: rica e potente em tradições, fazeres, histórias, modos de vida e, portanto, também nas produções de práticas e conhecimentos próprias.

O eixo temático da diversidade está declarado e tem relevância, principalmente quando se trata do tema cultural. Não há como pensar em cultura sem dizer da diversidade cultural, como garantia, respeito pelo diverso e pelo diferente. “Este compromisso ético-

147 político do terapeuta ocupacional com os sujeitos que atende pode fazer surgir, para além da tolerância e da defesa dos direitos, o desejo de diferença” (LIMA, 2003, p. 70).

Tem-se também a consideração da cultura como possibilidade de desenvolvimento humano: valorizando a história, posicionando-se politicamente, respeitando a diversidade, construindo aportes econômicos inclusivos e sustentáveis. Assim os processos de criação, participação, fruição, produção e gestão em cultura convergem para a construção de formas de organização de uma sociedade mais justa, sensível, que respeita e promove a diversidade como vetor de desenvolvimento.

Apresentamos, portanto, a lente cultural, que é um jeito sensível, crítico e ético de interpretar e fazer a leitura do mundo e dos que o habitam. No foco central estão os sujeitos e coletivos, na busca da valorização dos modos de vida variados, que são compostos pelas ações e atividades de cada sujeito no mundo, os fazeres tradicionais, os territórios, as comunidades e seus cotidianos culturais.

Intencionou-se neste trabalho, a partir de experiências na política cultural e no debate entre os campos da cultura e da Terapia Ocupacional e suas interfaces e conexões: explorar tessituras que fluíram em meio a muitos eixos temáticos centrais desta exposição de cenários e conceitos. Na diversidade da existência humana, o principal é reconhecermos toda a pluralidade e a percepção de que “todos somos diversos” (Patrícia), como também identificar o que estamos chamando de diversidade, para diferenciar e não mascarar as desigualdades contra as quais nos posicionamos.

Os desafios da Terapia Ocupacional no campo da cultura envolvem aspectos relacionados à gestão cultural e ao acesso à cultura e aos seus conteúdos. O cenário político econômico atual surge forte como desafio na consolidação desse campo e da construção das interfaces. Porém algumas estratégias apontadas dizem respeito à forma com a qual as ações são compostas nesse campo, como, por exemplo, a participação descentralizada e inventiva das pessoas, a responsabilização coletiva e o uso das ferramentas político-culturais, mas principalmente a potência do engajamento que se percebe nessa relação entre terapeutas ocupacionais e a cultura. Essa potência é representada pela ideia de um fazer coletivo, dialógico e engajado, interessado no empoderamento e nos formatos que rompem com as hierarquias visando a ampliação da potência de ser, estar, agir no mundo.

Na cultura, a agenda é (ou deve ser) democrática e sensível, o que possibilita trocas culturais constantes, na composição de um campo vivo de experiências, fazeres e sensações. Estas são algumas das potências vivenciadas e descritas.

148 Como um direito universal, essencial humano, o direito à cultura foi colocado no repertório das ações pela garantia dos direitos, dentre aspectos sobre a intersetorialidade e a articulação das nossas práticas. Embora seja relatado que a trajetória profissional e pessoal e a formação de cada terapeuta ocupacional influenciam muito sua relação com a sociedade e a militância. Mas vale sublinhar que o posicionamento representa um compromisso crítico, político, que nos apresenta uma terapia ocupacional ética. “Eu acho

que todos nós que estamos dizendo que estamos trabalhando com cultura temos que dizer, temos que batalhar pelos direitos à cultura” (Patrícia).

Evidencie-se o fato apontado acerca de ser, a ocupação tradicional, como algo essencialmente conectado à existência cultural das pessoas. A ação cultural, portanto, seria como a tradução dos modos e atividades de vida dos sujeitos, coletivos, grupos, comunidades e territórios.

Sobre a terapia ocupacional na cultura, os apontamentos seguem tecendo muitas

conexões e possibilidades. “E aí, pensando na cultura, eu acho que se a gente diz tudo

isso sobre o papel de mediador, de articulador, de fomentar participação, pensar nessa fruição” (Renata). Renata expõe a ideia do terapeuta ocupacional mediador cultural,

como um fio condutor, que atravessa os campos e os diversos contextos e também costura entre as interfaces do campo da cultura na terapia ocupacional. Um ator importante que possui repertório e atua na diversidade, que milita e age a partir da perspectiva dos direitos, que luta pela emancipação e consideração das culturas. Bordando e compondo nós e laços, criando tessituras, costuras, a partir de um tear consciente e crítico ao cenário neoliberal. Eis o que nesta exposição descobrimos e chamamos de uma terapia ocupacional na cultura.

As tessituras não poderiam estar mais costuradas, as interconexões são amplas e extensas. A Terapia Ocupacional aparece em cada retalho que compõe essa colcha, da cidadania à diversidade, da expressão dos símbolos e das subjetividades às mobilizações políticas. Um caminho de mão dupla, uma composição cheia de potencial. Destaca-se aqui um convite: explorar ainda mais estes dois campos de práticas, conhecimentos, fazeres, para a composição de novos laços e nós. Pois, neste trabalho, a curadoria expressa apenas uma proposta num campo que emerge com muitas possibilidades entre a Terapia Ocupacional e a cultura.

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