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TRABALHO E (DES)CONFORTO PSICOLÓGICO ENTRE PROFISSIONAIS DE HOSPITAIS PÚBLICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA: UMA ANÁLISE

6 COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES

Inicialmente, esta pesquisa previa abranger quatro categorias profissionais que atuam no âmbito dos hospitais investigados, a saber: assistentes sociais, enfermeiros, médicos e psicólogos. Tal escolha intencionou incluir profissões que exigem qualificação em nível de graduação e se destacam em quantidade e centralidade na assistência hospitalar de urgência e emergência, bem como as áreas de atuação da pesquisadora e orientadoras.

No decurso do estudo piloto, observou-se que várias outras categorias atuavam em condições semelhantes e, por vezes, apresentavam-se dispostos a participar do estudo, chegando a indagar sobre os motivos pelos quais não seriam incluídos entre os informantes. Assim, ampliou-se a quantidade de profissões, no intuito de possibilitar maior aproximação com a realidade do trabalho coletivo desenvolvido nas instituições coparticipantes.

Acredita-se que a opção de abranger várias profissões envolvidas na efetivação do trabalho em saúde contribuiu para atribuir mérito e originalidade ao estudo, assim como fortaleceu a perspectiva multidisciplinar inerente à assistência à saúde e que norteia o Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde. Isso porque a literatura publicada acerca dos processos de saúde-adoecimento dos profissionais dessa área, em grande parte, prioriza uma categoria profissional específica, sobretudo os trabalhadores da enfermagem. Daí a importância de empreender análises abrangendo diversas profissões envolvidas na assistência à saúde, enfocando-os sob a ótica do trabalhador coletivo que operacionaliza a política pública de saúde, tal como foi priorizado nesta investigação.

Por outro lado, isso demandou um maior esforço para alcançar uma amostra satisfatória, bem como exigiu alterações metodológicas na efetivação dos testes estatísticos, visto que algumas categorias abrangidas no estudo são compostas por reduzida quantidade de profissionais. A assistência de urgência e emergência se caracteriza pelo atendimento curativo e, portanto, demanda indeclinavelmente a atuação de profissões que lidam mais diretamente com procedimentos clínicos, medicamentosos e cirúrgicos, o que explica o fato de as áreas de Medicina e Enfermagem aglutinarem maior quantidade de profissionais, ainda que isso não signifique, necessariamente, que a quantidade de contratados dessas categorias seja suficiente. Contudo, tal contexto não prescinde da atuação de diversas

profissões que lidam com outros aspectos – sociais, psíquicos, nutricionais, dentre outros – que interagem no processo de saúde-adoecimento, mas, muitas vezes, não estão devidamente contempladas e valorizadas nesses espaços laborais.

A contribuição científica deste estudo se concentra, portanto, no fato de contemplar diversas profissões, além de abranger a vivência no trabalho no que tange aos aspectos objetivos relacionados às condições de trabalho, assim como aspectos subjetivos presentes nas relações interpessoais que permeiam os processos de trabalho e inerentes à relação dos sujeitos com a atividade e o ambiente laboral.

Salienta-se que os dados produzidos neste estudo demonstraram a existência de diferentes concepções de trabalho entre os profissionais, porquanto parte da equipe o define como fonte de prazer, renda e garantia de sobrevivência; outra parcela o conceitua como causador de estresse, sofrimento e desgaste físico e mental; enquanto outros vislumbram ser essa atividade permeada por antagonismos e contradições que a fazem impelir, concomitantemente, prazer e sofrimento.

Identificou-se, também, que os sujeitos enfatizam uma intrínseca relação entre o trabalho e o processo de saúde-adoecimento humano, ao mesmo tempo em que explicitam que sua atividade laboral tem impulsionado desgaste físico e psíquico, ao desencadear ou intensificar estresse, ausência de hábitos saudáveis, hipertensão arterial, distúrbios do sono, osteomusculares e gastrintestinais.

Nos espaços hospitalares investigados, os profissionais exercem suas atividades em meio a condições de trabalho adversas no tocante a estrutura física, remuneração, higiene e segurança no trabalho, possibilidade de qualificação e disponibilidade de medicamentos, de materiais e de equipamentos.

O nível de estresse ocupacional é elevado, enquanto a motivação com o trabalho no âmbito desses hospitais se apresenta reduzida. Tais condições se interrelacionam com a qualidade de vida, ocorrendo concomitantemente à sua fragilização. Entretanto, os profissionais relataram elevado grau de satisfação com a profissão exercida, o que se associaram positivamente com os resultados do SF36, admitindo identificá-lo como fator de proteção ao desgaste da qualidade de vida relacionada à saúde.

Tangente à saúde mental, os dados oriundos do QSG12 demonstraram que 32,5% dos sujeitos apresentam resultados condizentes com a presença de

transtornos mentais comuns, os quais se associaram significativa e inversamente com condições de trabalho e renda familiar.

Por conseguinte, conclui-se que o trabalho em hospitais públicos de urgência e emergência é permeado por adversidades em termos de condições de trabalho e por elevado estresse ocupacional. Não obstante, impele satisfação e realização profissional para esses trabalhadores, especialmente pelo seu potencial de contribuir para recuperação dos pacientes em situação de saúde crítica. A qualidade de vida relacionada à saúde dos profissionais que atuam nos hospitais investigados está associada a fatores sociodemográficos, hábitos de vida e fatores objetivos e subjetivos atinentes à inserção destes no mundo do trabalho e no contexto institucional particularizado no estudo, com destaque para a satisfação deles com a profissão. O desconforto psíquico incidente entre parcela da equipe também apresenta interfaces com a vida laboral, particularmente em relação às condições de trabalho e à renda familiar.

