A região do Vale do Rio Pardo experimentou a partir da metade do século XIX um conjunto de novos eventos que acabaram incidindo e se funcionalizando no território regional com uma lógica e dinâmica particulares. Isso acabou promovendo outros usos do território que resultaram na complexificação do processo de sua organização espacial.
Esses eventos eram tributários de um contexto mais amplo, o da expansão do capitalismo europeu que então ampliava para novas áreas do planeta a experiência das transformações econômicas, sociais e tecnológicas gestadas no aprofundamento da Revolução Industrial. Essa expansão se caracterizou por combinar um aumento substancial da produção e a busca incessante de novos mercados consumidores e de matériaprima. Isso, por sua vez, resultou na intensificação da divisão social e territorial do trabalho, no desenvolvimento contínuo de inovações tecnológicas, e na institucionalização de um conjunto de normas que assegurassem as condições de reprodução ampliada do modo de produção capitalista.
Para Dobb (1983), esse período se caracterizou, mais do que qualquer outro, pelos fenômenos de transformação técnica e de intensificação do movimento. Articulados, permitiram o rápido aumento dos níveis de produtividade do trabalho e possibilitaram a transformação econômica das áreas rurais, o crescimento da população proletária urbana e a ampliação do campo de investimento e do mercado de bens de consumo, num ritmo nunca visto antes.
A esse respeito, Hobsbawm (1994) identifica na realidade dessa época a existência do que ele denomina “drama do progresso”. Para ele, os ideais iluministas do século XVIII, de crença no progresso científico e tecnológico, na capacidade empreendedora do conhecimento humano, na racionalidade, na riqueza e no controle da natureza, fundamentavam e legitimavam
explicitamente o pensamento político, social e econômico nesse novo momento.
Justificavase, assim, a convicção e a inevitabilidade do progresso e da expansão da produção industrial, do comércio e da racionalidade econômica e científica. A dramaticidade do progresso se evidenciava, então, no modo desigual e segregador como os diferentes agentes sociais o vivenciavam. Enquanto para as burguesias industrial, comercial e financeira ele significou a possibilidade de ampliar e concentrar riqueza, para grande parte da população, especialmente a parcela mais pobre, ele representou a exclusão e a segregação social, a fome e a necessidade de emigrar.
Fundamentalmente, as razões desse progresso se prendiam à necessidade de combinar a plena realização do grande e crescente potencial produtivo da indústria capitalista européia e americana com a expansão do mercado de consumo para os seus produtos. Também a busca recorrente de níveis maiores de acumulação de capital engendrou o desenvolvimento de inovações técnicas, como a navegação a vapor, a ferrovia e o telégrafo, que representaram meios de comunicação adequados ao avanço dos meios de produção. Isso permitiu, através do aumento da intensidade e da velocidade da circulação de mercadorias e de matériasprimas, a ampliação do espaço geográfico da economia capitalista, praticamente para a escala mundial. (HOBSBAWM, 1988 e 1994).
Todavia, é preciso considerar que essa expansão capitalista no espaço geográfico mundial não se fez de modo homogêneo, nem com a mesma intensidade no conjunto dos lugares que o integram. Na verdade, como nos lembra Santos (1986), a lógica e a dinâmica econômica capitalista, ao articular distintos espaços geográficos, especialmente na periferia capitalista, implicam a existência de espaços derivados. Ou seja, esses países tiveram o seu desenvolvimento, sua organização, sua transformação e reorganização espacial orientados, sobretudo, por interesses hegemônicos distantes.
É preciso também levar em conta que com a aceleração do intercâmbio comercial – proporcionado pelo vetor Revolução Industrial – e com a existência de diferenças tecnológicas, ambientais e políticas entre os lugares do mundo, passamos a ter, no âmbito da então divisão territorial do trabalho, o
desenvolvimento de uma racionalidade que pressupunha a complementaridade funcional dos territórios. (SILVEIRA, 1999b).
Essas são as premissas que devem orientarnos na análise e na compreensão da formação do território do Vale do Rio Pardo, nesse período. Ao considerálas, optamos por valorizar o enfoque relacional como instrumento analítico privilegiado, na medida em que permite apreender o acontecer mais espesso presente nesse território, cuja formação territorial resultava então do rearranjo contínuo de tempos de diversas escalas.
