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COMO DESCOLONIZAR? INTEGRAÇÃO OU AUTODETERMINAÇÃO

1 A PLURALIDADE DA IDENTIDADE ÉTNICO-CULTURAL DO POVO

2.5 COMO DESCOLONIZAR? INTEGRAÇÃO OU AUTODETERMINAÇÃO

AUTODETERMINAÇÃO VERSUS INDEPENDÊNCIA?

A convicção arreigada de que o timorense era vítima da política colonial da Administração Portuguesa, aliada ao grande desejo de uma rápida promoção social e política fez emergir o processo de descolonização de Timor-Leste, ao qual nunca foi alheia a adesão de numerosos ex-alunos das Missões Católicas e muitos ex-seminaristas que aspiravam chegar a postos importantes no plano político-social, caso fossem independentes.

Como já referido, a Igreja Católica em Timor-Leste era uma força poderosa e respeitada entre os timorenses, incluindo aqueles que não professavam a sua fé.

Aos indecisos, igualmente formados pelas Missões Católicas, aos quais não seduzia a ideia de independência, vislumbravam contudo, a oportunidade única de uma ambiciosa autonomia, embora sob a égide de Portugal. Uma autonomia que lhes trouxesse acrescidas vantagens sociais, políticas e culturais.

A necessidade de contar com este pessoal pôde conduzir a uma solução de tipo neocolonialista que talvez fosse considerada como um êxito da política educacional portuguesa de então, mas que certamente pouco contribuiria para melhorar a situação dos timorenses. De resto, este era o pensamento que vinha sendo dominante na política colonial portuguesa, já aqui referido e preconizado por Norton de Matos, quando pretendia trazer para a Metrópole crianças nativas de África para ali serem educadas e instruídas e posteriormente voltarem à origem com o fim especial de preservarem a herança colonial portuguesa.

Porém, e em oposição a estas duas teses, (independência e autodeterminação) havia a daqueles poucos timorenses, também eles provenientes das missões, que viam na integração de Timor-Leste na República da Indonésia mais vantagens para o seu povo do que as oferecidas pela Administração Portuguesa.

Estas posições políticas materializaram-se nos Partidos políticos timorenses emergentes no pós 25 de Abril de 1974, nos quais tomaram logo assento os vários ex-seminaristas, catequistas e professores-catequistas. Assim na FRETILIN pode-se ver entre outros,

José Ramos-Horta, Francisco Xavier do Amaral, os irmãos Nicolau e Rogério Lobato, Abílio Araújo, José Luís Guterres, etc. na UDT, Francisco Lopes da Cruz, Domingos de Oliveira, etc., bem como outros timorenses que integraram outros partidos.

Não obstante o surgimento em Timor-Leste, destas forças políticas, no pós 25 de Abril de 1974, a exaltação de valores pátrios e de apego ao portuguesismo e lealdade, por parte dos timorenses, continuou firme. A própria UDT, partido com maior implementação no território, em 1974, declara no seu ideário político a intenção de manter laços com Portugal, defendendo uma autonomia progressiva com vista à independência, a ser monitorizada por Portugal por um período de 10 anos.

Também em Janeiro de 1975, FRETILIN e UDT resolvem unir-se, não obstante as suas divergências quanto à questão da independência do País, exigindo a formação dum governo de transição formado por elementos dos dois partidos, sendo Portugal o único interlocutor admitido no processo de descolonização. É claro que tal atitude surgiu como reacção daquelas forças às declarações do general indonésio Ali Murtopo quando em Outubro de 1974, após visita a Portugal para contacto com altos dignitários da Nação, declarou que, como resultado desses encontros, tivera o acordo dos Portugueses que a independência não seria uma opção a considerar para Timor-Leste57.

É claro que, como não houve relato escrito de tais encontros torna-se impossível apurar a veracidade das afirmações do general indonésio.

Também o mesmo amor dos timorenses a Portugal levou o então ministro português da Coordenação Interterritorial, Almeida Santos, em Outubro de 1974, após o seu regresso de uma visita àquele território, a afirmar em conferência de imprensa, em relação à gente de Timor, “ser outra coisa que não seja ser portuguesa ela não admite de maneira nenhuma”58.

A confirmar o exaltado patriotismo dos timorenses à causa portuguesa, refira-se que após a invasão de Timor-Leste pelas forças indonésias, nalgumas regiões, se lutava,

57

JOLLIFFE, J., op cit. pág. 40.

58

entre 1976 e 1978, contra o invasor, sob a bandeira de Portugal, caso da região de Kelicai, como refere Jorge Duarte, na obra referida na nota anterior.

A seguir à Revolução do 25 de Abril o Governo Português produziu vária legislação com vista à descolonização dos territórios ultramarinos, onde se reconhece o direito à autodeterminação para aqueles territórios, com todas as suas consequências, incluindo a aceitação da independência. É o que consagra o art. 2º. da Lei Nº 7/74, de 27 de Julho. Com efeito, a existência em Portugal, no pós 25 de Abril, de uma certa desorientação e a ambivalência de opiniões provenientes dos vários sectores da vida política portuguesa, levava a uma divisão de posições sobre o futuro estatuto do território.

As opiniões oscilavam entre a daqueles que advogavam a independência imediata; a dos que preconizavam, como forma de sobrevivência do país, a sua integração no território da Indonésia e, por fim, a dos defensores do direito internacional que viam Portugal como potência administrante do território não autónomo de Timor-Leste, com a obrigação de gerir o processo de descolonização através duma autodeterminação com vista à sua futura independência.

Todavia é verdade que a conjuntura político-internacional nos anos de 1980, não foi favorável a Portugal que contudo sempre reivindicou a sua responsabilidade de potência administrante. Foi sem dúvida mais devido a acções e campanhas de solidariedade e simpatia a favor do povo de Timor-Leste que se sensibilizou a juventude americana e o resto do mundo para esta causa e levou à aprovação em 1982, de Resoluções das Nações Unidas, todas elas exigindo a saída dos indonésios do território, bem como o respeito destes pelos direitos humanos do povo.

Também no mesmo ano de 1982, o então, primeiro-ministro de Portugal Pinto Balsemão discursou na Assembleia-Geral da ONU, defendendo o direito do povo de Timor-Leste à independência.

Com a adesão de Portugal, em 1986, à então Comunidade Económica Europeia (CEE), o governo português adquire outra visibilidade na explanação da sua política externa e preocupações com Timor-Leste, ganhando esta causa, a partir de agora, um palco com outra notoriedade.

Agora os apoios à acção diplomática portuguesa em instâncias internacionais como a Comunidade Económica Europeia, as Nações Unidas ou o Congresso dos EUA fortalecem a política externa portuguesa em relação a Timor-Leste, que em 24 de Janeiro de 1992, agenda negociações directas, sobre Timor-Leste, com a Indonésia, sob a égide da ONU.

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DA REVOLUÇÃO INDEPENDENTISTA À INDEPENDÊNCIA