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3.3 Inscrições e descrição das oficinas

3.3.2 Oficina 2

Antes de dar sequência às atividades para esse dia, foram retomados alguns pontos importantes do primeiro encontro, como, por exemplo, a explicação do que é um corpus e algumas formas de realizarmos pesquisas no COCA (busca por todas as formas de uma palavra, sinônimos, frequência nos registros, etc.).

O segundo encontro teve por objetivo demonstrar como a LC pode ser utilizada em sala de aula. Sendo assim, procurou-se contemplar e dar destaque ao trabalho com as colocações e oferecer sugestões de atividades que abordem seu uso e viabilidade de aplicação das atividades. Para começar, algumas das atividades criadas por Almeida (2014), foram utilizadas para exemplificar uma forma de trabalho com frases autênticas (ANEXO A). Os professores utilizaram o COCA para conferir cada opção de resposta para os exercícios, verificando a existência e a frequência de cada combinação, como mostra a FIG 11. Exercícios como esses podem ser feitos com os estudantes de ensino fundamental e médio, a partir da seleção de frases do corpus que podem ilustrar as colocações. Se for possível o uso do laboratório de informática, os próprios estudantes podem verificar as colocações no corpus, a fim de observarem a probabilidade de uso dos termos. Para elucidar a tendência de duas ou mais palavras andarem juntas, dois vídeos foram utilizados e auxiliaram a discussão51.

51 Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=4YuBS3F0XGc e https://www.youtube.com/watch?v=nh8r9SDmHn4

FIGURA 11 – Exemplo de questões com as colocações Fonte: ALMEIDA, 2014, p.158.

Também foram apresentadas possibilidades de trabalhos com as linhas de concordância do COCA, dentre outras atividades que podem ser feitas com o auxílio de corpus. Algumas destas atividades foram feitas pelos professores nas oficinas, com o intuito de entenderem melhor o propósito e depois discutirem os princípios que as embasam. Dessas atividades, foram destacadas as propostas por Al Saeed e Waly (2010), que sugerem o uso do corpus em diferentes exercícios, atendendo a estudantes iniciantes e mais avançados (ANEXO B) e a atividade fill in the blanks de Bennett (2010), que trabalha com os artigos the e a (ANEXO C). Como o desafio para o grupo é encontrar maneiras de trabalho com estudantes iniciantes, a proposta do Verb Pairing Game, a seguir na FIG. 12, demonstra uma maneira criativa de inserir as colocações nas aulas a partir da seleção de frases autênticas com as colocações trabalhadas. A turma seria dividida em dois grupos, um com as frases de onde foram retirados os verbos make e do e o outro com esses verbos retirados, a fim de que os grupos interajam e encontrem as colocações apropriadas. Tal atividade pode ser realizada com diferentes escolhas lexicais ou gramaticais, de acordo com o tema da aula. Outra sugestão indicada para grupos grandes e dispersos seria escrever algumas frases em cartazes com os espaços das colocações em branco. As palavras para completar as frases poderiam ser escritas

em papéis diferentes e coladas na parede. Assim, ao se apresentar o cartaz para a turma, os alunos poderiam buscar o termo mais apropriado e colar no cartaz. Ao final, os cartazes podem ser afixados nas paredes da sala, de maneira que sirvam para a consulta diária dos estudantes.

Na sequência, foi apresentada a atividade Computer Cloze Activity52, a qual recomenda o uso de computador para que os estudantes preencham as lacunas das linhas de concordância, mas pode ser feita de acordo com os recursos disponíveis na escola. Na maioria dos casos, o professor deve selecionar e preparar a atividade para que seja feita numa folha de papel. É possível que os estudantes trabalhem individualmente ou em duplas, de maneira que um confira a resposta do outro antes da entrega ao professor (AL SAEED E WALY, 2010).

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FIGURA 12 – Exemplos de atividades baseadas em corpora para alunos iniciantes Fonte: AL SAEED E WALY, 2010.

