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2.4. Acordos Prévios sobre Preços de Transferência

2.4.4. Common Consolidated Corporate Tax Base – A Alternativa

A 16 de março de 2011, após 10 anos de apresentação e discussão de vários documentos acerca de uma base comum europeia de tributação das sociedades, foi

Duarte Metrogos | Évora 2013 31

finalmente adotada, pela Comunidade Europeia, uma proposta de Diretiva para a criação de um regime comum de cálculo da base tributável para empresas da União Europeia designado por Common Consolidated Corporate Tax Base (CCCTB).

A par do regime de preços de transferência, a CCCTB é outro dos principais temas fiscais da atualidade. Este sistema é considerado por muitos [Matei e Pîrvu (2011), Price (2011), Barry (2008)] como uma alternativa ao regime dos preços de transferência e aos próprios APPT uma vez que, idealmente, eliminaria a necessidade de utilização de preços de transferência, pondo um fim a toda a problemática existente em torno do tema.

A aprovação desta diretiva possibilitaria, através da aplicação de um conjunto comum de regras fiscais, a consolidação dos lucros tributáveis de um conjunto de sociedades pertencentes a um mesmo grupo empresarial de forma a apurar a sua matéria coletável global. Por outras palavras, o grupo veria o seu resultado apurado na globalidade (incluindo os lucros e prejuízos de todas as empresas que o compõem, localizadas em diferentes Estados-Membros) e teria que apresentar apenas uma declaração de imposto junto da autoridade tributária do Estado-membro onde estivesse sediado (sistema One Stop Shop). Deixaria assim de estar sujeito a vários regimes fiscais e à apresentação de uma declaração fiscal por cada Estado-membro em que estivesse presente. O lucro tributável apurado seria, posteriormente, imputado aos restantes Estados-membros de acordo com uma fórmula específica de repartição. À parcela imputada a cada Estado-Membro seria depois aplicada a taxa de imposto que fosse definida, de forma independente, pelo sistema fiscal do mesmo; ou seja, o sistema CCCTB não teria influência no diz respeito ao nível de tributação.

Em suma, a CCCTB tratar-se-ia de um sistema de apuramento da matéria coletável que estabelece regras comuns para o cálculo e consolidação da mesma e para a sua repartição por cada Estado-membro (Cid, 2012).

A adoção deste sistema de tributação visa, fundamentalmente:

- Simplificar os procedimentos e regras associados ao cumprimento das obrigações fiscais impostas aos grupos multinacionais que desenvolvem atividade na

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União Europeia, reduzindo os custos administrativos associados às mesmas, bem como a dupla tributação de lucros e dividendos;

- Reduzir, ou mesmo eliminar a relevância dos procedimentos de definição de preços de transferência entre as empresas associadas que o adotem; e

- Possibilitar a compensação transfronteiriça de prejuízos apurados dentro do grupo tributado de acordo com a CCCTB (colmatando os prejuízos com os lucros obtidos pelas diferentes empresas que constituem o grupo a nível internacional).

Não é um objetivo da CCCTB reduzir o atual nível de tributação uma vez que, tal como foi referido anteriormente, a mesma influencia a definição da base tributável e não as taxas aplicadas na tributação dos resultados, podendo os Estados-membros, de forma independente, definir os níveis de tributação aplicados à matéria coletável apurada.

A aplicação do sistema CCCTB seria opcional, partindo de cada Estado-membro a decisão de disponibilizá-lo aos grupos multinacionais ou não. Também a adoção por parte das empresas seria facultativa, não sendo estas obrigadas a aplicá-lo.

Importa referir que uma empresa pertencente a um grupo multinacional não poderia adotar o sistema individualmente mas apenas em conjunto com as restantes empresas do grupo. Da mesma forma, se um grupo optasse pela adoção da CCCTB não seria possível excluir qualquer empresa pertencente ao mesmo.

Neste contexto, uma empresa seria elegível para consolidação quando a empresa-mãe exercesse, direta ou indiretamente, mais de 50% dos direitos de voto na mesma e, simultaneamente, detivesse mais de 75% do capital ou tivesse direito a mais

de 75% dos seus lucros.

Tomada a decisão de aplicar a CCCTB esta opção manter-se-ia válida durante 5 anos e renovaria automaticamente por períodos sucessivos de 3 anos a não ser que instruções contrárias fossem dadas pelo contribuinte.

Duarte Metrogos | Évora 2013 33

Tal como já foi referido este regime assentaria no conceito de One Stop Shop, que implica uma única declaração fiscal e uma única Autoridade Fiscal Principal. Cid (2012) enuncia as principais características inerentes a este conceito:

- Todas as obrigações fiscais estão centralizadas no contribuinte principal; - Todos os avisos abrangem a totalidade do grupo;

- A Autoridade Fiscal Principal coordena todos os assuntos administrativos junto das restantes autoridades fiscais;

- Existe um conjunto de regras único;

- Existe compensação de prejuízos fiscais entre os membros do grupo e entre o Estado-membro automaticamente.

Tal como foi referido anteriormente, após o apuramento da matéria coletável do grupo multinacional há que atribuir a cada Estado-membro a sua quota-parte da mesma. Para tal a Comissão Europeia propõe uma fórmula de repartição do lucro tributável baseada em 3 fatores: ativos, trabalho e vendas.

Sabendo que cada um destes fatores tem o mesmo peso, e que o fator trabalho se divide em “salários” e “número de empregados”, a fórmula proposta pela CE pode ser representada da seguinte forma:

{ MCC

i – respeitante a uma sociedade i G – respeitante à totalidade do grupo MCC – Matéria Coletável Consolidada

Conclui-se assim o capítulo de contextualização teórica. Apresentados os conceitos, processos e regulamentações essenciais à compreensão do tema estão reunidas agora as condições necessárias para passar ao capítulo de revisão de literatura.

Duarte Metrogos | Évora 2013 34

III – REVISÃO DE LITERATURA

Este capítulo é o resultado da investigação e análise bibliográfica realizada de forma a perceber quem já escreveu sobre o tema (e o quê) e quais os aspetos já abordados, identificar a área sobre a qual este estudo deveria recair (APPT) e apresentar o contexto no qual se insere (iniciando-se na exposição da problemática dos preços de transferência e concluindo-se com uma referência a uma alternativa a estes acordos).

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