• Nenhum resultado encontrado

Míghian: Meu nome é Míghian, eu vim aqui já antes passando um questionário para as professoras, pra descobrir e montar mais ou menos um perfil das professoras de educação infantil da Capela do Socorro, eu fiz esse questionário em todas as escolas, as trinta escolas de educação infantil, mas na verdade quem eu queria encontrar eram as professoras negras de educação infantil da Capela do Socorro. Depois que eu encontrei algumas pra entrevistar e você foi uma dela, por que eu li o questionário e eu vi que se encaixava mais ou menos no perfil que eu queria, eu queria professoras um pouco mais antigas, um pouco mais novas, a idade também, tudo contava um pouco, se acumulava, se não acumulava, tentei fazer uma análise desses questionários e escolhi você por que tinha relação com aquilo que eu queria estudar. Agora pra entrevista não vai ser aquelas perguntinhas básicas, eu quero saber um pouquinho sobre a sua história pessoal e também sobre a sua trajetória profissional, tá bom? Sua idade:

Lélia: Quarenta e quatro.

Míghian: A gente vai fazer assim, começa da infância... falando um pouquinho de onde você nasceu, sua família, pai, mãe, parente, avô, avó, quem você acha importante dessa sua época aí.

Lélia: Eu nasci em Juiz de Fora, Minas Gerais. Meu pai veio aqui pra São Paulo, eu sou de uma família de oito, sete irmãos, oito comigo e meu pai veio aqui pra São Paulo pra tentar a vida. Durante uns três meses ele mandou dinheiro pra minha mãe e depois ficou uns três, quatro sem mandar. Aí ela distribuiu os filhos na casa da irmã dele e veio pra São Paulo à procura dele. Aí chegou aqui encontrou, alugaram casa tudo, aí foram buscar os filhos, na época eram sete. Aí chegamos aqui, moramos de aluguel, dois cômodo...

Míghian: Você lembra em que ano foi isso?

Lélia: Se não me engano foi em setenta e dois, que eu tinha seis anos, aí ele encontrou com ela, alugou uma casa tudo e foi buscar os filhos. Aí viemos pra cá. Só que eu não sei se ela pegou alguma coisa, eu criança também escutava no ar, não entendia muito, uma coisa assim de traição, então ela começou a beber. Então, ela, o que dava pra entender as brigas deles era que tinha alguma coisa e aí ela começou a beber. E aí o tempo foi passando, meu não importava muito que a gente estudasse, o negócio dele era trabalhar e dar dinheiro em casa.

Míghian: Ele não tinha essa vontade que vocês estudassem, os sete.

Lélia: Não.

Míghian: Você era a mais nova?

Lélia: A do meio mais ou menos, são quatro irmãos mais velhos, três mais novos. Então ele não se importava muito, às vezes ele alugava uma casa assim num lugar distante, a gente tava estudando num lugar e ali parava de ir por que não tinha condições, e assim ficava, terminava o ano...

Míghian: Onde você morava quando você mudou logo? Aqui mesmo na zona Sul?

Lélia: É, morei no Jardim Sol primeira casa foi lá em setenta e dois, aí de lá morei em Jardim Lua, de Jardim Lua morei aqui, assim que a minha irmã mais nova nasceu o lugar chamava Mata Doce e na época era assim tinha poucas casas, muito mato, e a gente meio assim, umas crianças meio assustadas, acreditava em assombração, então a minha irmã mais velha ficava em casa com a minha mãe pra cuidar da mais nova e íamos os outros irmãos pra escola. A gente morava no Rio Verde e ia pra escola aqui no Rochedo aí a gente andava uma longa de terra, meu irmão mais velho ele morria de medo, então ele pegava e dava a mão pra mim e pra outra abaixo de mim, aí o outro irmão dava mão pra outro e outro, aí o moço ai com a gente contando de assombração ele morrendo de medo a gente chegava em casa, não tinha luz era

vela, na época lá na região não tinha, aí sempre muito medo e minha mãe tava amamentando aí falava que a cobra ia entrar, que não-sei-quê, coisa de criança...

