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Estudos sobre os efeitos fisiológicos da atividade física e exercício em pessoas com câncer têm despertado interesse da comunidade científica em todo o mundo. O presente estudo tem importância para a área da saúde, em especial, para a educação física, ginecologia, oncologia, psicologia, fisioterapia, geriatria, e saúde da mulher.

O conhecimento do impacto do câncer de mama tornou-se um aspecto central tanto no que se refere aos cuidados com a doença quanto às pesquisas sobre o assunto. Muitos estudos têm focado em aspectos específicos da qualidade de vida, porém poucos abordam os sintomas de fadiga e a limitação física imposta pela doença.

Tendo em vista a alta incidência e prevalência do câncer de mama nos dias atuais, o impacto que a qualidade de vida exerce nas atividades diárias a independência das mulheres que vivenciam essa neoplasia, além das escassas publicações na área, especialmente estudos nacionais, tornou-se necessário buscar o conhecimento do papel que a atividade física possivelmente exerça na qualidade de vida das mulheres durante e após o tratamento do câncer de mama.

Em nosso estudo anterior foi avaliado a atividade física e qualidade de vida na menopausa, observou-se ao final do estudo que o diagnóstico do câncer de mama era mais frequente durante os anos climatéricos e na pós-menopausa, fato esse que motivou seguir a mesma linha de pesquisa buscando a influência da atividade física sobre e a qualidade de vida no câncer de mama.

A literatura mostra os efeitos da prática da atividade física e sua importância para a promoção da saúde e qualidade de vida geral das pessoas, além da prevenção de doenças crônico-degenerativas, especialmente o câncer de mama. Este fato me sensiblizou profundamente, por eu ser Professora de Educação Física.

Inicialmente desenvolvemos um estudo que investigou a relação entre a atividade física e os domínios da qualidade de vida geral. Entretanto, a queixa de fadiga se sobressaiu em relação a todas as outras, o que nos motivou a estuda-la separadamente.

Os sintomas de menopausa também foram uma constante na vida destas mulheres, o que se fez merecedor da nossa atenção. Desta forma estudamos estes sintomas e sua associação com a prática de atividade física.

Diante disso, buscou-se desenvolver um estudo transversal manipulando-se uma variável independente (atividade física) sobre duas dependentes (fadiga e qualidade de vida) para avaliarmos a influência da atividade física na qualidade de vida em mulheres com câncer de mama. Os dados disponibilizados por este trabalho possibilitaram a análise dos níveis de atividade física, fadiga e os diferentes domínios da qualidade de vida nesta população, tema escolhido para a presente tese que se destacam a seguir.

Physical activity, fatigue and quality of life in breast cancer patients

Ana Carla Gomes Canário, Lucila Corsino de Paiva, Patricia Uchôa Leitão, Gilzandra Lira Dantas Florêncio, Maria Helena Constatino Spyrides, Ana Katherine Gonçalves (Submetido à publicação para Revista da Associação Médica Brasileira – RAMB ).

Os dados sócios demográficos mostraram que as mulheres estudadas tinham em média de idade de 52,66 anos (DP = 8,6), cor branca (58,14%), casadas (54,88%), com ensino fundamental (44,65%), possuía renda de até dois salários mínimos (53,02%) e na maioria eram de religião católica (63,23%). Em relação às variáveis clínicas e de tratamento verificou-se tempo médio de diagnóstico de 12 meses (39,07%), submetidas à cirurgia mutiladora (68,37%), a maioria com estadiamento da doença grau III (38,14%), lateralidade esquerda (50,23%), receberam tratamento de quimioterapia (83,26%), radioterapia (70,70%) e hormonioterapia (44,19%), classificadas com sobrepeso (55,81%) e estavam na pré- menopausa (61,40%). Observou-se que, infelizmente, a maior parte destas mulheres foi diagnosticada no estádio III da doença (doença avançada), onde os tratamentos realizados são muito mais agressivos e mutiladores, comprometendo significativamente sua funcionalidade e qualidade de vida.

Detectou-se em nosso estudo uma alta prevalência de fadiga (72,09%), sendo que as mulheres mais ativas apresentaram um menor percentual desse sintoma (p<0,001). Os escores médios para qualidade de vida foram significativamente menores para as mulheres com fadiga (p<0,001). Dessa forma, os exercícios físicos revelaram-se uma estratégia eficiente na redução da fadiga produzida pelos tratamentos. Nossos resultados mostraram que as mulheres mais ativas apresentaram melhores índices em todas as escalas de QV (EORTC) durante o

tratamento do câncer de mama, principalmente na capacidade funcional (p<0,001) quando comparadas com as sedentárias.

Identificou-se ainda uma associação significativa entre o nível de atividade física e a QV geral (WHOQOL-Bref) para todos os domínios (p<0,001) quando comparados os níveis de atividade física. Acreditamos que as endorfinas liberadas durante a prática de atividade física possam por si só justificar o bem estar geral, e a visão mais positiva da vida destas mulheres com câncer de mama.

