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2.2 A Linguística de Corpus no ensino

2.2.5 Colocações

De vez em quando todos nós encontramos pessoas que nunca encontramos antes; essas pessoas algumas vezes se tornam amigos íntimos, outras vezes nós nunca mais as vemos de novo. Ocasionalmente nós ainda nos encontramos na companhia de alguém que preferiríamos não estar de forma alguma. Também temos alguns conhecidos, amigos e parceiros. As palavras individuais são muito semelhantes. Algumas palavras são frequentemente encontradas em um mesmo ambiente textual. Tais co-ocorrências podem ser frequentes ou raras, e ligadas com mais ou menos força. (LEWIS, 1997, p. 27)32

32 From time to time we all meet people we have never met before; such people sometimes become close friends,

sometimes we never see them again. Occasionally we even find ourselves in the company of someone we would prefer not to be with at all. We also have regular acquaintances, friends and partners. Individual words are very similar. Some words are frequently found in the same textual environment. Such co-occurrences may be frequent or rare, strongly or more loosely bound. (LEWIS, 1997, p. 27)

Do homework, hard work, pay attention, good luck, catch a ball, have a headache, take an exam e break the rules são alguns exemplos de colocações da lingua inglesa. Muitas palavras simplesmente “andam juntas” e não há regras que expliquem a escolha por suas companhias. Sabemos que a combinação de palavras na língua não é descriminada por meio de regras, algumas construções são demasiadamente comuns e, portanto, muito recorrentes na língua, como o verbo e o adjetivo get sick e o adjetivo e substantivo tall tree por exemplo. Já com o adjetivo ill o verbo que o antecede não é get, pois o uso revela a expressão fall ill. Construções, como get ill ou high tree, apresentam frequência substancialmente menor nos corpora COCA e British National Corpus (doravante BNC)33, pois não representam o uso dos seus falantes. Todos esses são exemplos de colocações em língua inglesa. Explicar aos estudantes como se dão as colocações não é uma atividade considerada simples, uma vez que a língua possui palavras com sentidos parecidos e aponta para diferenças observadas nos padrões de uso. A tendência do aprendiz iniciante é a de generalizar algumas formas, ou, a partir de uma consulta rápida ao dicionário, produzir outras, como *leaf of paper (ao invés de sheet of paper) ou *strong rain, no lugar de heavy rain. Se ao aluno forem expostas outras construções comuns à língua, ou ainda oferecida a oportunidade de utilizar os corpora disponíveis para consultas com ênfase nas colocações, casos como estes podem ser minimizados.

Segundo Lewis (1997) não é pela prática de palavras isoladas que se aprende uma língua, o aprendiz precisa ser apresentado a um grande número de unidades pré-fabricadas. Algumas combinações de palavras assumem uma condição diferenciada na língua, convenções essas que não são evidentes para os estudantes e também não são frequentemente enfatizadas pelos professores. Hunston (2002) exemplifica que a palavra toys ocorre com children um número relativamente maior de vezes que a palavra ocorre com man ou woman, o que se explica pelo fato de que brinquedos pertencem à crianças, uma explicação lógica para a colocação e importante de ser sublinhada. Embora as colocações possam ser observadas até informalmente, os dados estatísticos evidenciados por corpora fornecem confiança a respeito das ocorrências (HUNSTON, 2002).

Sinclair (1991) propõe dois modelos de interpretação para explicar como o sentido emerge de um texto. Para ele, enxergar o texto como sendo o resultado de várias escolhas complexas caracteriza o princípio da livre escolha (open choice principle), o qual prevê que, ao se formar uma

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frase, por exemplo, uma grande variedade de escolhas se abre, sendo observadas apenas as restrições gramaticais. Contudo, segundo o autor, o princípio não explica as exceções, ao passo que, escolhas feitas para a produção de textos, por exemplo, não acontecem sem que outras conexões mais complexas sejam realizadas.

O segundo modelo apontado pelo referido autor, é o princípio idiomático (idiom principle), o qual ilustra as colocações. O princípio parte do pressuposto de que a organização da língua contribui para construções menos imprevisíveis, já que os usuários têm à sua disposição frases semi pré-construídas a serem adotadas na formulação de textos. A partir de tal proposição, pode- se dizer que a composição da língua comprova a tendência de algumas palavras serem utilizadas juntas (SINCLAIR, 1991, p.110).

O significado de uma palavra, para Firth (1935 apud O'KEEFFE, MCCARTHY e CARTER, 2007) tem a ver com como ela se combina com outras no seu uso e, sendo assim, essas combinações são associadas ao seu sentido. A constatação de uma colocação é dada ao se verificar as inúmeras ocorrências de certos pares ou grupos de palavras que ocorrem naturalmente na língua com frequência relevante, ou seja, “as colocações não são absolutas ou determinantes, mas eventos probabilísticos, resultantes de repetidas combinações utilizadas e encontradas por faltantes de qualquer idioma34” (O'KEEFFE, MCCARTHY e CARTER 2007, p. 59).

O corpus utilizado para a presente pesquisa, COCA, permite que seus usuários verifiquem colocados à direita e à esquerda da palavra em estudo numa busca direcionada da mesma, como mostra a FIG. 3, na qual 2 colocados foram pesquisados à esquerda de get e 4 à direita. Por meio desta pesquisa direta ou pela leitura das linhas de concordância, as palavras com probabilidade de coocorrerem podem ser observadas. Além disso, a interface é capaz de apresentar dados estatísticos, como o cálculo da informação mútua (Mutual Information – MI), que representa o grau de probabilidade de ocorrência do colocado com a palavra em estudo.

34 Collocations are not absolute or deterministic, but are probabilistic events, resulting from repeated combinations used and encountered by the speakers of any language. (O'KEEFFE, MCCARTHY e CARTER 2007, p. 59)

FIGURA 3 – Busca por colocados da palavra get. Fonte: COCA.

Tanto o trabalho com as linhas de concordância como as sugestões das colocações podem ser muito úteis no tratamento das palavras sinônimas, no ensino de vocabulário e da gramática, dentre outros aspectos linguísticos.