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explorados e de enriquecer os patrões. Porém, buscou conscientizar seus leitores que estes problemas seriam extintos com a organização dos trabalhadores rurais por meio de sindicatos. Nesta seção, os lavradores foram pensados pelos jornalistas enquanto pessoas impossibilitadas de propiciar aos seus filhos conforto e educação. A publicação dos poemas foi um mecanismo utilizado pelos jornalistas para legitimar a imagem dos lavradores como indivíduos que dedicavam grande parte do tempo para sustentar seus filhos e que eram explorados pelos patrões.

Consideramos que as poesias foram publicadas com linguagem pronunciada pelos lavradores no cotidiano para facilitar o entendimento, e entendemos que a direção do jornal incentivou os trabalhadores rurais a lerem as poesias.

1.4. Coluna Cartas da Roça

A coluna Cartas da Roça foi um espaço destinado aos leitores do Terra Livre para que escrevessem cartas, contando a situação que estavam submetidos no meio rural, ou que tivessem conhecimento de modo que fossem publicadas. “O jornal recebia cartas de lavradores de diversos pontos do país que narravam suas condições de trabalho, a exploração que eram vítimas, castigos físicos etc.” (MEDEIROS, 1995, p.211).

Nesta coluna, os lavradores denunciaram a opressão sofrida no campo. Por meio de cartas enviadas à redação do jornal e posteriormente publicadas, jornalistas procuravam defender a tese de que os trabalhadores rurais estavam sendo submetidos a extensas jornadas de trabalho diárias e que os direitos trabalhistas foram desrespeitados.

A “Coluna Cartas da Roça” era antiga, pois esteve presente nas páginas da imprensa comunista desde o seu primeiro exemplar em circulação39.

Esta seção levou ao conhecimento dos leitores o cotidiano vivido pelos lavradores brasileiros. Porém esta coluna não foi espaço voltado à divulgação da cultura, das festividades e da religiosidade dos camponeses. Partimos da hipótese de que possivelmente as cartas publicadas foram selecionadas pelos diretores do jornal, sendo divulgadas apenas as que descreveram o sofrimento do homem do campo.

Em uma carta escrita por um trabalhador rural do município de Marília-SP, localizado na região da Alta Paulista, foi enfatizado que os colonos da fazenda Santa Antonieta estavam

39 Por se tratar de uma Coluna que esteve desde o início da publicação dos exemplares do Terra Livre, e que se manteve até o período em que esteve em atividade, entende-se que a quantia de cartas escritas por trabalhadores é considerada alta. TL, ano V, São Paulo, 2ª quinzena, de julho de 1954, n°44.

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passando fome porque o latifundiário Bento de Abreu pagava a estes um salário considerado “miserável”.

Vejam que miséria ele paga: dois mil cruzeiros por mil pés de café, e quinze cruzeiros pela colheita de cento e dez litros. Não dá para viver. E no dia 17 de julho esse latifundiário prendeu cinco mulheres e dois homens porque haviam tirado café para vender a fim de comprar comida. O latifundiário deu uns quilos de café ao tenente para bater nesses pobres e agora já está pagando a polícia para vigiar os trabalhadores. A polícia agora está fazendo ronda na fazenda, eu penso que isto é injustiça contra a lei. Se pagassem salário bom aos trabalhadores não aconteceria de nenhum infeliz tirar uma migalha de café para comprar comida a fim de poder trabalhar. Isso acontece porque não temos um governo que dê valor aos camponeses. A justiça não é para os pobres, é só para os latifundiários. Eu, em minha opinião, companheiros, acho que precisamos é de outro governo que nos beneficie, seja, das classes do povo40.

Esta carta chama a atenção dos leitores, que grandes latifundiários do município de Marília-SP estavam se enriquecendo à custa do trabalho dos colonos e que ostentavam conforto e luxo, enquanto que os lavradores viviam em casas em péssimas condições de higiene. Este caso como outros foram noticiados pelo jornal na tarefa de conscientizar os lavradores de que estes problemas citados permeavam a realidade dos camponeses e de que não se tratava de um caso isolado.

Ao analisarmos esta coluna, entendemos que os trabalhadores rurais brasileiros foram qualificados como indivíduos que apanhavam de chibatadas e que eram vigiados por jagunços, de modo que fossem impedidos de deixarem as propriedades em que trabalhavam. Publicar cartas em que os lavradores apareciam apanhando e sofrendo castigos físicos foi arcabouço utilizado pelo corpo editorial, no sentido de legitimar a existência de duas classes sociais opostas no campo, ou seja, uma classe explorada e outra exploradora. Os trabalhadores foram retratados como sujeitos pertencentes à classe explorada, enquanto que os patrões qualificados como pertencentes à classe exploradora.

Por meio desta seção, o Terra Livre denunciou arbitrariedades cometidas pelo proprietário da fazenda Anhembi do município de Campo Mourão no Estado do Paraná, Oscar Americano, que segundo a reportagem, não pagou salário aos seus funcionários. Conforme o periódico:

A fazenda é administrada pelo Sr. Luiz Ferraz, que é pior do que Judas Traidor. Ele recebe o pagamento e consome o dinheiro, não pagando os trabalhadores há seis meses não vêem dinheiro. Em vez disso, o que os patrões fazem é tomar dinheiro emprestado a peões e formadores de café e nunca pagam. O povo está morrendo de

40Colunas Cartas da Roça. Salários de fome e perseguições. TL, São Paulo, 1ª quinzena de agosto de 1954, n° 46.p.2.

54 fome: faz seis meses que não sai pagamento e dinheiro não há. Chegou um japonês para trabalhar de peão na fazenda e o administrador tomou dinheiro que ele possuía, e até hoje o pobre está sem receber dinheiro, nem sequer o dele41.

Esta carta foi publicada pelo jornal com a finalidade de denunciar que trabalhadores rurais de modo geral estavam sendo submetidos a trabalho escravo e que eram vigiados por jagunços, nas fazendas. Portanto, o periódico qualificou esta prática como desumana.