CAPITAL E DE INDUSTRIALIZAÇÃO NA REGIÃO
Neste capítulo tratase de um novo momento no processo de ocupação e organização dessas áreas coloniais, caracterizado fundamentalmente pela introdução de inovações técnicas importantes tanto no âmbito da produção colonial – como o arado – como também na esfera da comunicação e circulação – como a melhoria das estradas e a conseqüente difusão do uso da carroça
colonial. Essas inovações técnicas, resultado das ações normativas do governo provincial e dos interesses econômicos dos comerciantes e da aristocracia gaúcha, possibilitaram um aumento da produção e da produtividade nas propriedades agrícolas coloniais, bem como melhores condições de deslocamento e de transporte dos produtos e das mercadorias das colônias para o mercado regional. Possibilidades essas que se renovam quando inovações técnicas engendradas pelos governos provincial e imperial, como a navegação a vapor e a ferrovia, alcançam a região.
Contudo, é preciso ter presente que essa passagem não se fez com a mesma velocidade, com a mesma intensidade e com a mesma abrangência espacial no conjunto dos lugares da região, entre os setores da economia regional, bem como entre as esferas da produção e da circulação. A lógica e a dinâmica de instalação e de funcionamento desse novo meio, na verdade desses meios técnicos com seus respectivos objetos geográficos, vinculavam se ao modo como, nesse período, se desenvolviam as ações e as relações entre os agentes que vivenciavam o território regional.
Nossa reflexão se concentra na análise dos processos de desenvolvimento da produção colonial, seus vínculos com o mercado e a decorrente acumulação de capital mercantil. Analisamos ainda o modo como se processa a relação de subordinação das famílias camponesas de imigrantes alemães e italianos ao mercado, notadamente aos seus agentes hegemônicos, os comerciantes das linhas, das povoações e de Porto Alegre. Relação essa que se realiza e se materializa espacialmente através da constituição e do funcionamento de uma rede de comercialização que viabiliza as condições
para a especialização da economia colonial pela fumicultura, bem como para o desenvolvimento posterior da indústria regional e dos núcleos urbanos coloniais.
4.1 O sentido da produção simples de mercadorias nas colônias da região
Após a fase inicial de instalação das colônias na região e da promoção de uma economia de subsistência das unidades familiares de produção, começa a se configurar a partir de 1860 um novo momento no processo de organização do território. Tratase da transição para um novo estágio da economia colonial, aquele da produção simples de mercadorias, tanto agrícolas como artesanais, para o mercado, quando essa parcela do território passou a ser usada, praticada e organizada, cada vez mais, de acordo com uma lógica e seguindo uma dinâmica próprias à economia mercantil.
Mas antes de analisarmos os reflexos dessa transição na espacialidade regional, é preciso refletir, ainda que brevemente, sobre o sentido dessa mudança na economia das colônias, e quais as principais variáveis que concorreram para tanto.
Em primeiro lugar se faz necessário ter presente o significado propriamente da economia mercantil e suas características no âmbito do território regional. Lênin (1995, p.14) concebe a produção simples de mercadoria ou produção mercantil como sendo aquela em que:
... os produtos são mercadorias, valoresdeuso com valordetroca realizável e conversível em dinheiro somente na medida em que outras mercadorias constituam um equivalente para eles; (...) ou seja, na medida em que eles não são produzidos como meios imediatos de subsistência para os próprios produtores, mas sim produzidos como mercadorias – produtos que só se tornam valoresdeuso mediante a sua conversão em valordetroca (dinheiro) mediante a sua alienação. O mercado para essas mercadorias se desenvolve graças à divisão do trabalho; a separação dos trabalhos produtivos transforma mutuamente seus produtos em mercadorias, em equivalentes recíprocos, levandoos a servir de mercado uns para os outros. (Grifo nosso).