Tendo isso presente, neste capítulo analisamos o contexto e as razões pelas quais ocorreu o processo de decadência comercial de Rio Pardo, e quais os seus efeitos na organização regional. Além disso, também abordamos o sentido e o processo inicial de colonização das áreas centrais e setentrionais do Vale do Rio Pardo, por imigrantes alemães e italianos. Interessanos, sobretudo, identificar as características e os reflexos iniciais da colonização na formação territorial regional, e o modo como esse novo uso do território começou a se processar, na medida em que além do latifúndio pecuarista baseado no trabalho assalariado existente no Sul da região, a ocupação, o povoamento e a difusão da exploração agrícola das pequenas propriedades baseadas no trabalho familiar dos colonos imigrantes se manifestavam no centro e no Norte da região.
3.1 As razões da decadência comercial de Rio Pardo
Podemos dizer que as causas da estagnação econômica da cidade de Rio Pardo estão relacionadas a dois grupos de variáveis que se apresentam de modo indissociável nesse momento da formação territorial do Rio Grande do Sul, e da região do Vale do Rio Pardo.
O primeiro grupo de variáveis expressa o modo como o Brasil recebeu e assimilou os eventos decorrentes do contexto mundial da época, bem como, por conseqüência, acabou engendrando novos eventos que incidiram no desenvolvimento do conjunto dos lugares do país, entre eles Rio Pardo.
Inicialmente merece destaque o processo mais amplo de desagregação do Antigo Sistema Colonial que, nesse contexto mundial de expansão
capitalista, vê toda a base de sustentação da empresa colonial começar a ruir. Ou seja, o tráfico de escravos, o trabalho escravo e o monopólio comercial praticados por Portugal e Espanha representavam entraves importantes à plena reprodução capitalista nas economias centrais, bem como ao processo de internalização do capitalismo nas áreas coloniais, como o Brasil. Tratavase, pois, de criar condições para se suplantar os fundamentos da economia colonial e assim viabilizar um novo regime de acumulação de capital baseado na ampliação do mercado consumidor e na difusão do trabalho assalariado. (NOVAIS, 1998 e PRADO JR, 1989).
O processo de internalização do capitalismo no Brasil tem como marcos institucionais importantes a criação, em 1850, de duas leis que de modo articulado promoveram profundas transformações no desenvolvimento econômico e na organização espacial brasileira. Assim, a Lei Geral de Terras – que definia que as terras devolutas passariam a ser apropriadas somente através da compra e venda e a Lei Eusébio de Queiroz – que proibia o tráfico de escravos africanos para o Brasil – tornaramse instrumentos através dos quais o Estado Nacional passou a regular formalmente os mercados de trabalho e o de terras no país. (SILVA, 1981 e CAIO PRADO JR., 1967).
Ademais, esse evento normativo incidiu sobre o Rio Grande do Sul promovendo dificuldades à renovação da mãodeobra escrava utilizada nas charqueadas, bem como a elevação do custo dessa força de trabalho. Sem contar ainda que impunha limitações ao principal mercado do charque gaúcho, a escravaria utilizada no centro do país.
A dinâmica desse mercado, especialmente a definição do preço do charque, mesmo antes de 1850, era sobre determinada pelos interesses hegemônicos das oligarquias cafeeira e canavieira que procuravam, através do Estado, determinar um preço o mais baixo possível ao charque gaúcho. Para tanto, o principal expediente encontrado foi a diminuição das tarifas alfandegárias ao charque produzido pelo Uruguai e pela Argentina, forçando os donos de charqueadas gaúchas a reduzirem o preço final do seu produto. Nesse contexto, a saída para os donos de charqueadas conseguirem manter um preço competitivo “foi forçar a baixa do preço dos rebanhos junto aos estancieiros gaúchos”. (PESAVENTO, 1986, p. 30). Estes, diante da não
disponibilidade ou da nãoprioridade em destinar recursos para a renovação da estrutura produtiva e tecnológica das estâncias, mantinham o tradicional modo de produção sustentado no caráter extensivo da produção, e no seu baixo conteúdo tecnológico.
