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II. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS IMPLICAÇÕES PARA A INDÚSTRIA

II.2 Implicações para a Indústria de Transformação

II. 2.3 Comércio Exterior

O aumento do coeficiente de comércio exterior tem apresentado uma profunda relação com a perda de adensamento das cadeias produtivas. Isto se deve ao fato de que, a partir de 1992, o crescimento do coeficiente importado tem sido mais que proporcional ao coeficiente exportado.

De acordo com Moreira e Correa, “o diferencial de crescimento entre os

coeficientes de exportação e importação levou a que o segundo se aproximasse e superasse, [...], o primeiro, dando origem a um comércio intra-industrial mais equilibrado. A balança comercial da indústria de transformação passou de um superávit de U$ 9,8 bilhões, em 1989, para um déficit de U$1,5 bilhões em 1995...”

(1997, p.77).

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Laplane e Sarti mencionam ainda que das empresas que mantiveram superávit comercial com o exterior - “que atuam em setores intensivos em recursos naturais (filiais resource seeking):

alimentos, fumo, mineração, papel e celulose e siderurgia/metalurgia” (1998, p. 232-33) - parte

significativa deste resultado seria decorrência do expressivo aumento das exportações para a região do Mercosul.

Evolução dos Coeficientes de Importação e Exportação sobre a Produção (%)da Indústria de Transformação 0% 5% 10% 15% 20% 25% 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Fonte: Moreira (1999a) Coef. Importação/Produção Coef. Exportação/Produção

No entanto, a noção de comércio intra-industrial mais equilibrado parece exagerada, uma vez que os coeficientes de exportação não chegaram a dobrar no período de 1989 a 1998, enquanto os coeficientes de importação cresceram, praticamente, cinco vezes.

Quando estes indicadores são observados de acordo com as categorias de uso ou para alguns setores com alta densidade tecnológica, os resultados parecem convergir para a tese da desarticulação das cadeias produtivas.

No que tange às categorias de uso, apesar do setor de bens de capital ter apresentado o segundo maior coeficiente de exportação em 1998, quando se compara este indicador com o coeficiente de importação, percebe-se que a diferença entre eles aumentou significativamente. Neste caso, é importante notar que o critério relevante não é simplesmente a relação Importação/Produção (M/Y) ou Exportação/Produção (X/Y), mas a razão entre essas duas variáveis [(M/Y)/(X/Y) = M/X], que ao final do referido período, por qualquer critério que se utilize, aumentou exorbitantemente. É a trajetória desta relação que determina o saldo da balança comercial e que demonstra o equilíbrio ou não do comércio intra- industrial.

Coeficiente de Abertura: Exportação/Produção (%)

Categorias de Uso 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Bens de Consumo Não-Duráveis

6,9 7,9 9,1 10,4 10,2 9,2 10,3 10,4 10,2 10,7

Bens de Consumo Duráveis 12,6 12,7 16,6 17,7 14,8 13,2 12,4 14,3 19,8 32,7 Bens Intermediários Elaborados

10,1 10,9 14,9 15,9 14,7 15,1 16,8 16,9 16,6 16,5 Bens Intermediários 7,0 7,6 8,5 10,0 10,6 11,8 12,5 10,6 10,4 10,1

Bens de Capital 7,7 7,9 14,7 13,6 13,1 14,5 15,3 18,9 22,6 24,2

Bens de Capital, Equip. de

Transporte 10,5 10,8 15,7 17,1 14,5 12,5 9,6 11,1 14,3 20,4

Total da Indústria 8,8 9,4 12,3 13,3 12,5 12,2 12,7 13,0 13,7 14,8 Fonte: Moreira (1999)

Coeficiente de Penetração: Importação/Produção (%)

Categorias de Uso 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Bens de Consumo Não-Duráveis

2,5 2,8 3,8 3,1 3,4 4,2 7,0 6,7 7,7 7,9

Bens de Consumo Duráveis 7,4 8,9 12,3 10,1 11,2 12,2 17,5 19,5 26,6 29,3 Bens Intermediários Elaborados

