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A comercialização de posses de terras em assentamentos rurais localizados na região do Triângulo Mineiro

No documento AR EPRODUÇÃO DOL UGAR E OD (páginas 42-45)

1. A COMERCIALIZAÇÃO DE POSSES DE TERRAS EM ASSENTAMENTOS RURAIS COMO TEMA DE PESQUISA.

1.2. A comercialização de posses de terras em assentamentos rurais localizados na região do Triângulo Mineiro

Nossa experiência com a pesquisa em assentamentos foi construída, sobretudo, a partir de trabalhos realizados junto ao Programa de Apoio Científico e Tecnológico aos Assentamentos de Reforma Agrária do Triângulo Mineiro (PACTo- TM-MG). Esse programa foi resultado da parceria entre Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq).

Durante os anos de 2004, 2005 e alguns meses de 2006, o programa realizou pesquisas em quatro assentamentos da região, sendo dois localizados no município

de Araguari-MG1 e dois em Uberlândia-MG2. As pesquisas faziam parte de três eixos temáticos que eram Produção, Saúde e Educação. Nossa pesquisa estava situada no eixo da Produção, porém tínhamos relações de trabalho com pesquisas de outras áreas, o que nos possibilitou compreender a realidade dos assentamentos em suas outras dimensões, além dos aspectos produtivos.

Foi a partir das pesquisas de projetos relacionados à Educação, à Saúde e à Produção que se pôde ter uma idéia geral das carências e potencialidades que os projetos de assentamento da região possuem. Não é nossa proposta generalizar as condições políticas, sociais e econômicas presentes em todos os assentamentos do Triângulo Mineiro. Observamos que tais condições apresentam divergências significativas, ao compararmos a organização interna dos quatro assentamentos.

Percebemos que as deficiências de produção e comercialização dos alimentos, por parte dos sujeitos assentados, relacionavam-se a questões de ordem associativa, cultural, política e econômica. Outras conseqüências de tais questões eram o isolamento em relação à cidade, a ausência de infra-estrutura nesses espaços rurais, como energia elétrica, água potável e encanada, bem como o precário ou ausente apoio de órgãos públicos para produção e comercialização. Estes são apenas alguns dos aspectos que observamos, durante nosso estudo sobre a produção e comercialização de gêneros agrícolas nos assentamentos.

Tais aspectos não se generalizavam em todos os assentamentos. A proximidade de órgãos públicos no apoio às organizações coletivas variava de um

1 Os assentamentos pesquisados neste município são o Projeto de Assentamento “Ezequias dos

Reis” e o Projeto de Assentamento “Bom Jardim”. O primeiro possui 55 lotes e o segundo 44. O número de famílias assentadas correspondia ao número de lotes apenas no momento de criação do Assentamento. Na atualidade existem compradores e assentados.

2 Os assentamentos pesquisados neste município são o Projeto de Assentamento “Rio das Pedras”

com 87 lotes e o Projeto de Assentamento “Zumbi dos Palmares” com 22 lotes. O número de famílias assentadas correspondia ao número de lotes apenas no momento de criação do Assentamento. Na atualidade, existem os compradores e os assentados.

assentamento a outro. Desse modo, as características de organização política, econômica e de ordem cultural diferenciavam-se entre alguns e se assemelhavam, entre outros.

Mas, no decorrer das pesquisas, fomos percebendo que esses assentamentos possuem um aspecto semelhante entre si. Comparando-os, também, ao Projeto de Assentamento Divisa, constatamos que, em todos eles, tem ocorrido a venda de lotes, por parte dos assentados.

Logo, esta prática poderia se constituir o fio condutor de uma pesquisa geográfica, dentro dos Assentamentos de Reforma Agrária. No contexto da criação e gestão dos assentamentos, a compra e venda de lotes não é permitida por lei3. No entanto, ela tem ocorrido nos assentamentos que pesquisamos. Sendo assim, a prática que observamos, no espaço da Reforma Agrária, constitui-se uma contradição quanto à aplicação da lei. Por outro lado, pode estar relacionada às práticas culturais dos beneficiários. Não consideramos o assentado como um sujeito passivo na prática da Reforma Agrária. Ele é possuidor de saberes e habilidades de trabalho que podem estar ou não vinculados à terra. Desse modo, ele participa ativamente no processo de criação e consolidação dos assentamentos, produzindo e reproduzindo tais lugares a partir de sua lógica, que, por sua vez, pode ser divergente das propostas governamentais para a Reforma Agrária.

Concordamos que infringir a lei pode representar um problema para a criação e consolidação de assentamentos rurais, mas consideramos necessário pensar o porquê de os assentados venderem seus lotes. Nesse sentido, elaboramos uma

3 De acordo com a Lei nº 8629, de 25 de Fevereiro de 1993, que regulamenta os dispositivos

constitucionais relativos à reforma agrária, em seu Artigo 18: “A distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária far-se-á através de títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de 10 (dez) anos”.

reflexão que nos possibilitou delimitar o tema para construção da problemática: A venda de lotes pode ser apenas uma das conseqüências da organização interna4 do assentamento, cuja produção se inicia a partir da composição do movimento na luta pela terra. Sendo assim, a afinidade apresentada entre os integrantes, durante a organização do movimento, diferencia-se enquanto prática de permanência nos lotes da Reforma Agrária. Logo, optamos por realizar um estudo de seus modos de vida, para analisarmos as divergências que se manifestam em suas práticas sociais e compreender a venda de lotes.

Portanto, a idéia de realizar pesquisa no Projeto de Assentamento Divisa estava sendo encaminhada. Se primeiro tínhamos o desejo de estudá-lo, agora havíamos encontrado um motivo para produzir um projeto de pesquisa e desenvolvê-lo. A partir da observação da realidade, foi possível direcionar as reflexões teóricas, com o objetivo de se consolidar o tema e produzir a problemática.

No documento AR EPRODUÇÃO DOL UGAR E OD (páginas 42-45)