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2.4. Acordos Prévios sobre Preços de Transferência

2.4.2. Fases de Desenvolvimento do Processo

Através da interpretação do Capítulo II da Portaria 620-A/2008, Breia (2009) divide o processo de celebração de APPT em 3 fases:

- Fase preliminar;

- Fase de apresentação, análise e negociação do APPT proposto; - Fase de conclusão do acordo.

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Com base no artigo publicado pela autora em 2009 e na referida Portaria procede-se, de seguida, à exposição de cada uma dessas fases.

2.4.2.1. Fase Preliminar

De acordo com o art.º 4º da Portaria, o sujeito passivo pode solicitar uma avaliação preliminar dos termos e condições em que um acordo pode ser celebrado. Esta solicitação deve ser dirigida ao dirigente da Direção de Serviços de Inspeção Tributária e incluir os seguintes elementos (n.º 3 do supracitado artigo): caracterização da atividade exercida e das operações vinculadas que pretende incluir no APPT; identificação das entidades relacionadas intervenientes e uma descrição da proposta de metodologia que pretende apresentar, bem como outras informações ou documentação que lhe seja solicitada.

Os objetivos da fase de preliminar (n.º 2 do art.º 4º) são: analisar a política de preços de transferência do sujeito passivo; avaliar se o APPT é a melhor solução tendo em conta os factos e circunstâncias concretas que afetam as operações realizadas pela entidade em questão; definir o âmbito das informações e da documentação que devem ser anexas à proposta de acordo e estabelecer a data mais provável de celebração do mesmo; identificar as especificidades inerentes à negociação com autoridades fiscais estrangeiras, no que respeita a acordos bilaterais ou multilaterais.

Dependendo especificamente do caso em análise, a fase preliminar pode envolver reuniões entre o sujeito passivo e as autoridades fiscais portuguesas e uma avaliação da documentação apresentada pelo sujeito passivo (n.º 4 do artigo). Decorridos 60 dias após a apresentação do pedido de avaliação preliminar, sem que exista uma resposta formal das autoridades fiscais portuguesas, o sujeito passivo pode passar à próxima fase do processo e apresentar uma proposta de acordo (n.º 5 do artigo).

2.4.2.2. Apresentação, Análise e Negociação da proposta de APPT

De acordo com o n.º 2 do art.º 5º da Portaria 620-A/2008, a proposta deverá ser apresentada, pelo menos, 180 dias antes do início do primeiro exercício fiscal abrangido pelo acordo. Durante o período de apresentação da proposta deverão ser apresentados

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certos elementos (n.º 1 do art.º 6 da Portaria). Estes elementos encontram-se descritos detalhadamente no anexo I da Portaria dos APPT e a documentação que os deve acompanhar encontra-se listada no anexo II da mesma. Se for necessário, as autoridades fiscais podem solicitar a tradução dos documentos escritos em língua estrangeira para português.

Tal como estipulado no n.º 6 do já referido art.º 5º, após a receção da proposta, as autoridades fiscais portuguesas têm 60 dias para comunicar a deliberação da mesma, existindo três resultados possíveis: solicitar a prestação de informações adicionais, aceitar a proposta ou rejeitar a proposta.

Na fase de avaliação da proposta, o sujeito passivo deve garantir à DGCI o acesso a toda a documentação que permita compreender a política de preços de transferência adotada, disponibilizar o acesso às bases de dados que serviram de suporte aos estudos dos elementos comparáveis apresentados e disponibilizar qualquer documento necessário para o esclarecimento de qualquer dúvida suscitada ao longo do procedimento (n.º 1 do art.º 8º da Portaria dos APPT).

Em caso de acordo bilateral ou multilateral, os sujeitos passivos devem fornecer à DGCI os mesmos documentos e informações que as outras partes intervenientes nas operações entregam às administrações fiscais dos restantes Estados envolvidos (n.º 3 do art.º 8º). Um acordo prévio bilateral ou multilateral só pode ser iniciado quando as autoridades competentes desses Estados tenham aceitado avançar com o mesmo. Neste caso, de acordo com o n.º 1 do art.º 9º da Portaria, deve ser entregue pelo sujeito passivo, à Direção dos Serviços das Relações Internacionais, cópia de toda a documentação relevante para que esta transmita a informação às autoridades competentes do(s) outro(s) Estado(s) envolvidos e dê início à discussão e ao exame conjunto no quadro do procedimento amigável.

Se, no final do processo de consulta à autoridade competente do país homólogo, esta concluir que não está em condições de avançar com o APPT, o procedimento amigável é encerrado, sendo o sujeito passivo informado pela DGCI da decisão tomada. Disporá, então, de 60 dias para solicitar a convolação, como proposta de acordo prévio unilateral (n.º 2 do art.º 9º).

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De acordo com o art.º 10º da Portaria, o processo de avaliação do pedido deve ser concluído num período máximo de 180 dias, no caso de acordos unilaterais, e 360 dias no caso de acordos bilaterais ou multilaterais, contados a partir da data de aceitação formal da proposta pela DGCI. Para os prazos indicados não contam os atrasos imputáveis ao sujeito passivo nas respostas aos pedidos de documentação.

No caso de rejeição do APPT, o sujeito passivo deve ser informado sobre as razões dessa decisão.

2.4.2.3. Conclusão do Acordo

Esta fase implica a formalização em contrato de todos os aspetos acordados, contendo (entre outros): a descrição dos pressupostos críticos; a descrição do método de preços de transferência acordado; os factos que determinem a revisão do acordo e a sua resolução; e o prazo de vigência do acordo (Breia, 2009).

A regulamentação prevê expressamente que o conteúdo do APPT seja tratado pelas autoridades fiscais portuguesas de modo confidencial (n.º 3 do art.º 11º da Portaria).

Note-se que a Autoridade Tributária pode declarar a resolução do acordo nos casos de fornecimento de dados erróneos, omissão, dissimulação ou viciação de informação relevante e declarações falsas imputáveis ao sujeito passivo e de incumprimento dos termos e condições estabelecidas no acordo e demais obrigações dele derivadas (art.º 12º da Portaria).

De acordo com o art.º 13º da Portaria, poderão ser levadas a cabo, pontualmente, pela administração fiscal, auditorias específicas destinadas a:

a) Verificar o cumprimento dos termos e condições do acordo;

b) Confirmar os dados e informações constantes dos relatórios anuais;

c) Validar a manutenção das circunstâncias económicas e as hipóteses críticas em que assenta a metodologia acordada;

d) Avaliar os cálculos e consistência da aplicação do método ou métodos estabelecidos no acordo.

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De referir ainda que qualquer uma das partes pode solicitar a revisão do acordo caso ocorra algum evento que altere substancialmente as circunstâncias em que as mesmas fundaram a aceitação da metodologia para a determinação dos preços de transferência (art.º 14º da Portaria).

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