Míghian: Que é que sua mãe e seu pai faziam lá em Juiz Fora?

Lélia: Minha mãe lá era cabeleireira, meu pai cozinheiro.

Míghian: E por que quiseram vir pra São Paulo:

Lélia: Meu pai quis vir tentar a vida aqui, por que tinha vários conterrâneos aqui e se deram bem, aí ele veio, só que ele veio sozinho e como ele tinha isso de pular a cerca, não sei, nos primeiros meses ele mandou dinheiro pra minha mãe, aí parou. Aí ela distribuiu os filhos na casa da irmã dele e veio ver o que é que era.

Míghian: E quando ela chegou ela trabalhou ou ela só cuidava de vocês?

Lélia: Não, aí deu um tempinho e ela começou a trabalhar, trabalhou no Hospital Santa Marta se não me engano faxineira, aqui ela não pegou mais de cabeleireira, trabalhou no Hospital Santa Marta na Interclinica e trabalhou numa firma ali na Nações Unidas que fechou, esqueci o nome...

Míghian: Alguns irmãos seus nasceram aqui.

Lélia: Só a mais nova, os outro sete tudo em Minas.

Míghian: E quando vocês chegaram, vocês chegaram a estudar um lá tempo em Minas ou não...

Lélia: Sim, sim, aí eu não me lembro assim que série eu saí de Minas, eu sei que meus irmãos mais velho estavam na quarta série, chegou aqui em São Paulo e puseram eles na segunda e o outro estava na terceira chegou aqui pôs ele na primeira. Eu e as outras duas colocou também na primeira e os dois mais novos foram pro pré, né? Aí eu não lembro se lá a gente tava fazendo o pré e... acho que seis anos eu devia estar fazendo o pré mesmo, mas os outros eu achei assim estranho, né, aí falavam que era por que o estudo de lá era mais fraco e hoje em dia já vejo ao contrário

Míghian: E como é que era a relação entre você e as pessoas mais velhas da sua família assim, avó, avô, quando você veio essa relação um pouco ficou distante, né? Mas você se lembra dessa época com seus avós, como é que era essa relação lá em Minas?

Lélia: Lembro a casa que nós morávamos em Minas meu pai fez dois cômodos pra minha avó no mesmo quintal e então minha mãe e meu pai trabalhavam fora não lembro o que que ela fazia, acho que era salão mesmo, ela trabalhava com minha madrinha, elas tinham um salão de cabelereira juntos, aí minha avó ficava junto com a gente durante o dia, né?

Lélia: Sim, aí ela falava que eu era a mais rebelde, né, por que ela ia estender roupa no varal, eu ia lá e ficava fazendo cosquinhas nela, sempre tirava a atenção dela e ela brincava que dos sete filhos eu era a mais pretinha, ela falava que eu puxei o pai dela, ela falava “Vem aqui, seu toquinho preto”, aí eu ia sempre provocando ela. Então eu sempre fazia uma gracinha.

Míghian: Então moravam no mesmo quintal a sua família e a sua avó.

Lélia: Isso.

Míghian: E o resto da família, tios, tias moravam próximos ou...

Lélia: Sim, em bairros sempre assim distantes mas estavam sempre se encontrando.

Míghian: Quando vocês mudaram pra cá, vocês sentiram muita... falta, você por exemplo, da avó, da família mesmo, né?

Lélia: Sim, por que depois que nós saímos não voltamos mais, né? Aí teve alguns casamentos de primas, essas coisas, quem foi, foi minha mãe e meu pai. Então eu só voltei em Minas de novo, aos catorze anos, né? Aí teve uma briga entre minha mãe e meu pai, eles resolveram se separar, acho que depois de vinte e dois anos já juntos, aí eu não entendi por que na época a gente não podia participar muito, então quando começava a conversa a gente tinha que ficar distante. Aí eles resolveram se separar.

Míghian: E sua mãe nessa época já bebia bastante?

Lélia: Já bebia bastante, a gente tinha que buscar ela nos lugares, carregar ela no colo...

Míghian: Como é que seu pai se comportava com isso, ele ia?

