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COMENTÁRIO SOBRE A EXPERIÊNCIA

Depois de lida a novela filosófica I, construímos a seguinte dinâmica. Fizemos duas colunas no quadro didático a partir de duas idéias principais da história: “Jogos que só os meninos podem praticar” e “Jogos que só as meninas podem praticar”. Em um primeiro momento, listamos todos os jogos que eram dito pelos alunos. Só depois discutimos a validade de cada jogo listado. Essa discussão foi muito interessante, na qual, após longo debate, os alunos descartaram todas os jogos que dizem ser exclusivas dos meninos e também as que seriam exclusivas das meninas.

Concluímos que meninos e meninas podem participar das mesmas atividades esportivas. Tanto na coluna dos meninos como na das meninas, predominou a visão estereotipada de cada gênero, que, aos poucos, foi sendo “desmontada”. Por exemplo: “meninos jogam futebol de campo e salão” e “meninas jogam baleado”. Diante deste fato, consideramos que algumas atividades desportivas eram em nossa sociedade mais femininas e outras, mais masculinas, mas não exclusivas de meninos ou de meninas.

Os alunos conseguiram desmontar a idéia que jogar futebol de salão é só para os meninos, mas, quando questionados suas respostas normalmente eram monossilábicas (sim, não, é). Pedimos para que eles tentassem fundamentar suas respostas, uma vez que há pelo menos um motivo “atrás” de cada “sim”, “não” e “é”. Enfatizamos a necessidade de sempre justificar e explicar nossas respostas. Assim, no decorrer da aula, outras questões surgiram a partir das colocações das crianças e adolescentes presentes:

- Se brincamos com alguém, isto significa que somos amigos dessa pessoa? - É preciso pensar antes de agir?

- Meninas costumam brincar com meninas e meninos com meninos. Está certo isso? - Um menino pode brincar de boneca?

- E se uma menina quiser brincar de carrinho, não pode?

A discussão avançou a partir do momento que perguntamos: “Será que existem algumas coisas que só as meninas podem usar e outras só os meninos?”. Foram várias respostas; entre elas, surgiu o assunto sobre “camisinha”. Um adolescente afirmou que só

os meninos podem usar. Outra adolescente discordou, dizendo: “Tem pra mulher também.

É uma bolinha assim...” (Depoimentos de alunos, 2006). Citaram também situações em que meninas usavam coisas que normalmente eram usadas por meninos e vice-versa, tais como no teatro e na dança. Meninas usam, disse uma delas: “aquele negócio quando nós ficamos

menstruadas” (Depoimentos de alunos, 2006). Aquele negócio, que se referiu a adolescente acima, é o “modess”. Também usa o DIU, completou outra. Um aluno comentou que tanto as meninas como os meninos podiam usar “brincos”, pois, segundo ele, “agora entrou na

moda pôr brincos no ouvido dos meninos” (Depoimentos de alunos, 2006). Insistimos na idéia de que algumas coisas são mais usadas por meninos e outras mais usadas por meninas, o que não impedia, porém, que em certas situações fosse diferente. Aproveitamos para comentar que meninos e meninas podiam fazer balé e karatê, ainda que uma atividade seja, em geral, mais freqüentada por meninas e outra mais por meninos.

Passamos então à questão da amizade. Uma das adolescentes afirmou que amizade era gostar do namorado. Então, discutimos amizade e amor, a partir das seguintes questões:

- Quando a gente namora alguém, somos também amigos destas pessoas? - Amor é diferente de amizade?

- É importante ter amigos?

Um dos meninos respondeu: “Amizade é quando alguém acostuma com o amigo e

começa a brincar na rua quando tem vontade” (Depoimentos de alunos, 2006). Outro falou sobre amizade e amor: “É assim: você é amigo quando é criança, não é? E depois você,

quando cresce, não é mais amigo, é namorado” (Depoimentos de alunos, 2006).

Quando abordamos as questões familiares, foi o momento em que as crianças e os adolescentes mais se colocaram. Uma criança perguntou: “Mãe e pai podem ser nossos

amigos? Uma professora pode ser nossa amiga?” (Depoimentos de alunos, 2006). Para os alunos, Professores podiam ser amigos, mas, para alguns dos alunos, mãe e pai: “pode não” (Depoimentos de alunos, 2006). Disseram também, que namorados brigam, mas depois ficam “de bem” (Depoimentos de alunos, 2006). Perguntamos se amigos podiam brigar. Um adolescente, respondeu: “Quando a gente bebe, e fica bêbado, a gente briga” (Depoimentos de alunos, 2006). Outro, afirmou: “Mas aqui ninguém tem idade pra ficar

bêbado, né!” (Depoimentos de alunos, 2006). Outro aluno, disse: “Eu já fiquei, só quando

estou na rua” (Depoimentos de alunos, 2006). Tocou o sinal para o recreio.

Após o recreio, houve uma discussão sobre o que é ser criança e adolescente; o que é ser adulto. Consideramos que as respostas foram interessantes: “Pra mim, ser criança, é

nascer, brincar, ir pra creche, crescer, estudar e não ser vagabundo...” (Depoimentos de alunos, 2006). O que é ser um vagabundo? Perguntou um dos monitores. Respondeu a criança: “Ser vagabundo é não querer estudar, não querer trabalhar; ir nem trabalhar na

rua não poder, porque tem que saber Matemática e Português” (Depoimentos de alunos, 2006). Outras crianças e adolescentes também se posicionaram: “Ser criança é mais legal;

podemos brincar, nós não temos responsabilidade” (Depoimentos de alunos, 2006). “Ser

criança é assim: tem que ler, escrever, passar de ano, saber fazer conta, daí ser adulto e daí acaba” (Depoimentos de alunos, 2006). “Nós temos que crescer, ter educação pra

poder ler e escrever; depois nós aprendemos a dirigir e depois a gente pode dar aula(Depoimentos de alunos, 2006). “Eu sei que tem que estudar bastante e, quando a gente

crescer, vai trabalhar, ficar bem inteligente, pra não ficar burro; tem gente que não vai pra escola – eles são burros” (Depoimentos de alunos, 2006). Notamos que era muito comum, entre as crianças e os adolescentes que estudavam na FUNDANOR, a utilização da frase: “Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha” (Depoimentos de alunos, 2006). Logo interviemos para pensar com os alunos o significado de tal frase e enfatizar a necessidade do respeito no diálogo.

Por último, Anderson, um dos adolescentes que era descriminado pelos seus colegas, diz que não vai deixar mais ninguém o chamar de burro, porque ele quer aprender a cada dia; conclui que isso é que é ser inteligente: querer aprender mais. Os alunos concordaram com a idéia de que não existem pessoas que são burras. Existem pessoas que sabem fazer melhor uma coisa do que outras. Se alguém não sabe fazer algo tão bem como eu, isso não significa que essa pessoa é burra; com certeza, ela saberá fazer outras coisas melhor do que eu. Neste momento, concluir a aula.

2ª EXPERIÊNCIA: AULA REALIZADA ATRAVÉS DA METODOLOGIA DA