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CAPÍTULO 03 Estudo comparado dos casos

3.2 Coligações desafiantes

Uma das maneiras de identificar os partidos que compõem a oposição é através das “coligações desafiantes” ou perdedoras, caracterizadas pelos partidos que apoiaram o principal rival do candidato que venceu a eleição. Considera-se desafiante o partido ou coligação que mais se aproximou de vencer o pleito, e que após a eleição não aderiu à coalizão (SILAME, 2018). Estes partidos, portanto, teriam incentivos para se constituírem como atores de veto

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frente ao Executivo durante o mandato, tendo em vista chegar ao governo na eleição seguinte. Sendo assim, é possível supor que eles apresentem também uma disposição maior para fiscalizar o governador durante este período.

Entre 1994 e 2010, todas as eleições terminaram em segundo turno nos dois Estados. Em São Paulo, três partidos competiram com o PSDB pelo cargo de governador. Na eleição ocorrida em 1994 o candidato Francisco Rossi (PDT) chegou a concorrer no segundo turno com o candidato Mário Covas (PSDB). Na eleição seguinte foi Paulo Maluf (PP) quem protagonizou a disputa. Nas três eleições posteriores, os tucanos Geraldo Alckmin e José Serra se alternaram no cargo de governador vencendo os petistas José Genoino, em 2002, e Aloísio Mercadante, em 2006 e 2010.

Por sua vez, no Rio Grande do Sul, o período foi marcado por uma polarização mais intensa entre PT e PMDB. Em 1994 o pemedebista Antônio Britto venceu Olívio Dutra (PT) no segundo turno. Dutra, por sua vez, venceu o pleito de 1998, frustrando a tentativa de reeleição de Britto.

Em 2002, Germano Rigotto (PMDB) ganhou de Tarso Genro (PT). Porém, a polarização entre os dois partidos foi intercalada com a vitória de Yeda Crusius (PSDB), em 2006. Na ocasião o segundo turno foi disputado contra o ex-governador petista Olívio Dutra. Na eleição seguinte (2010), o Partido dos Trabalhadores volta ao Palácio Piratini com Tarso Genro que venceu José Alberto Medeiros (PMDB).

A tabela 4 apresenta o resultado das eleições, em segundo turno, nos dois Estados.

Tabela 4 Resultado das eleições em SP e RS no 2º turno

Eleição Candidato Partido Situação UF

1994 Mário Covas PSDB Eleito SP

1998 Mário Covas PSDB Eleito SP

2002 Geraldo Alckmin PSDB Eleito SP

2006 José Serra PSDB Eleito SP

2010 Geraldo Alckmin PSDB Eleito SP

1994 Antônio Britto PMDB Eleito RS

1998 Olívio Dutra PT Eleito RS

2002 Germano Rigotto PMDB Eleito RS

2006 Yeda Crusius PSDB Eleito RS

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1994 Francisco Rossi PDT Não Eleito SP

1998 Paulo Maluf PP Não Eleito SP

2002 José Genoino PT Não Eleito SP

2006 Aloísio Mercadante PT Não Eleito SP

2010 Aloísio Mercadante PT Não Eleito SP

1994 Olívio Dutra PT Não Eleito RS

1998 Antônio Britto PMDB Não Eleito RS

2002 Tarso Genro PT Não Eleito RS

2006 Olivio Dutra PT Não Eleito RS

2010 José Alberto Medeiros PMDB Não Eleito RS

Fonte: Elaboração própria com dados do TSE.

As tabelas 6 e 7 mostram as coligações que mais se aproximaram de vencer as eleições nos dois Estados durante todo o período estudado.

A tabela 6 mostra que em São Paulo as coligações desafiantes têm entre 6%, em 1995, e 32% das cadeiras na Assembleia em 1999. Nos períodos posteriores, a quantidade cadeiras alcançadas pelos desafiantes diminuiu consideravelmente, chegando a 10% na eleição de 2010.

Tabela 6 Coligações desafiantes em São Paulo

Período Partidos N % 1995-1999 PDT, PV, PRP (6) 6% 1999-2003 PP / PSL / PRN / PST / DEM / PL (30) 32% 2003-2007 PT / PCB / PC do B (25) 27% 2007-2011 PRB / PT / PL / PC do B (23) 24% 2011-2014 PT, PDT, PCdoB, PR, PSDC, PTN, PRB, PRP, PRTB, PTdoB (9) 10%

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do TSE

No Rio Grande do Sul as coligações desafiantes alcançaram um percentual de cadeiras mais significativo do que na ALESP, o que pode indicar uma competição mais acentuada no momento das eleições e se traduzir em oportunidades maiores para as oposições na ALRS. Na Legislatura que se iniciou em 1999, por exemplo, praticamente 60% dos deputados estaduais eram filiados aos partidos da coligação derrotada nas eleições para o Poder Executivo.

70 Tabela 7 Coligações desafiantes no Rio Grande do Sul

Período Partidos N % 1995-1999 PT, PSB, PPS, PC do B, PV, PSTU (10) 18% 1999-2003 PPB / PRP / PT do B / PSDB / PSD / PMDB / PSC / PL / PFL / PSL / PTB (33) 60% 2003-2007 PT / PCB / PMN / PC do B (14) 25% 2007-2011 PT/PC do B (11) 20% 2011-2014 PDT/PMDB/PTN/PSDC (15) 27%

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do TSE

No Rio Grande do Sul, a participação dos partidos que fazem oposição à coligação vencedora para o cargo de governador é constante entre 25% e 27%, sendo a Legislatura surgida da eleição de 1999 a que mais teve deputados eleitos pelos desafiantes, com 60% dos deputados. Já a Legislatura iniciada em 1995 teve o menor percentual de parlamentares eleitos pela coalizão desafiante, com 18%.

Por outro lado, em São Paulo, há um crescimento nas coalizões desafiantes entre as eleições de 1994 e 1999 e, posteriormente, a cada legislatura a força das coligações desafiantes diminuiu, chegando a 10% em 2011.

Portanto, é possível supor que no Rio Grande do Sul a polarização gere mais oportunidades para que no momento das eleições os partidos que participem das coalizões desafiantes, gerando um equilíbrio maior entre governo e oposição. Por outro lado, em São Paulo, a redução das coalizões desafiantes pode estar relacionada à baixa polarização no Estado, o que aumentaria os incentivos para os partidos se alinhem ao governo.

Desta maneira, se na ALRS a oposição é forte, é possível supor que isto crie mais oportunidades para que se coloquem como atores de veto em algumas questões, assim como ao exercício da accountability horizontal. O mesmo não pode ser dito em relação à correlação de forças na ALESP.

Desta maneira, é possível concluir que nos dois Estados as coligações vitoriosas não conseguem maioria após as eleições, e os governadores buscam formar uma coalizão no período posterior, com a entrada no governo de partidos que não faziam parte da aliança eleitoral.

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