Lélia: Ele não gostava de presenciar, por que ele não bebia, né? Então passou os filhos ficar buscando ela né, às vezes a gente até chamava ele não ia, se recusava.

Míghian: Agora você falou um pouquinho da sua entrada na escola. Você lembra que lá em Minas, lá em Juiz de Fora você estudou ou você não lembra, você lembra mais aqui em São Paulo...

Lélia: Então eu não sei lá, se foi a primeira série, mas acho que era primeira série sim por que era o grupo, lá tem o grupo, até hoje eles fala grupo, que é perto de casa tudo, então eles tavam na primeira série, lá na época a gente só escrevia no caderno de linguagem se tivesse a letra legível e boa, senão era um caderno de pão, era a folha de pão. Sabe aquelas folha que embrulhava pão antigamente?

Míghian: E quem escolhia isso, a professora dizia “Você merece”?

Lélia: Não, era da escola. Se você não tivesse uma letra legível, assim, você não escrevia no caderno. Era folha de pão depois você passava pra folha de sulfite que eles fala papel oficio, né? E pra gente aquilo era uma vergonha você ta escrevendo e um coleguinha tá escrevendo

num caderno e você na folha. Então eu sei que eu logo assim passou um tempinho eu já passei pro caderno, né?

Míghian: E o que você lembra mais assim da época da escola? Você falou um pouco dessa ida pra escola, vocês iam juntos né? Era longe...

Lélia: Isso já em São Paulo...

Míghian: Isso você lembra. Mas e da escola, o que é que você lembra? Todos os irmãos estudavam na mesma escola?

Lélia: Isso.

Míghian: Iam juntos, voltavam juntos, como é que era esse clima da escola?

Lélia: Então a gente estudava no Marcos da Paz, né? Fomos estudar lá, aí eu na época já, acho que sete ou seis e a de sete e o de dez na mesma sala, estávamos na primeira série. O mais velho estava na segunda em sala diferente e a mais, a abaixo dele era pra estar na mesma sala, mas só que ela faltava, bastante, pra ajudar minha mãe a olhar a mais nova. E os dois mais novos estavam na EMEI, que era antigo PLANEDI, né?

Míghian: Chamava PLANEDI, né?

Lélia: Isso. A gente ia de ônibus até um certo lugar, depois ia de trem. Na época eu tinha muito medo de trem, tanto de andar dentro do trem como passar por baixo, e às vezes quando chegava na escola, o trem tava parado e eu tinha de passar por baixo ou pular por cima. Aí eu chorava, chorava e eu não podia voltar pra casa sozinha. Aí um dos meus irmãos tinha perder aula pra levar eu pra casa por que aí eu não pulava.

Míghian: Mas então vocês, como seu pai e vocês mudavam de casa e seu pai não se preocupava com essa coisa da escola, às vezes vocês tinham que tomar ônibus e trem pra ir até a escola. seu pai trabalhava de quê nessa época?

Lélia: Ele trabalhava de cozinheiro nessa época.

Míghian: E vocês se mudavam muito por conta...

Lélia: Acho que ele não conseguia pagar o aluguel. Por que aí era oito filhos, né e pelo que dava a entender minha mae trabalhava, mas ela não ajudava ele, então o aluguel aumentava tipo essas coisas aí ele mudava.

Míghian: Entendi. Agora, você se lembra da sua primeira professora ou de alguma professora que te marcou se não foi a primeira, da primeira à quarta série? Como é que era essa sua relação com a escola? Voce fala que sua mãe e seu pai não tinha essa preocupação, né, você não percebia isso, mas como é que você ou seus irmãos viam a escola ou...

Lélia: Então, na primeira série, foi lá em Minas. Eu me lembro que era assim, você começava a estudar, você saía da folha de pão, passava pro caderno, depois de um certo período, eles

selecionava aquela criança fraca que ia ficar, então, a minha sala era fraca, ficaria naquela sala, o outro ia pra sala média e o outro pra sala forte. Faltando uma semana pra mim mudar de sala que eu ia pra sala forte, eu tive um desentendimento com a professora. Por que aí eu tava sentada e estava com o pé na cadeira e estava aparecendo minha calcinha e ela pediu pra eu abaixar a perna, aí eu abaixei. Aí ela virou as costas, eu levantei de novo. Aí pra mim não fazer mais ela sentou do meu lado. Aí eu peguei minhas coisinhas em cima da mesa e fui embora.