Nessa perspectiva, a base, o fundamento mesmo, da economia mercantil é o progressivo desenvolvimento da divisão social do trabalho e o seu papel como condição indispensável à formação do mercado interno necessário para que o capitalismo possa se desenvolver plenamente. Isso implica que
para que esse mercado possa se desenvolver plenamente tenha de ocorrer uma progressiva separação entre agricultura e os sucessivos ramos da atividade industrial, uma decorrente troca comercial entre produtos agrícolas, matériasprimas e produtos industrializados, mas também a separação entre o produtor e os seus meios de produção. Favorecese assim o desenvolvimento de relações capitalistas de produção, através da expropriação e da respectiva mercantilização da força de trabalho dos trabalhadores rurais e urbanos. Se essas condições estão presentes na formação clássica do mercado interno capitalista, e no desenvolvimento do próprio modo de produção capitalista, é preciso também considerar a particularidade que esse processo assume no Brasil, especialmente a maneira como a produção colonial realizada nas pequenas propriedades da região dele participa.
Vimos antes que, diante da crise do então regime de acumulação capitalista brasileiro no qual o trabalho escravo predominava nas lavouras monocultoras de exportação, novas relações de produção começaram a ser estimuladas pelo Estado e pela aristocracia brasileira como modo de viabilizar melhores condições ao desenvolvimento do capitalismo no país. Entre essas novas relações de produção se insere a colonização de imigrantes europeus em pequenas propriedades familiares que acabaram permitindo o desenvolvimento de um novo e específico modo de acumulação privada do capital, na medida em que esse passava também a ocorrer através da apropriação, na esfera da circulação, do excedente produzido não capitalistamente. O campesinato introduzido especialmente no Sul do Brasil, através da colonização com imigrantes europeus, segundo Montali (1979, p.12), “... vai assumir as tarefas de produzir os bens da cesta de consumo do capital variável, de um lado, e, de outro, cumprir para o nascente modo de produção de mercadorias “interno”, o papel da acumulação primitiva”. Ou seja, as unidades camponesas de produção instaladas nas zonas de colonização européia, enquanto expressão de relações nãocapitalistas de produção, tornamse estratégicas à acumulação e à própria reprodução do capital naquele momento da economia brasileira.
... podese considerar ainda que a pequena propriedade de exploração familiar instituída pela política de imigração, ou melhor, as relações de produção não capitalistas instauradas pelo capital no movimento de sua reprodução ampliada, evidenciamse como necessárias para a acumulação não apenas enquanto produtoras de mercadorias cujo excedente é apropriado na circulação, mas também enquanto produtoras de alimentos a baixo custo, o que vai permitir o barateamento da reprodução da força de trabalho nos pólos de maior desenvolvimento do capitalismo no âmbito nacional com reflexos sobre as possibilidades de consolidação das atividades industriais, criando, portanto, indiretamente condições para a apropriação de maisvalia no momento da produção (capitalista).
Nessa mesma direção, Martins (1986, p.157) assinala que “o capitalismo engendra relações de produção nãocapitalistas como recurso para garantir a sua própria expansão, como forma de garantir a produção nãocapitalista do capital, naqueles lugares e naqueles setores da economia que se vinculam ao modo capitalista de produção através das relações comerciais”.
Assim, a colonização estimulada no Sul do Brasil pela política de imigração significava a incorporação das áreas coloniais – onde a produção se
desenvolvia sob relações de produções não capitalistas – ao mercado
capitalista. Essa incorporação se fez de modo subordinado, na medida em que implicava “... por um lado, o estabelecimento de uma relação de troca de mercadorias desfavoráveis às mesmas [às colônias], e, por outro lado, a introdução de produtos industrializados que concorriam com os artesanatos e manufaturas locais, tendo por conseqüência a transformação ou destruição destes”. (MONTALI, 1979, p.19).
A inserção da economia colonial ao mercado capitalista, a partir da metade do século XIX, se implementava na medida em que ocorria a expansão da produção e o comércio do café, bem como a instalação das primeiras manufaturas e indústrias em São Paulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro, com base na difusão do trabalho assalariado. A ativação do mercado consumidor, especialmente em São Paulo, demandava da zona colonial produtos alimentares e matériasprimas, enquanto, por sua vez, as colônias constituíam se em importante mercado para os produtos manufaturados ou industrializados dos principais centros industriais do país, ou mesmo por eles intermediados, quando importados do exterior. (CASTRO, 1971; SINGER, 1977 e OLIVEIRA, 1989).