Buscamos avaliar a relação entre o nível de atividade física e os sintomas climatéricos, pois a literatura nos mostra que a atividade física parece melhorar a saúde, dessas mulheres. Os resultados encontrados em nosso estudo variaram de leve a forte intensidade não apresentando resultados estatisticamente significativos. No entanto as mulheres mais ativas apresentaram menos sintomas quando comparadas com as sedentárias.

Nosso estudo constatou ainda que as mulheres com mais alto nível de atividade física apresentaram menos sintomas de fadiga e escores mais altos de qualidade de vida, concluindo-se que a atividade física tem influencia positiva sobre a fadiga e a QV quando se vivencia o câncer de mama. Esses resultados corroboram com as evidências científicas que apontam para a importância da prática exercícios físicos regulares durante e após o tratamento do câncer de mama.

Apesar de suas contribuições científicas e sociais esta tese apresenta limitações. Entre as limitações encontradas, pode-se apontar o “n” amostral pequeno, os níveis de atividades físicas e composição corporal foram medidos apenas por auto-relato e incluídas estimativas para atividades físicas de lazer sem comprovação de outros parâmetros físicos, tais como a mensuração da composição corporal, antropometria e aptidão física.

O modelo testado não considerou a influência de outros fatores potenciais de confusão e a amostra foi bastante homogênea. Outro fator foi o desenho de estudo (transversal) não pode estabelecer a relação causa e efeito tornando-se limitada a informação produzida. No entanto ficou evidenciado a influencia positiva da atividade física sobre a fadiga e a QV nas mulheres estudadas.

Cabem ressaltar que nosso estudo encontrou obstáculos em diferentes aspectos relacionados à coleta dos dados da pesquisa, principalmente ao acesso as mulheres. Esse estudo foi desenvolvido em um hospital de referência para o câncer que entende que as mulheres poderiam sentir-se constrangidas ao falar da doença. No entanto, sabe-se da importância de ouvir as angustias incertezas e medos para um equilíbrio emocional dessas mulheres. Dessa forma, constatou-se o desafio que vinha pela frente em associar o câncer de mama e atividade física que para muitos ainda parece ser algo controverso.

Por outro lado, Prado et. al, (2004)37 considera que os exercícios físicos devem fazer parte da rotina das pacientes, parte das atividades da vida diária das mesmas, sendo que o planejamento do programa de exercícios físicos deve ser no sentido de prevenir, amenizar ou eliminar o linfedema, a dor, a limitação articular, a aderência cicatricial, a alteração da sensibilidade, as complicações pulmonares e as alterações posturais.

Cuidar de mulheres que enfrentam um câncer e a cirurgia de mama, em sua totalidade, é um desafio para todos os profissionais da saúde, em especial nas novas abordagens que valorizam a multidisciplinaridade. Neste contexto os profissionais de Educação Física também estão inseridos nessas novas perspectivas de atuação.

Sabe-se que a adesão à prática de atividade física é um dos grandes desafios dos profissionais da saúde que trabalham com essa neoplasia, sendo difícil a

incorporação deste hábito. No entanto, é importante destacar que a equipe multidisciplinar exerce um papel importante na prevenção, profilaxia e tratamento de do câncer de mama. Isso quer dizer uma melhora significativa da qualidade de vida nos diversos domínios físico, psicológico e social. Os exercícios realizados de forma correta aumentam a longevidade, melhoram o nível de energia, a disposição e a saúde de um modo geral da população.

A questão que emerge, a partir dos estudos realizados, refere-se às possibilidades de futuras pesquisas onde avaliaremos em um estudo longitudinal os reais efeitos da atividade física e qualidade de vida na reabilitação das mulheres com câncer de mama.

Pretende-se ainda, realizar um estudo intervencionista, visando o apoio emocional, educacional, além de estimular a prática de atividade física através de um programa de exercícios físicos efetivos que possam atender as necessidades dessas mulheres, objetivando devolver a limitação física imposta pela doença, restabelecendo a sua funcionalidade.

As expectativas do estudo foram cumpridas, ou seja, os objetivos propostos foram alcançados, evidenciando que o projeto inicial foi viável. Prevê-se que o conhecimento gerado neste estudo abrirá oportunidade de discussão sobre a importância da prática de atividade física na melhora da qualidade de vida das mulheres diagnosticadas com câncer de mama. Além disso, dimensionar projetos de extensão que possam beneficiar a sociedade através da prática de atividades físicas de fácil acesso a população, especialmente as mulheres que vivenciam o câncer de mama.

Ressalta-se o enriquecimento intelectual e científico da pesquisadora na área da atividade física e qualidade de vida, tanto no que se referem às descobertas

apontadas nos resultados do estudo, como na leitura aprofundada da literatura que aborda a temática de investigação.

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