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2. AS CIDADES NA FRONTEIRA: Da delimitação a atualidade

2.3. Colonização do Oeste Catarinense

A região Oeste e Extremo Oeste catarinense só passaram a ser efetivamente ocupadas por imigrantes gaúchos, após o fim da Guerra do Contestado, quando a guerrilha foi sufocada pelas forças regulares do governo, que varreram os remanescentes caboclos que poderiam reivindicar o uso e a posse daquelas terras, como representantes ou descendentes dos primeiros ocupantes (CEON, 1995, p.

12).

A ocupação e a colonização do Extremo Oeste catarinense muito se assemelham com a da região sudoeste do Paraná, pois ambas ocorreram no mesmo período e por motivos análogos, visto que até o início do século XX eram regiões pouco habitadas e abandonadas pelo governo. Com a crescente preocupação em garantir seu território e visando a exploração econômica das riquezas daquelas terras, deu-se início o processo de ocupação e colonização. O governo catarinense utilizou sistema semelhante ao paranaense, com a cessão de terras para as companhias colonizadoras, que vendiam terras para as famílias que ali pretendessem se estabelecer. A citação abaixo mostra como e por que surgem as empresas colonizadoras.

Para integrar o Extremo Oeste Catarinense ao desenvolvimento econômico do Estado de Santa Catarina foram necessárias algumas medidas que promovessem a colonização daquela área. O governo, impossibilitado de promover o desenvolvimento da região, deixou ao encargo de empresas colonizadoras particulares. Começa então a concessão de terras a empresas colonizadoras, tendo à frente pessoas de prestígio junto ao governo. O sistema era o seguinte: empresas colonizadoras recebiam do governo porções de terra e, em troca, deveriam proporcionar a ocupação definitiva da área e construir estradas para o transporte e deslocamento dos colonos (BAVARESCO, 2006, p.8).

A área em questão foi colonizada pela Cia Colonizadora Angelo de Carli e Irmão, depois denominada Colonizadora Cruzeiro. Esta Companhia arregimentou para o seu empreendimento colonos italianos do Rio Grande do Sul, principalmente aqueles expulsos ou em vias de expulsão dos minifúndios daquele Estado (CEON, 1995, p. 224).

O fluxo de migração para a região Oeste catarinense se deu de maneira progressiva, conforme mostram os números da Associação dos Municípios do Extremo Oeste Catarinense – AMEOSC (2009), entre 1920 e 1940, chegaram

10.340 imigrantes; de 1940 a 1950 o número já passa para 22.801 imigrantes, aumentando significativamente o número de vilas e povoados no Extremo Oeste.

Alemães, italianos e, em menor número, poloneses e outros, deslocavam-se do Rio Grande do Sul para as novas terras; de 1950 a 1960 esse número aumenta significativamente para 48.664 imigrantes; Na década de 1970: 61.730 imigrantes;

sendo que em 1980, quase a metade da população regional não era natural do município onde residia.

A eficácia do crescimento da região, em parte, provinha da publicidade e dos vendedores. As colonizadoras, muito menos que os governantes, não estavam preocupados em estabelecer um modelo de colonização. O importante era atrair compradores para as terras e explorar a riqueza em madeiras existentes (BAVARESCO, 2006, p.8)

O mesmo autor explica como as empresas colonizadoras vendiam as terras para os imigrantes:

As empresas colonizadoras, ao receber a área para colonizar, exploravam a madeira mais nobre e, só depois vendiam as terras aos colonos; por isso é que a indústria madeireira logo começou a se destacar no Oeste. A região se desenvolvia à medida que novas famílias de colonos se instalavam nas áreas abertas à colonização. Nesse ponto, a migração de colonos do Estado vizinho do Rio Grande do Sul contribuiu para o significativo aumento populacional da região, bem como para a exploração das matas (BAVARESCO, 2006, p.8).

Com o esgotamento das terras no Rio Grande do Sul, esses agricultores, com o objetivo de continuar com as atividades agrícolas, deixavam a sua terra natal e vinham a procura de novas terras, as quais poderiam ser proprietários, deixando as áreas onde seus pais haviam desbravado e passavam a ser pioneiros colonizando outras áreas.

A mão de obra desses migrantes era barata e estava disponível para as madeireiras e empresas colonizadoras, que aproveitavam o trabalho braçal na abertura de estradas, em troca do pagamento do lote colonial, bem como, trabalho com baixa remuneração nas madeireiras, para compensar o capital investido na terra, essa foi a alternativa encontrada por alguns imigrantes (BAVARESCO, 2006, p.9).

As afirmações de Alves e Mattei (2006) vão ao encontro às supracitadas, referente ao fluxo de imigrantes:

O crescimento populacional, nesse período, no oeste catarinense já não era devido às imigrações estrangeiras, pois eram de pequeno vulto, mas sim da migração proveniente do Rio Grande do Sul e do Paraná, caracterizando uma ocupação não no sentido Leste-Oeste, do litoral para o interior, mas com fluxos vindos do Norte e do Sul, os quais substituíram os primeiros moradores que eram os bugres e caboclos. Desde o início essa colonização na região apresenta a peculiar característica de que suas terras foram colonizadas segundo um modelo minifundiário de estrutura agrária (ALVES e MATTEI 2006, p.6).

A respeito desse assunto a AMEOSC (2009) relata que “os imigrantes se apossavam das terras excluindo os indígenas e os caboclos. As denominadas "terras nobres" eram ocupadas exclusivamente por descendentes de europeus.”

Ainda, a migração das famílias para o extremo Oeste catarinense é explicada por Bavaresco (2006, p. 4):

Para os habitantes, o objetivo era a propriedade da terra e criação extensiva de gado. Não tinham pretensões de cultivar a terra, nem mesmo possuíam conhecimento suficiente para aplicar um sistema agrícola intensivo ou sustentar uma vida baseada numa agricultura de subsistência. O sistema de pastoreio em grandes fazendas adotados nos campos do Oeste Catarinense e, praticamente em todo Brasil, contribuiu para a falta de alimento, subnutrição e pobreza da população (BAVARESCO, 2006, p.8).

A região Oeste de Santa Catarina foi a última área a ser colonizada no estado.

A extração da madeira foi a primeira atividade econômica a dar impulso ao deslocamento populacional para esta área, iniciando pelo Vale do Rio do Peixe, seguindo para o Rio Irani, o Rio Chapecó e por último finalizaram no Extremo-Oeste, na fronteira com a Argentina (ALVES e MATTEI 2006, p.6).

Nessa época a região do Extremo-Oeste possuía maior relação com a Argentina do que com o Brasil. Destaca-se também nesse período o convívio dos grupos sociais indígenas (Kaingangs e Guaranis) e caboclos, e pela ausência do Estado. Durante essa época, não havia escolas, nem justiça, nem administração, nem organizações políticas. Na área de Dionísio Cerqueira, todos os contratos eram lavrados no território argentino (AMEOSC, 2009).

A respeito dessa área na atualidade será discutido no decorrer do trabalho, nos sub-capítulos subsequentes.

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