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DA REGÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS À INDEPENDÊNCIA

5 O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA TIMORENSE COMO FACTOR DE

2.3 DA REGÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS À INDEPENDÊNCIA

Com a administração da UNTAET, foi aprovado o Regulamento 2000/9 da UNTAET, de 25 de Fevereiro de 2000, que criou o Serviço de Controlo de Fronteiras, (Border Control Service), para controlar o movimento de pessoas e de mercadorias nas fronteiras de Timor-Leste.

Estavam assim lançadas as bases dos novos Serviços Aduaneiros, que à semelhança do modelo anglófono, e também fortemente influenciado pelo padrão australiano juntava as competências dos Serviços de Emigração com as Alfândegas, numa só unidade.

Esta recém-criada estrutura fiscal baseou a sua acção quase exclusivamente na arrecadação de impostos indirectos, que é característica de um estado em desenvolvimento em situação de reconstrução da sua economia e do seu território.

Na verdade os direitos aduaneiros, enquanto imposições fiscais, destinam-se a fornecer receitas ao Estado e, enquanto direitos proteccionistas, a proteger a economia de Timor- Leste da concorrência indesejável. Nesta fase os objectivos da Alfândega ainda se

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Era voz do povo quando se referiam à célebre rubrica orçamental “702”, que esta significaria por algarismos o seguinte: o 7 (sete dias de trabalho), o 0 (nada para fazer) e o 2 (dois dias para descansar).

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baseavam na concretização do programa do Governo constitucional, tendo igualmente subjacente as linhas orientadoras definidas pela UNTAET, nomeadamente através do Regulamento 2000/18, da UNTAET, que cria as bases de um Serviço Aduaneiro.

Os direitos aduaneiros são cobrados em todos os países do mundo, não obstante, o Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio, designado abreviadamente de GATT, de 30 de Outubro de 1947, que fixou como objectivo de política comercial a supressão de todos os direitos aduaneiros.

O GATT era assim visto como um instrumento de ajuda ao desenvolvimento aos países pobres, cujo objectivo central era a liberalização do comércio mundial não só de matérias-primas, como de bens de equipamento (produtos manufacturados). Acrescente- se que teve vários ciclos de negociações, sendo o último, a Ronda de Uruguai, a mais longa, e que deu origem à OMC, em 1 de Janeiro de 1995, onde todos os acordos foram negociados na base do princípio do “single undertaking”, princípio este que é o oposto ao princípio da reciprocidade do GATT.

De 1947 a 1994 o GATT implementou regras de comércio mundial que tenderam para o desarmamento pautal e o estabelecimento das chamadas preferências pautais (numa perspectiva de reciprocidade). Período em que foram estabelecidos um conjunto de regras que vieram a constituir o chamado Sistema Comercial Multilateral (MTS), o qual foi-se tornando cada vez mais liberal à medida que decorriam as sucessivas rondas de negociações comerciais.

Esta Convenção incentivou o Comércio sem Discriminação, baseado fundamentalmente na aplicação da Cláusula da Nação Mais Favorecida, incluindo o tratamento nacional, ao abrigo do qual os Estados-membros são obrigados a conceder aos produtos dos outros Estados-membros este tratamento, de resto, já previsto no GATT.

Deste modo, e sempre que é dado a algum Estado o tratamento favorável, como por exemplo uma redução ou isenção de direitos aduaneiros, este tratamento deve ser extensivo a todos os outros membros do GATT/OMC.

Ao abrigo das regras da OMC, exige-se também que os Acordos de Comércio Regional estendam a liberalização das suas cláusulas a “substancialmente todo o comércio”.

Mas, a pretendida liberalização extensiva a “substancialmente todo o comércio” como pretende a OMC pode não ajudar o desenvolvimento dos países em desenvolvimento, mas antes provocar-lhes grandes desequilíbrios nas suas contas públicas, por eventualmente lhes poder potenciar um declínio acentuado de receitas.

Se é certo que taxas baixas não conduzem necessariamente a receitas mais baixas, sobretudo se houver uma compensação pelo crescimento das importações, também não é menos obvio que países pobres, sem capacidade negocial, não obstante imperar na OMC a regra -cada país um voto, consigam fazer uma real oposição a esta e outras medidas vinculativas de política comercial da OMC que escondem relações de poder desiguais.

Sob o domínio da UNTAET, o Border Control Service, também designado, Alfândegas de Timor, estava organizado em cinco departamentos, sendo um financeiro, um de pessoal, um jurídico, um de emigração e um de apoio administrativo e dispunha em todos eles de um número considerável de internacionais em missão de apoio das Nações Unidas, destacando-se destes numa primeira fase, uma forte componente australiana, que depois deu origem a uma segunda vaga de internacionais de nacionalidade norte-americana e, por último, a uma importante representação portuguesa, no âmbito da cooperação bilateral entre Portugal e Timor-Leste.

De notar que esta mescla de nacionalidades e seus cooperantes, que traziam consigo diferentes experiências e práticas administrativas, ao jeito das usadas nos respectivos países, nem sempre acrescentaram uma mais valia nos ensinamentos e boas práticas que os referidos internacionais pretendiam transmitir aos seus contrapartes, criando com frequência situações de confusão e de conflito de competências. Exemplo do exposto era o próprio Border Control Service ou Alfândegas de Timor, cuja operacionalidade ficava, muitas vezes, para aquém do pretendido, por existir um conflito latente de competências que nem sempre se encontravam harmonizadas entre os representantes das diferentes administrações em presença. Na verdade, embora se tente harmonizar e simplificar procedimentos aduaneiros, todavia nem sempre as atribuições cometidas às Alfândegas dos Estados Unidos, conferem com as que são exercidas pelas administrações aduaneiras australianas ou portuguesas. Daí a fonte de conflitos, não obstante, o muito empenho dos actores internacionais da ONU.

Não pode no entanto deixar de ser referido o carácter dual que a administração do território tinha nesta fase de transição, sendo a liderança da Administração claramente da UNTAET, o que por vezes fragilizava o poder decisório, sobretudo em momentos de agitação social .

Assim, de um lado tínhamos a Administração da UNTAET, dirigida pelo Administrador Transitório, enquanto Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unida, e do outro, a Administração Transitória de Timor-Leste, (ETTA), dirigida por um executivo de transição, composto quer por timorenses quer por peritos internacionais. Nesta fase a Administração mantinha um grau elevado de concentração, excepção feita aos Serviços Aduaneiros, que pela sua natureza marcavam presença em toda a malha administrativa do país, embora, é certo, dominadas por técnicos internacionais de várias nacionalidades e também, com diferentes experiências aduaneiras, que com frequência conflituavam uns com os outros, quando, no âmbito da assistência técnica intentavam acções de formação, ou pretendiam transferir conhecimentos aos seus “counterparts”, usando a expressão inglesa, muito em uso em Timor-Leste para dizer contraparte.