Míghian: Não voltou pra escola mais?

Lélia: Não, aí...

Míghian: O que é que tava se passando na sua cabeça?

Lélia: Não sei...

Míghian: Hoje, quando você pensa...

Lélia: Nada, eu dou risada, sabe? Aí cheguei em casa, aí coisa de criança, né, você não saía da escola sem autorização nem nada, então eu lembro que a servente estava lá, eu falei assim, “Ah, a professora dispensou”, inventei que tava com uma dor, alguma coisa... mas ela falou assim, “Você vai sem a sua irma?”, ia eu e a outra irma, e eu “Não é que minha irmã...”, não sei eu inventei alguma coisa, aí fui embora. Aí cheguei em casa, minha mãe estranhou, “Que que aconteceu?”, “Ah, acho que não teve aula, a professora dispensou a gente mais cedo”, aí tudo bem, desci e fui brincar na rua, aí de repente vem minha irmã de sete de mãos dadas com a servente, aí eu gelei, aí... [risos] “Lélia, você fugiu da escola!”, eu falei “Ai, meu deus”, aí elas subiram lá pra cima e de repente minha mãe me chamou e eu tive de falar, “Ah, a professora sentou do meu lado, achei desaforo, fui embora”. Aí passou...

Míghian: Você acha que isso, você tava na sala fraca. Mas você se considerava uma boa aluna, o que é que você achava de você?

Lélia: Então, aí com isso, era pra mim ter ido pra sala forte, aí quando fez os nomes tudo lá, quando fez os nomes, aí era pra mim mudar de sala, aí eu comecei a chorar pra não sair da sala dela, aí eu fiquei na sala fraca.

Míghian: Você gostava dessa professora?

Lélia: Gostava.

Míghian: Apesar de toda essa...

Lélia: Não, isso só aconteceu isso, não sei o porque, eu gostava dela, eu só achei desaforo, né, ela pediu pra eu abaixar a perna, eu abaixei, ela virava, por que eu brincava muito sabe, ela virava as costas, pra lousa e eu levantava e as crianças “Ah, professora, ela levantou de novo”, ela olhava, eu abaixava. Aí tipo pra mim não abaixar ela sentou do meu lado. Aí eu catei

minhas coisa, deixei a metade lá, o que pude segurar na mão, a mão muito pequena, fui embora. Aí quando foi aí, uma turminha, vai falando o nome, todo mundo fica gelado, né, que vai mudar de sala, aí uma turminha vai pra sala média, aí eu “Oba, meu nome não saiu!”, aí o meu era pra mim ir pra sala forte, aí eu comecei a chorar, não praquela sala eu não vou, não vou, não vou...

Míghian: Você queria ficar com aquela professora?

Lélia: Com aquela professora. Não lembro o nome dela, ela era bem novinha, mas o nome eu não lembro.

Míghian: Entendi, e aqui em São Paulo, nos primeiros anos, tem algum episódio ou alguma professora que te marcou também?