Se por um lado a dinâmica do mercado interno nacional aparece como uma variável importante no entendimento de como se dá a passagem para a economia mercantil nas colônias da região, por outro lado ela é insuficiente para que entendamos plenamente como e com que características esse processo se desenvolveu na região.
Nesse sentido, também é preciso que analisemos as variáveis que concorreram internamente, na dinâmica desse novo momento de uso do território regional. Uma primeira variável foi o papel que as normas instituídas pelo governo provincial, como visto antes, tiveram sobre o aumento da produção colonial e da busca de sua comercialização. A Lei Provincial 304, de 1854, ao impor a exigência de quitação do pagamento do lote colonial para aqueles que se instalaram nas linhas coloniais a partir de 1854, colocava aos colonos a necessidade de começar a pagar as dívidas com o governo provincial. Os colonos instalados nas colônias particulares também tinham de saldar suas dívidas com as empresas loteadoras. (SEYFERTH, 1974; CUNHA, 1991 e VOGT, 1997). Dessa maneira, o fim das doações de terra representou um passo importante na implantação da economia mercantil, na medida em que, a partir de então, o acesso à terra passava a ser mediado apenas pela compra, o que também aconteceu com as ferramentas e os equipamentos de trabalho agrícola. “Nessa condição de endividamento do colono mesmo antes de começar a produzir, criouse a necessidade de gerar excedentes, monetários ou não, para amortizar as dívidas. Os excedentes quitavam as dívidas e abasteciam o mercado interno do Rio Grande do Sul e do Brasil.” (DALMAZZO, 2004, p.24).
Uma segunda variável se refere à necessidade que os colonos tinham em adquirir novas terras, dado o limitado tamanho de suas propriedades originais, para garantirem a reprodução familiar. Essa necessidade era justificada seja pelo progressivo esgotamento da terra e pela perda de produtividade decorrente do sistema agrícola adotado, seja pela aproximação da maioridade e emancipação dos seus filhos, e pela preocupação em assegurar as condições de reprodução de eventuais novas famílias. (CUNHA, 1991).
Assim, havia a necessidade de além de garantir a subsistência familiar também produzir um excedente que, através da comercialização, pudesse dotar a família de recursos adicionais que lhes permitisse honrar seus compromissos e assegurar as condições que viabilizassem a reprodução das famílias. Como lembra Cunha (1991, p.147),
Convivem neste período a produção de valores de uso para satisfazer as necessidades da reprodução da unidade familiar e a produção de valores de troca, mercadorias, agora não mais excedentes acidentais dos produtos agrícolas, animais e artesanato destinados à subsistência, mas mercadorias produzidas intencionalmente para o mercado. Rompese nesta fase a identificação entre trabalho e produto do trabalho, entre produção e produto existente na fase inicial de [produção] de valores de uso [para a família]. (...) Quem produz mercadorias, as produz para desfazerse delas, passa a viver não daquilo que produz, mas de seu próprio trabalho.
Uma terceira e última variável a ser também considerada foi o gradativo crescimento da demanda nos mercados locais para os produtos coloniais em função do progressivo aumento da população residente na região. A partir de 1859 vamos ter um significativo crescimento da população regional, especialmente nas áreas coloniais, seja em decorrência das novas levas de imigrantes que continuavam a chegar, seja como resultado do crescimento demográfico da população preexistente.
A tabela 1 mostra a dinâmica de crescimento da população nas principais localidades situadas na região, nesse período. Através dela podemos observar que entre 1859 e 1920 todas as localidades apresentaram crescimento populacional.