4,9 6,1 8,0 8,1 9,6 11,8 16,9 18,0 20,4 21,9

Bens Intermediários 2,1 2,7 4,6 5,3 8,6 7,1 10,0 11,5 12,5 10,5

Bens de Capital 11,9 19,8 33,3 26,8 27,2 33,2 54,0 71,5 94,0 100,3 Bens de Capital, Equip. de

Transporte 1,9 3,0 5,6 5,9 8,4 11,4 15,8 13,2 17,0 23,2

Total da Indústria 4,3 5,7 7,8 7,4 8,9 10,4 15,5 16,3 19,4 20,3 Fonte: Moreira (1999)

Se alguns setores com elevada densidade tecnológica forem usados como referência, verifica-se que os resultados são os mesmos, isto é, os coeficientes importados aumentaram mais que proporcionalmente aos exportados. Nas tabelas abaixo, este fato é apresentado para os ramos produtores de equipamentos eletroeletrônicos. No setor de máquinas, equipamentos e instrumentos, por exemplo, enquanto o coeficiente de exportação aumentou passou de 7,8% para 23,6%, o coeficiente de importação aumentou de 13,3% para 56,9%. Ademais, para o conjunto dos setores intensivos em tecnologia, a razão exportação/produção cresceu 2,5 vezes, enquanto a proporção de produtos importados no total da produção cresceu 4,6 vezes.

TABELA II.11

Coeficiente de Abertura: Exportação/Produção (%)

Setor 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Máq., Equip. e Inst., Incl. Peças e

Acessórios 7,8 8,4 14,9 13,8 16,2 17,0 17,4 21,8 22,6 23,6

Apar. e Equip. Elét., Incl.

Eletrodom., Máq. Escrit. 9,0 9,2 15,6 14,9 17,3 14,6 14,9 15,7 18,1 23,0 Equip. p/ Produção e Distr. de

Energia Elét. 6,4 6,5 14,7 12,8 14,7 19,3 23,1 25,3 20,2 20,8

Mat. e Apar. Eletrôn. e de

Comunicação 4,2 4,9 9,8 8,6 5,6 5,7 5,9 8,3 14,8 19,3

Apar. Recept. de TV, Rádio e

Equip. de Som 9,1 9,3 12,7 13,1 8,9 8,5 7,6 7,6 9,0 13,0

Condutores e Outros Mat. Elét.,

Excl. p/ Veículos 6,4 6,5 8,5 10,2 10,4 9,3 10,3 10,2 10,2 8,9

Média dos Setores Intensivos

em Tecnologia* 9,3 10,0 15,4 15,9 13,8 13,6 14,3 17,0 19,4 23,2 Fonte: Moreira (1999)

* Além dos setores aqui apresentados Moreira (1999) apresenta outros sete

Coeficiente de Penetração: Importação/Produção (%)

Setor 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Máq., Equip. e Inst., Incl. Peças e

Acessórios 13,3 20,6 31,2 25,5 26,3 30,0 41,1 50,4 55,7 56,9

Apar. e Equip. Elét., Incl.

Eletrodom., Máq. Escrit. 3,8 4,0 5,6 4,7 7,2 8,1 11,4 13,3 14,9 15,6 Equip. p/ Produção e Distr. de

Energia Elét. 8,2 9,2 15,6 11,6 13,8 15,0 24,1 29,8 34,5 42,2

Mat. e Apar. Eletrôn. e de

Comunicação 11,6 17,6 27,3 26,4 25,8 33,5 41,6 47,3 62,0 66,6

Apar. Recept. de TV, Rádio e

Equip. de Som 4,9 6,5 10,0 7,6 7,7 11,4 16,1 15,5 15,3 14,0

Condutores e Outros Mat. Elét.,

Excl. p/ Veículos 8,8 11,1 12,3 11,7 12,1 17,7 18,7 21,7 25,5 26,5 Média dos Setores Intensivos

em Tecnologia* 6,9 9,4 14,2 12,8 13,2 15,3 20,6 23,6 28,7 32,1 Fonte: Moreira (1999)

