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A LÍNGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: ETAPAS E PROCEDIMENTOS DE UMA INVESTIGAÇÃO NO ENSINO MÉDIO

A ENTRADA NA ESCOLA

Em julho de 2006, no semestre anterior ao início desta pesquisa, procuramos a direção para informar sobre o nosso interesse em conhecer um pouco mais da realidade da escola, especificamente o modo como a disciplina Língua Portuguesa é trabalhada em sala de aula. Como a direção, a equipe pedagógica e os professores de português, principalmente os do turno vespertino, já conheciam o trabalho que desenvolvíamos nas práticas de ensino com os alunos do Curso de Letras da Universidade Potiguar – UnP – e a execução das ações do projeto de extensão Cais da Leitura, também desse curso. Não sentimos nenhuma dificuldade, mesmo que informalmente52, de

colher informações preliminares que subsidiariam o nosso projeto para a seleção do Doutorado, no Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem – PPgEL.

Assim, com a devida autorização da direção da escola e o consentimento da professora de português responsável pelas turmas, concentramos a investigação em duas salas da 2ª série (09 e 10) do turno vespertino, nos meses de agosto e setembro deste ano. É

52 Essa informalidade se justifica pelo fato de não termos respaldo da UFRN para o desenvolvimento da investigação, pois ainda não éramos aluna regular do PPgEL.

importante registrar que a escolha por essa série deu-se pelo fato de essa ser uma etapa em que se pode atribuir uma consolidação do ensino médio. Acreditamos que essa consolidação ocorre porque o aluno já está adaptado às novas disciplinas, como Física, Química e Biologia, à inserção de assuntos voltados para a teoria e a história da literatura brasileira e para o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental. Acrescentamos que, em se tratando de uma escola que só oferece o ensino médio, a 2ª série pode ser caracterizada como a fase em que o aluno está integralmente inserido na cultura escolar, na medida em que infraestrutura, equipe pedagógica, práticas docentes e colegas de sala de aula já fazem parte de sua vivência nesse ambiente escolar por mais de um ano.

Como o nosso propósito, na ocasião, era apenas de colher uma pequena amostragem de como a articulação língua e uso é trabalhada em sala de aula, assistimos a cinco aulas da disciplina Língua Portuguesa, que relatamos em um jornal de campo. Em 2007, tivemos a aprovação do projeto e, a partir daí, iniciamos a implantação da pesquisa com a entrada em campo, conforme um programa metodológico de coleta de informações.

Durante duas semanas, reunimo-nos com a professora para planejar a nossa coleta de informações, discutir sobre que aulas seriam pertinentes à nossa investigação e em quais turmas essas aulas ocorriam em dois horários consecutivos. A nossa opção por tais horários deve-se ao fato de que teríamos mais tempo com os alunos em sala de aula, o que nos proporcionaria mais interação no decorrer da aula. Além disso, procuramos conhecer detalhadamente os espaços da escola por onde conviveríamos nesse processo de investigação, como as duas salas de aula objeto de investigação, a biblioteca, a sala de professores e a telessala.

Após a escolha das turmas, pedimos à professora que nos falasse mais sobre o perfil dos alunos dessas turmas e lhes comunicasse a nossa entrada, a fim de que pudéssemos ter um acesso o mais natural possível, pois, de acordo com Hargreaves (1967, p. 193), estar bem informado sobre o ambiente onde se desenvolverá a investigação “[...] permite uma entrada fácil na situação social, reduzindo a resistência dos membros do grupo e apresenta menos riscos de perturbar a situação ‘natural’”.

porque percebemos, no primeiro dia da entrada em sala de aula, que a nossa presença era considerada como a de alguém que estava ali para integrar-se à turma. Salientamos que a nossa presença só era até então conhecida por uma das turmas. Veja-se o relato nos fragmentos a seguir do jornal de campo53:

(JC-A1)54

Sala 11. Hoje, 30/04/2007, assisti a duas aulas nessa sala com a professora, das 13h às 14h40. Assim que entrei, a professora me apresentou. Disse aos alunos que eu estava observando as suas aulas, pois estava recolhendo dados para minha pesquisa do doutorado. Verifiquei que os alunos já haviam sido comunicados da minha presença.

(JC-A2)

Hoje, 07/05/2007, assisti a duas aulas na sala 12 com a professora, das 16h às 17h25. Como ainda não tinha sido apresentada na turma pela professora, ela me pediu que eu mesma me apresentasse. Para isso, informei à turma que estava ali também como aluna e que gostaria que eles ficassem à vontade, pois durante todo ano, iríamos conviver juntos.

Como se pode verificar, apesar de a nossa presença ter sido comunicada pela professora apenas em uma turma, tivemos, nas duas salas, uma boa aceitação por todos os seus membros, o que nos fez reforçar o nosso compromisso de estar ali como se fôssemos um deles: uma aluna também, embora executando atividades de pesquisa, isto é, uma “aluna-pesquisadora”. Nesse reforço, enfatizamos, ainda, que poderíamos ter uma denominação maior - “professora-aluna- pesquisadora” - pois muitos alunos haviam participado dos projetos desenvolvidos pela universidade onde atuamos como professora.

Esses encaminhamentos foram muito importantes para a entrada e a permanência na cultura escolar, principalmente a da sala de aula, na medida em que procuramos, logo no primeiro encontro, falar abertamente com os alunos, mostrando-lhes quais seriam os nossos propósitos e que tarefas iríamos desenvolver para a concretização

53 Relatos transcritos durante o período de observação da aula de português em duas turmas da 2a série de uma escola pública de ensino médio.

desses propósitos. Por isso, as reuniões com a direção e toda sua equipe, o registro das aulas, a coleta de informações, a entrevista com a professora e a aplicação dos questionários para os alunos transcorreram de uma forma tão natural que, em muitas situações, deparávamos com cenas inusitadas, como, por exemplo, escolher cores de batom com as meninas para ver se combinava com a nossa pele, falar de futebol com os meninos ou até mesmo sentarmos para resolver questões relacionadas a outros conteúdos que não eram o de língua portuguesa.

ABORDAGENS DA PESQUISA NA ESCOLA, ETAPAS E PROCEDIMENTOS