Esses dados também mostram que em todos os intervalos de tempo Santa Cruz apresenta o maior índice de crescimento populacional entre as localidades da região. Crescimento esse que traduz a importância econômica desse que foi o primeiro e o mais dinâmico núcleo colonial da região, e que nessa condição viu o seu núcleo urbano concorrer com o de Rio Pardo no papel de principal mercado para a produção regional. Em um segundo plano, além de Santo Amaro e de Encruzilhada do Sul – tradicionais mercados locais
na chamada área de campo da região –, também Venâncio Aires começava a
TABELA 1 Localidades do Vale do Rio Pardo: evolução da população residente de 1859 a 1920
População total residente/anos Crescimento da população por período Localidades¨
1859 1872 1890 1900 1920 1859 a 1890 * 1890 a 1920* 1900 a 1920*
Rio Pardo 7.023 11.571 21.320 22.478 30.400 203% 43% 35% Santo Amaro 3.598 6.925 11.939 4.504· 8.000 231% 32% 78% Encruzilhada do Sul 6.130 8.496 12.973 16.956 25.100 111% 93% 48% Santa Cruz 2.723§ 7.310 15.536 23.158 37.500 470% 141% 129% Venâncio Aires 11.079 17.000 53% Fonte: (Fundação de Economia e Estatística, 1986).
¨ As localidades correspondem ao município ou ao então distrito, compreendendo sua população total. * Corresponde ao % de crescimento da população no período indicado.
§ Segundo Cunha (1991). · Em 1891 o distrito de São Sebastião do Mártir se emancipou e passou a integrar o município de Venâncio Aires, o que explica essa expressiva redução da população.
Percebemos assim que, nesse período, os vínculos da economia colonial com o mercado revelam a diversidade e as particularidades presentes nas relações comerciais que se estabelecem na medida em que se realizam, simultaneamente e de modo desigual, em distintas escalas – do local à
nacional – e alcançando, inclusive, alguns lugares em nível internacional. 4.2 A pequena produção mercantil e a cultura do fumo
Esse momento foi significativo, pois representou a passagem para um novo estágio no processo de organização espacial dessas áreas coloniais, na medida em que essa parcela do território passava então a ser usada em um outro contexto, aquele do começo de afirmação do meio técnico.
No âmbito da produção, as inovações técnicas fizeramse sentir em menor intensidade e, quando ocorreram, limitaramse a algumas propriedades coloniais da região. A introdução do arado, por exemplo, embora ainda se vinculasse ao período anterior, em razão do predomínio de uma matriz energética natural, materializada na força animal, acabou possibilitando uma
mudança do sistema técnico até então utilizado 66 . De acordo com Seyferth (1974), após um período aproximado de 12 a 15 anos desde a ocupação do lote colonial, o desaparecimento dos troncos e das raízes remanescentes da derrubada da mata, e uma melhor condição de aquisição de animais de tração tornavam possível o uso do arado no preparo da terra para o cultivo nas propriedades coloniais. Esse, para Waibel (1979), correspondia ao segundo estágio dos sistemas agrícolas utilizados nas áreas coloniais “o sistema de rotação de terras melhorada”. 67
Através do emprego do arado foi possível ampliar a área de cultivo, melhorar o preparo da terra e aumentar a produtividade das lavouras, ampliando assim a produção das propriedades coloniais. Isso, contudo, não significou o abandono do sistema de rotação de terras, nem tampouco, pelo menos na maior parte das propriedades, representou a adoção de adubos. 68
Roche (1969, p.287) denomina esse sistema agrícola de “agricultura temporária e periódica da queimada”. E assinala que, embora haja a presença do uso de ferramentas como a enxada, o arado de relha metálica e a grade, o seu emprego associado à queimada, nesses longos anos, muito mais do que
66
Quanto à situação de um uso não generalizado de inovações técnicas na produção, Montali (1979) registra o fato de que em 1866, em Santa Cruz, dos 753 estabelecimentos agrícolas existentes, apenas 118 usavam o arado.
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Esse estágio é caracterizado por Waibel (1979, 246255) pelo momento em que após a devastação da maior parte das matas, com o aumento da densidade populacional, e com a construção de estradas para carroças, temse um avanço no desenvolvimento técnico e econômico das propriedades coloniais. A principal inovação aqui é a introdução do arado puxado por cavalos ou bois, de modo a aumentar a capacidade de ampliar as áreas cultivadas, e de melhorar o preparo da terra, muito embora nessa fase ainda permaneça o sistema de rotação de terras. Isso por sua vez impede que o agricultor possa usar o arado em toda a propriedade, uma vez que nas encostas íngremes acaba prevalecendo o uso da enxada e da cavadeira. Nesse estágio ocorre o aumento das culturas de subsistência e a introdução ou a valorização daquelas culturas de importância comercial. Para ele: “50 % vivem no segundo estágio, em terras ainda não esgotadas, e 45% estão ou no primeiro ou na fase de decadência e de estagnação do segundo”. No caso das colônias criadas no VRP, a grande maioria das propriedades, após as dificuldades impostas no primeiro estágio, permaneceu nesse segundo estágio técnico.