Lélia: Então, aí, foi esse negócio do meu pai não se importar muito, eu estava fazendo... aí mudamos para um lugar onde não tinha escola, era tipo um barzinho, né, um salão, e lá eles pegava as criança que tavam sem escola e ia uma professora lá pra dar aula. Só que ficava a turma da terceira, e na época a minha irmã e o meu irmão tava na terceira e os outros três, nós continuávamos na primeira. Acho que eu já tinha oito ou nove anos, minha irmã nasceu eu tava com nove... é, tava com nove anos. Aí, ficava tudo ali na mesma sala, então a professora se dividia, dava um pouquinho de atividade na primeira, depois vinha pra terceira, aí tinha criança da segunda, era um barzinho, né, que ali adaptaram uma sala de aula. Aí na época tinha o exame final, fizemos as prova tudo, tinha o exame final, aí eu lembro que na época tinha uma questão, alguma coisa, sobre o farol não sei e escrevi, fiz tudo certo, aí meus dois irmãos olharam e falaram, “Não tá errado, põe isso”, aí eu apaguei e coloquei igual ao deles, aí quando a professora corrigiu, tava errado, era assim, aí eu falei, “Mas eu fiz assim, eles que fizeram eu apagar”. Aí ela falou, “Eu vou considerar”, né? E colocou o dos dois errado. E ela perguntou, “Por que você apagou?”, por que tava marcado onde tinha apagado. “Ah, os dois fizeram de um jeito e o meu era que tava errado” e sendo os dois, a irmã e o irmão mais velho do que eu... aí tudo bem. Aí depois mudamos, dessa casa no Pinho, no alto, por que moramos no alto do Pinho, depois moramos na baixada, aí do alto mudamos pra essa casa do Felinto, aí já tava com nove, começamos a estudar no Quarto Centenário. Aí faltava muito, não sei o quê...

Míghian: Por causa da distância, né?

Lélia: Por causa da distância. Aí depois mudamos pro Pinho de novo que era na parte de baixo, aí eu estava com onze, eu com onze e a outra irmã com doze, aí a que foi, saiu e foi ver vaga pra gente, ela estava com catorze ou quinze, então na época o, aquela escola ali perto do terminal Marilac... terminal Teixeira, é... Paulo Andrade. Na época ele era de madeira, ela

passou, perguntou se tinha vaga, ela falou que tem, ela deu os nossos nomes, aí minha mãe tinha que ir lá na escola fazer matrícula, aí matriculou eu e a outra na segunda, eu com onze e a outra doze, e acho que ela com quinze na terceira.

Míghian: Mas era longe também, né, de qualquer modo?

Lélia: então, a gente morava no Pinho e essa escola era no Teixeira. Aí começamos a estudar e lá só ia até a quarta série. Aí começamos...

Míghian: Antes do Paulo Andrade você tava aonde? Qual era o nome da escola do Quarto Centenário?

Lélia: Eu já tava no... era Carlota. Mas aí dessa saída do Carlota teve essa escola, essa salinha que eles fizeram tipo do barzinho, mas não tinha diploma, não tinha nada...

Míghian: E era do Estado?

Lélia: Não sei, acho que era, eles dava assim o ensinamento, mas não tinha certificado nada nada, era só pra tirar, era mais pra tirar a gente, como tava sem escola, pra não ficar na rua.

Míghian: Era mais perto da sua casa essa que era tipo um galpão?

Lélia: Isso.

Míghian: E você ia todos os dias?

Lélia: Isso.

Míghian: Mas o problema é que não tinha comprovação, aí você teve que de novo fazer, como se você não tivesse feito segunda série.

Lélia: Isso, eu fiz lá nove e dez, aí tanto é que com onze eu entrei na segunda. Mas eu estudei nessa época, mas não tinha comprovação. Aí passou... aí eu estudei no Paulo Andrade, aí eu entrei, lá só ia até a quarta série, aí ficamos todas animadas, por que era eu e a outra que gostava mais de estudar, os outros, meu pai não ligava muito, então eles também não esquentavam, então, aí na época os dois mais novos estavam no Vieira. Na época a gente usava avental, então era dois avental só, então meus dois irmãos ia pra escola com o avental limpinho que eu e a outra lavava, eu usava o do mais velho, ela usava o do mais novo, aí quando chegava nessa hora ele já tava todo sujo, ou a gente ia com ele sujo ou lavava e ia com ele molhado. Que as duas estavam aqui no Teixeira, no Paulo Andrade. Aí no outro ano, na terceira série, das onze às três, minha irmã parou de estudar, a mais velha, ficou só eu e a outra. Na terceira ela parou. Aí ficou eu e a outra na terceira, em horário diferente, minha irmã faltava muito, que ela estudava de manhã, ela tinha muito medo. A gente acreditava muito nessas histórias de pé grande e veio trazendo isso, né? “Por que você não tá indo pra escola, Marcela?”, “Ah, eu tou com medo, eu subi lá no escadão, tem uma marca de um pé grande

Documentos relacionados