* Além dos setores aqui apresentados Moreira (1999) apresenta outros sete

Segundo Gonçalves (2001), os resultados destas transformações teriam ensejado uma reinserção internacional caracterizada por “reprimarização” do padrão de comércio exterior brasileiro. Com efeito, os dados apresentados pelo

autor mostram que a participação do Brasil no comércio mundial75 de

manufaturados passou de 0,76% no período 1990-1994 para 0,68% entre 1995 e 1998, enquanto teria aumentado a participação dos produtos agrícolas de 2,43% para 2,65%. Por outro lado, a participação dos produtos manufaturados no total das exportações brasileiras teria diminuído de 55,1% para 53,1%, ao passo que os produtos agrícolas teriam aumentado a sua participação de 29,8% para 33,8%.

75

Por participação no comércio mundial entende-se a relação entre a corrente de comércio (X+M)BR no Brasil e no resto do Mundo (X+M)RM, isto é, (X+M)BR /(X+M)RM.

TABELA II.13

O argumento principal é que, a despeito do significativo aumento da produtividade industrial, os produtos da indústria brasileira teriam perdido competitividade internacional. Tais resultados só não foram piores devido ao efeito positivo da integração comercial no Mercosul. Para o autor, o elemento central desta reversão da tendência de longo prazo76 da economia brasileira se deveria às restrições de oferta. Tais restrições estavam relacionadas à redução do nível de investimento e à perda de rentabilidade das exportações, face à valorização cambial.

De fato, os dados desagregados para exportações e importações revelam que os setores que apresentaram melhor desempenho comercial nos dois subperíodos foram aqueles classificados por Kupfer como commodities industriais. Os setores difusores de progresso técnico e de bens duráveis, segundo esta mesma classificação, contribuíram negativamente para o resultado da balança comercial, principalmente, depois de 1994, enquanto o grupo industrial de bens tradicionais apresentou uma reversão do saldo positivo obtido no período 1990-93. Este último, juntamente com o grupo industrial de bens difusores de progresso técnico responderam por mais de 70% da variação negativa do saldo da balança comercial entre 1993 e 1996, segundo Kupfer (1998, p.118).

Como é possível observar na tabela abaixo, ao longo dos anos 90, houve um aumento da participação dos setores intensivos em recursos naturais no total

das exportações e uma perda dos intensivos em escala77, bem como uma

estagnação daqueles baseados em ciência. O crescimento das importações verificou-se, sobretudo, nos setores de fornecedores especializados78 e naqueles baseados em ciência.

76

É importante notar que o aumento da participação dos produtos manufaturados na pauta de exportação nacional foi uma característica da evolução da economia brasileira até o final dos anos 80.

77

Este setor é constituído, sobretudo, por indústrias de bens intermediários padronizados, como siderurgia e petroquímica, e de bens de consumo duráveis como automóveis (cf. ERBER, 2001, p. 186)

78

Este setor é Constituído, “principalmente por produtores de bens de capital mecânicos e elétricos” (cf. ERBER, 2001, p. 185).

Estrutura do Comércio Exterior Brasileiro segundo Intensidade de Fatores, em Percentagem do Valor Total

1989 1997

Exportação Importação Exportação Importação

Intensivo em Recursos Naturais 28,6% 20,8% 31,7% 16,8%

Intensivo em Trabalho 12,8% 5,4% 10,5% 7,3%

Intensivo em Escala 35,9% 29,8% 32,1% 28,3%

Baseado em Ciência 4,7% 15,7% 4,8% 17,2%

Fornecedor Especializado 18,0% 28,3% 20,9% 30,4%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Elaboração própria a partir de Erber (2001)

Fator

As informações desagregadas sobre o comércio exterior apontam para uma reinserção internacional da indústria brasileira, nos anos 90, baseada nos produtos em que já possuía vantagens comparativas. No entanto, a estagnação e o relativo retrocesso dos bens mais intensivos em tecnologia parecem afastar a economia nacional, cada vez mais, das trajetórias mais virtuosas em nível mundial.