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2.5. A Origem dos ENVC

2.5.3. Como é Construído um Navio

A construção de um navio envolve muita complexidade e até o navio ser entregue existem muitos processos pelos quais a empresa construtora e o navio têm de passar. Unem-se esforços, aplicam-se conhecimentos e aliam-se matérias para que o produto final seja o melhor possível.

A primeira fase é a etapa técnico-comercial onde primeiramente se realiza o contrato entre o construtor e o cliente. “(…) gera-se uma consulta à qual é dada o devido

seguimento, podendo estimar em cerca de cem o número de consultas que dá lugar a uma fase adiantada de negociações, o que diz bem da dificuldade de chegar à celebração de contratos.” (Lima: 1996: 14). Até o contrato ser feito o orçamento tem

de ser então discutido, o rigor nesta fase é muito relativo e os construtores baseiam- se também nas cotações internacionais. É necessário também ter em conta a concorrência, e não sendo abundante o trabalho na área da construção naval leva a

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que as empresas tentem vencer baixando os preços em relação aos seus concorrentes e baixando até os custos.

Finalmente e atingidos os interesses do cliente acontece então a negociação final que passa por decidir preços, prazos, condições de pagamento e a definição completa do navio. Após apurados todos estes elementos passa-se então à elaboração do Projeto Básico. Este consiste no melhoramento das características determinadas por alto anteriormente e na introdução de múltiplas outras informações técnicas que irão permitir no futuro o desenvolvimento do projeto. Dá-se então um ajustamento do preço após estes melhoramentos e só assim o contrato comercial está completo. Na segunda fase é quando acontece o desenvolvimento do projeto. É preciso realizar algumas tarefas burocráticas com o Armador, com as Sociedades Classificadoras e com alguns departamentos de autoridades diversas, nacionais e estrangeiras. Serão assim validados os sistemas, desenhos, materiais, equipamentos e processos que serão introduzidos no navio. Os documentos que formam o Projeto Básico são os da secção mestra, o plano geral de ferros e a planificação do costado. Depois de dividido o navio em blocos a equipa de trabalho destinada ao casco do navio deverá escolher os aços e fazer os desenhos de construção dos blocos. Estes desenhos incluem todos os outros pormenores como portas de visita, escadas, escotilhas, mastros, revestimentos, planos de janelas, planos de faróis, etc.

Após se definir o Projeto Básico / Memória Descritiva dos equipamentos principais do navio é necessário realizar desenhos esquemáticos da disposição dos mesmos e principalmente dos encanamentos do navio. Para dar início à obra é primeiro preciso que os desenhos sejam aprovados pela Sociedade de Classificação. De seguida os equipamentos secundários, acessórios e componentes, que fazem parte do Projeto de Máquinas, são escolhidos, mas apenas com a aprovação dos desenhos anteriores. É agora que a equipa responsável pelo Projeto e pela Preparação do Aprestamento Elétrico realiza os documentos que irão conter todas as instalações, alimentações e instrumentos necessários ao funcionamento correto dos sistemas. “Faz parte das

tarefas deste grupo a importantíssima determinação dos caminhos que hão de seguir todos os cabos utilizados no navio por fora a racionalizar e rentabilizar os gastos, bem como a conceção e descrição dos acessórios utilizados para o efeito.” (Lima:

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1996: 22). Estabelecem também a localização dos equipamentos na ponte de comando e especificam todos os materiais que irão ser usados na instalação elétrica do navio. Na terceira fase, a de planeamento será preciso planear o tempo que cada tarefa deverá demorar de maneira a que exista uma boa gestão da construção. Com os marcos da construção definidos é criado um plano mais minucioso das várias etapas que como refere Lima9 (1996), correspondem à fabricação dos componentes, à pré-montagem dos blocos e do pré-aprestamento possível, à instalação na doca ou plataforma, à continuidade do aprestamento, acabamentos, provas e entrega. As funções de aprovisionamento, armazenamento, avistamento e gestão de stocks começam então a ser essenciais para a construção. É preciso que os produtos obtidos satisfaçam os requisitos e estejam disponíveis a tempo.

Passando à quarta fase, nesta dá-se o processamento do aço que consiste na sua obtenção e tratamento. Este tratamento era antigamente feito manualmente, mas com o passar dos anos o aço passou a ser adquirido já com a decapagem e a proteção com o primário feita. Este aço é então enviado para o corte e preparado para a criação de perfis, que são a sucessão de chapas com as suas juntas soldadas. Dá-se então forma às chapas para o costado e outras partes curvas do navio e a isto chama-se Caldeiraria Pesada. A fabricação de partes que interligam elementos curvos e partes que irão ser instaladas nos blocos estão inseridos na Caldeiraria Pesada. Já na Caldeiraria Ligeira consiste na criação de acessórios para o casco tais como escadas, escotilhões, vigias, etc.

Quando se chega à quinta fase começa-se a constituir os blocos para o navio. Depois de constituídos passa-se à instalação dos mesmos e além de se unirem os blocos, acrescentam-se outros elementos estruturais de ligação. “A instalação considera-se

concluída (ou quase) quando o navio se encontra capaz de flutuar – ou para transitar para a bacia, já com o leme e a hélice, ou para estacionar na doca sem hélice e leme (…)” (Lima: 1996: 46). No decorrer da instalação as máquinas de maior peso e

importância para o funcionamento do navio também são colocadas. É nesta fase que a soldadura tem um papel importantíssimo.

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Chegando à sexta e última fase temos o aprestamento e acabamento. É agora que tudo é montado nos seus lugares, máquinas, equipamentos e acessórios definidos anteriormente no Projeto. A Casa da Máquina é a zona de maior complexidade e concentração de aprestamento. Passando à eletricidade e eletrónica, o navio é aparelhado de todo o tipo de acessórios destinados à comunicação e navegação. Também é feita nesta fase a instalação da iluminação e dos componentes elétricos de acionamento e controlo de sistemas mecânicos. Após a montagem e ligação dos cabos e dos encanamentos são feitos vários testes para validar se o trabalho foi bem executado. É nesta altura que são colocados todos os revestimentos de forma a criar as condições de conforto, e colocados todos os mobiliários e artigos de decoração. Finalmente a pintura que tem vindo desde o início da construção do navio a ser acompanhada é agora acabada.

2.6. Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo e a Sociedade

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