Um outro evento importante que incidiu a partir de 1860 sobre as charqueadas do Rio Grande do Sul, ampliando as dificuldades ao seu pleno desenvolvimento, foi a retomada e a modernização da indústria saladeira platina – resultado do avanço do capitalismo sobre o sul do continente americano. De acordo com Pesavento (1986) e Singer (1977), nesse momento as charqueadas da região do Prata incrementam suas atividades em novas bases produtivas, configurandose como empresas essencialmente capitalistas, através do emprego do trabalho assalariado, da intensificação da divisão social do trabalho, e da introdução da máquina a vapor e de melhorias sanitárias que lhes permitiram ampliar a produtividade e diminuir o seu custo de produção. Isso, aliado ao aparelhamento dos portos, à construção de ferrovias e a uma favorável legislação fiscal, determinou condições extremamente favoráveis ao charque uruguaio e argentino na concorrência com o charque do Rio Grande do Sul, em termos de mercado interno brasileiro, mas também do mercado europeu.
No caso das áreas pastoris do Vale do Rio Pardo, os efeitos desses eventos fizeram se sentir na dinâmica de funcionamento de algumas charqueadas localizadas no entorno de Rio Pardo e de Santo Amaro, e sobretudo nas estâncias de criação de gado, em razão, como vimos, da então política de comercialização do charque. (PESAVENTO, 1986). O aumento do custo de produção do charque, a oscilação do mercado e a queda do preço para o produto gaúcho impunham dificuldades para a sustentabilidade da indústria saladeira e principalmente, significavam a diminuição dos recursos auferidos pelos estancieiros.
Diante da forte vinculação das estâncias e fazendas de gado com a cidade de Rio Pardo, é de se supor que os efeitos desses eventos tenham influenciado a dinâmica de desenvolvimento da cidade, especialmente, em razão do comércio local ser nessa época hegemonicamente orientado e
regulado pelas demandas de produtos e serviços por parte da oligarquia rural, mormente, pelas famílias dos estancieiros.
O segundo grupo de variáveis está vinculado à escala regional, expressando as particularidades que as ações engendradas nas escalas imperial e provincial assumem na região, e as contingências locais próprias à formação e ao povoamento desse território. Sua existência nos revela a complexidade – diante da diversidade de variáveis – pela qual se reveste o decurso da decadência da cidade de Rio Pardo, bem como nos oferece elementos importantes para que possamos apreender os processos mais gerais de produção e de organização do espaço regional.
Assim, uma primeira variável a ser considerada se refere à Revolução Farroupilha que ocorreu entre 1835 e 1845 no Rio Grande do Sul, representando uma reação armada dos estancieiros gaúchos ao centralismo econômico e político imposto pelo governo Imperial, e que não atendia aos interesses da elite rural do Rio Grande do Sul. 43 Esse evento afetou profundamente a região atendida pela cidade de Rio Pardo, na medida em que dificultou a comercialização do gado vacum para as charqueadas e do gado muar e cavalar para as províncias centrais – inclusive suspendendoas durante o confronto. Afetou igualmente as demais atividades comerciais até então desenvolvidas com o seu hinterland e com Porto Alegre. O isolamento, as dificuldades de comunicação e de circulação impostas pela disputa militar também promoveram a diminuição e mesmo a paralisação do fluxo de capital para a cidade de Rio Pardo, impondo o desaquecimento desse importante mercado regional.