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De acordo com Waibel (1979), apenas em uma minoria, cerca de 5% das propriedades coloniais do Sul do Brasil, houve o emprego da rotação de culturas em terras aradas e adubadas. Para tanto, os colonos precisavam, além de dispor do arado puxado por um ou dois bois ou cavalos, também possuir um plantel de 10 a 20 cabeças de gado para a produção de adubo (esterco), de modo a poder fertilizar adequadamente a terra. Isso tudo implicava a necessidade do plantio de forragens para a alimentação do gado bovino, da construção de estábulo para guardálo, bem como de um telheiro para depositar o estrume. Inovações que demandavam níveis maiores de trabalho e capitais. Esse era o último estágio técnico alcançado pelos imigrantes alemães, identificado por ele como “rotação de culturas combinada com a criação de gado”.
um avanço técnico na produção agrícola acabou alterando a qualidade e a fertilidade natural do solo, além de facilitar os processos de erosão pelas águas correntes e de destruição da camada de húmus do solo em grande escala. Para ele, se nos primeiros anos de instalação, diante dos condicionantes existentes, o uso desse sistema agrícola justificouse, nas décadas posteriores, a continuidade dessa prática agrícola pelos descendentes dos primeiros colonos somente pode ser explicada pelas características próprias do desenvolvimento da agricultura teutobrasileira. Essas características revelam como principais obstáculos a uma evolução técnica na agricultura: a prevalência da cultura e da rotina, entre os colonos, no modo de cultivo da terra; a deficiência de maquinaria apropriada, e, sobretudo, a insuficiência de capitais. (ROCHE, 1969, p.289). Essas características também explicam o porquê do nãoemprego generalizado do adubo nas lavouras coloniais, ainda que essa fosse a recomendação das autoridades provinciais. “Na medida em que consentiam em tentarlhes o uso, os colonos tinham tendência a abandonálo, mesmo com sucesso, porque o custo dos adubos ultrapassa a valorização obtida. O próprio emprêgo do estrume, (...) ficou limitado em algumas zonas às únicas culturas compensadoras do fumo e da batata inglêsa”. (ROCHE, 1969, p.289).
Assim, passados alguns anos, a produtividade da terra diminuía, levando à substituição de algumas culturas, como a canadeaçúcar, à introdução de outras, como a mandioca, e à valorização daquelas culturas de importância comercial, como a do feijão e a do fumo.
É importante também destacar que nesse período nem todos os colonos, especialmente os recém chegados, possuíam condições para adquirirem alguns dos objetos técnicos necessários à preparação da terra, como o arado, ou mesmo à transformação artesanal dos produtos necessários à alimentação, como o engenho de fubá e a farinha de mandioca. Essa situação engendrou o desenvolvimento de ações cooperadas que objetivavam a reprodução social dessas famílias. Seyferth (1974) se refere a essas ações como arranjos realizados entre colonos e entre colonos e comerciantes rurais que, via de regra, resultavam na apropriação de parte do produto beneficiado pelo proprietário dos instrumentos e equipamentos, a título de “aluguel” pelo
seu uso. Quando do aluguel de arados, o pagamento costumava ser feito por meio de produtos agrícolas. Entre essas ações cooperadas, há que se destacar também a existência, já nessa época, do arrendamento de terras. Como alguns dos colonos não possuíam terra adequada ou fértil para o cultivo, ou mesmo quando sua dimensão era insuficiente para a reprodução familiar, a saída era “alugar” ou arrendar parte das terras de outra família, a quem repassavam de um terço até a metade da produção agrícola, a título de pagamento pelo seu uso.
A figura 11 permite observar a organização espacial das propriedades