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CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 Relembrando as perguntas de pesquisa

5.1.2 Como se dá o ensino de inglês para os alunos surdos e quais as dificuldades e sugestões

Em relação ao ensino de inglês, não há objetivos claros quanto ao ensino desse idioma para alunos com NEEs, os recursos didáticos são escassos e as professoras, sem a qualificação específica para tal, fazem o que pode. Diante de suas experiências, expomos algumas sugestões das participantes. Não propomos receitas do tipo “faça isso” ou “não faça aquilo”, mas trazemos algumas reflexões com relação à prática e às concepções das professoras e intérpretes que ensinam inglês para alunos surdos e que vivem essa inclusão no dia a dia.

A partir da análise dos resultados obtidos, foi possível perceber entre as professoras pesquisadas a existência das seguintes dificuldades e limitações:

• Falta de preparação (complementação pedagógica); • Falta de apoio das escolas e órgãos gestores; • Carência de orientação nos PCN-LE;

• Falta de material didático;

• Falta de condições em sala de aula.

Dentre as dificuldades apontadas, uma das mais citadas foi a falta de preparação, de formação, formação esta garantida por lei “tanto em serviço como durante a formação” (BRASIL, 1994, p. 2). As professoras sentem-se inseguras e despreparadas para trabalhar com a heterogeneidade. Ao considerarmos o papel do professor fica difícil repensar o que estamos habituados a fazer. Além do mais, a escola está estruturada para trabalhar com a homogeneidade e não com a diversidade. Portanto, a inclusão depende de mudança de valores da sociedade e da vivência de um novo paradigma que não se faz com simples recomendações técnicas, como se fosse receita de bolo, mas com reflexões dos professores, direção, pais, alunos e comunidade. Contudo, essa questão não é tão simples, pois devemos considerar as diferenças. Em outras palavras, embora as políticas públicas enfatizem essa preparação como um “fator chave” (BRASIL, 1994, p. 10) para o sucesso da inclusão, a prática revela-se divergente. As participantes também questionam as políticas públicas:

Só é bonito no papel, né? (Drika)

Os projetos, ele é feito por pessoas que não praticam. (Ana) Quando chega na escola, a realidade é outra. (Clarice) [...] ela [leis] não é cumprida, integralmente. (Alice)

Podemos inferir que elas estão descontentes com sua realidade diária, mas que há busca por mudanças e melhorias. Sobre a questão do material didático e das condições de sala de aula, infere-se que há dificuldades em celebrar as diferenças em uma sala de trinta alunos, principalmente quando, entre estes, há alunos com NEEs. Tem-se, também, a questão do número reduzido de aulas por semana, “que é pouquíssimo [...] já que vivemos num Brasil americanizado” (Ana). Em alguns momentos, durante a observação das aulas de inglês da

escola municipal, a intérprete não estava presente (o contrato havia terminado) e, diante dessa situação, a professora de inglês teve que “se virar”. Isso significa dizer que, além de possuir pouca formação para trabalhar com a diversidade, a escola não a ajudou proporcionando-lhe condições melhores de trabalho. Se o contrato estava prestes a terminar, por que já não providenciaram outro intérprete? Não cabe aqui nem culpar e muito menos vitimizar o professor ou a escola, apenas levantamos e suscitamos questões, mais do que respostas.

Com relação ao material didático, o mesmo “é inclusão e exclusão ao mesmo tempo, porque o material é para ouvintes” (Drika). Essa é, então, outra dificuldade presente na prática dessas profissionais. Mesmo assim, as professoras apontam algumas sugestões sobre o ensino e a aprendizagem de inglês para alunos surdos. Destaca-se a importância dessa orientação por parte de alguns professores que já enfrentam essa dinâmica, haja vista a escassez de estudos nesse viés nas políticas públicas (PCN-LE). Foram sugeridas as seguintes ações:

• Recurso visual; • Trabalho em equipe; • Esquemas (modelos).

Vale lembrar que essas sugestões ou alternativas pedagógicas são significantes para nortear as ações de professores no contexto de ensino e aprendizagem de LE para alunos surdos, pois é o trabalho de profissionais que ensinam e trabalham nesse contexto complexo (inglês para surdos) e que talvez não tenham noção da contribuição que estão dando àqueles que nada sabem dessa temática.

Os recursos visuais são apontados por Alice como um facilitador para o aluno surdo, pois “ajudam eles a entender o contexto”; a explicação por meio de modelos e esquemas é sugerida por Clarice, já que uma vez expostos ao modelo sugerido pela professora e/ou intérprete os alunos surdos têm condições de seguir e/ou continuar o exercício, ou seja, as professoras lhes ofereceram um scaffolding - andaimes, em português (WOOD, BRUNER e ROSS, 1976; LANTOLF e APPEL, 1994; ANTÓN e DICAMILLA, 1999; DONATO, 2000). Segundo esses autores, o scaffolding permite ao aprendiz realizar uma tarefa, que estaria fora de seu alcance, com o auxílio de outra pessoa, pois os professores criaram e disponibilizaram signos que atribuem significado aos conteúdos estudados (CARNEIRO, 2006). Se o sujeito não tiver acesso ao universo de signos pelo contexto social (ausência ou escassez de oportunidades) não desenvolverá formas superiores de pensamento, isto é, processos mais elaborados e que mobilizam muitos recursos cognitivos, como, por exemplo, memória lógica,

atenção seletiva, racionalidade, análises, capacidade de planejamento, imaginação, concentração, raciocínio dedutivo (DONATO; MCCORMICK, 1994). Esses signos podem ser a linguagem oral, gestual, escrita, desenhos.

Outro ponto importante refere-se ao trabalho em equipe (já comentado na primeira pergunta de pesquisa, no item 5.1.1). Sobre essa questão, as políticas públicas enfatizam a grandeza do envolvimento de todos, já que a inclusão “não constitui somente uma tarefa técnica”, visto depender também das “convicções, compromisso e disposição dos indivíduos que compõem a sociedade” (BRASIL, 1994, p. 5). Nesse sentido, os professores poderiam se reunir para expor suas dificuldades, inquietações, sugestões, medos, conquistas e descontentamentos.

5.1.3 Como ocorre a interação na sala de aula de inglês em que há o professor de inglês, a