Se por um lado esse evento coincide com o começo da estagnação de Rio Pardo, por outro lado os efeitos dessa contenda também se fizeram sentir
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De acordo com Pesavento (1985), o período pósindependência do Brasil caracterizouse pela consolidação do poder político dos latifundiários escravistas e barões do café. Poder esse, configurado no caráter centralizador da Monarquia. Para o Rio Grande do Sul, os principais efeitos desse centralismo do Império foram, do ponto de vista político, o fato de que os presidentes da Província, na medida em que eram nomeados pelo Centro, acabavam governando de modo a atender aos interesses dos cafeicultores paulistas e não aos da oligarquia rural gaúcha. Em termos econômicos, a drenagem dos excedentes produzidos na província para o centro do país, bem como a elevada carga tributária em relação à terra, e ao modo como o governo central regulava o mercado interno do charque, levaram a um crescente descontentamento por parte de estancieiros e donos de charqueadas, criando então as condições para a deflagração da Revolução Farroupilha.
no conjunto do território sulriograndense, desestruturando a economia gaúcha e não apenas a dessa cidade e região. (VOGT et al, 1996). Ou seja, devemos considerar também a influência de outras variáveis na estagnação de Rio Pardo.
Isso nos leva a considerar uma segunda variável importante. Tratase dos limites que a excessiva especialização da economia regional na atividade pecuária – especialmente pelo seu forte conteúdo extensivo – representou para o desenvolvimento interno do território regional, e que acabaram condicionando o próprio processo de desenvolvimento da cidade de Rio Pardo. Para Singer (1977) e Roche (1969), a baixa produtividade dos campos de criação, a autonomia econômica de subsistência das estâncias da região, a negligência da oligarquia rural com a agricultura, a adoção de relações de produção servis e précapitalistas, tornaram limitadas as condições de uma efetiva acumulação e reprodução de capital, impedindo assim a possibilidade de uma dinâmica mais ativa e sustentável de desenvolvimento do mercado regional.
A inexpressiva relação econômica entre as áreas pastoris e as áreas de produção açorianas acabou limitando a circulação intraregional de mercadorias, de produtos e de capitais, e, com isso, também dificultando a promoção do artesanato e da manufatura industrial nos primeiros núcleos urbanos da região. Somente a partir de 1849, com a instalação dos imigrantes alemães, é que houve uma relativa integração entre Rio Pardo e as áreas coloniais, todavia uma relação direcionada ao abastecimento daquela cidade.
Uma terceira variável pode ser mobilizada para a compreensão desse processo de estagnação. Parecenos que também devemos considerar como condicionantes dessa “incapacidade da elite dirigente local em vislumbrar alternativas econômicas para o município” a inércia da tradição social e cultural patrimonialista. (VOGT, 2001). Tradições essas assentadas na propriedade das fazendas de gado e na permanência, pela sua condição de ocupantes de áreas avançadas de fronteira, do poder político e militar dos estancieiros latifundiários em suas relações com o aparelho do Estado, tanto em nível da Província como do Império.
Uma quarta variável a ser considerada é o predomínio de capitais forâneos e sem vínculos com a região, que eram responsáveis pela maior parte
dos estabelecimentos comerciais de Rio Pardo. Como assinala Vogt (2001), embora as casas comerciais de Rio Pardo tenham participado de intensa atividade de intermediação comercial entre o seu vasto hinterland e Porto Alegre, e, portanto propiciado a acumulação de capital, praticamente não houve o desenvolvimento de uma burguesia local que acabasse investindo no desenvolvimento de atividades industriais. “Ao que tudo indica, possuíam grande mobilidade, deslocandose de um local para outro assim que os negócios declinassem”. (VOGT, 2001, p.115).
Além disso, os efeitos adversos sobre a economia local do prolongado contexto beligerante vivenciado pela população de Rio Pardo, durante a Revolução Farroupilha e a Guerra do Paraguai (18651870), acabaram também contribuindo para que diante de recorrentes perdas alguns comerciantes fechassem seus negócios e se dirigissem para outras cidades da província. (CORREA, 2001).
De acordo com Singer (1977), já a partir de 1820, quando ocorreu a substituição da produção e comercialização do trigo pelo charque no Rio Grande do Sul, vamos ter a transferência do eixo econômico da área central, onde se destacava o entreposto de Rio Pardo, para o sul da Província, especialmente nas cidades de Pelotas e Rio Grande.
