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5. A PRESENTAÇÃO DE R ESULTADOS

5.4 Processo de Avaliação

5.4.2 Comissão de Avaliação Externa

No que diz respeito à Comissão de Avaliação Externa e, mais concretamente, à possibilidade de existência de conflito de interesse, é fundamental que exista transparência durante toda a duração do processo para que este seja fidedigno.

No entanto, existe um aspeto crítico do sistema de avaliação que é o da Qualidade e do equilíbrio dos relatórios externos (A3ES, 2013). Este fator é evidenciado no Manual de Avaliação da A3ES (2013) que cita Kalkwijk“...a obtenção de uma reação ótima da

instituição avaliada depende da Qualidade do relatório de avaliação. A experiência na Holanda mostrou que a Qualidade dos relatórios é muito desigual e, por vezes, mesmo insatisfatória. Esta conclusão é obtida das meta-avaliações feitas pela Inspeção do Ensino Superior’’(1998:28).

Pelas entrevistas realizadas, é possível estabelecer a existência de desacordos em relação ao formato atual da CAE, sobretudo no que diz respeito à sua constituição e à origem/formação dos membros, face às instituições de ensino politécnico alvo de avaliação. Além disso, os critérios utilizados também são alvo de debate, apesar do Manual de Avaliação incumbir a Comissão de analisar a adequação da definição de missão da instituição, e avaliar os constrangimentos externos e internos (A3ES, 2016a).

Tudo isto demonstra que deverá haver mais cuidado na seleção e treino dos avaliadores. Tal como, na produção de guiões mais detalhados, nomeadamente nas suas instruções de atuação, bem como será necessária uma melhor definição dos conteúdos e forma dos relatórios de avaliação externa da Qualidade. Igualmente importante, é a definição dos critérios de avaliação, os quais devem ser conhecidos e publicitados antes do início das visitas das comissões de peritos. Também relevante, é a existência de correspondência entre a estrutura dos guiões de autoavaliação e avaliação externa (A3ES).

De facto, pode existir essa questão. Este assunto tem sido referido por várias pessoas quer porque a comissão de avaliação pode integrar professores universitários quer porque pode integrar professores de instituições politécnicas muito próximas que podem ser consideradas concorrentes diretos. No que diz respeito à presença de professores universitários que desconhecem a realidade do funcionamento das instituições de ensino politécnico, creio que atualmente poucos serão os casos em que tal se verifica. A informação está perfeitamente difundida e há professores dos dois sistemas de ensino a trabalharem em conjunto e a desenvolverem trabalhos de investigação nos mesmos centros. Por outro lado, quando é nomeada a Comissão de Avaliação, a entidade que vai ser o alvo da avaliação se entender que pode haver conflito de interesses pode informar a A3ES e pedir alteração do ou dos membros da Comissão (A1).

(…) considero que devia ser uma avaliação feita apenas por avaliadores externos a Portugal. Não é justo nem adequado que, por exemplo, venha uma comissão ao politécnico analisar Engenharia Civil, e quem integra essa comissão é um dos nossos concorrentes, que é professor dessa área. Neste caso, estamos a ser avaliados por pessoas que podem ter interesses na avaliação consequente. Assim, existe um conflito de interesses. Por isso é que eu acho que qualquer avaliação que fosse feita a nível nacional, tinha que ser sempre feita por professores externos a Portugal. Uma vez que quando se diminuem cursos, diminuem-se a nível nacional, e se eu pertenço a outro politécnico concorrente, tenho interesse em ficar com o curso. Há aqui definitivamente um conflito de interesses em que a agência de avaliação e acreditação não garante a imparcialidade (A3).

É uma possibilidade, mas isso depende muito dos avaliadores que têm o poder de utilizar aquela função para prejudicar o concorrente, porque de facto existe concorrência. Quem faz parte das comissões são normalmente professores da área e do curso. Tanto quanto sei, o IPT nunca foi vítima dessa situação (A4).

Há claramente um conflito de interesses, apesar de, obviamente, não o podermos demonstrar. Mais genericamente, as comissões da A3ES são formadas por professores de ensino superior nacionais e internacionais. Por parte dos elementos nacionais, sentimos alguma interferência, que se prende com interesses relacionados ao domínio do curso. No entanto, há outro ponto que deve ser adicionado a essa questão. Habitualmente, as pessoas que constituem as equipas de auditoria A3ES são principalmente universitárias ou de institutos politécnicos, cuja a visão não é idêntica à nossa. Há, frequentemente, colisão de visões distintas, ou seja, ainda que possivelmente de forma subconsciente, existem questões que se traduzem, por exemplo, na colocação de um modelo que não é o que nos assiste. Isto acontece, porque a equipa tem uma visão muito mais no domínio universitário do que no domínio politécnico, mesmo integrando elementos dos sistemas politécnicos (A5).

Sim, e é um risco deste sistema. Por exemplo, quando alguém de um politécnico próximo pertence à comissão que possa entender que o curso que está a ser avaliado é concorrencial a um curso da sua instituição, pode haver um conflito de interesses. Este conflito pode existir mesmo involuntariamente, podendo ser bem ou mal resolvido (A6).

Sim, no limite poderia haver um conflito de interesses. Alguns membros da CAE podem ser professores de outra universidade ou politécnico com o mesmo curso e desta forma pode estar em concorrência com o IPT. Agora, pessoalmente, nas avaliações que foram feitas e nas respostas que foram dadas, não notei nada nesse aspeto. No entanto, teoricamente pode existir um conflito de interesses. A CAE tem aspetos positivos e negativos. Por um lado, tem que ter elementos do politécnico, porque é uma realidade diferente das universidades. O facto de ser constituída apenas por pessoas da universidade é mau, porque vêm de um ambiente diferente e

não compreendem como funcionam algumas coisas no ensino politécnico. Por esta razão, creio ser importante ter pessoas provenientes do nosso tipo de ensino superior

(A7).

Julgo que sim, não deveria haver, mas é possível. Como é possível ser de uma determinada área, trabalhar numa determinada instituição de ensino e avaliar uma instituição concorrente sendo completamente imparcial? É difícil.

Na última comissão de avaliação externa de um curso específico em que estive presente, de facto, os avaliadores eram das universidades. Nunca temos avaliadores que têm uma noção efetiva daquela que é a realidade do ensino politécnico, e de facto, aqui criam-se os tais hiatos, porque os objetivos das universidades não são os objetivos das instituições de ensino politécnico (A8).

No que diz respeito a este tema, as opiniões dos entrevistados dividiram-se em dois grupos. Um grupo considera que os membros da comissão participam com uma atitude pedagógica, em que possíveis conflitos de interesse não são passiveis de interferir no processo de avaliação. O outro, aponta para desacordos em relação ao formato atual da CAE, sobretudo no que diz respeito à sua constituição e à origem/formação dos membros face às instituições de ensino politécnico alvo de avaliação. Esta ambiguidade de opiniões leva a concluir que deverá haver mais cuidado na seleção e treino dos avaliadores, bem como nas instruções que lhes são transmitidas, por forma a mitigar possíveis opiniões adversas e para que todo o processo se desenrole sem dúvidas.