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ANÁLISE DE QUESTÕES DE TRADUÇÃO

1 ASPETOS LEXICAIS

2. ASPETOS SINTÁTICOS

2.2 Colocação dos pronomes

Um dos maiores desafios encontrados ao longo da tradução em análise foi a colocação de pronomes clíticos, itens lexicais sem acento prosódico atribuído no léxico (tal como os afixos e contrariamente às palavras), mas com uma certa liberdade posicional (tal como as palavras, mas contrariamente aos afixos) (Martins 2013:2231), dado que esta é diferente no espanhol e no português.

Em ambas as línguas, os pronomes clíticos estão sempre associados a um verbo. No entanto, quanto à sua posição, em português europeu, os clíticos podem ocupar uma posição de adjacência à direita (ênclise), à esquerda (próclise), ou interna (mesóclise) relativamente ao hospedeiro verbal. Ao contrário, o espanhol conta apenas com o posicionamento enclítico e proclítico dos pronomes clíticos.

O que realmente distingue a colocação dos clíticos nas duas línguas são vários fatores sintáticos. No espanhol, a posição dos clíticos depende do modo verbal presente na frase. De acordo com a Gramática da RAE (1999), os clíticos ocorrem em posição enclítica com os modos Infinitivo, Gerúndio e Imperativo (afirmativo), assumindo uma posição proclítica com os restantes modos verbais. Quanto ao português, os pronomes clíticos encontram-se sempre em posição enclítica, exceto quando existem na frase unidades desencadeadoras de próclise como, por exemplo: (i) advérbios de negação frásica; (ii) quantificadores na posição de

sujeito; (iii) alguns advérbios; (iv) elementos interrogativos, relativos e exclamativos, (v) conjunções subordinativas; (vi) conjunções coordenativas correlativas.

(20)

a) Al final, hacía recuento de lo que habíamos escogido, separando por tamaños e incluso temáticas: revistas pequeñas, normales, extras, de superhéroes o de Conan (por las que curiosamente cobraba una peseta más que por las del resto de superhéroes publicadas por la misma editorial; quizás el cimerio le parecía más heroico que los demás y por eso se cambiaba a mayor precio) y las de la serie “Olé!” de Bruguera.

(Página 6, linha 9)

b) No fim, fazia uma recontagem do que tínhamos escolhido, e separava-as por tamanho e até temática: revistas pequenas, normais, extras, de super-herói ou de Conan (pelas quais curiosamente cobrava uma peseta a mais do que pelas outras de super-heróis publicadas pela mesma editora; se calhar o cimeiro parecia-lhe mais heróico que os outros e por isso trocava-o a um preço maior) e as da série “Olé!” da editora Bruguera.

(Página x, linha x)

Neste fragmento (20) procedente do capítulo Troca de bandas desenhadas, podemos ver como no texto de chegada todos os pronomes clíticos se encontram em posição posposta ao verbo e separados dele por um traço.

(21)

a) Acabada esta observación, el doctor te daba el palo a modo de premio. Después, con el aparato para este fin, observaba

el interior de los oídos. Este elemento de exploración no te lo regalaba, cosa que los niños habríamos agradecido más que el palo.

(Página 11, linha 23)

b) Acabada esta observação, o doutor dava-te o pau a título de prémio. Depois, com o aparato para este fim, observava o interior dos ouvidos. Este elemento de exploração não to oferecia, coisa que as crianças teriam agradecido mais do que o pau.

(Página x, linha x)

O fragmento acima referido (21) pertence ao capítulo Um médico e dois directores e permite de examinar como, na língua portuguesa, a posição do pronome clítico varia em relação ao tipo de constituinte presente na frase. Na primeira linha o pronome encontra-se na sua posição clássica: “dava-te”; a seguir, com a comparência de um adverbio de negação, a posição do pronome é alterada e torna-se proclítica: “não to oferecia”. Ao contrário no espanhol a posição do pronome fica enclítica nos dois casos.

(22)

a) Después de hacer la comunión como cualquier niño de la época, por tradición o exigencia, nunca por convicción —a esas edades no se tienen—, se me preguntó si quería seguir dando catequesis para confirmarme.

(Página 13, linha 28)

b) Depois de fazer a comunhão como qualquer criança da época, por tradição ou exigência, nunca por convicção —a essa idade ninguém as tem—, perguntaram-me se queria continuar a ir para a catequese para confirmar-me.

Podemos confirmar quanto afirmado anteriormente acerca da mudança de posição do pronome na língua portuguesa quando é presente um determinado elemento linguístico no fragmento (22) citado do capítulo “O terceiro grau antes do Segundo Sacramento”. Nesta situação, o elemento determinante é o pronome indefinido “ninguém” que leva o pronome “as” a aparecer antes do verbo, como em espanhol.

(23)

a) Como es ley de vida la mujer falleció, pero yo siempre me acordaré de ella cada Navidad.

(Página 5, linha 19)

b) Segundo a lei da vida, a mulher faleceu, mas eu lembrar-me- ei dela em cada Natal.

(Página 6, linha 9)

(24)

a) Por otro lado, ignoro el nombre del practicante, de modo que para no enfrascarnos en prolijas descripciones le llamaremos doctor Terror, dando así, de un plumazo, la medida exacta de sus acciones.

(Página 9, linha 39)

b) Por outro lado, ignoro o nome do enfermeiro, de forma que, para não mergulharmos em prolixas descrições, chamar-lhe- emos de doutor Terror, dando assim, de uma assentada, a medida exata das ações dele.

(Página 10, linha 11)

Os exemplos acima (procedente respectivamente do capítulo A avozinha (23) e Agulhadas (24)) permitem-nos também analisar aqueles casos em que a língua portuguesa requer que o pronome clítico se encontre em posição entre a raiz do verbo e a desinência no

tempo futuro simples do indicativo e no modo condicional. Nos casos examinados o verbo encontra-se ao tempo futuro do indicativo. Mais uma vez na língua espanhola o pronome encontra-se em posição enclítica.