Já o trabalho com alunos intermediários pode ser feito com base na análise contextual para demonstrar o uso de itens linguísticos, como por exemplo os modal verbs, que envolvem diferenças sutis motivadas pelo sentido que querem expressar. Muitas vezes um tempo razoável é investido em explicações gramaticais sobre a diferença entre should, must e have to. No entanto, se são observados os usos reais de cada verbo modal, os próprios estudantes podem concluir qual

seria a diferença no uso. Essa é a proposta da atividade a seguir, que os estudantes expliquem por quê um termo seria usado e não o outro, a partir da observação. Para enfatizar o trabalho, uma cloze activity também pode ser usada (FIG. 13).

FIGURA 13 – Exemplos de atividades com verbos modais baseadas em corpora. Fonte: AL SAEED E WALY, 2010.

Como vimos, atividades diversificadas podem ser feitas com base nas linhas de concordância. Muitas dessas atividades apresentadas não são novidades para um professor

experiente. A diferença é a fonte de dados (autênticos) e o caminho para descoberta que as atividades propiciam. Ainda com o tema modal verbs, a atividade Express Yourself (FIG.14) foi mais um exemplo apresentado ao grupo. Para realizá-la, o professor deve escrever em pedaços de papel frases variadas que expressem sugestão e obrigação. Depois disso, uma situação será escrita no quadro. Cada estudante pegará um papel, fará a leitura da linha de concordância e avaliará se a frase é relevante para a situação ou não. A atividade também depende da criatividade do professor, o qual levará o estudante à reflexão sobre os diferentes contextos e à exposição de várias frases autênticas.

FIGURA 14 – Exemplos de atividades com verbos modais baseadas em corpora Fonte: AL SAEED E WALY, 2010.

Embora tenha-se evidenciado atividades impressas e de níveis mais básicos para atender ao público presente, demonstrou-se ainda que para os estudantes mais avançados o leque de possibilidades é ainda maior, pois ele mesmo pode consultar os corpora e selecionar o material de análise ou, mesmo que o material seja selecionado previamente pelo professor, poderão ser utilizadas estruturas linguísticas mais complexas para análise e verificação da padronização do uso. A proposta de estudo das Idiomatic Expressions (FIG. 15) foi uma das atividades expostas, partindo do pressuposto de que os estudantes já conseguem realizar consultas em corpora. No exercício, buscas podem ser realizadas observando-se as linhas de concordância que trazem as expressões idiomáticas a fim de se compreender como essas expressões são usadas pelos falantes nativos e em quais contextos.

FIGURA 15 – Exemplos de atividades com expressões idiomáticas baseadas em corpora Fonte: AL SAEED E WALY, 2010.

Com a intenção de demonstrar que algumas regras gramaticais podem ser refutadas com dados de um corpus, Krieger (2003) citado por Reppen (2010), apresenta um exercício que traz, de início, três frases (interrogativa, negativa e afirmativa) e uma explicação tradicional do uso de any. Depois disso, dez linhas de concordância da palavra any são apresentadas, as quais também exemplificam suas diferentes funções gramaticais (adjetivo, pronome e advérbio). As linhas seriam lidas pelo estudante, que, dessa maneira chegaria às suas conclusões, procurando ressaltar semelhanças e diferenças em cada frase, já que das dez linhas citadas, cinco trazem any em frases afirmativas (FIG. 16).

A coleção de livros didáticos Touchstone53 (MCCARTHY; MCCARTEN e SANDIFORD, 2005), baseado em corpora também foi apresentada aos professores no 2º encontro (FIG. 17). A impressão de que o corpus só atenderia a estudantes mais experientes no estudo da língua foi sendo desconstruída por meio de exemplos como este, que usa a LC. Na atividade, as 10 cores mais comuns, de acordo com o corpus, foram eleitas para proporcionar a prática da língua.

53 A série de livros didáticos Touchstone (MCCARTHY; MCCARTEN e SANDIFORD, 2005) é uma das primeiras

a fundamentar-se integralmente nos estudos de corpus. O Cambridge International Corpus of North American English (CICNAE), com 700 milhões de palavras do inglês falado e escrito, foi utilizado para a composição deste material.

Sample Activity

The word any is often taught in the following way:

Interrogatives: Are there any Turkish students in your class? Negatives: No, there aren’t any Turkish students in my class. Affirmatives: Yes, there are any* Turkish students in my class. *Not grammatical

Part 1

Read through the following lines taken from a concordance of the word

any.