Também entendemos que esse movimento de fuga do capital comercial desde Rio Pardo se intensificou, a partir de 1860, com a retomada do crescimento econômico de Porto Alegre – advindo de sua relação comercial privilegiada com as áreas coloniais alemãs –, bem como com a consolidação de Pelotas, como principal centro da indústria saladeira gaúcha, e vigoroso centro de negócios da oligarquia rural – mesmo durante o período turbulento de concorrência do charque platino. Nesse contexto, ocorreu um deslocamento desses capitais forâneos para essas cidades, na medida em que passaram a oferecer maiores possibilidades de realização e de acumulação, diante do maior dinamismo dos seus mercados regionais, e pela suas condições de pólos intermediários aos fluxos comerciais de importação e de exportação.
Por fim, e tendo presente a interrelação dessas variáveis, cabe também destacar os efeitos na região, especialmente em relação à função comercial de
Rio Pardo, do surgimento de importantes inovações tecnológicas no âmbito dos meios de comunicação e de transporte de passageiros e de carga.
Mesmo diante das dificuldades decorrentes da instabilidade econômica advinda do mercado do charque, e do quase que permanente estado beligerante em que a Província se encontrava, o contexto mais amplo de expansão do capitalismo – especialmente a necessidade de criar condições a uma maior fluidez na circulação tanto das matériasprimas e alimentos produzidos e exportados pela Província, como dos produtos e das mercadorias importadas por ela – demandou e possibilitou a instalação dos novos sistemas técnicos no território. Além disso, como nos lembra Prado Jr. (1989), a crescente demanda de produtos primários, necessários à industrialização e à reprodução da força de trabalho urbana por parte das economias centrais do sistema capitalista, levouas a participar, em conjunto com o Estado, do financiamento e aparelhamento técnico do território no sentido de viabilizar o escoamento dessa produção das áreas periféricas para o centro do sistema, bem como de possibilitar a expansão do mercado de consumo dos produtos e das mercadorias industrializadas no centro do sistema. Eis o sentido da instalação e do funcionamento desses sistemas técnicos no território.
O território regional, especialmente no âmbito da circulação, experimentava o momento de transição de um meio natural, até então diretamente subordinado às condições naturais, para o início de afirmação de um meio técnico, no qual “as lógicas e os tempos humanos impõemse à natureza”. Nele, passamos a ter a mecanização, ainda que seletiva e incompleta, do território através da incorporação nele de determinadas máquinas como barcos a vapor, os portos, os trens, as estações, a estrada de ferro e também o telégrafo. Ou seja, passamos a ter acima de tudo um “meio técnico da circulação mecanizada”. (SANTOS e SILVEIRA, 2001, p.27 e 31).
Certamente, a instalação desses sistemas técnicos no território representou um dos principais fatores de mudança na dinâmica de desenvolvimento da cidade de Rio Pardo, bem como no processo de organização do espaço regional.
Laytano (1946 e 1983) informa que o correio instalouse em Rio Pardo em 1812, mas que ainda em 1864 o funcionamento do serviço postal era lento
e deficiente entre a cidade e a sua área de influência comercial. 44 Já o telégrafo passou a funcionar na cidade em 1870, denotando uma maior intensificação no fluxo de informações tanto de origem comercial como administrativa entre a cidade e os principais núcleos urbanos da Província. A instalação da linha telegráfica, nesse período, também pode ser explicada pelo interesse do Império, no contexto da Guerra do Paraguai, em manter um fluxo de informações estratégicas e militares entre essa região da fronteira Sul do Brasil e a capital do Império. (DIAS, 1995).
Vimos antes que, enquanto vigorou o uso de lentos meios de comunicação e de transporte na ligação de Rio Pardo com o seu hinterland e principalmente na articulação com Porto Alegre, aquela pôde comandar uma ampla rede comercial, pela sua condição privilegiada de entreposto entre a capital e a vasta região interiorana do Rio Grande do Sul. Nesse período de predomínio do transporte fluvial por meio de pequenas e rústicas embarcações movidas à vela ou a remo, combinado com o igualmente precário transporte através das carretas, o tempo lento do deslocamento e o baixo limite da capacidade de carga restringiam a amplitude espacial da circulação dos produtos e das mercadorias, mas também de pessoas. Isso permitiu a Rio Pardo, por estar situada às margens do Jacuí, numa posição espacialmente intermediária ao longo do principal eixo de comunicação, aproveitar