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COMO A CONVENÇÃO DEFINE O ESPAÇO FÍSICO DA ESCOLA

ENSINO MÉDIO BRASILEIRO Michaell Magnos Chaves de Oliveira

COMO A CONVENÇÃO DEFINE O ESPAÇO FÍSICO DA ESCOLA

Outro destaque da Convenção que diz respeito às escolas de Ensino Médio é quanto à necessidade urgente de acessibilidade do ambiente

escolar, tema também tratado pela Constituição Federal que, quanto ao direito ao acesso, informa:

Art. 244. A lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existente a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme disposto no art. 227, § 2º. (BRASIL, 2004, p.135).

A eliminação das barreiras arquitetônicas é uma condição fundamental para a consolidação da inclusão na sociedade. Assim, é necessário assegurar adequadamente o acesso - o direito de ir e vir. Assim se confirma um passo importante para a conscientização e para o alcance dos demais direitos. Luciana Toledo Távora Niess e Pedro Henrique Távora Niess esclarecem:

As barreiras que impedem ou limitam essa utilização, e que devem ser afastadas encontram-se nas vias públicas e nos espaços de uso público (barreiras arquitetônicas, urbanísticas), no interior dos edifícios (barreiras arquitetônicas na edificação), nos veículos de transporte de pessoas (barreiras arquitetônicas nos transportes), na transmissão de mensagens através dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa (barreiras nas comunicações). (NIESS; NIESS, 2003, p. 95).

Destaque-se também que a jurisprudência dos nossos tribunais tem se manifestado de maneira progressista em relação ao tema, por entender que o acesso deve ser provido também em espaços privados e que não é obrigação apenas dos entes públicos, fundamentando-se nos princípios de igualdade, livre locomoção, função social da propriedade, razoabilidade etc. Exemplo disso é o voto do juiz Renato Lima Charnaux Sertã, relator do recurso de apelação nº 993518-4, da 1ª turma Recursal Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que exara a seguinte ementa:

VOTO DO RELATOR: CONDOMÍNIO – DIREITO DE IR E VIR – OBRAS PARA PROVER O ACESSO À PESSOA COM DIFICULDADE DE LOCOMOÇÃO – OBRIGATORIEDADE – INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 3º E 10, INCISO IV DA LEI 4.591/64 – INTERPRETAÇÃO CONSENTÂNEA COM O ESPÍRITO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, EM SEUS ARTIGOS 5º, INCISOS I, XV E XXIII, 227, PARÁGRAFO 2º, E 244, “CAPUT” - CRITÉRIO DA RAZOABILIDADE – RESGATE DA CIDADANIA – SENTENÇA QUE SE REFORMA – HONORÁRIOS DE 10% SOBRE O VALOR DA CAUSA, PELO RECORRENTE VENCIDO (QUARESMA, 2001, p.13).

Há, realmente, um avanço no entendimento de que o acesso é um direito fundamental do ser humano, que não deve existir ou permear somente nos espaços públicos, mas em todos os espaços de uso coletivo de que se possam fazer uso.

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT - acessível é “o espaço, edificação, mobiliário ou elemento que possa ser alcançado, visitado e utilizado por qualquer pessoa, inclusive aquelas com deficiência” (ABNT NBR 9050, 2004, p. 10). O termo “acessível” tanto implica acessibilidade física quanto de comunicação. Com essa concepção de espaço acessível, sabe-se que as modificações empreendidas nos espaços educacionais de ensino médio, com o objetivo de promover as adaptações para as pessoas com deficiência, na maioria das vezes, são pontuais, originadas após solicitação para atendimento a determinados alunos.

Nesse sentido, é interesse da Convenção conceber ambientes de forma mais abrangente e menos restritiva, ou seja, com atenção à diversidade das pessoas, suas necessidades e possibilidades físicas e sensoriais. É o reconhecimento das diferenças de habilidade entre os indivíduos e das modificações pelas quais passa o nosso próprio corpo durante a vida. Desse modo, visando garantir o atendimento de todos e com respaldo nos princípios acima destacados, a Convenção sugere que ocorram mudanças no espaço físico que favoreçam sobremaneira o acesso de todos aos espaços da instituição.

A aceitação dessa modificação aponta para um projeto mais responsável e compromissado. Ao reconhecer a diversidade das pessoas, cabe-nos trabalhar os ambientes de forma a atender a uma gama cada

vez maior de usuários. As vantagens dos ambientes livres de barreiras beneficiam 100% dos usuários, e não, apenas, determinado segmento.

O planejamento de forma mais abrangente e menos restritiva serve como parâmetro de acessibilidade do usuário que necessita de mais atenção a cada item a ser estudado no projeto. Assim, através do somatório das exigências pensadas para cada um - como um piso antiderrapante, um corrimão, um vão adequado para a cadeira de rodas, uma programação visual explícita que atenda ao deficiente auditivo – beneficia-se o todo.

No ambiente educacional do Ensino Médio, em especial, um meio físico acessível pode ser extremamente libertador e transformar a possibilidade de integração entre os estudantes e o seu desempenho. Os ambientes inacessíveis são fatores preponderantes na dificuldade de inclusão na educação para as pessoas com deficiência e podem determinar que alguns sejam excluídos, também, do mercado de trabalho. O meio pode reforçar uma deficiência e valorizar um impedimento ou torná-la sem importância naquele contexto. Assim, isso pode nos tornar mais eficientes, hábeis ou independentes.

Ao se receberem os alunos com barreiras que impedem que alguns tenham o simples acesso à sala de aula, ao computador ou ao banheiro, com autonomia, está-se instaurado um poderoso fator de exclusão social e não haverá inclusão de fato baseada unicamente na dedicação e na boa vontade de professores e de funcionários, que se desdobram para que ela aconteça. É preciso que a infraestrutura da instituição seja coerente com os princípios de inclusão e espelhe o respeito a esses alunos, através do cuidado com instalações aptas a recebê-los sem restrições, em um ambiente atento às suas diferenças.

Ao se deflagrar o processo de acessibilidade no espaço físico das escolas de Ensino Médio, deve-se buscar o princípio do Desenho Universal, ou seja: projetar-se pensando em todos os usuários, respeitando-se as diferenças entre as pessoas. É sobre esse conceito, de uma arquitetura mais abrangente e menos restritiva, que se norteia o projeto de acessibilidade, de construção de passarelas, inserindo soluções às vezes de caráter universal - como as rampas nas travessias, que servem a quem transporta carga ou a pessoas com dificuldade de locomoção – e, às vezes, adotam-se soluções especiais, como o código de diferenciação de piso, através de texturas, para orientar deficientes visuais.