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Comitês Populares e as campanhas financeiras

Enquanto os Comitês Populares Democráticos estiveram em atividade, houve algumas campanhas de mobilização popular pela arrecadação de recursos financeiros. Dentre essas iniciativas, está a Campanha Financeira Pró-Imprensa Popular. Essa iniciativa foi resultante da III Conferência Nacional do PCB, realizada a 15 de julho de

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1946. Entre outras medidas, foi assinalado que o maior elemento para fazer propaganda da política do Partido Comunista era a sua imprensa. Dessa forma, havia a necessidade de mobilizar todo o Partido no sentido de ―uma ajuda imediata aos nossos jornais para melhorar consideravelmente o seu nível político e técnico‖. Foi lançada então uma grande campanha de finanças ―destinada a dar oficinas próprias à nossa imprensa‖.334

De acordo com João Falcão, o PCB queria transformar os seus jornais, espalhados por todo o Brasil, em grandes veículos de informação.335

Em Salvador, no mês de agosto de 1946, a Campanha foi instalada, na sede do Comitê Democrático Popular da Liberdade. Entre os oradores estava o secretário político do Comitê Estadual do PCB na Bahia, Giocondo Dias, que ressaltou a importância da referida Campanha. Dias declarou

como o povo organizado e apoiado por uma imprensa realmente popular pode conquistar os seus direitos e desmascarar os remanescentes fascistas, que a todo custo querem impedir a marcha da democracia em nossa terra. Fortes aplausos abafaram as últimas palavras do orador.336

Era preciso incorporar diversos núcleos sociais à campanha, levando-a ―a mais amplos setores do povo, sindicatos, comitês populares, comissões de empresa e de bairro, e setores profissionais, clubes e associações‖ 337

. Nesse sentido, em outubro do mesmo ano, O Momento anunciou a adesão de outros Comitês Populares à Campanha Pró-Imprensa Popular. Segundo o jornal, o Comitê Popular Vasco da Gama já contribuíra com 700 cruzeiros. Também os Comitês Populares do Mirante do Campo Santo, dos Mares e da Liberdade vinham dando contribuições à campanha.338 Dessa forma, mais uma vez, é possível perceber que, frequentemente, os Comitês Populares Democráticos eram utilizados em prol dos propósitos do PCB, atuando, de fato, como órgãos auxiliares do Partido.

Em alguns bairros, houve dificuldades na consecução e manutenção das sedes desses organismos. Na sua entrevista publicada no jornal O Imparcial, Roberto Sisson

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―III CONFERÊNCIA Nacional do PCB (15/07/1946)‖. In: CARONE, Edgard, O PCB (1943 a 1964), op.cit., p.71.

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FALCÃO, João, O Partido Comunista..., op.cit., p.317. 336

―É GRANDE o entusiasmo na Liberdade e em Plataforma‖. O Momento, 20 de agosto de 1946. 337

―GANHA novo ritmo a campanha‖. A Classe Operária, 28 de setembro de 1946. Arquivo do CEDEM/UNESP.

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destacou a importância do pagamento em dia das mensalidades nos lugares em que as sedes dos Comitês eram alugadas, ―pois sem boas finanças é difícil o comitê preencher as suas finalidades‖.339

O ex-dirigente da ANL então sugere que cada comissão vendesse recibos tipo selo, de vários valores (1, 2 e 5 cruzeiros), e cada associado devendo comprar o selo que lhe fosse possível, ou mesmo vários, para revendê-los aos amigos. O dinheiro arrecadado seria destinado à manutenção do Comitê e ao pagamento do aluguel da sua sede.

O Comitê Popular Democrático de São Caetano e adjacências precisou mobilizar o apoio e os esforços dos moradores da zona para a execução dos trabalhos a que se propunha. De acordo com O Momento, a sede do Comitê estava sendo construída ―entre as palhoças lá existentes‖. Um operário, morador do local, tido pelo jornal como um dos mais remediados do bairro, teria oferecido uma parte do seu salário a fim de iniciar uma subscrição popular para levantamento da sede. Além disso, pedreiros trabalhavam durante a semana e, aos domingos, os moradores ajudavam gratuitamente na edificação do Comitê.340

O trabalho de arrecadação de recursos entre a população nos bairros também era praticado visando a realização de festas. Em novembro de 1945, ocorreu uma reunião entre dirigentes de vários Comitês Democráticos de Salvador, na sede da Associação dos Estudantes Secundários da Bahia. O assunto dos debates foi a mobilização de todos os Comitês para os festejos de Natal. Nessa reunião, ficou resolvido que os Comitês de bairro promoveriam, naquele ano, as festas natalinas. Esses organismos ficariam incumbidos de providenciar a ornamentação dos largos existentes nas localidades onde se realizariam os festejos, com a realização de quermesses, brincadeiras infantis, bandas de música etc. Para tanto, as diretorias dos Comitês Democráticos deveriam ―efetuar um amplo trabalho de finanças entre os moradores dos bairros, adquirindo brinquedos e utensílios para serem distribuídos entre as crianças e os velhos pobres‖. Desse modo, através d‘O Momento, os Comitês Populares de Salvador dirigiram um apelo aos moradores dos bairros da capital solicitando a sua adesão à iniciativa tomada por aquelas entidades, no sentido de realizar as festas do ―Natal dos meninos e velhos pobres‖, por meio do oferecimento de presentes e utensílios aos mais necessitados.

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O Imparcial, 05 de junho de 1945. 340

Segundo o jornal, as autoridades também seriam procuradas a fim de prestar o seu apoio e a sua colaboração.341

Dificilmente seria possível contar com a ajuda das autoridades para empreendimentos de indivíduos ligados ao PCB. Então, a respeito da Campanha Pró- Imprensa Popular, João Falcão levantou um questionamento pertinente:

como buscar esses recursos no seio de uma população pobre e carente de tudo? Tivemos que apelar para o sacrifício: um dia de salário dos trabalhadores era a cota mínima. Além disso, lançamos à venda cheques Pró-Imprensa Popular, de valores de 10 a 100 cruzeiros. Estimulamos as finanças de massas, como rifas e festas beneficentes, assim como os donativos pessoais de valores e bens, como jóias, alianças e outros objetos.342

Portanto, embora fosse problemático solicitar ajuda financeira a uma população tão desfavorecida economicamente, o recolhimento de donativos e dinheiro junto aos moradores dos bairros pareceu ser a alternativa mais viável, tendo em vista a concretização dos planos dos comunistas para as suas organizações de massa, como os Comitês Populares Democráticos.