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2.3. A subdivisão da temática da cultura negra e o mapeamento dos coletivos

2.3.1. Coletivos voltados à Educação e Ensino Superior

São aqueles que autodenominam as suas identidades, segundo o que podemos extrair de suas páginas online oficiais, como “educação”, “acadêmico” ou “estudantil”, “universitário”, “produção e educação”, “formação acadêmica continuada”, “ação educativa”, entre outros. São também de diferentes estados do Brasil e se organizam de diferentes maneiras, apesar de terem o mesmo núcleo temático em comum. Seu espaço de organização e de encontros, digamos assim (ou sede), são, em sua maioria, em universidades federais, mas há também alguns atuando em nível estadual e outros apenas em uma universidade específica. Assumem as seguintes identificações: Coletivo Cultura Negra na Escola (UFF); Coletivo Negração (UFRGS), Coletivo Mercedes Baptista (UFF), Coletivo Sistema Negro (USP), Coletivo Kurima (UFSC), Coletivo Negro Universitário da UFMT, Coletivo Nuvem Negra (PUC-Rio), Coletivo 4P: poder para o povo preto (UFSC), Coletivo Malungo (FAUUSP), Coletivo Negrex (nacional e estadual de origem em Minas Gerais), Coletivo Quilombo e Coletivo Quilombo - Bahia (pertencentes ao mesmo núcleo nacional, o segundo desmembrado em um grupo estadual).

Quanto às suas principais ações coletivas que pretendemos evidenciar e destacar, estas são: política de cotas; dar assistência à permanência de estudantes negros e baixa renda dentro da universidade; desenvolver atividades que envolvem a entrada do aluno como, por exemplo, cursos extras para os processos seletivos de ingresso, especialmente o ENEM; oferecer cursos ensino de Histórias da África e cultura africana nas universidades. Além dessas propostas, os coletivos investem em estratégias que colaborem para ampliar as práticas culturais e lúdicas de matrizes africanas no campus, incluir no meio acadêmico referenciais africanos e afro- brasileiros às disciplinas e outras propostas similares sendo que em todas há, claramente, uma luta por uma educação democrática, pública e acessível. Portanto, contextualizam uma luta antirracista nas universidades através dos tipos de ações, narrativas e representações que se fazem, sobretudo, às prerrogativas de se deslegitimar o discurso social (neste trabalho especial principalmente pelo viés da comunicação e das mídias digitais) que encontramos numa sociedade com uma fala de democracia racial.

Pensar a instituição acadêmica a partir das narrativas e representações dos coletivos de cultura negra é perceber o quanto ainda nos dias de hoje a estrutura universitária permanece racialmente instruída, seja pelo corpo docente e discente presente nas seus mais diversos campos acadêmicos ou nas disciplinas e atividades de carga horárias nos seus respectivos currículos. É também diagnosticar como a representatividade neste meio encontra-

se bastante desproporcional ao número total da população do país e como as ações de políticas públicas, como o programa de cota (lei 12.990/14) e a lei de ensino da história e cultura afro- brasileira e africana (10.639/2003), ainda precisam ser aceitas por uma grande parcela da população que não compreende estas ações como partes de uma reparação do passado escravista.

No geral, as instituições, segundo Silvio Almeida (2008), apesar de se manifestarem em diversas formas, como por exemplo, a academia, a escola ou as universidades sendo algumas dentro desta variedade, compõe em seu alicerce padrões que também dizem respeito a determinações raciais. O autor ainda frisa que vê as instituições enquanto materializações de determinações formais da vida social, condicionadas ao comportamento dos indivíduos e dos resultados conflituosos de lutas pelo monopólio do poder social. O coletivo “Nuvem Negra”, por exemplo, formado por alunos e ex-alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, exemplifica muito bem a sua participação e organização contrária a estas ideologias raciais:

Levantamos discussões, intervenções, ações culturais, palestras, Workshops, minicursos, cine-debates, [contação de histórias africanas e afro-brasileiras] 12 entre outras atividades dentro e fora das universidades. Um dos intuitos é visibilizar o pensamento e a pesquisa de intelectuais negros, que a sociedade brasileira hierárquica, desigual e discriminatória negligência. As nossas histórias precisam ser contadas a partir de um olhar descolonizado.·.

Os assuntos são muito bem abordados e estão em diálogo com a sua razão de formação, como diáspora negra, ancestralidade, conexões e silenciamentos pelos quais passam em seu cotidiano essencialmente jovem, no ambiente universitário e intelectual que dividem. Assuntos que, portanto, devem ser problematizados por sua necessidade histórica e pela identidade cultural que esse grupo e outros coletivos carregam consigo e enfrentam, de maneira despercebida e naturalizada por terceiros, num sistema pautado na distinção de raças para buscar um ensino superior democratizado e representativo de todos.

Em destaque estas jovens negras estrangeiras interessadas na cultura de matriz africana, vem somar conosco neste Café Ndimba junto com outras/os estudantes intercambistas trazendo algo de suas experiências de vidas afrodiaspóricas, de intercâmbio cultural e de suas conexões na diáspora afro- brasileira promovidas e possibilitadas no espaço universitário da UFSC (...).·. Para esse coletivo e os outros dez que preenchem esse quadro, a performance de suas ações conta e faz parte de suas histórias pautadas em experiências e conflito enfrentado na

vida cotidiana de quem possui ou agrega para si uma identidade cultural negra. Dimensões que também aparecem no grupo de coletivos a seguir e que fazem parte do nosso campo de análise. A partir da discussão da análise das ações coletivas, seus meios de ativismo ou expressividade de luta, resistências e representatividade da população negra surgem para além dos territórios comuns e espaciais, ao desafiar velhas temáticas e fazerem emergir novas discussões. Há, portanto, a transformação do movimento sob novas formas e códigos, que processam, sobretudo, dentro de si novos caminhos identitários.