Dessa forma, acredita-se que os resultados desta pesquisa impelem maior visibilidade aos processos de saúde-adoecimento relacionados ao trabalho no âmbito dos hospitais públicos de urgência e emergência, particularmente no Estado do Rio Grande do Norte, no Nordeste brasileiro, bem como podem subsidiar a construção de estratégias para a promoção da saúde física e mental dos profissionais e, subsequentemente, potencializar a qualidade da assistência ao usuário. Nesse sentido, considera-se importante fortalecer a identidade desses trabalhadores da saúde como sujeitos coletivos e a percepção das condições e relações de trabalho como edificadas, vivenciadas e passíveis de transformação pelos indivíduos, que são, ao mesmo tempo, produto e produtores dessas relações.

Importa salientar que, por se tratar de um estudo transversal, os resultados desta pesquisa não possibilitam inferir relações causais. Além disso, a pesquisa delimitou ambientes hospitalares específicos, impossibilitando generalizações. Por outro lado, muitas situações identificadas neste estudo são comuns a outros serviços de saúde públicos e, nesse sentido, precisam ser pensados no contexto mais amplo da política de saúde brasileira e da totalidade da vida social. Ademais, as condições de trabalho nos hospitais abrangidos neste estudo podem haver sido alteradas, visto que, no momento da coleta de dados, estavam passando por reformas na estrutura física.

Por fim, recomenda-se a efetivação de outras investigações com desenho longitudinal e que combinem medidas de avaliação da qualidade de vida e da saúde psíquica com indicadores clínicos e parâmetros bioquímicos, como forma de averiguar relações causais entre o trabalho em saúde e o adoecimento daqueles que o executam e, assim, ampliar o conhecimento acerca deste objeto de estudo, adensando-o com outros fatores que esta pesquisa não se propôs investigar.

Os resultados desta pesquisa possibilitaram a construção de artigos científicos, os quais serão publicados em periódicos, bem como a publicação de trabalho nos anais da V Jornada Internacional de Políticas Públicas, ocorrida em 2011. Outrossim, as possibilidades de análise dos dados que emergiram da pesquisa não se esgotam no conteúdo desta tese, contendo elementos que possibilitam o incremento da produção acadêmico-científica e que poderão subsidiar outras análises acerca do trabalho e da qualidade de vida e (des)conforto emocional dos profissionais que efetivam a política de saúde no Estado.

Ressalta-se, ainda, a importância do curso de doutorado em Ciências da Saúde, por possibilitar o aprofundamento do conhecimento acerca dos processos de saúde-adoecimento e da política de saúde. Outro aspecto relevante foi o fortalecimento dos estudos sobre metodologia da pesquisa, particularmente no que se refere aos conteúdos de bioestatística. Tais conhecimentos serão socializados com discentes, docentes, assistentes sociais e outros profissionais da área de saúde, por meio de aulas, palestras, divulgação de trabalhos em eventos científicos nacionais e internacionais, bem como publicação de artigos em periódicos.

Desse modo, é válido realçar a importância deste douramento em Ciências da Saúde para o curso de Serviço Social da UERN, tendo em vista que isso contribuirá para o fortalecimento da formação de assistentes sociais para atuar no campo da saúde, o qual, historicamente, vem se apresentando como um dos significativos espaços de inserção destes profissionais, além de propiciar a intensificação de experiências interdisciplinares com outros cursos da área da saúde existentes na UERN e na UFRN, cujos docentes participaram, seja como professores, seja como estudantes, do DINTER em Ciências da Saúde.

Também será importante para fomentar a proposição de novas pesquisas sobre aspectos relacionados à saúde, além de propiciar uma futura inserção desta pesquisadora em Programas de Pós-graduação Stricto Sensu, bem como em grupos de pesquisa multiprofissionais vinculados à área da saúde.

7 REFERÊNCIAS

1. Brotto TCA, Dalbello-Araújo M. É inerente ao trabalho em saúde o adoecimento de seu trabalhador? Rev Bras Saúde Ocup. 2012 jul/dez; 37(126):290-305.

2. Brasil. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 20 set 1990.

3. Carvalho AI, Buss PM. Determinantes sociais na saúde, na doença e na intervenção. In: Giovanella L, Escorel S, Lobato LVC, Noronha JC, Carvalho AI, organizadores. Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2008. p. 141-166.

4 Souza DO, Silva SEV, Silva NO. Determinantes sociais da saúde: reflexões a partir das raízes da “questão social”. Saúde Soc. 2013, 22 (1):44-56.

5. Marx K. Processo de trabalho e processo de produzir mais valia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1980.

6. Rosado IVM, Maia EMC. Os impactos do trabalho na saúde dos profissionais que atuam no âmbito hospitalar: potencializador da saúde ou do adoecimento? Anais da V Jornada Internacional de Políticas Públicas: Estado, desenvolvimento e crise do capital. 2011 ago 20-

26. São Luiz: Universidade Federal do Maranhão/Centro de Ciências Sociais/Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, 2011.

7. Martins ERC, Zeitoune RCG. As condições de trabalho como fator desencadeador

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