● This is going to be a test like any other test, like, for example

● working with you. If there are any questions about how we're going to ● and I didn't receive any materials for the November meeting

● and it probably won't make any difference. I mean, that's the next ● You can do it any way you want.

● Do you want to ask any questions? make any comments? ● I don't have any problem with that. I'm just saying ● if they make any changes, they would be minor changes. ● I think we ought to use any kind of calculator. I think that way ● I see it and it doesn't make any sense to me, but I can take that What conclusions can you draw about the use of any?

Part 2

What are the three main uses of any in order of frequency?

FIGURA 16 – Exercício proposto a partir de linhas de concordância da palavra any Fonte: REPPEN, 2010, p. 10.

FIGURA 17 – Atividade com as 10 cores mais frequentes na língua inglesa.

Fonte: Touchstone, Level 1, Unit 8B, Cambridge University Press. Apud MCCARTHY, 2004, p.8.

Outra característica do material, também explicitada nessa oficina, é a seção In Conversation. Sabemos que a língua nos apresenta várias possibilidades de dizermos a mesma coisa, das quais muitas, apesar de não estarem incorretas gramaticalmente, não são utilizadas pelos falantes nativos. Essa seção do material comprova, por meio da pesquisa em corpus, o que é mais utilizado em termos lexicais e gramaticais, ao longo das unidades temáticas do livro. A título de exemplo, as expressões he isn’t working e he’s not working, estão gramaticalmente corretas e a intuição não pode definir qual uso é mais apropriado. Embora as duas formas sejam possíveis, a FIG. 18 mostra a preferência dos falantes por he’s not working. Ou seja, quando se trata do uso de pronomes, essa é a forma mais usada, já quando se usam substantivos, a primeira forma é a privilegiada.

FIGURA 18 – Quadro In Conversation.

Fonte: Touchstone, Level 1, Unit 8B, Cambridge University Press. Apud MCCARTHY, 2004, p.8p.4.

Outro exemplo discutido nas oficinas foi sobre advérbio de frequência. Seja nos diálogos ou nas explicações gramaticais, os dados do corpus são pertinentes para o aluno. Ao ensinar advérbios de frequência, por exemplo, a nota esclarece sobre a posição do advérbio na frase, tendo em vista que sometimes I é mais utilizado que I sometimes (FIG. 19).

FIGURA 19 – Advérbios de Frequência.

Fonte: Touchstone, Level 1, Unit 5B, Cambridge University Press, 2014, p. 46.

Com isso, foi demonstrado, aos participantes, como o livro didático apresenta as informações advindas de estudos baseados em corpora. Após a exposição de cada uma das atividades acima, perguntamos ao professor participante se ele considerava ser possível a aplicação de atividades como estas em suas salas de aulas, ao que respondiam enfaticamente que sim. Algumas vezes, eram feitas ressalvas, como por exemplo, quanto ao uso do computador, nem sempre disponível nas escolas, o que dificultaria o trabalho com o corpus online pelos estudantes. Como não dispúnhamos de tempo hábil, essas atividades foram apenas expostas, comentadas e encaminhadas aos professores e não foram respondidas ou testadas durante as oficinas. Com efeito, a demonstração das atividades leva o professor a ter novas ideias de como utilizar a pesquisa em corpus nas suas aulas.

Outros tipos de buscas no COCA foram planejadas para o encontro, como o recurso KWIC. Esse tipo de concordância é um instrumento precípuo no estudo da colocação e da padronização lexical (BERBER SARDINHA, 1999). O site Compleat Lexical Tutor (FIG. 20), foi apresentado nesse workshop e teve como uma das indicações para a sua exploração o caminho “Concordance” e “Story Concordancers”, no qual histórias em inglês e em francês podem ser lidas e ouvidas (FIG. 21).

FIGURA 20 –Página inicial do site Compleat Lexical Tutor

FIGURA 21 – Call of the Wild - Story Concordancer - Compleat Lexical Tutor

A exposição de atividades nesse encontro tornou-se ainda mais relevante pelo fato de os professores terem demonstrado interesse em conferir como a LC poderia ser aplicada na sala de

aula, sobretudo com a intenção de verificar se seria possível utilizá-la com estudantes iniciantes, público de vários professores presentes.